quinta-feira, 31 de outubro de 2019

BACURINGA

eternizar em imagens
Posso ver no céu a miséria a voar
Pássaros a esmo a esperar
O próximo tiro.
No chão, pisado e sem graça
O palhaço chutado e a desgraça
Presa à mão...

Tantos céus e cores
Tanto chão entre dores
- Ninguém é inocente...

Não há herói ou vilão:
Quando se cala a razão
Se vai à caça...

Não quero crer na explosão de vingança
Como solução de peito nu
Seja vermelha, seja azul
Sobre branco de maquiagem extravagante...
Quero ver gente cintilante
A bradar pelo brado seu
Nem que a arma a se usar
Venha do museu
No alto da escuridão.

Chão de estrelas degradadas
Alço voo pelo céu de giz
Medo da risada infeliz...

Deixa eu pintar o meu nariz
Ver o que essa gente marrom diz
- Te desagrada?

Pena da loucura irada
Palco armado, junta a turba
De gente sem mais nada
- À guerra! À merda!
Nada em volta a se perder
Só a revolta a pender, injustiçada!

"- Mas isso é perigoso
Essa coisa de empatia
Com quem é doido,
Só tem a noite e o dia,
Genocida, bicha,
Amalucado..."
O perigo está na mente
Presa de quem não viu
Nem riu do chiste mal contado...

A risada enfim se solta
Chão de corpos enfileirados
Em legítima defesa da história
Do quadrinho que se volta
E se confunde na memória,
Mas jamais perde a piada...

Viva no céu bacurau!
"Pássaro médio" se pronuncia!
Do chão nasce o Curinga
Ensaiando o seu sarau
De terror junto à multidão
A mirar a esmo,
Sem precisão, a harpia,
O morcego, o que vier
Da próxima escuridão...

A rir-se...
Sem estado
Nem chão...
O perigo está no riso!
Na loucura
Da reação...

(Dilberto L. Rosa, outubro de 2019)

Logo que pensei no título antropofágico para esse poema, lancei-o no Google a fim de ver o que poderia surgir nas imagens para esse meu neologismo e qual não foi a minha surpresa quando, no perfil do grande diretor-roteirista Kléber Mendonça Filho no Instagram estava postada essa divertida arte criativa! 
Meu poema independente e, ao mesmo tempo, atrelado e ainda fascinado com esses dois filmes pungentes e paralelos, encerra outubro com três posts abordando Coringa (e com Bacurau admirado nos especiais de setembro)...

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz...

Está tudo conectado...

Sabe quando a Warner Bros., depois do fiasco final na unificação de seus grandes medalhões no Cinema com Liga da Justiça, apressou-se em dizer que o seu mais novo recordista de bilheteria, o quase "filme-de-arte" Coringa, seria totalmente independente e não teria qualquer ligação com o restante do Universo Cinematográfico da DC (incluindo neste rol a próxima produção do Homem-Morcego, The Batman, com o ex-"vampiro purpurinado" Robert Pattinson)? Pois é... Parece que, diante do inusitado sucesso dessa inteligente, violenta, polêmica e bastante adulta versão cheia de camadas do velho Palhaço do Crime, já há rumores de que o diretor Todd Philipps estaria reunindo-se com produtores e elenco, incluindo o senhor "jamais-faço-continuações" Joaquin Phoenix, para uma sequência - que contaria também com outros famosos vilões de Gotham, como o Pinguim e o Charada! Ponto para a loucura, desde a inteligência do roteiro, passando pela perturbante atuação de Joaquin até a eclética trilha sonora - cujas peças instrumentais foram brilhantemente compostas pela violoncelista islandesa Hildur Guðnadóttir!


Nada como um milhão após o outro... Digo, vilão...

E sabe aquela famosa expressão do showbiz circense/teatral inglesa, Send in the clowns, "Que entrem os palhaços" (ou, ainda mais precisamente, "Tragam os palhaços") - sobre aqueles delicados momentos em que, acontecendo algo inesperadamente errado durante uma apresentação, recorria-se ao ardil da alegria contagiante dos palhaços para a distração do público, a fim de salvar tudo de uma grande confusão? Então, ainda sobre a inteligente trama de Coringa, nada mais metalinguístico do que se usar uma canção com esse título a fim de pôr o vilão como um "herói às avessas" de que o mundo e Gotham (ou, ainda, a perturbada mente do sádico criminoso) precisavam naquele momento! E assim foi feito: para emoldurar as tragédias pessoais de Arthur Fleck (Phoenix), inserido no próprio caos de uma megalópole cheia de necessidades por uma "salvação" - nas mãos de um insano palhaço! -, magistral a utilização de Send in the clowns (no filme, a inesquecível versão de Frank Sinatra), originalmente escrita por Stephen Sondheim para o musical A Little Night Music, onde a personagem Desirée, refletindo sobre seus desencontros e tragédias pessoais, pede que "entrem os palhaços" a fim de distrair o "público" e tentar "salvá-la" do fiasco no "palco" da sua vida...




Música que fala de teatro num musical - e conta o filme dentro do filme...

E sabe quais são os novos vilões previstos para infernizar a vida do Defensor de Gotham em The Batman (previsto para 2020)? Errou quem pensou no Coringa (os Morcegos são mesmo manipuladores...): pela quarta vez no Cinema, deveremos ter a Mulher Gato dando as caras e as garras nas telas, ao lado de outros inimigos famosos - agora, aparentemente, homenageando a Selina Kyle negra do arco Batman Ano Um, com a noticiada escalação da atriz Zoë Kravitz para o papel do alter-ego da ladra anti-heroína de caráter dúbio e complexo caso de amor (e ódio) do Morcegão. Tomara que saia coisa boa e marcante - afinal, quem não se lembra da inesquecível Catwoman vivida por Michelle Pfeiffer em Batman - O Retorno, de 1992? Pois é... Ali se tinha o exemplo perfeito de releitura para uma personagem das HQs (Selina, ao contrário da maioria dos seus conterâneos "colegas", jamais foi insana nos Quadrinhos) graças às (então) boas loucuras de Tim Burton... E, o que era melhor: tudo narrado por uma "onipresente" trilha sonora pop-dark de Danny Elfman, ex-Oingo Boingo e coautor da bela e instigante Face to Face, com o grupo inglês Siouxies and The Bansheesm que, brilhantemente, enredava-se por alguns arranjos da trilha do próprio filme e, na letra, conseguia falar de um amor mal resolvido entre auto-análises freudianas e, ao mesmo tempo, contar o tórrido e difícil caso entre Bruce/Batman e Selina/Mulher-Gato! 



Mais metalinguístico, impossível!

E é, para dizer o mínimo, ainda mais irônico que, sobre um universo de loucura que é o submundo de Gotham, em meio a convulsões e crises sociais, até existem ladrões pés-de-chinelo se acotovelando com chefões de máfia a cometer crimes contra as "gentes de bem", mas quem realmente rouba a cena são os lunáticos criminosos geralmente aprisionados no Asilo Arkham por um sujeito que, vestido de morcego e incitando medo nos malfeitores, consegue aparentemente ser ainda mais perturbado do que o próprio mal que combate, suando seu collant e vivendo no limite noite após noite... Porém, como diria o Coringa na obra-prima da Nona Arte A Piada Mortal, ao cantarolar uma "antiga canção" (ao menos na cabeça dele...), "Como é bom estar louco!": sabe aquela velha discussão sobre se, na verdade, foi o surgimento do Batman que "gerou" essa leva de bandidos malucos que ele, ao fim e ao cabo, tem que combater? Pois é... Parece que só imergindo na insanidade para se poder sobreviver a ela! E nada como uma saborosa loucura de amor para se proteger em meio ao caos da rotina diária de qualquer herói ou vilão - que os devaneios de romance de Arthur Fleck, em Coringa, não nos deixam mentir! Ou, melhor ainda, com direito a trilha sonora íntima e pessoal a narrar, coincidentemente, a cada canção ou música instrumental que brotar na tela, os sentimentos mais à flor da pele de Bruce Wayne e Selina Kyle...

Loucura, não? Não... Afinal, está tudo conectado...

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Elogio da Loucura...

Palmas...
Classificação dos Morcegos:
(Ótimo)
CORINGA:
Releitura de Releituras de um Ícone



Primeira origem para um monstro de loucura:
Alan Moore, em 1988, imaginou o Coringa um fruto
de fracassos (como comediante e pequeno criminoso)
e acidentes quase fatais (mergulho no ácido)...
Muito já se disse a respeito do mais discutido filme da atualidade, Coringa (EUA, 2019), do normalmente conhecido (e subestimado) como "diretor-roteirista de comédias" Todd Philips (trilogia Se beber, não case) e com grande elenco (que inclui Robert deNiro), encabeçado pelo sempre ótimo (e profundo) Joaquin Phoenix: de um lado, as já conhecidas críticas negativas com polêmicas sobre eventuais "incentivos" e "justificativas" para a violência dos marginalizados e oprimidos pela sociedade (no caso, o próprio Coringa numa Gotham City com cara de Nova Iorque de 1980); do outro, incondicionais derretimentos diante da performance de Phoenix e dos inúmeros simbolismos e referências a clássicos dos Quadrinhos e do Cinema...

Como não identificar, facilmente, elementos de A Piada Mortal (a mais famosa história de origem do vilão, em que também é um aspirante a comediante), Batman - Ano Um (cena do assassinato dos pais de Bruce Wayne seguida à risca) ou de Cavaleiro das Trevas (televisão onipresente com seus programas e notícias, analisada criticamente  e com o Coringa televisionado ao vivo)? E o que dizer da própria narrativa, diretamente imersa no período histórico da trama (início dos anos 80), época de soturnos clássicos oitentistas do Cinema contestador de uma América então coberta pela recessão e por falsos ídolos? Não por acaso, há enorme destaque para homenagens e releituras de dois deles em especial: os pungentes e dramáticos Taxi Driver (1976) e O Rei da Comédia (1982), ambos do mestre Martin Scorsese  que abandonou o cargo de produtor, tendo mesmo sido cotado para a direção... Sem dúvida, uma reflexiva construção de metalinguagens artísticas!

Nada como um dia após o outro para Robert deNiro:
Ontem, um perturbado comediante sem futuro (Rei da Comédia);
Hoje, o cínico apresentador que antes ele perseguia (Coringa)...
Nem preciso dizer, dada a classificação dos Morcegos (acima), que me filio à segunda corrente, dos que aplaudem com louvor... E há tanto mais a ser dito (no spoillers!), que o conjunto é bem maior que as poucas menções ora pontuadas! Assim, para além dos signos quadrinísticos e cinematográficos incorporados, tudo se mostra perfeitamente costurado numa história totalmente nova! Por isso, nada de ficar repetindo a asneira de que esse Coringa seria uma mera "mistura" entre o taxista psicótico Travis Bickle e o doentio comediante fracassado Robert Pumpkin (ambos personagens do deNiro naquelas obras-primas de Scorsese)!

Merece Oscar (e todas as demais grandes premiações):
entre o que tenta se adaptar e o que se entrega à loucura,
Joaquin Phoenix nos transmite pena,
compreensão, medo e asco...
E esse novo "estilo antropofágico" apresentado por Todd Phillips (um novo Tarantino?!), bem feito e numa embalagem conhecida (Drama social com Suspense psicológico à anos 70 e 80), aos poucos se revela uma bela e profunda fusão de temas tão relativamente distantes entre si (personagens de HQs e de filmes renomados; caos urbano e social real dos anos 80; discussão atual sobre fabricação e glorificação de monstros sociais etc.) por sobre um ícone consolidado do Cinema (inesquecíveis interpretações de Cesar Romero, Jack Nicholson e Heath Ledger) e dos Quadrinhos.

Numa inédita apresentação do personagem, pela primeira vez mostrado como um louco desde sempre (originalmente, a loucura advinha da sua queda num tanque de ácido, o que o deixa eternamente alucinado, branco e de cabelos verdes sem maquiagem), agora temos Arthur Fleck, um perturbado sujeito com inúmeros problemas psicológicos que, entre cuidar da sua mãe doente e manter-se num mundo cínico e opressor, acaba por virar vítima social de vários tipos de violência até uma ulterior "libertação" para práticas de assassinatos (secamente mostradas) em legítima defesa, por vingança ou por achar "devido", em meio a complexas convulsões sociais decorrentes da gigantesca recessão daquele início de Era Reagan... Protagonista insano e marginalizado inserido em cenário real de opressão  tão bem funciona de forma independente como bem poderia inserir-se em futuras produções do Homem-Morcego (especialmente diante de um final tão cheio de interpretações e possibilidades...)!

O louco assassino real que se fantasiava para se disfarçar e
o louco fictício, porém realista, que se fantasiou para se achar assassino... 
Trata-se de uma brilhante releitura das tantas já feitas com o "Palhaço do Crime" (aqui, com direito a uma nova maquiagem: triângulos azuis nos olhos, lembrando muito outro palhaço, o macabro e real serial killer John Wayne Gacy), sendo, entretanto, fiel a suas diferentes versões nesses mais de 70 anos de existência  desde sua primeira aparição, em Batman #1, de 1940, até hoje, muitas mudanças já rolaram pelas tantas mídias em que se fez presente: foi um sádico criminoso de jogos de estratégia (no início, nas HQs, e como mostrado em Batman - O Cavaleiro das Trevas, dirigido por Christopher Nolan, de 2008), um fanfarrão ladrão brincalhão (com direito a gás do riso, nos Quadrinhos e na série de TV dos anos 1960), um psicótico assassino engraçadinho (historinhas dos anos 1980 e 1990 e em Batman, 1989, de Tim Burton) e um caótico sádico e deformado, sem passado definido (a partir dos anos 2000). Logo, o fã de carteirinha de qualquer época sairá devidamente recompensado ao fim da sessão!

"Tantos rostos... Tão diferentes uns dos outros...
Tão poucos sorrisos..."
O Coringa poderosamente efeminado de
Frank Miller, pouco antes de matar a todos
num programa de auditório com gás do riso...
E essa reinterpretação se completa com outras ricas sutilezas: vemos o lado infantil latente do personagem (na sensível cena em que se assusta com a primeira vez que dispara uma arma, numa brincadeira), passando pelo sofrimento para controlar sua psiquê perturbada e se adaptar ao mundo "normal"  em seu desespero para conter incômodas risadas involuntárias, por exemplo, verdadeiro achado realista do roteiro para as famosas gargalhadas diante dos seus crimes nas HQs (como algo que nele parece querer "irromper")  incluindo toques de efeminamento, quando surge caracterizado e confiante na frente de todos, com a altivez característica do alucinado vilão (emulando o quase gay Coringa da 'graphic novel' Dark Knight, de Frank Miller, de 1986)... E isso sem apelações, num interessante e bem construído crescente na frente da tela: vários Coringas numa arrebatadora reinvenção – com direito a um inusitado encontro com seu futuro nêmesis ainda garoto, também emoldurado por outras adoráveis referências (como a deslizada do pequeno Bruce no "batposte" do parquinho, no melhor estilo da clássica série televisiva)!

Sim, há defeitos... E justamente quando mais tenta
alinhar-se com os Quadrinhos! Bom, eu mesmo me perguntei
qual família de bilionários que vai ver Zorro no cinema
numa noite de caos em Gotham e, ao tentarem escapar,
correm para o primeiro beco escuro... Os Waynes, claro!
Falando na Família Wayne, de se torcer o nariz, entretanto, para a transformação do sempre tão cordato e correto "símbolo de Gotham", Thomas Wayne, no "vilão" da vez, convertido de médico exemplar para Bruce e toda a Cidade num aspirante a político inescrupuloso, em contraposição ao protagonista "anti-herói", numa escancarada (e talvez desnecessária) crítica a Donald Trump, num acelerado processo final de "mal versus mal" que nem sempre soa da melhor forma (até um desfecho igualmente ruim)... Pensando bem, como criar empatia com um perigoso sociopata em potencial?! Tornando os conhecidos ícones da moralidade os novos algozes, ainda que indiretos, de todo o processo, oras – livrando-se, somente, o ícone Batman, aqui ainda um garoto a testemunhar o caos de Gotham em seu nascedouro (o que igualmente pareceu forçar uma conexão entre o futuro Cruzado Encapuzado e o insano criminoso)... 

Também de se lamentar a ausência de um final mais "aterrorizante" (apesar das já icônicas e cheias de diferentes interpretações "pegadas de sangue" num "futuro" Asilo Arkham... Teria sido tudo um devaneio?!), em que se veria, finalmente, após aquele frágil ser causar tanta piedade e compaixão na plateia, o triunfar da besta despertada em Arthur Fleck, nascendo, assim, o Coringa sádico e alucinadamente desprovido de moral ou sentido que todos amam (e com direito a um grande debochar da plateia pela piedade anterior, em mais um interessante exercício de metalinguagem  por que não?)! No entanto, analisando-se como um todo, tal final funcionaria só e tão somente como uma chata "cena pós-crédito (o que, graças a Deus, não teve!): um fan service para os decenautas de plantão, que, convenhamos, acabaria por quebrar a aura independente e anularia muitas construções dramáticas de toda a trama em função de futuras sequências!

"Dancinha Alex, The Large"?!
Não: ao contrário da loucura feliz do anti-herói de
Laranja Mecânica (e posterior piedade em razão
da violência estatal), esse Coringa nasce da loucura e,
até chegar ao seu descobrimento, causa pena...

Fórmula geral do sucesso de público e crítica: somatório de uma impecável interpretação de nuances (23 quilos mais magro... Oscar para Joaquin!), do burburinho causado com o prêmio máximo de um dos mais prestigiados festivais internacionais (
Leão de Ouro, em Veneza, em agosto), uma belíssima fotografia (entre interiores claustrofóbicos, como o apartamento de Arthur, e grandes espaços lotados de pessoas, caos de uma megalópole) e uma excelente trilha sonora – dividida entre os violoncelos de Hildur Gudnadottir (composta antes do filme, nalguns momentos lembra o que Hans Zimmer criou para o Coringa de Ledger) e o melhor do pop-rock e do traditional jazz (com destaque para White Room, Rock'n Roll Part 2 e clássicos de Sinatra  inexplicavelmente, sem a presença de Put on a happy face, de Tony Bennett)... O que restou? A polêmica da vez: a "glamurização" ou justificação da violência diante do "discurso esquerdista" de culpa à sociedade... 

Particularmente, não vi, em momento algum, qualquer vitrina de propaganda da violência ou de ode à vingança como resposta aos anseios sociais para que algum espectador encontrasse uma "desculpa" e assim se comportasse diante das adversidades da vida: fica claro, desde o primeiro frame, que veríamos muita coisa sob a óptica do vilão – o que é, de certa forma, temeroso, pela inarredável empatia com o narrador (assim como o igualmente polêmico Laranja Mecânica, de 1972)... Porém, como  somos sempre lembrados de sua grave insanidade, a "culpa" fica equilibrada entre a loucura do personagem e uma sociedade decadente e egoísta...

V de Vingança: mais uma das inúmeras reconstruções de clássicos
das Sétima e Nona Arte aqui, na releitura do uso de máscaras
para o anonimato em meio ao caos e à anarquia como vingança social.
Um dos maiores responsáveis pela densidade que acompanhamos na tela, o sempre ótimo Joaquin Phoenix (HerO Mestre), não poderia ter sido mais preciso, em recente entrevista ao site IGN“Não acho que seja responsabilidade de um cineasta ensinar a diferença entre o certo e o errado para o público: as pessoas podem interpretar letras de músicas de maneira errada, podem interpretar livros de maneira errada... Se alguém está nesse nível de distúrbio emocional, qualquer coisa pode ser um gatilho”! Perfeito: acusar a realidade doentia em que vivemos atualmente, de alavancadas fascistas crescentes por entre alienações coletivas, tão similar ao caos de desesperança do tempo revivido em Coringa, é negar o aspecto sociológico da Arte: fazer sentir e pensar  a Arte imita a vida! Já o contrário, o fato de "a vida imitar a arte", em relação a eventuais "influências" que aloprados como os incels ("celibatários involuntários", conhecidos por sua falta de trato social e combinados massacres armados...) e outros grupos fanáticos de perturbados sociais poderiam "sofrer" com esta produção, reúne tanta demagogia como os achismos de um presidente ainda mais perturbado e perigoso nos dias atuais... 

É como no inteligente dizer, em postagem no Facebook, do oscarizado documentarista Michael Moore (Tiros em Columbine): "Todos nós americanos ouvimos muito sobre este filme, que devemos temer e nos manter longe dele. Nos contaram que é violento, doente e moralmente corrupto. Nos disseram que a polícia irá vigiar as sessões em caso de problema. Nosso país está em um profundo desespero, nossa constituição está em pedaços [...] mas, por alguma razão, devemos ter medo de um filme. Eu sugiro o oposto: o maior perigo para a sociedade é não ver este filme"... Tal como um Erasmo de Rotterdam, iluminado contestador absoluto da sociedade de seu tempo – infelizmente por vezes tão similar à do nosso... –, em seu célebre Elogio da Loucura, bem poderia dizer a respeito da escalada de Arthur Fleck no imperdível lançamento do ano: "A pior das loucuras é, sem dúvida, tentar ser sensato em um mundo de loucos"...
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Dancinha da celebração de um psicopata é um absurdo?
Não para um pesado drama independente e, ao mesmo tempo, ótima adaptação de HQ!
Absurdo mesmo é jamais ter lido A Piada Mortal ou Louco Amor
(uma das primeiras repaginações do Coringa,
para a clássica série animada Batman)... 
 

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