sábado, 29 de junho de 2019

Final de Junho...

Falo do Maranhão. E porque todo mundo sabe que o Nordeste ferve quando o mês de junho chega, num carnaval diferente de raízes cheias de folguedos pagãos e santos - hoje infelizmente já bastante deteriorado pelo comercialismo turístico... -, tome Bumba-meu-boi, tambor de crioula e arraiais lotados! E, porque nessa semana se comemoram, por aqui, São João, São Pedro e São Marçal - sendo hoje feriado municipal -, publico uma crônica-conto poética antiga de minha autoria, que simboliza um outro lado do que seria essa noite de sonho num arraial perdido no tempo e no espaço de algum ponto que ainda conserva a Poesia das suas raízes juninas no interior desse meu Nordeste maravilhoso de meu Deus...


Vitória de São João

O Dia desaparecia. Ia com ele a luz do Sol, a claridade se esgueirando com fachos amarelo-avermelhados se escondendo por entre nuvens acinzentadas, formando um lindo contraste – coisas de Crepúsculo...

A Noite não queria vir. Pelo menos era isso que aparentava. Mas a Lua já despontava no meio do nada claro-escuro, com um quê de indecisão... Finalmente vinham as Estrelas, a piscar como uma centena de faróis, a acender numa espécie de sequência – claro, numa ordem explicitamente ensaiada!

E, no meio daquele terreiro perdido entre a Terra e a Imensidão, ensaiava-se, pé-no-chão, uma festança das mais simples, porém vistosas, cheia de música, cachaça, matracas e lampiões, por entre bandeirinhas aos borbotões, brincando São João...

A Lua, como que envergonhada e gigante por sobre os coloridos tapumes daquele arraial, puxou para si grandes lençóis de Nuvens pretas... Veio o Homem da Chuva, deslizando e comandando lá do alto cada pingo fino, leve, médio e grosso, que vinha em cima da fogueira, do boi e do quentão. 

E aquela dança celestial se estendia a roubar a cena. Veio a Tempestade. E, com ela, exibidos Raios, que desciam e desciam ziguezagueando em seus próprios fachos e clarões... Acendiam o escuro, cortavam o fundo, rachavam uma árvore. Até que um desceu na cabeça de S. Zé – coitado...

O Homem da Chuva não queria ir embora e passou a noite toda pensando em São João. Em meio àquela situação, a Lua acabou por discutir com o Sol por trás das fechadas cortinas até o Sol vencer a sabatina, mas só se percebeu quando este surgiu com ar de vitória, tão escondida a discussão. 

E as Nuvens, como em pares de numa quadrilha, iam abrindo uma trilha para a pompa amarela e quente do Sol sobre o que sobrou da brincadeira, com o calor do fim da festa a rescender o cheiro do mato molhado... Secando a madeira molhada da fogueira...


(Dilberto L. Rosa, 1993/2019)

quinta-feira, 20 de junho de 2019

O Chico é comunista,
Bolsonaro, miliciano,
E o resto viraliza
No vazio, navegando...
(Pra cantarolar no ritmo do estribilho de Paratodos)

Palmas para as caras reais e construtivas de um País que se aceitou dividir, emburrecer e esquecer...
Francisco Buarque de Hollanda, o eterno Chico Buarque, completou ontem 75 anos de genialidade inabalável a valsar, inatingível, por entre sua Música poética e sua Literatura onírica - não por acaso, obra vencedora do 31.º Prêmio Camões, entregue no último mês de maio, exponente máximo de valor literário entre os países de Língua Portuguesa (só não leva um Nobel porque o Inglês não é seu idioma pátrio - ou alguém colocaria o bom Dylan acima do grande Buarque?). Curiosamente, nenhuma homenagem, menção ou mesmo palavra do que atualmente ocupa a cadeira máxima do Executivo nacional - quem me recuso a chamar de Presidente... Mas sabe um tal de "MC Reaça", sujeitinho machista e fascistoide, cujo "maior feito" foram uns jingles paparicando o inominável mandatário e ofendendo "os da Esquerda"?! Pois é: o "artista" desconhecido agrediu violentamente a amante grávida, matou-se, e lá estava o Usurpador do Planalto, juntamente à sua legião (de bestas-feras) a lamentar a "perda" de seu "grande talento" nas redes sociais...

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Valeu, Ewald...
Hoje, ao acordar e ler as notícias em meu celular, vejo com pesar que, também ontem, faleceu o escritor, dramaturgo e jornalista crítico de Cinema Rubens Ewald Filho, com quem, ao lado do querido Celso Sabadin, aprendi a entender e a amar a Sétima Arte por meio de seus textos impecáveis e suas exigentes pontuações na extinta revista VideoNews, nos anos 80. Apesar de não haver mais títulos editoriais sobre áudio e vídeo nas bancas - talvez, em breve sequer existam bancas... -, para toda essa atual geração virtual Rubens Ewald era apenas o "cara do Oscar", conhecido por seu ar bonachão, largo sorriso, memória impecável de milhares de filmes e seu cavanhaque indefectível a comentar aquelas transmissões, também por um canal no YouTube pela TNT. 

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Essa pequena está em todas... Sempre ao lado de
"grandes celebridades", como Preta Gil...
Infelizmente, não vi muito destaque para a notícia do passamento de Ewald ou para os belos 75 anos completados por Chico (especialmente, nesse tempo louco de volta da "caça às bruxas" de quem reflete em vermelho pelo Social)... No entanto, não paro de ver um sem-número de comerciais e eventos com uma moça chatinha de quem tomei conhecimento somente no ano passado, a "entrevistar famosos" com regionalismos e tolos jargões como "Kiu" (?!) e "Amizade Sincera": a influencer metida a engraçadinha Thaynara OG, ou simplesmente Thay, segue com impressionante popularidade tanto em nível nacional como aqui no Maranhão - onde, com patrocínio do Governo e outras empresas, teve direito a badalados arraiais e caríssimos jantares nesta temporada junina, ao lado de outros "vlogueiros" e "youtubbers famosos" (pra mim desconhecidos), além de... Compadre Washington!

Seria esse o fim de uma era? Sim, porque nomes como Chico, Caetano e Gil, na Música, Ewald, Sabadin e Sérgio Cabral (o pai, jornalista e biógrafo; não o filho político enlouquecido), e tantos outros da Arte e da boa escrita jornalística, de sólidas construções de carreiras ao longo de décadas ainda estão na ativa, mas podem vir a tornar-se completos desconhecidos para uma geração imediatista e plugada na internet 24 horas por dia, antenada a nomes virtuais como os só razoáveis Silva, Rubel, AnaVitória ou centenas de outros da "literatura de blogs" ou dos vídeos de digital influencers ("influenciadores digitais" em Inglês - algo soa mal...) de canais como YouTube, Instagram etc. Assim como meus pais já não conhecem grandes talentos surgidos dos anos 90 pra cá, pareço condenado a não acompanhar as viralizações virtuais instantâneas que desde cedo assomam meus filhos ligados à smartv da sala...

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Sem comentários...
E, assim, tamanha é a descerebralização que chegamos até a um incômodo revival de nomes do pagode e do sertanejo, "gêneros" atualmente tidos como da "personalidade nacional", bem de acordo com as "gentes de bem" do "novo Brasil" de inomináveis mentecaptos ignorantes e desonestos intelectuais - vide o exemplo do cantor bolsonarista (sim, há essa nova categoria, a fim de garantir uns trocados na "nova era", ao lado de "cantores gospel") Bellutti - pois é, esse mesmo, o sujeito que "faz dupla com outro", chamado Marcos, e cujas canções só devem ser conhecidas por seus ardorosos fãs: justamente ontem, no dia do aniversário de Chico, ele se sai com esta pérola no Twitter, obviamente apagada posteriormente após a repercussão negativa, em alusão a uma velha notícia falsa, disseminada por "personalidades" da nova Direita, como os "apartidários" Alexandre Frota (já condenado) e membros do MBL: "... o seu artista já roubou muita letra dos outros", numa discussão em torno do provocador comentário "Chico Buarque que é artista...".

Enquanto isso, aquele sujeito ofensivo e espertalhão de mais de 25 anos de uma pobre carreira como deputado federal, mas com família enriquecida (ele é amigo do Queiroz...); "contra a Globo", porém figurinha fácil no SBT e na Record (quase um contratado) e nos "eventos gospel" da turma poderosa (Waldomiro, Malafaia etc.); tão linear e consistente como alguém que se coloca como "um defensor da Constituição" e incita ódio, defende armas (liberação de fuzis para a dona de casa e seus vizinhos milicianos) e afirma que "o Estado é laico, mas é cristão"; quer liberar o trânsito para o "prazer de dirigir" (e para soltos caminhoneiros alucinados sem exame toxicológico); e era contra a reeleição, mas já considera que votarão nele mais "na frente", segue sem ainda mostrar sequer um plano de Governo dentro de um sem-número de desrespeitos institucionais de proporções nababescas, em áreas tão relevantes como a Educação e o Meio-Ambiente... No entanto, defende com unhas e dentes um juiz desmemoriado sobre sua participação no maior golpe político da História e segue manipulando, na hoje quase acéfala internet, um exército de seguidores que não cessam em louvar seus absurdos e suas fake news...

Estou velho... Meus ídolos de uma geração ainda pensante dos saudosos anos 80 foram presos ou escorraçados por articulações judiciárias, legislativas e midiáticas e trucidados em posts e memes de gentes desmemoriadas, tanto política quanto culturalmente, que conhecem o mundo por meio de dicotomias do tempo dos "comunistas" anos 60 graças a "espontâneos compartilhamentos" do Whatsapp (viva o Telegram!). Muito em breve, vloggers, youtubbers e "artistas" virtuais ou "do Senhor" herdarão a Terra Brasilis e nós sucumbiremos, a lutar por explicar às futuras gerações acerca dos tesouros amealhados em nome de uma usurpação do Poder pelos mais amorais "combatentes da corrupção" - capazes de fazer personagens da ficção científica, como o Imperador Palpatine de Star Wars e suas estratégias elaboradas de amedrontar os planetas e tomar a Galáxia, serem muito mais próximos da realidade! Parece mesmo que o Lado Negro avança - por sobre a memória de tudo o que é socialmente diverso e culturalmente rico neste País, a deixar de pé só e tão somente as estruturas dos vídeos de musiquinhas melosas e adolescentes ou sobre a renovação de teorias medievais, como a da Terra plana. Como diria o Chico: "Acorda, amor... Chame o ladrão!"... 
"Todos aqueles que ganham poder têm medo de perdê-lo. Bondade é um ponto de vista..."
Darth Sidious, Mestre Sith da cinessérie Star Wars, também senador, depois chanceler, e, por fim, Imperador Palpatine...
No Brasil, por entre presepadas e despautérios, ninguém atenta realmente para os perigos de um golpe institucional promovido por um novo mestre do mal por entre suas fake news e cortinas de fumaça...

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Grandes Amores na Tela...

Jessica Rabbit e Roger Rabbit: menção honrosa ao casal diferente criado para a deliciosa fusão de animação com living action em Uma Cilada para Roger Rabbit. Afinal, toda a confusão do filme começou por causa de uma armação em torno de uma falsa infidelidade da diva ruiva... Mas ela amava mesmo o coelho!
Cada um tem sua história de amor - assim como o seu casal favorito na telona. Por ter sido a primeira ida ao cinema a dois ou pela empatia sentida em conjunto com as idiossincrasias românticas exibidas num longa, todo mundo acaba se lembrando de um grande filme graças aos diálogos, às cenas ou a um enredo que une duas pessoas no Cinema. Hoje, em que se comemora o dia dos namorados no Brasil, os Morcegos prepararam uma romântica homenagem aos apaixonados em forma de lista para lembrar não só alguns casais inesquecíveis como também suas histórias de amor. 

E esse dificílimo rol tentou se limitar a 30 casais/filmes - obviamente, passando um pouquinho do limite auto-estabelecido, com as desculpas de seus já costumeiros "empates técnicos" entre pares por afinidade... Ao mesmo tempo que deixou de lado muitos outros famosos casais e filmes, ou por já serem batidos demais em suas tramas xaroposas (Romeu e Julieta; Love Story; Lagoa Azul; Uma Linda Mulher... Titanic; Crepúsculo... urgh!) ou pela incompatibilidade de gênios (Ela...E o vento levou) ou ainda pelo destino infeliz ou em separado no final (Casablanca; Vestígios do DiaDespedida em Las VegasO Morro dos Ventos Uivantes; Closer - Perto Demais; 500 Dias sem Ela; Drácula de Bram StokerO Segredo de Brokeback Mountain).

Por fim, os Morcegos mandam um carinhoso "salve" para outras grandes uniões que, apesar de merecerem seu lugar dentro das "exigências" desta seleção (popularidade; protagonismo na trama; entrega e transformação de ambos os personagens do casal; boa química; filme no mínimo bom etc.), acabaram fora desta postagem especial: Baby e Johny (Dirty Dancing - Ritmo Quente, 1987); Stella e Stanley Kowalski (Um bonde chamado desejo, 1952); Rick Deckard e Rachael (Blade Runner - O Caçador de Androides, 1982); Elizabeth e Sr. Darcy (Orgulho e Preconceito, 2005); Adriana e Gil (À Meia-Noite em Paris, 2011); Sam e Maggie (A Lente do Amor, 1997); Arwen e Aragorn (Trilogia O Senhor dos Anéis); Catherine Tramell e Nick Curran (Instinto Selvagem, 1990 - sim, porque o amor e a "trepada do século" podem salvar uma assassina de uma vida de crimes, assim como o Michael Douglas de ser picotado)...

Vai a onda/ Vem a nuvem/ Cai a folha/ Quem sopra meu nome?...
Uma das mais belas canções (nosso maior compositor de trilhas sonoras: Chico Buarque) como trilha para um dos mais poéticos filmes brasileiros já feitos: A Ostra e O Vento, outra menção honrosa, em que a solitária filha de um faroleiro opressor, Marcela (Leandra Leal), vê seu desabrochar como mulher num autofágico romance com o vento - a quem a menina chama de Saulo (que a traga e a transforma na própria ilha)...

Os (Pouco Mais de) 30 Melhores 
Casais do Cinema

30. Mulher-Gato e Batman (Batman - O Retorno. EUA, 1992)/
Betty Ross e Hulk (Hulk. EUA, 2003)
Dois romances marcantes na história das adaptações de Quadrinhos para o Cinema: em 1992, apesar de algumas bizarrices e excentricidades em meio a um roteiro fraco, Batman - O Retorno marcou pela densidade psicológica de alguns personagens - vide o enlace entre os perturbados Bruce Wayne e Selina Kyle/Batman e Mulher-Gato, como se ambos soubessem tão perfeitamente do outro que conheciam exatamente quem o outro era (afora os climas quentes e sensuais de muitas cenas, como o da famosa foto acima, toda vez que os fantasiados se esbarravam pelos telhados de Gotham). Já em Hulk, nem os excessos psicológicos nem a estranheza com as cores e a aparência em CGI da criatura atrapalharam o bonito tom de amor e compaixão de Betty Ross (Jennifer Connely) a descobrir e acalmar, com seu amor incondicional, o irascível monstro de Bruce Banner (Eric Bana).

29. Isaura e Afonso (Chuvas de Verão. BRA, 1977)
Em meio a turbulências familiares e problemas com a fuga de um bandido conhecido, Afonso (Jofre Soares) começa a sua aposentadoria e tenta se livrar dos aborrecimentos com uma relação de amizade, amor e sexo com a vizinha Isaura (Míriam Pires). Apesar de um ótimo e sensível trabalho de Cacá Diegues, o filme até hoje encontra resistências em relação às cenas de nudez e sexo entre os marcantes idosos protagonistas...

28. Annie Collins-Nielsen e Chris Nielsen (Amor além da vida, EUA, 1998)/
Molly e Sam (Ghost - Do outro lado da vida. EUA, 1990)
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Não tinha como não falar desses dois casais que lotaram os cinemas na década de 90 e ensoparam os lencinhos das moçoilas incautas - que tanto torceram pelo saudoso Robin Williams na sua saga espiritual na busca pela alma da sua amada suicida em Amor além da vida (Oscar de efeitos visuais), como choraram com Molly (Demi Moore) pelo fantasma de Sam (o hoje também falecido Patrick Swayze) no ótimo Ghost - Do outro lado da vida (2 Oscars).

27. A História de Nós Dois (EUA, 1999)
O que separa um casal? Tantas coisas... Tantas quantas igualmente o unem! E é a essa difícil equação que se propõe a resolver o bastante humano e realista casal de personagens interpretados por inspirados Michelle Pfeiffer e Bruce Willis nesta ainda mais inspirada comédia dramática do sempre bom Rob Reiner.

26. Allie e Noah (Diários de uma paixão. EUA, 2016)/
Amor (FRA, 2014)
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Mais filmes inesquecíveis sobre o amor na terceira idade: a maior parte de Diários de uma paixão seja sobre uma açucarada história de amor "proibido" de um esquecível casalzinho apenas jovem e bonito, mas quem realmente marca a grandeza desse filme é esse casal idoso, vivido por um resiliente James Garner (Noah idoso), a ler os diários do grande amor vivido na juventude para a sua amada Gena Rowlands (Allie idosa), que sofre do Mal de Alzheimer - o mesmo que parece assolar Anne, de Amor, após um derrame, cara-metade do músico aposentado Georges, que, em desespero, chega a uma encruzilhada: quem ama, mata? Na verdade, desvanece junto...

25. A Casa Vazia (Coreia do Sul, 2004)/ O Marido da Cabeleireira (FRA, 1995)
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Outro empate: primeiro, um filme marcante do diretor Kim Ki-Duk (Pieta), em que um jovem errante, acostumado a invadir casas e nelas morar por alguns dias enquanto seus donos estão fora, apaixona-se por bela mulher casada de uma mansão, igualmente perdida em relação à vida que leva; segundo, um belo filme sobre o encontro entre um obcecado homem e sua cabeleireira, que se transforma em casamento e evolui para um tanto belo quanto perigoso microcosmo isolado do resto do mundo dentro de um salão. Sensíveis e poéticos casais construídos no silêncio...

24. Asas do Desejo (ALE, FRA, 1987)
Aqui, o existencialismo de um anjo que deseja ser igual aos humanos de que cuida chega a ser maior que a história de amor ou o casal em si (o anjo vivido por Bruno Ganz e a bela trapezista Marion, interpretada por Solveig Dommartin). Mas a beleza da abnegação do ser celestial diante da necessidade, dentre outras coisas, de sentir e tocar a mulher amada, garantem a este pequeno clássico de Win Wenders uma colocação nesta lista.

23. Tempos Modernos (EUA, 1932)/
Kathy Selden e Don Lockwood (Cantando na Chuva. EUA, 1952)
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Mais dois exemplos de filmes mais marcantes que seus casais protagonistas... Apesar de mais lembrado por suas denúncias sociais e seu ativismo político, Tempos Modernos também cativa pela relação entre a irresoluta e linda trabalhadora Ellen (Paulette Goddard) e o operário demitido e perdido no mundo (Charles Chaplin) para, juntos, enfrentam as durezas da vida com muito amor e união - destaque também por ser o único filme em que Carlitos encerra ao lado de uma parceira, em direção ao desconhecido do horizonte, mas com otimismo e pedindo um sorriso para a amada (ao som da clássica Smile, também de autoria do genial ator, produtor e diretor inglês). Já Cantando na Chuva dispensa comentários: não é todo dia que se sai cantando e dançando no meio de um temporal por causa de uma grande paixão...

22. Cindy e Ronald (Namorada de Aluguel. EUA, 1987)/
Kat e Patrick (10 Coisas que eu odeio em você. EUA, 1999)
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E o que seria dos casais cinematográficos sem as comédias românticas adolescentes? Aqui, dois pequenos clássicos de duas décadas diferentes: a primeira, Namorada de Aluguel, típica produção oitentista da Touchstone Pictures, divisão familiar da Disney que emplacou esse sucesso ao narrar a história de uma patricinha obrigada a namorar um nerd e, de quebra, discutiu status e preconceitos no bom e velho ambiente escolar; já 10 coisas que odeio em você apresentava, 10 anos depois, uma deliciosa versão estudantil de A Megera Domada, de Shakespeare, com um ainda desconhecido Heath Ledger e seu gigantesco talento (infelizmente abreviado em seu auge, em 2008, quando do seu falecimento).

21. Sue e Michael "Mick Crocodilo" Dundee (Crocodilo Dundee. AUS/EUA, 1986)
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Um humilde e lendário guia e caçador dos desertos e das savanas australianas (exemplo de personagem que incorporou o seu intérprete, Paul Hogan), uma independente e rica jornalista novaiorquina (a linda Linda Kozlowski) e o amor que nasce desse inusitado encontro para uma matéria renderam não somente um pequeno clássico instantâneo como três continuações!

Resultado de imagem para rajada de balas20. Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas (EUA, 1962)
Um dos clássicos dos rebeldes anos 60, contestador dos padrões hollywoodianos de então com esta romantizada versão do real casal de jovens e impetuosos assaltantes de banco que se amavam loucamente, por entre crimes e alucinadas fugas pelas estradas dos EUA, na Grande Depressão - até serem metralhados por uma emboscada da Polícia, em 1934... Sem dúvida, o cineasta Arthur Penn imortalizou o casal vivido por Faye Dunaway e Warren Beaty.

Imagem relacionada19. Adrian e Rocky (Rocky - Um Lutador. EUA, 1976)
A popular franquia do famoso pugilista de Stallone talvez jamais tivesse engrenado se, em seu primeiro filme, não víssemos a bela história de amor entre o capanga e açougueiro aspirante a boxer Rocly Balboa e a tímida atendente de loja Adrian (vivida por Talia Shire até Rocky V), evidenciando o lado sensível do brutamontes.

18. A Bela e A Fera (FRA, 1946)/ Ann Darrow King Kong (King Kong. EUA, 2006)
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De cara, um empate técnico - até mesmo na legenda em comum para ambos os casais, que lembra outro clássico da Sétima Arte: "Os Brutos Também Amam"! Afinal, dois exemplos de filmes em que uma fera, em vez de matar ou devorar sua próxima vítima humana como de costume, apaixona-se ao ponto de transformar-se por completo... Assim, se pudermos pôr de lado o "final redentor" da clássica estória francesa, em que a fera vira um ser humano bem menos interessante do que era, assim como a incômoda questão racista de King Kong em qualquer das suas versões (o gorila gigante jamais se apaixonara antes pelas mulheres negras oferecidas; somente pela "loira bonita"), temos aí as duas representações definitivas para cada um desses dois casais bestiais: o clássico A Bela e A Fera, de Jean Cockteau, e a modernização romântica, dos anos 2000, de Peter Jackson (apesar do triste final de separação...), em sua releitura do melhor King Kong - o primeiro, de 1933.

17.  Jane e Tarzan (Tarzan, O Homem-Macaco. EUA, 1932)/
Robin e Marian (EUA, 1976)
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"Mim, Tarzan; Você, Jane!": para além deste clássico diálogo entre o homem que se "animalizou" depois de perdido numa selva e a mulher civilizada que quer "salvá-lo" da selvageria, temos aqui uma bela e interessante leitura do clássico de Edgar Burroughs: em vez de Tarzan voltar para a civilização e se tornar o Lord Greystoke, Jane decide abandonar tudo e se perder na selva e nos braços do Homem-Macaco que aprendeu a amar. Aqui, os melhores Tarzan e Jane das telas: o ex-nadador Johnny Weismüller e Maureen O'Sullivan. Outro casal que atravessa inúmeras produções cinematográficas é Robin Hood e Lady Marian - seja com Errol Flynn e Olivia deHavilland, seja com Kevin Costner e Elizabeth Mastrantonio, quase todo filme do justiceiro inglês conta com belas cenas românticas ao lado do seu eterno amor... Aqui, os Morcegos escolheram a versão que leva o nome dos personagens, espécie de Romance de Aventura com Sean Connery e Audrey Hepburn vivendo o par em idade mais avançada.

Resultado de imagem para lisbela e o prisioneiro16. Lisbela e O Prisioneiro (BRA, 2000)
Lisbela e Leléu foram beneficiados por diferentes ingredientes: de uma primorosa direção cômico-romântica de Guel Arraes, passando por uma salgada sucessão de divertidas piadas metalinguísticas com o Cinema, até a deliciosa porção servida de inesquecíveis releituras de canções bregas e/ou antigas ("Agora, que faço eu da vida sem você...")... Pronto: uma receita bem sucedida no inconsciente romântico coletivo nacional!

Imagem relacionada15. Fiona e Shreck (Shreck. EUA, 2008)
Bem mais lembrado pela comédia escatológica, Shreck e Fiona merecem uma colocação como casal não só pelo sucesso no imaginário popular de crianças e adultos como também pela abnegação da protagonista: a bela princesa subverte os paradigmas Disney e se torna uma feiosa ogra para viver um grande amor - seja na lama, na floresta ou numa casinha de sapê...

14. Flor e Vadinho (Dona Flor e Seus Dois Maridos. BRA, 1976)Imagem relacionada
 E quem disse que a malandragem não traz um diferente tempero para casais arretados de inesquecíveis? Que o digam os nordestinos Dona Flor e Vadinho (este, mesmo depois de morto!), no primeiro "trisal" da História da 7ª Arte - isso, claro, sem o austero Dr. Theodoro tomar conhecimento...

13. Lula Pace Fortune e Sailor Ripley (Coração Selvagem. EUA, 1989)
Um dos mais cultuados trabalhos do diretor David Lynch é também o mais divertido e romântico, com o brega e alucinado casal imortalizado por Laura Dern e Nicholas Cage, que, depois de inúmeras perseguições absurdas e vilões bizarros, vivem uma história de amor abençoada pela fada de O Mágico de Oz (!) e com direito a Cage cantando Love me tender para a sua amada em cima dos carros de um enorme engarrafamento...

Resultado de imagem para uma aventura na áfrica12. Rose Sayer e Charlie Allnut (Uma Aventura na África. EUA, 1951)
Um olhar entrega facilmente o que surge por trás das dificuldades... E eis aí um brilhante casal que mereceu o final feliz: depois de lutas contra doenças, mosquitos, piratas e todo tipo de problemas nas inóspitas selvas africanas do século XIX, inspirados Bogart (vencedor do Oscar por esse trabalho) e Hepburn se rendem ao que o amor tem de melhor: a vitória a dois sobre todas as adversidades possíveis - principalmente, os individualismos turrões de cada um!
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11. Maude e Harold (Ensina-me a viver. EUA, 1971)
Um grande exemplo de que os melhores conflitos de amor não têm idade - e numa obra atemporal, que, no Cinema, virou cult ao longo das décadas: em Ensina-me a viver, temos um jovem recém-saído da adolescência vivendo um amor platônico com uma adoravelmente louca idosa de 90 anos (outra interpretação genial de Ruth Gordon), numa surrealista comédia dramática que até hoje diverte e emociona, lembrando que o amor e o seu aprendizado não têm idade.


10. Harry & Sally - Feitos um para o outro (EUA, 1989)Imagem relacionada
Eles nem amigos eram, obrigados que foram a se aturar pelos encontros e desencontros da vida... Até que, com o tempo, perceberam que tinham muito mais em comum do que imaginavam e jamais dariam certo com ninguém mais. Um clássico absoluto de casal que se ama mesmo achando que suas ironias os protegeriam de se apaixonar um pelo outro - e ainda mais clássica é a cena do restaurante da foto acima, em que Sally mostra a Harry o quanto ele ainda precisa aprender sobre mulheres... e orgasmos femininos!

09. Barry Egan e Lena Leonard (Punch-Drunk Love - Embriagados de Amor. EUA, 2002)Imagem relacionada
O que poderiam ter em comum o oligofrênico filho único de uma família de irmãs opressoras e sua vida desmotivada e uma jovem bem resolvida e recém-apresentada à família? De acordo com o sempre criativo diretor P. T. Anderson, tudo: e esse belo, sensível e diferente filme imortalizou seu casal protagonista num daqueles "encontros de uma vida" - e, além disso, entregou uma brilhante interpretação do fraco comediante Adam Sandler!

08. Leia e Solo (O Império Contra-Ataca. EUA, 1981)Imagem relacionada
Mais um casal de turrões com personalidades fortes que cativou milhões - apesar de a trilogia de Aventura e Ficção Científica de Guerra nas Estrelas não ser bem sobre romance: a princesa rebelde Leia e o mercenário canalha de bom coração Han Solo garantem aqui um merecido lugar, embora saibamos que o desfecho da dupla não viria a ser dos melhores...

07. Mortícia e Gomez Addams (A Família Addams. EUA, 1991)
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Na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, até que a morte... os una ainda mais: maior casal do humor negro, Gomez e Mortícia são vividamente apaixonados desde as tirinhas em Quadrinhos da Família Addams e do adorável seriado da TV dos anos 60... Foi no Cinema, porém, com o par formado pelo saudoso Raúl Julia e por Anjelica Houston, que se imortalizou a arrebatadora química dessa mórbida paixão!

06. A Dama e O Vagabundo (EUA, 1955)
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Uma das histórias mais incríveis da Disney, desde a questão do impacto da chegada de um bebê a uma família sob a óptica do animal de estimação favorito - a Dama, uma collie mimada e que vive no luxo - até a crítica social, ao passar a narrar um romântico enlace da cadelinha sofisticada com o cachorro de rua Vagabundo, um gentleman sem eira nem beira... E, assim, os dois cachorrinhos em desenho animado não só protagonizaram a mais perfeita cena de um casal se apaixonando no Cinema - a genial sequência do macarrão compartilhado até um repentino beijo e o oferecimento de uma almôndega pelo macho à sua parceira -, como também mostraram que um grande amor supera mesmo as maiores diferenças sociais, e na hora das maiores dificuldades (como criar os filhotinhos por entre visões de mundo tão diferentes)!

05. Elisa e "Homem-Anfíbio" (A Forma da Água. EUA, 2018)/
Maddison e Allen (Splash - Uma sereia em minha vida. EUA, 1984)
Filmes bem parecidos entre si e construídos com boas mancheias de clichês - não por acaso, um site norte-americano fez interessante vídeo comparando os dois... Mas seria muita injustiça não lembrar da beleza unindo estes dois casais compostos por criaturas marinhas: o primeiro, recente e mais estiloso, com um pé a mais no fantástico, no Cinema clássico das antigas e grandes direções de arte (não por acaso, vencedora do Oscar nesta categoria), A Forma da Água nos traz uma interessante homenagem aos antigos filmes B de monstros aquáticos e uma interessante relação amorosa que surge entre um homem-anfíbio e uma mulher pobre e surda-muda à margem da sociedade (a ótima Sally Hawkins) em meio às perseguições ideológicas da Guerra Fria dos anos 50. Já em Splash, que em breve ganhará uma refilmagemsomos formalmente apresentados a um então jovem que se tornaria um dos grandes astros da indústria hollywoodiana, Tom Hanks, e seu envolvimento mágico desde a infância com a doce, porém sumida, Daryl Hannah, a sereia bonitinha que vai ao encontro do seu amado em meio a perseguições de pesquisadores inescrupulosos nos tempos da Era Reagan... Casais similares, mas idênticos só num ponto: amam-se e se completam até debaixo d'água (inclusive no final igualzinho)!

04. Eva e Wall-E (Wall-E. EUA, 2008)/
Ellie e Carl Fredricksen (Up - Altas Aventuras. EUA, 2009)
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Dobradinha da Pixar! Em Wall-E, muita gente viu um pequeno clássico da Ficção Científica nascendo, a contestar todo o nosso modo de vida atual; outros perceberam um grito realista de socorro em prol do meio-ambiente; já os românticos Morcegos adoram lembrar o velho robozinho catador de lixo e apaixonado, que conseguiu não só salvar a Terra, como ainda inseriu o amor na dura programação da moderna e pragmática Eva. E em Up, a linda história de amor perfeito, nascido na infância até a velhice, entre Ellie e Carl, contada nos primeiros minutos do filme, foi tão incrível que praticamente a tornou um filme dentro do filme, como se juntassem um daqueles tocantes curtas independentes da Pixar ao resto do longa, numa espécie de bônus que antecede a amalucada e divertida história de aventura envolvendo a sempre lembrada casa de balões.

03. Clementine e Joel (Brilho eterno de uma mente sem lembranças. EUA, 2004)
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Pouco adianta a sociedade futurista em que esse casal está inserido, quando será possível apagar a memória quando algo nos magoa - como o fim de um relacionamento... E adianta menos ainda esses dois tentarem apagar o que foram um para o outro... O amor da consciência mais profunda encontrará formas de mantê-los juntos - até que voltem a se encontrar... Uma história incrível, diálogos inspiradores (traços fortes do roteiro de Charlie Kaufman) e a ótima parceria entre Carrey e Winslet fazem deste filme um clássico duplo: tanto do Cinema dramático de Romance quando de uma boa e velha FC!


02. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (FRA, 2006)
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Em resumo? Um casal estranho... Mas o inteligente e sensível longa cheio de mirabolantes truques de edição, fotografia e música não é justamente sobre isso: gente estranha e suas manias e esquisitices? Ou, melhor, sobre o que é normal e o que seria "estranho"? Então, nesse caso, foi o que prevaleceu: o filme é uma ode ao lugar de cada um no mundo, ao encaixe perfeito que duas almas tidas como à parte da sociedade pode ter e sobre uma jovem (Amélie, a ótima Audrey Tattou) que elabora um mundo de situações para ajudar a todos em volta e acaba se encaixando de volta num amor com outro perdido (Nino), que parecia a ela destinado desde antes de ser...

01. Celine e Jesse (Antes do Amanhecer/Antes do Pôr do Sol. EUA, SUI, AUT, 1995/2004)
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Parafraseando o estilo do nosso melhor (e mais injustiçado) Presidente, "nunca na história" do Cinema viu-se casal e enredo tão visceralmente realistas e, ao mesmo tempo, tão românticos e idílicos no seu idealizado encontro perfeito. E jamais se viram diálogos tão possíveis quanto adoráveis. E nunca um enredo foi tão inteligentemente bem dividido entre dois filmes independentes e tão díspares, mas que tanto se complementam: no primeiro, um encontro casual de química perfeita entre dois jovens na Europa, que, depois de um dia perfeito de descobertas e união, decide re rever na quele mesmo lugar dentro de um ano (o que remonta a clássicos como Tarde demais para esquecer); 10 anos depois, descobrimos que 10 anos também se passaram nas vidas dos protagonistas desde aquele encontro, com rumos totalmente diversos daqueles que ambos sonharam para as suas vidas, num reencontro tão amargo quanto belíssimo, de lindo final em aberto... Infelizmente, tanto os ótimos Ethan Hawk e Julie Delpy, juntamente ao diretor-roteirista Richard Linklater, acharam por bem dar um desfecho explícito ao casal numa espécie de epílogo, Antes da Meia-Noite, mas creio ter este se distanciado da tônica maravilhosa e de mútuo complemento entre as duas obras anteriores: é o nosso primeiro lugar entre os famosos casais cinematográficos!

HORS-CONCOURS
Kal-El e Lois Lane (Superman - O Filme. EUA, 1978)
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Uma repórter premiada internacionalmente e, portanto, emancipada e independente, transforma-se por completo na mulher mais dependente do mundo diante do alienígena misterioso; ele, um semideus superpoderoso imbatível contra os malfeitores, mas que, além da kryptonita, tem como sua maior fraqueza o amor por aquela terráquea em especial - ao ponto de usar todos os seus poderes para unicamente salvá-la, ainda que isso custasse voltar a Terra e o tempo (!), a fim de reverter a tragédia...
Nem é preciso dizer que o casal imortalizado pelos saudosos Christopher Reeve e Margot Kidder, ao personificar dois ícones dos Quadrinhos atualmente de mais de 80 anos, surge aqui como um brinde aos cinéfilos e está fora e acima de qualquer competição, capaz que é de fazer suspirar as plateias de todo o planeta, de 78 até hoje, por esse amor platônico - e também capaz de ser o único exemplar de relacionamento amoroso num filme de super-herói que não se colocou como forçado na ótima trama!

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Dando sequência aos anos 80...


Um grande comercial para apenas um carrinho... Memorável e extravagante - a cara dos anos 80!

Há alguns meses, a internet brasileira "bombou" com algumas imagens que teriam "vazado" de bastidores de uma possível versão cinematográfica com atores, todos caracterizados à perfeição, da cultuada série televisiva Caverna do Dragão, sucesso absoluto nas manhãs da infância da minha geração. Desde a inteligente adaptação de um jogo de RPG (então desconhecido por aqui), passando pela ótima qualidade da animação de fantasia medieval, até as várias releituras feitas posteriormente a respeito (que tratavam de interpretar tudo como uma parábola entre o Céu e o Inferno, em que os protagonistas, de acordo com tal sandice, teriam morrido no parque e levados para "O Reino"!), inúmeras razões fizeram daquelas duas temporadas (1984/1986) um fenômeno cult no País (nos EUA, não houve tanto sucesso), até em gerações posteriores à minha graças a várias reprises ocasionais.

E, especialmente, pelo fato de a série ter sido cancelada antes de produzirem o tão sonhado último episódio, com a tão aguardada volta dos meninos guerreiros ao nosso mundo, alimentou-se, com o passar dos (muitos) anos, um sem-número de especulações sobre uma nova série de animações ou um filme em living action que finalizaria aquela saga em grande estilo. Por isso, nem preciso dizer do rebuliço que se deu no universo nerd graças à divulgação de tais imagens: finalmente se teria uma adaptação digna e com mais foco no excelente desenho animado do que no jogo e muito mais fiel e bem feito que os absurdos cometidos antes (Dungeons & Dragons: A Aventura Começa Agora e Dungeons & Dragons: O Poder Maior, nos anos 2000)!

Qual não foi a decepção, porém, quando se descobriu que tudo não passava de uma bem estudada jogada de marketing nacional: desde o "vazamento" seletivo e midiático, de fazer inveja ao dublê de ministro e juiz antipetista Sérgio "Conge" Moro, tudo foi milimetricamente feito como um grande teaser para um comercial de um lançamento automobilístico da Renault... Mas, se tudo não passava de uma grande fake news digna de orgulho para qualquer maluco bolsonarista, o mesmo não se podia dizer da peça publicitária (vídeo acima): tão esmerada na fidelidade para com os personagens e no respeito pelo imenso carinho dos fãs brasileiros da série infanto-juvenil, o ótimo comercial serviu para aplacar a raiva coletiva devido à miguelagem e, de quebra, reacendeu a vontade de ver algo semelhante no Cinema - ou mesmo na TV dos tempos modernos, das milionárias Netflix e HBO. 

Assim como em Caverna do Dragão, outro herói oitentista 
baseado na fantasia de mundos com cara de Idade Média 
ainda alimenta a nostalgia de inúmeros fãs!
Coincidentemente, o frisson tupiniquim em torno de um retorno de Caverna do Dragão foi acompanhado por outras bombásticas notícias de retorno oitentista em nível mundial: a confirmação de Os Caça-Fantasmas 3 (esqueça o time feminino: tudo recomeça numa cidade pequena e suas conexões fantasmagóricas com os protagonistas de 1984/89); o anúncio de um quinto filme de Indiana Jones pelos próprios Spielberg e Ford; e, ainda, a escolha do novo He-Man para o Cinema, fizeram muito marmanjo voltar no tempo... Só que agora é tudo verdade!

Longe de tecer qualquer tratado sobre o fascínio que os anos 80 e seus ícones exercem até hoje, mesmo para quem jamais os tenha vivido, acredito que a resolução de tal enigma se deu nesta semana, com a confirmação de retorno de outro eterno símbolo daquela década: Sylvester Stallone e o quinto longa do seu Rambo, alardeado com um eletrizante trailler (vídeo abaixo), recordou as memórias fascistas das brincadeiras com armas de muitos meninos daquela época (coisa ruim que anda voltando à moda atualmente...) ao retomar as origens do famoso veterano do Vietnã. Desde o título, Rambo - The Last Blood, o ator/roteirista parece querer fechar o ciclo começado com o excelente First Blood (no Brasil, Rambo - Programado para Matar, de 82), curiosa mistura de aventura com drama de crítica social, algo bem ao sabor daquela década despirocada, de duros tempos de recessão, porém coloridamente inconsequente e absurdamente gostosa - capaz, por exemplo, de misturar a reacionária e belicista Era Reagan com o melhor do então criado "filme de ação" e seus "super-heróis modernos", tônica acentuadamente presente nas sequências Rambo II - A Missão (85) e Rambo III (89).

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Rambo: ontem e hoje... Quanta diferença!
First Blood, cuja tradução, "Primeiro Sangue", seria uma referência aos que primeiramente morrem numa guerra (ou, no caso, os que primeiro padecem em razão dela), foi um tremendo sucesso de crítica e público, fundamentando a bem sucedida carreira de Stallone, inciada anos antes com o muito bom Rocky (1976), e gerando continuações fracas e abiloladas, porém lucrativas. Agora, 11 anos depois do truculento, mas necessário, Rambo IV (para matar saudades da boa e velha ultra-violência oitentista...), John J. Rambo está de volta numa aparentemente pacata vida de rancho, no melhor estilo outonal do recente Logan e com toques de Gran Torino (de outro veterano, Clint "Dirty Harry" Eastwood), até ter que voltar à ativa pela última (?) vez, a fim de proteger uma família de inocentes...

Mas se engana quem pensa que este é o personagem com quem mais o velho Sly conviveu: na verdade, a pele já enrugada por sobre os esteroides e anabolizantes de longa data do septuagenário Stallone viveu por mais vezes o lutador Rocky Balboa, ao todo com oito encarnações - seis como protagonista e duas como coadjuvante, passando o bastão para o filho do antigo rival na nova cinessérie de Creed e Creed 2 (em que aparentemente se despediu definitivamente do grande pugilista da Philadelphia), passando, assim, para a História como o ator que mais vezes viveu um mesmo personagem no cinemão mainstream (obviamente desconsiderando outros cinemas, como o indiano ou o japonês e suas inúmeras produções)! Os outros recordistas? Em segundo lugar, Judi Dench como M (sete vezes "e meia" - graças a uma aparição em 007 contra Spectre, 2012); Roger Moore e Sean Connery como James Bond, Daniel Radcliffe como Harry Potter e Richard Englund como Freddy Kruegger (todos 7 vezes); e, em terceiro, Hugh Jackman como Wolverine e Carrie Fisher como Princesa Leia (ambos 6 vezes) - isso se desconsiderarmos as dezenas de participações especiais dos atores que incorporaram os super-heróis do amplo Universo Cinematográfico Marvel, o que já é outra história...

O certo é que, como o grande negócio que é, o cinemão já percebeu que, ao lado de outros novos nichos - como as intermináveis séries geeks de Star Wars e de filmes de heróis -, existe muita gente alucinada para entregar todo o seu dinheiro em troca de uma voltinha ao passado, em especial, aos clássicos cheios de fantasia criativa dos anos 80... De preferência, numa máquina do tempo tão genial como o DeLorean voador de outro clássico oitentista, De volta para o futuro (que bem merecia um revival)! Indiana Jones, Caverna do Dragão, Caça-Fantasmas, He-Man... Stallone agora se despede de seu segundo filho mais famoso, meio que demonstrando o que é que os anos 80 têm de tão sedutor depois de tanto tempo: a dificuldade de deles nos despedirmos em definitivo, porquanto algo deles jamais nos deixará, passe o tempo que passar...


Rambo: estripando pessoas desde 1982.. Até os 72 anos!
 

+ voam pra cá

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