terça-feira, 30 de abril de 2019

O Homem-Morcego faz 80 Anos, "Batman", o filme de 1989, completa 30 Anos e os Morcegos chegam aos 15... Cinema & Quadrinhos (Super-Heróis); Literatura (Ensaio e Poesia), Música, Fotografia; Coleções

Prateleiras pra que te quero: toda a "bat-coleção" e algumas coisas dos compatriotas DC.

O ano era 1989 e ainda vivíamos nós, garotos de 12 anos, em meio à "Era Spielberg-Lucas" dos anos 80, em que a Fantasia invadira de vez o Cinema Hollywoodiano em vários gêneros, fato em muito influenciado pela magia desses dois artistas e que predominou ao longo de toda aquela década que então chegava ao fim: desde O Império Contra-Ataca, segundo episódio da saga Star Wars (que depois se revelaria como o quinto...), escrito e produzido por George Lucas no limiar de 1980, seguido de O Retorno de Jedi (1983), nos mesmos moldes, passando por Caçadores da Arca Perdida (1981) e Indiana Jones e O Templo da Perdição (1984), ambos sucessos da dupla, o clássico E.T. - O Extraterrestre (1982), dirigido por Spielberg, até o retorno triunfal, no finalzinho da década, da dupla dinâmica de criadores com o seu ótimo Indiana Jones e A Última Cruzada, estreando naquele ano. Mas disso já tratei antes, inclusive no aniversário passado - sem esquecer de uma postagem ainda mais específica sobre um capítulo de um livro meu jamais finalizado...

O Cara e a cara do Cinemão dos anos 80.
Sem dúvida, um mundo se abria para aquela nossa geração, a definir a cara do que a minha geração adoraria ver e rever nos cinemas, na TV e no videocassete pelos anos seguintes... A "Força" dos sujeitos era tamanha que até produções não dirigidas por qualquer deles levariam sua marca - como se dava com Spielberg quando atuava "apenas" como produtor ou produtor executivo: Poltergheist - O Fenômeno (82), Gremlins (84), Os GooniesDe volta para o futuro (85), O milagre veio do EspaçoViagem Insólita  (87) e Uma Cilada para Roger Rabbit (88) parecem diretamente feitos pelo bom e velho Steven! Assim como se deu com outro fenômeno definidor daquele "estilo cinematográfico", a Industrial Light and Magic, a famosa ILM criada por Lucas para fazer seu primeiro Guerra nas Estrelas (1977) e que acabaria indicada a inúmeros Oscars pelos efeitos visuais de outros clássicos da época, como os excelentes Os Caça-Fantasmas (84) Cocoon (85), Willow - Na Terra da Magia (88, também escrito por George)!

E naquele 89 em particular o número de lançamentos que, aparentemente, queriam reavivar essa chama de magia iniciada nos próprios anos 80 (ou, simplesmente, faturar alguns milhões de dólares com continuações) era grande e, não por acaso, eram sequências cinematográficas justamente de títulos daqueles dois anos mais profícuos daquela era de mágico entretenimento, 1984 e 1985 - são de 1989 Gremlins 2 - A Nova Turma, Karatê Kid 2, Caça-Fantasmas 2, De volta para o futuro 2 (e, logo em seguida, o 3), Cocoon 2...  No entanto, mesmo com o aguardado sucesso do terceiro Indiana Jones, eis que o ano seria marcado não por uma continuação, mas, sim, um "filme-evento", que praticamente seria o debut daquele personagem no Cinema (as cinesséries de matinês dos anos 40 e o longa-metragem com cara de seriado cômico de TV, de 1968, não eram lembrados...): Batman, de Tim Burton, foi milimetricamente projetado com uma maciça e agressiva campanha de marketing nas mais diversas áreas - brinquedos, revistas, discos (foram duas trilhas sonoras: a pop do saudoso  Prince e a clássica instrumental, "cara musical do herói" por muito tempo, de Danny Elfman), linhas escolares, souvenirs, itens de colecionador etc. E muito disso talvez para compensar qualquer falha do filme e transformá-lo, de imediato, num sucesso absoluto.

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Um herói atemporal, para todas as épocas.
Não que o pequeno clássico do Cavaleiro das Trevas não tenha o seu valor: a oscarizada direção de arte (hoje chamada de "desenho de produção") de Anton Furst com sua Gotham e seu batmóvel genialmente desenvolvidos; a trilha sonora, hors concours; a remodelação do herói em preto, de forma a apagar a estética camp e debochada do seriado Batman (1965/1968), ainda no imaginário popular - apesar de algumas piadinhas non-sense do desenvolvimento um tanto quanto pífio do Coringa (magistralmente interpretado por Jack Nicholson); a Fotografia, que bem alternava cenas de estúdio e externas (também em estúdio, mas em Pinewood, Inglaterra) com efeitos de miniaturas e pinturas... Apesar dos problemas de direção (Tim Burton somente seguindo ordens dos chefões dos estúdios...), na escolha do protagonista (Michael Keaton, queridinho de Burton desde Os fantasmas se divertem, desbancou concorrentes como Alec Baldwin), edição (muitas vezes, uma colcha de retalhos de boas sequências independentes) e roteiro (muitas mudanças em relação às HQs), e mesmo não tendo sido capaz de iniciar um "movimento de filmes de heróis", seguido somente por umas poucas e fracas adaptações de outros personagens (Dick Tracy, Justiceiro, Tartarugas Ninja), Aquele Batman foi relevante para a viabilidade de levar os Quadrinhos para as telonas, mérito similar de, pouco mais de 10 anos antes, Superman - O Filme. Mas isso também já foi explorado aqui...

A propósito, o longa Batman, realizado no ano do cinquentenário do Homem-Morcego, completa 30 anos neste 2019 - e, consequentemente, o amado Cruzado de Capa chega aos 80 muito bem vividos desde que, naquele verão de 1939, fora encomendado um herói para fazer frente às vendas do Super-Homem, que arrebentava nas bancas desde o ano anterior. Daí, juntando o já antigo Zorro com um morcego e a ideia de um detetive durão com estilo e vestimentas extravagantes (incluindo aí a cueca para fora da calça...), bem ao gosto do público da época, somando a isso alguns conceitos e personagens incríveis do colega Bill Finger (mas sem jamais creditá-lo de nada até bem pouco tempo), o espertinho desenhista Bob Kane passou para a História da Cultura pop universal como o único criador de uma lenda que rapidamente se mostraria uma mina de ouro, capaz de se adaptar a inúmeras versões e mídias ao longo de oito décadas. Seria o carro? A dinheirama do Bruce Wayne? Os inúmeros e excelentes artistas que acrescentaram importantes frações para a excelência de um personagem tão soturno e tão querido? Ou seria a loucura presente na fictícia Gotham City e seus adoráveis vilões sádicos e quase infantilmente sanguinários? Difícil dizer a receita desse sucesso... O certo é que o fascínio pelo Batman é quase uma unanimidade, mesmo entre aqueles que jamais o acompanharam pelos gibis, mas só e tão somente pelas caracterizações recentes de Christian Bale ou Ben Affleck - e, justamente por tal razão, o sujeito é figurinha carimbada em uma dezena de postagens neste bloguinho, em homenagens diretas ou indiretas.

Cena final de Batman (1989) com um novo batsinal...
Montagem: Pixiz
Cinema e magia dos anos 80, super-heróis, adaptações dos Quadrinhos... É... Parece que andamos em círculos e falamos demais desses temas por aqui... E, infelizmente, assim como bem lembrou O Maior Presidente, além do Brasil, os Morcegos talvez andam precisando de uma autocrítica geral! E, falando neste humilde espaço virtual, alcançamos hoje, neste dia 30 de abril de 2019, a especial marca dos 15 anos, aniversariando em conjunto com o Batman - não foi à toa que tudo por aqui também tenha começado com morcegos! E, de um poema escrito no início da década de 90, meio que ainda sob o efeito catártico do gótico universo despertado pelo filme pouco tempo antes, e acrescido de camadas de influências ou diretas citações a Byron, Poe, Shelley, Kafka e Álvares de Azevedo das leituras de então, afora o despertar para o Cinema de Kubrick, Fellini, Scorcese, Tarantino e Nelson Pereira dos Santos, e a Música de Gershwin, Billie Holliday, Glenn Miller, Pixinguinha, Vinícius, Chico e João Gilberto, uma salada cultural foi se formando numa antropofagia própria e peculiar: Política e muito da vida pessoal até podiam entrar num primeiro momento, para tudo depois ser regurgitado em forma de releitura estética com o que o Cinema, a Literatura (própria ou dos outros), a Música, os Quadrinhos e as Artes em Geral pudessem oferecer sob os mais diferentes prismas e concepções! Mas sem jamais perder aquela carona de magia tão latente do nosso berço na saudosa década de 80...

Afinal, o que dizer dessa segunda década do século XXI e toda a enxurrada de subprodutos de massificação dos streamings dos novos tempos? Em que pese o fato de pequenas maravilhas como Stranger Things e Black Mirror terem surgido e seguirem a boa e velha cartilha fantasiosa oitentista, no Cinema não param de pipocar cansativas "superproduções anos 2000" de heróis anabolizados digitalmente e infalíveis em trocentas produções de "filmes de super-heróis" por minuto desde 2008, quando do início do MCU, o tal Universo Cinematográfico Marvel e seu supervalorizado cabedal de filmes fraquinhos - à exceção de alguns títulos realmente bons, como os primeiros Homem de Ferro, Vingadores Guardiões da Galáxia (já suas sequências...), todos os filmes do Capitão América e Homem-Formiga, bem como o último Pantera Negra, os demais são pífios e se vendem pela popularidade dos personagens e pela bem traçada estrutura novelesca de amarrar todos os filmes, no afã de agradar aos velhos fãs e de tornar cativos os novos seguidores deste milênio...

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"Eta, mundão grande e sem porrrteira...":
Eu mesmo nunca havia visto o velho Thanos sorrindo assim!
E pensar que os anos 2000 até começaram bem, nesse cenário de adaptações, com a trilogia do Batman de Christopher Nolan - em especial, Batman - O Cavaleiro das Trevas e o oscarizado Coringa de Heath Ledger. Depois, os ânimos ainda se manteriam em alta com a promessa de que um novo Super-Homem seria feito, a fim de "atualizar" o belo legado do kryptoniano - para tudo afundar naquela patacoada desnecessariamente sombria e boçal da "Visão Zack Snyder", que acabou naufragando o Universo DC na Sétima Arte! Hoje, após o fiasco de Liga da Justiça, a Warner/DC respira por aparelhos, mantendo-se viva graças aos divertidos e bem sucedidos Aquaman e Shazam!... E o que sobrou? O "Ploc Uva" gerado em CGI do Thanos inventado para a nova bobagem Vingadores - Guerra Infinita! É, "Thanos inventado", porque o das HQs, criado por Jim Starlin, nada tem a ver com esse bonachão "agente do censo demográfico", capengando pra lá e pra cá com carinha de triste e amuadinho com as "coisas que tem que fazer" para conquistar o Universo... Ah, tá: já estreou o tal Ultimato, segunda parte da "trama" que mudará de vez os rumos da Marvel no Cinema e... Blá, blá, blá! Enquanto esse estilo "Capitalismo Disney do Entretenimento" - que, infelizmente, já influenciou a saga Star Wars - perdurar, estamos muito longe de ver um novo clássico de adaptação quadrinista!

Mas quem sou eu para criticar a "geleia geral" que aos poucos se foi formando com a face policultural do novo milênio... Por isso, acho que o Robin pegou pesado com a gente: este blogue não só abriga super-heróis, como também sempre se colocou imerso num caldeirão de influências: diversidade cultural é aqui! Sempre lutando contra a repetitividade, com o tempo nos adaptamos à multitemática e multimidiática persona dos acelerados tempos virtuais e, às vezes numa só postagem, já tivemos condições de mostrar várias caras: da Filosofia aos Quadrinhos; de um grande nome do Cinema à Poesia; de uma crônica autoral à Fotografia - desde aquele já distante 29/30 de abril de 2004... Sim, o "dia de nascimento" foi duplo: de um dia para o outro, o post inaugural, com uma pequena apresentação e o poema Morcegos, foi alterado, apagado e refeito (o que já dava o grau da relutância em me transformar em "blogueiro")! Agora, que faço eu da vida sem esse adoráveis quirópteros criativos a voar por sobre a minha cabeça? Eu sei, tantas as vezes que me acovardei, pensei em desistir, abandonar tudo... Mas há uma espécie de voz sempre com tanto a dizer, uma "força estranha" que me impele a vir e contar o que aqui chegou e o que se segue, independentemente de alguém aparecer ou ler... Como também posso, amanhã, parar, de vez, de escrever...
"15 anos não são 15 dias"...

E, por tudo isso (e um pouco mais...), é que, nesta postagem especial de aniversário, terminamos múltiplos, com um videoclipe de trilha sonora, no melhor estilo dos tempos da MTV (mais anos 80, impossível!), com cenas do ótimo Guardiões da Galáxia (2014) - incluindo aí a sequência em que toca, no filme, o clássico Hooked on a feeling, do grupo Blue Swede (1973), releitura pop/soul da versão de B. J. Thomas (1968). E, em seguida, um novo poema, a fim de coroar com um pouco do todo que nos acompanha desde 2004. E, na base dessa eterna metalinguagem que nos acompanha entre os mundos real e virtual, os Morcegos confeccionaram este brinde especial aí ao lado para os primeiros 15 blogueiros de plantão que comentarem por aqui... Mentira (até porque ninguém vem mesmo...): presentear-se com a própria criação também é uma arte - e uma forma de amor! Eu que mandei fazer para os Morcegos me darem nesta data querida e debutante o lindo chaveiro à direita. Que venham mais e mais portas de universos paralelos de tempos e eras das mais diversas, para abrirmos com essas incríveis chaves cósmicas das HQs, sempre a puxar uma grande imagem ou uma marcante cena da memória, de preferência ouvindo algum sucesso atemporal no walkman...


"- Essa canção me pertence!"
Guardiões da Galáxia: um filme-símbolo deste melhor de dois mundos, entre os anos 80 e 2010.

Por tudo isso 
(e um pouco mais)

Para que tanta coisa acumulada
Se de nada mais posso dispor
Logo após essa madrugada
De dor...

Estalo os dedos:
Sigo o mesmo
Sem mais saber
Pra onde vou...

E ali, enfileirados e entrincheirados.
Seguem todos os meus carrinhos, bonequinhos,
Soldados e super-heróis
A postos e ensimesmados
A esperar a próxima ordem,
A buscar entender
O que mais se há de fazer
Depois de rendido seu líder
Por entre páginas roídas
Quando eu mesmo tiver que morrer
E dizer adeus às missões paradas
Destes insubordinados...

Porque aqui,
Onde nasci e aprendi a viver,
Jamais cresci
Conforme estava escrito pra ser...

(Só oprimi...)

Viver só quando me deparar
Com uma tela ou folha em branco:
Aí me atrevo,
Cresço pra cima dela, sou homem

- E escrevo!

(Dilberto L. Rosa, 30 de abril de 2019)

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Será hoje à noite...
(Literatura - Conto - Fotografia)





Todas as fotos desta postagem: Dilberto L. Rosa

Um sem-número de casas térreas, de porão e mirante, solares, sobrados, palacetes, meias-moradas, moradas inteiras, moradas-e-meia - alguns à beira de um colapso iminente, enquanto outros se exibiam como salões comerciais abertos estrategicamente iluminados em suas imensidões internas de escuridão: todas aquelas casas e casarões dos mais variados simplesmente passavam por ela, tinham seu valor, mas daí a todo aquele endeusamento romântico ("Ai, casal sendo desenhado com fundo de museu? Por favor!")... Todos aqueles irritantes turistas... Toda uma cadeira na faculdade pra estudar aquilo? Por um momento, sentiu-se perdida e foi realmente angustiante a sensação de ser tragada pelo passado de ruas, vielas e becos praticamente iguais, como se ela própria fosse alguém de tempos idos, uma ruína esquecida por entre azulejos mal remendados, sem futuro algum que lhe servisse...


Seminário de História da Arquitetura, para dali a dois dias - e logo trabalho de equipe, que ela detestava: sozinha, garantia-se, não precisava fazer o social, ainda mais naquele estado em que se encontrava ("Não tinha seis meses..."). Mas até ficou contente com a parte que lhe coube: bastariam umas fotos pelo Centro Histórico, levar os negativos pra imprimir e catalogar no básico, de acordo com aquele livro emprestado da biblioteca. Não queria escrever nada... Senão acabaria cronicizando toda aquela caminhada de tarde inteira de saltinho já quebrado pelas fendas dos paralelepípedos soltos das infelizes ladeiras que a esgotavam fisicamente. E não eram nem cinco horas e os restos de comércios e serviços burocráticos remanescentes já se viam trocados por casaizinhos à procura do melhor lugar para curtir o pôr do sol ("Curtir o quê, meu Deus? Sol se põe todo santo dia!")...

Coisas velhas, construções ali jazendo sem sentido, tijolos e pedras de quantas eras antes dela. Arquitetura agora lhe parecia uma grande bobagem... Era isso ou Direito, sua igualmente velha e carcomida mãe lhe repetia, sabendo de suas tantas dependências e faltas de ímpeto. Acabou por passar nos dois, faculdades públicas. Para seguir pensando em quem não era, talvez nunca seria... De repente, ela era uma edificação abandonada pela família, pela História, pela vida... Morta de sede, resolveu entrar numa daquelas casas-sem-identidade, que, assim como ela, um dia pôde ter sido alguma coisa, porém hoje não passava de fachada: tomou uma cara água de coco pra turista, comeu um bombom de bacuri e tirou mais fotos - algo naquelas paredes estava mais morto que ela... Saiu, caminhou, outras fotos de vidas perdidas ("Como a dele em mim... A que eu perdi...") e gradis enferrujados.

De repente, o "tijolinho" em sua bolsa vibrava: era aquele bendito celular, coisa insuportável de invasão de privacidade que sua mãe insistia que carregasse - pra ser encontrada, controlada, socializada... A curiosidade foi maior e ela abriu o flip, confirmando o "torpedo" que acabara de chegar: na mensagem de texto, enviada por uma antiga conhecida do colégio, logo abaixo de uma piadinha de duplo sentido, um convite para aquela noite: "Grande Reencontro do Terceirão, nesta segunda, 25 de fevereiro de 1993 - 10 anos depois! Favor confirmar presença! Carla". Tão atordoada, ideia de rever pessoas que não queria, inquisições que lhe acordariam os fantasmas mais incomodados... Foi quando se deu conta de que atravessara toda a Rua São Pantaleão e se encontrava em frente ao Cemitério do Gavião ("Não foi aqui que meus avós foram enterrados? Quem sabe eu os encontre..."). Não teve medo. Sentiu paz...

Tirou algumas fotos de lápides que achou belas, como que a se despedir do passado e a abraçar o presente ("Será que ele vai...?"). Ainda mais no quase futurismo do endereço do grande encontro, cobertura de um prédio de luxo, parte nobre da "Cidade Nova", atravessando a ponte... E se pegou paralisada diante de um suntuoso mausoléu, em que uma jovem falecera, com sua idade, exatos 100 anos antes... "Será hoje à noite...", disse em voz alta, pouco antes de sair decidida, quase que sem sentir o chão, dos umbrais daquele soturno ponto final de sua jornada - decidiu voltar a pé. Não queria esperar pela carona da mãe. Não queria mais ver ninguém até à noite. Tinha que se preparar...

segunda-feira, 15 de abril de 2019

MINHA DISCOTECA - Parte II
(Cinema, Música, Coleções)

COLEÇÃO PARTICULAR DE CDs
TRILHAS SONORAS DE CINEMA

05. HOLLYWOOD - The Greatest Hits (2 CDs) (*)
06. DORIS DAY - A day at the movies
07. Classic Disney Vol. I - 60 Years of Musical Magic
08. Cinema Serenade - Perlman & Williams
09. THE MATRIX REVOLUTIONS - Music from the motion picture
10. FORREST GUMP The Soundtrack - Special Collection Edition (2 CDs)
11. Music from The Motion Picture PULP FICTION
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Dando continuidade à minha estimada discoteca: após o elencamento de mais 6 discos, chegamos ao décimo primeiro título da minha coleção, ainda no "gênero" Trilha Sonora, e o destacamos por ser tão boa quanto o filme - afinal, um Cinema impactante e inteligente deve ter uma trilha sonora igualmente cheia de personalidade... And 'personality goes a long way', já diria uma das mais clássicas citações do longa, com trechos dos diálogos originais que podem ser ouvidos entre algumas das faixas do disco, um dos selos do diretor em todos os lançamentos de trilhas sonoras de seus trabalhos. E lá se vão 25 anos de uma das mais marcantes trilhas antológicas (reunião de composições musicais de diferentes compositores e épocas) da Sétima Arte: Pulp Fiction, escrito, dirigido e coproduzido por Quentin Tarantino, cuja trilha foi escolhida a dedo pelo próprio cineasta (outra de suas marcas registradas: “Uma das coisas que eu faço, antes de começar a escrever um filme, quando estou pensando em começar a escrever um filme, é ir até minha coleção de discos e botar pra tocar canções. Tentando encontrar, basicamente, a personalidade, o espírito do filme”, como diz Tarantino numa das faixas-bônus do CD), conferindo a essa obra-prima da estética da violência e dos pequenos caos humanos um tom ainda mais autoral!

Nem é necessário falar sobre algumas faixas "maiores que a vida" presentes no filme (e no disco), muitas vezes como forma de amenizar a "porrada" de algumas das situações do longa - como são os casos dos clássicos absolutos Jungle Boogie (sucesso funk das boates nos anos 70, da banda Kool and The Gang), Let's stay together (balada romântica soul do mestre Al Green, que, de tão famosa, já teve até uma sofrível versão em Português nos anos 80, Vício Fatal, na voz de Rosana), Lonesome Town (imortalizada por um ainda jovem Rick Nelson, nos anos 50) e Girl, you will be a woman soon (clássico sessentista de Neil Diamond, aqui na releitura da alternativa Urge Overkill, a narrar a emblemática e tragicômica cena da overdose da Sra. Vince Vega, vivida por Uma Thurman). Prefiro exaltar as canções que mais definiram sua cara atemporal, numa deliciosa embalagem cult para "celebrar" os personagens marginais dos romances policiais tipo B desde o título, pulp fiction, denominação genérica em Inglês para "ficção barata", justamente as tramas daqueles livrinhos baratos, símbolos nostálgico-culturais de meados do século passado - daí os divertidos "amassados" e os "10 cents" do pôster original, também capa do disco. 

E como lidar com essa feição pop entre o dia-a-dia de pessoas cruéis do submundo e atemporais símbolos imagéticos e traduzi-la em linguagem musical? Jogar algo mais pesado na tela, como metal ou punk rock? Justamente o contrário: a dureza de drogas e violência foi criativamente narrada com hinos da surf music dos anos 60 (que, para Tarantino, tem levada de "trilha sonora de antigos Westerns"), dando a essas sequências uma leveza estilizada e definições cool simplesmente inesquecíveis: desde a inesquecível abertura, com o anúncio de assalto pelo casal apaixonado de ladrões azarados (Tim Roth e Amanda Plummer), encerrada com a versão rock da tradicional música do folclore grego, Misirlou (na imortal releitura instrumental de Dick Dalepai da surf musicaqui na sua "modernização" dos anos 90, ainda a anos-luz do ridículo Pump It, dos Black Eyed-Peas, tempos depois), passando por Bustin' Surfboards, as deliciosas Bullwinkle Part II e Comanche, até o final com Surf Rider, que se liga ao assalto da cena de abertura do filme - que, por sua vez, continua uma situação do meio da trama e serve, de forma extremamente irônica, de "redenção" aos inesquecíveis matadores vividos por Samuel L. Jackson e John Travolta (ambos indicados ao Oscar por suas atuações)

Quanto ao filme, um clássico absoluto em sua rebeldia eterna; um "policial às avessas", merecido vencedor da Pama de Ouro em Cannes; um conjunto de crônicas fragmentadas de uma grande trama novelesca (violenta e, ao mesmo tempo, engraçada); uma história atemporal, tanto em narrativa quanto em simbolismos (música, direção de arte, figurino etc.), que acabou levando somente o Oscar de Melhor Roteiro Original. Quanto à trilha sonora, sem dúvida alguma, apesar de algumas faixas "menores" que pouco ou nada acrescentam (como as baladas country If love is a red dress e Flowers on the wall), uma coletânea de ótimas canções que, como em poucas vezes na História do Cinema, narraram tão bem cada segmento como se houvesse sido compostas para ele, tornando-se uma só com cada sequência visual - como a inesquecível cena de dança entre Travolta e Uma Thurman, matador empregado e mulher do chefe gangster, respectivamente, que se embalam ao som de You never can tell, clássico de Chuck Berry que emoldura uma das mais lembradas e festejadas danças da Sétima Arte: Vincent Vega e Sra. Mia Wallace, ao som de um perfeito e atemporal twist...




*Discos parcialmente avariados devido a um fungo.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

MORTES...
(Literatura - Poesia)

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Eu creio ter a fé que me convém:
Por quantas noites jurei renascer
Para morrer no dia que vem?

(Dilberto L. Rosa, 2017)

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Venha, pode vir, amiga cara
- Tenho nada melhor a fazer:
Desfrutemos a derradeira dor
Diante deste belo entardecer...

(Dilberto L. Rosa, 2019)



Temer a morte
É fugir do dia
Que criou a sorte
(Que fez viver)
De uma alegria:

Mesmo ligeira,
Assim fugidia,
Reinou, inteira,
(Ainda que)
Só por um dia...

Morte é a culpa
Do alvorecer:
Como uma culpa
(É descobrir-se)
Ao envelhecer

Sem transformação
Ou coisa que o valha...
Uma louvação
(Tudo que devo)
Se espalha...

Este é meu luto,
Eis meu carpir:
Rio resoluto
(Estou vivo)
Pelo nosso existir...

(Dilberto L. Rosa, 2019)

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Parece mentira...


Santa maledicência, Robin! E logo com os Morcegos, que sempre defenderam você e sua hombridade como parceiro do Homem-Morcego? De qualquer forma, ainda que não nos deixemos levar pela vaidade com a "defesa a tapa" do Batman - meme que já viralizou em diferentes versões (e pode ser recriado aqui), brincadeira com um clássico quadrinho em que o Morcegão está obcecado com uma vingança -, é inegável que, após tantos anos, inúmeras foram as fases deste humilde espaço virtual, todas, claro, focadas nas Artes em Geral com o estilo Pop como pano de fundo - aí, obviamente, incluindo o aproveitamento das referências a HQs e aos atualmente tão cultuados super-heróis... A começar da incrível imagem a encabeçar o blogue, com esse "batsinal" levemente tosco numa espécie de "lua de isopor": mais pop, impossível - cortesia da Drika, nossa anfitriã nesse mundinho e responsável pelo nosso primeiro template com essa "imagem sem dono" que coletou pela internet, no extinto Weblogger!

E, embora esse primeiro provedor gratuito tenha há tempos deixado de existir - precisamente em 2005, quando migramos para cá para o Blogger: sobrevivemos... E tanta água já rolou, ora passando diretamente pelo curso das postagens, ora apenas em tudo respingando de forma "poética"... E, assim, vida pessoal e obra virtual algumas vezes se confundiram (incluindo aí homenagens a "amigos", falidas "famílias virtuais" e indignações com a Política - esta, ontem e ainda hoje)... Mas isso até que os nossos queridos quirópteros de plantão batessem o martelo e passassem a definir um estilo próprio, a pautar necessariamente o "Cinema, Literatura e Artes em Geral" do cabeçalho: foram muitas as críticas de filmes, os ensaios sobre escritores e suas obras literárias (bem como modestos escritos de minha lavra - razão original que levou ao surgimento deste site) em maior número, e, nas "Artes em Geral", crônicas sobre cantores, compositores e muitos discos que marcaram época dominaram, bem como formaram-se inúmeras possibilidades com ensaios autorais de Fotografia e sobre a Nona Arte das HQs com o passar do tempo... Por tais razões, neste mês especial, um pouquinho de tudo isso estará presente em cada postagem!

Por isso penso que o Robin se equivocou ao pegar pesado com o bloguinho: a diversificação dos temas, como facilmente se pode ver, sempre foi gigantesca e, por mais super-heróis que tenham aparecido e recebido suas loas - com absoluto destaque para o glorioso aniversariante do ano, o Batman (80 anos de trajetória e 30 do clássico de Tim Burton), não por acaso o herói campeão de postagens e grande homenageado deste nosso mês de aniversário -, a intercomunicabilidade dos posts entre os heróis ali presentes e as demais artes nunca permitiu que este espaço se transformasse numa simplista casa de discussões quadrinistas! No fim, a Poesia acabou tendo a maior presença - afinal, tudo começou com um poema: o meu primeiro (disposto na coluna ao lado esquerdo), que dá nome ao blog...

E, parece até mentira nesse clichê de 1.º de abril, mas lá se vão quase 15 anos de Morcegos - a serem completados no próximo dia 30! E, com isso, é inegável o surgimento de todo um "multiverso" de peculiaridades, tal como se dá nos conceitos de "Terras paralelas" das HQs desde os flertes entre a Era de Prata com a de Ouro (surgido na DC Comics, no encontro entre seus dois maiores velocistas - na verdade, uma teoria do campo da Física, de Stephen Hawking)... A começar por essas metalinguagens de interação entre os morcegos do título e este humilde escriba, como se escrevêssemos em parceria (inspiração vinda, por sua vez, do "chapéu pensador", cheio de corvos, do Prof. Pardal), assim como outras constâncias por aqui, como os diálogos com os "incautos blogueiros de plantão" que eventualmente possam nos acompanhar, a presença de minhas coleções, o cuidado com as imagens (algumas precisando ser repostas)...

Não foram poucas as vezes em que eu tenha tentado separar-me dos Morcegos, por diversos motivos - sabe como é, aquelas velhas digressões filosóficas, dos tipos "como continuar (não recebo um centavo...)?! E para que escrever? Para quem? Quem, afinal, lê esta bagaça"... Os encontros e desencontros da vida, no entanto, acabaram por me levar a escrever mais e mais, com novas produções textuais para novos posts, ao ponto de me fazer dependente da arte da Escrita... Vício mesmo, eu diria, tamanha a satisfação em juntar letras e ideias nesse emaranhado de loucuras e brevidades e arrumá-las com o acento da perenidade e com a cara do blogue - espécie de situação inarredável, dada a impossibilidade cada vez mais concreta de viver sem os Morcegos... Em suma, "dentre as manias que eu tenho, uma é gostar" de escrever: separei-me cedo dos desenhos (agora querendo voltar...) e como um escritor me defini, desde aquele já longínquo abril de 2004! Então sigamos em frente, a poetizar a arte de cada dia sem dela jamais outra vez me separar...
 

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Em forma de pequenas crônicas, as dores e as delícias de ser um pai de um supertrio de crianças poderosas...

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