segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Trilogia do Querer Voltar a Crer

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Não!

E se eu ainda me aventurasse a caminhar
Por sobre cada firme palavra que me pronunciaste
Antes do abandono...
Decerto eu cairia, não mais voaria suspenso
Na imensidão de cada jura sentida
Prometida com tua alma prenhe:
Haveria somente a gravidade dos teus pesos
Em meio à confusão de novas vidas
Do acordar de cada sono interrompido...

Não!
Começa me devolvendo
A simples angústia por tudo que me deste
E me faz acreditar...


Crescendo

Eu
Mesmo diminuto
E com alguma flacidez,
Acabo como nem fosse um gigante
Pouco antes de me apareceres
– E te envolvo com mil dos meus braços
E mãos
A fim de te fazer crescer
A partir do que sempre quis ofertar:
Cresce por mim!
Cresce pra cima de mim
Com meu corpo suado, marcado, ferido
Por debaixo do teu...
Que tu morras na nossa verdade,
Na complexidade do viver
Nossos sentimentos mais simples
Até o nosso renascer.
Então digamos uma prece
Com a pressa que me prometeste,
Para longe da falsidade
De vidas criadas
Por entre ungidos e escolhidos
Que tudo dizem saber
Diretamente de Deus,
Para que nosso momento nos carregue
E abençoe em nosso próprio altar,
Nos conforte e nos salve
Deste inferno
Onde sempre te querem guardar
(Porquanto leve o tempo que for
Nada nos podem fazer
Que só e tão somente
Nos atrasar...)!
Porque teu é o meu corpo
E tudo em mim que me torne melhor
Há de assim me fazer ainda mais
Por ti:
Então que tu cresças comigo
E que eu consiga ser
Maior que o leão de qualquer tribo,
Poderoso ao te proteger
Te cobrir e te morder os ombros, os seios
E, ao te comer
Todos os medos,
Rugir tão fortemente
Que nunca mais te faças de surda
E, assim, se desfaça
Cada uma das desgraças
Que nos roem
Suspensas em derredor e,
Enfim, que nosso gozo
Suba e se faça ouvir
Acima de todos os sentidos
E céus
Que puderem existir...


Canção das Certezas

Tu me dizes, arrependida,
Que o nosso amor
Nunca vai nos faltar
E que, aos poucos,
Tudo o que nos pertencia
Há de nos voltar
Eu grito por pressa, irrompo acabado com nosso verso ferido, de dor engasgada
Tu choras baixo,
Manténs a mão estendida
E me mostras o mar...

(Dilberto L. Rosa, 2018)
  

terça-feira, 18 de setembro de 2018

O Bonde do Batman
E seus dilemas mortais...


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Cena do sexto episódio da segunda temporada ("O Dilema do Bonde") da instigante comédia The Good Place, da Netflix, em que o "Deus/Demônio" Ted Danson recria o famoso dilema para torturar suas almas humanas preferidas...
Imagine-se sendo o condutor de um bonde e, percebendo-se sem freios, avista, logo adiante, cinco trabalhadores fazendo ajustes nos trilhos da ferrovia em que você vem trazendo seu veículo desgovernado... Num rápido lance, você consegue visualizar também um pequeno trecho de trilhos à direita, encaixado ao seu num desvio à frente e alcançável pela chave de controle do seu bonde, que o desviará para longe dos pobres cinco desafortunados operários – entretanto, nesse novo trecho à direita, você também descobre um homem, que não terá tempo de sair da frente do bonde em alta velocidade no caso de você mudar o curso... O que você faz: Aciona a chave de controle do bonde e o levará para a direita (melhor matar "só" um a ter de encarar a morte de cinco homens)? Ou não vira a chave, deixando-se levar no curso original, porque, de qualquer forma, você estaria escolhendo quem matar (e matar é errado, ilegal e/ou um pecado)?

Resultado de imagem para batman adam west burt ward trapSanto dilema, Batman!... Realmente, Menino-Prodígio: tal situação mirabolante bem parece ter sido extraída diretamente de um daqueles eletrizantes e bizarros finais da série televisiva Batman (1966/1968), em que, geralmente preso junto ao sempre exaltado Robin numa grande e mortal armadilha, várias perguntas pululavam na telinha, instigando a audiência a imaginar como a Dupla Dinâmica poderia livrar-se de tamanha enrascada no próximo episódio! Na verdade, a horrenda vivificação do parágrafo anterior faz parte do famoso Dilema do Bonde (The Trolley Dilemma), um desafiador problema proposto pelas filósofas Phillipa Foot (década de 1960) e Judith Thomson (anos 80), que, mexendo com inúmeras questões de Ética e Moral (tão bem aplicáveis numa aula de Filosofia, Direito, Sociologia ou Psicologia), aborda desconcertantes possibilidades de participação (ou não) do interlocutor nos destinos de outras pessoas.

E, falando no Homem-Morcego, todo esse dilema com o bonde ficaria bem mais interessante com ele mesmo sendo o motorneiro, não? Afinal, quem mais se contorceria diante da ideia de matar um inocente do que aquele personagem que, diante do testemunhar o cruel assassinato a tiros de seus pais na infância, jurou combater o crime, porém sem jamais desrespeitar o sexto mandamento, nem com criminosos? Super-Homem? Não... Afora o fato de que, com o Azulão e no caso do bonde, bastariam dois breves voos à velocidade da luz e tudo estaria resolvido, com direito a todos sãos e salvos posando para as fotos ao lado dos trilhos retorcidos! Assim, só restaria ao mais soturno, humano e cheio de conflitos paladino da justiça das HQs a dura incumbência de, driblando seus demônios internos e suas crises de identidade, a dificuldade maior na solução daquela desumana situação – depois que todas as tentativas com seu incrível cinto de utilidades falhassem, é claro!

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Curiosamente, no que me veio essa inusitada ideia para esta postagem, descubro na rede mundial de fazer doidos que alguém já a enfrentou – e filosoficamente falando: no livro Batman e A Filosofia – O Cavaleiro das Trevas da Alma, os autores Mark D. White e Robert Arp traçam, num grande artigo, um perfil psicológico sobre o mais complexo dos personagens dos Quadrinhos e, por entre profundas discussões como “A loucura do Coringa – O príncipe palhaço pode ser considerado moralmente responsável?”, “Bruce Wayne deveria ter se tornado Batman?” ou “Batman poderia ser o Coringa”, analisam o posicionamento ético do Maior Detetive do Mundo diante do tema "Por que Batman não mata o Coringa?" valendo-se do próprio "dilema do bonde"!

E então, numa pequena expansão do caso como aqui apresentado, agora com o Batman ocupando o lugar de quem enfrenta o dilema e estando fora do bonde, ao lado de uma alavanca que muda o curso dos trilhos, e com o Coringa sendo o homem dos trilhos do lado direito, em oposição ao grupo de cinco operários desavisados do outro lado, os autores do livro questionam qual seria o comportamento do nosso herói. Santa facilidade!, diria o jovial Burt Ward na pele do multicolorido Robin da série seiscentista  diante do extenso curriculum criminal do demoníaco Palhaço do Crime, o "justo" seria jogar o veículo para cima do infeliz e se resolveriam dois problemas com um bonde só: as cinco pessoas se salvariam e um dos mais sádicos assassinos de todos os tempos seria eliminado de uma vez por todas, salvando-se, com isso, toda uma infinidade de futuras vítimas possíveis do enlouquecido vilão! Será?
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Assim como uma das possíveis respostas mais coerentes para "solucionar" o sádico dilema de ética em questão seria o motorneiro (ou o observador de fora do bonde, na versão estendida) nada fazer, uma vez que, não tendo ele dado causa à situação de haver cinco pessoas em perigo no curso natural do bonde, igualmente não teria o direito de causar a morte de (ainda que somente) uma pessoa acaso desviasse o veículo desenfreado, da mesma forma o nosso querido Morcegão deveria comportar-se, com base nas seguintes razões:

1. Ele não mata;
2. Se ele desviasse o bonde para o lado do Coringa, salvaria cinco inocentes, mas, igualmente, mataria alguém (ainda que um louco de pedra sem respeito algum pela vida humana...);
3. E, se ele matasse o Coringa sob o "argumento" de que estaria salvando milhares de futuras possíveis vítimas (típico pensamento utilitarista, corrente ética embasada no que é moralmente aceitável de ações que visem a um bem maior ou à felicidade de todos), não haveria sustentação ética em tal gesto, dado que estaria punindo antecipadamente – algo absurdamente ilegal e inviável, porquanto nada comprovaria que o diabo voltasse a delinquir;
4. Já em ele matando o Coringa porquanto o próprio palhaço fora o responsável por colocar os cinco inocentes ali... Seria execução sumária por vingança! E sem direito a julgamento – o que, convenhamos, não combina com o rígido código moral do Detetive;
5. Por fim, e se ele matasse o Coringa para livrar-se da culpa que pesaria sobre seus ombros em relação aos cinco pobres trabalhadores? Difícil de acontecer... O mais provável, nesse caso, seria ele se erguer após o incidente, dizer seu já famoso "Eu sou Batman!" e, em seguida, justificar que só pode ser responsabilizado pelas mortes causadas diretamente por ele, não assumindo qualquer morte causada pelo Coringa!

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Justo e inteligente, assim me parece! Especialmente, pela óbvia razão de poupar o alucinado vilão para atacar em novas historinhas perturbadoras... Brincadeiras à parte, legalmente o nosso amigo dark dificilmente se safaria se se resolvesse por qualquer das decisões – ainda que tivesse à disposição toda a fortuna Wayne para compor a melhor banca de advogados! Ademais, resta ainda uma incômoda pergunta: Batman REALMENTE não mata?!

Na verdade, para quem não mata... O Homem-Morcego já causou bastantes estragos! E isso desde sua primeira aparição: roteirizada por Bill Finger (que, falecido em 1974, jamais viu o devido reconhecimento como co-criador do sombrio detetive) e desenhada por Bob Kane (por muito tempo considerado como o único idealizador dos personagens de Gotham City), a edição de número 27 da revista Detective Comics já trazia o Cruzado Encapuzado matando o empresário-vilão Alfred Stryker – e, a partir de então, teria matado inúmeras vezes, valendo-se, para tanto, até mesmo de armas de fogo! Logicamente que, com a forte censura dos anos 50 e as reformulações disso derivadas, acabou-se por considerar este Batman original, no melhor estilo policialesco e vingativo (espécie de fusão entre O Sombra e Zorro), como um "personagem de um universo paralelo", fora, portanto, da dita cronologia oficial, e pertencente a alguma "Terra" diferente da nossa... No entanto, com o passar do tempo e das várias mãos de roteiristas e editores inescrupulosos, conseguiu-se fazer com que o nosso honrado herói viesse a atentar, direta ou indiretamente e por muitas vezes, contra a vida de vários bandidos! Clique aqui e conheça um pouco sobre tais casos isolados e sem maiores proporções para a sua eticamente correta cruzada na sinistra Gotham.

Resultado de imagem para piada mortal última página batman e coringaE tudo isso para se chegar a um outro polêmico dilema em A Piada Mortal, considerada por muitos fãs como "A" obra-prima definitiva sobre o eterno embate entre o Cruzado e seu nêmesis, o Coringa – que, por sua vez, originariamente, morreria ao final da sua primeira aparição nas HQs, Batman n. 1 (1940), coisa que, graças a Deus (ou ao Diabo...) acabou não ocorrendo, dado o extremo potencial do vilão! Escrita pelo Mago maior das enigmáticas e filosóficas histórias, Alan Moore, e lindamente desenhado e colorizado, respectivamente, por Brian Bolland e John Higgins, a genial saga em formato graphic novel ("romance gráfico", uma história completa, geralmente considerada como à parte da cronologia das tramas continuadas convencionais) não só narrou, pela primeira vez, uma origem para o Palhaço do Crime – um comediante fracassado que, tentado pelo ganho fácil de um roubo, acabou enlouquecendo como o sádico assassino após cair num tanque de produtos químicos – e filosofou sobre seu eterno embate com o Homem-Morcego, como também deixou para a posteridade uma incômoda indagação ao final de sua trama: "teria Batman matado o Coringa na última página?".

Essa dúvida sempre existiu entre os "bat-fãs" e tomou bastante força na internet depois que a defendeu o também famoso roteirista do Morcego, Grant Morrisson, dando como certo de que a resposta a tal questionamento seria "SIM"! Na verdade, não creio ter acontecido tal final para o demoníaco vilão, por mais que a história se feche perfeitamente como começou – com os filosóficos pingos de uma chuva intermitente; praticamente o mesmo diálogo entre Batman e o Coringa ("Estive pensando muito ultimamente entre você e eu. Sobre o que vai acontecer com a gente no fim. Vamos matar um ao outro, não?"); a ênfase na piada que abre os textos e é contada por inteiro na penúltima página ("Tinha dois caras num hospício...") – e que alguns detalhes levem você a refletir sobre a possibilidade do assassinato – o fato de Batman ter rido junto, como se cruzasse finalmente a linha que separava ambos entre a sanidade e a loucura (que aparece, nos desenhos finais, como um reflexo, numa poça, dos faróis de uma viatura que se aproxima); os risos que vão diminuindo (restando só a sirena da viatura policial ou da ambulância que se aproxima); o próprio título da história... Sinto que a ironia da trama toda foi justamente isso: elevar a problematização dos dilemas vividos pelo herói a um nível em que nada mais lhe restasse a não ser rir junto com a loucura daquilo tudo – mas não a ponto de eliminar seu algoz!

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De qualquer forma, todo esse conflito existencialista sobre "matar ou não matar" parece reinar mesmo no mundo dos Quadrinhos, porque, em se considerando o universo cinematográfico do herói, os homicídios parecem não ser algo tão incômodo... Sem maiores dados estatísticos para os primeiros seriados cinematográficos do Batman nos anos 40, e não levando a sério os alucinados "POF" e "SOC" das onomatopeicas brigas quase infantis do divertido filme baseado no seriado televisivo dos anos 60, os Morcegos levantaram que, de 1989, ano de estreia de Batman, de Tim Burton, até o último filme da trilogia do diretor Christopher Nolan, Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), o "herói que não mata" eliminou nada menos que 44 criminosos! Isso sem contar os massacres dos filmes posteriores: no filme Batman Vs. Superman - A Origem da Justiça, com um surpreendentemente ótimo Ben Affleck vivendo um Batman mais velho e amargurado, em muito lembrando o Cavaleiro das Trevas de Frank Miller (para quem matar não era algo tão difícil, inclusive com uma forte tentação de eliminar o Super-Homem), o "placar" fica em 21 mortos (!); já em sua última participação num longa da DC/Warner Bros.Liga da Justiça, parece-me que, mais relaxado com a companhia dos "super-amigos", acabou "bonzinho" e não matou ninguém além de alguns parademônios de Apokolips, dimensão do vilão Darkseid...

À margem de data tão significativa quanto o Batman Day, "Dia do Batman", comemorado no último dia 15 e anualmente marcado por promoções e lançamentos de produtos licenciados sobre o Homem-Morcego, penso que o culto a personagem tão fascinante deveria ser bem menos mercantilista e muito mais filosófico – poucos personagens podem servir de referência para tantos estudos e livros sobre Psicologia, Filosofia e outros questionamentos científicos, como o alter ego de Bruce Wayne, e ainda servir fascinando, de crianças a idosos, ao longo de quase oito décadas (Batman fará 80 anos em 2019), em tão gigantesco número de mídias, capazes de render milhões e milhões de dólares! Mas e você: ainda duvida que um combatente da Justiça honrado e eticamente correto como o Defensor de Gotham tenha estraçalhado tantos criminosos por algumas historinhas e, especialmente, na tela grande? É só conferir os links especiais ao longo desta postagem e os vídeos logo abaixo e tirar suas próprias conclusões...

Ah... Já ia esquecendo: e o que VOCÊ faria no dilema do bonde?


terça-feira, 11 de setembro de 2018

Esse teu olhar...

– Teu olhar amolece...
– Oi?
– Teu olhar... amolece...
– Sou um sedutor (risos).
– Você sabe que é, qualquer mulher fica amolecida – e eu tenho vontade de matar todas! Mas falo particularmente de mim, de como é bom me entregar, ser eu mesma... Do encontro do teu olhar com o meu...
Esse teu olhar, quando encontra o meu...
– ‘Tou falando sério... Sim, não há nada que se compare a Bossa Nova, muito menos a você cantá-la pra mim! Mas eu falo mesmo do teu olhar, que é singular...
É tão singular... Ai, não: acabei de destruir a grandiosidade da Bossa com essa lembrança adolescente pasteurizada de alguns desses teus gostos duvidosos (risos)!
AnaVitória, elas são boas... Mas concordo: a Música se “pasteurizou”... Ai, esse teu vocabulário, "pasteurizada"! Só não te beijo agora porque estás dirigindo!
– Começaram os exageros...
– É exagero amar dessa forma?
– Não sei... Também sou louco por ti e te acho lindíssima!
– Ah, tá bom! Nem falo tanto disso, de beleza... Claro, você é lindo!
– Ai, ai...
– Eu me refiro ao teu olhar... Esse teu poder no olhar... Poder que transformou minha vida, nossas vidas... E que traz paz...
– “Olhar de mormaço”... (risos)!
– Jamais! Eles não têm nada da Capitu (risos)! Teus olhos não são perdidos nem dissimulados: eles sabem... E miram e acertam: eles dizem! Teu olhar... me amolece desde sempre, desse jeito!
– Eu sinto da mesma forma em relação a ti... E já que estamos falando no meu querido Machado de Assis: “Mulher, teus olhos são meus livros”...
– Que lindo!
– Eu te retribuo dizendo isso sobre os teus: ler teus olhos, na beleza e na profundidade deles... É algo que sempre me fascinou: teus olhos são muito bonitos, tua alma é bonita! Eu me apaixonei primeiramente por eles, pelo que eles me mostravam de ti. E eu sempre busquei neles a minha própria essência... Não da forma de Narciso, pelo amor de Deus (risos), que não via a beleza do lago, mas só o seu reflexo nele...
– No meu caso, não sei o que vês neles – “olhos-de-bomba”...
– Nunca! Olhos grandes, pretos e bonitos... Com certo ar marcado... (silêncio abrupto)
– O que foi...?
– Ainda dói pensar... Sabe? Lembrar que um dia eu me perdi neles, tu te valeste deles daquela forma enganosa... Teus olhos sempre tão verdadeiros comigo, e, de repente... Ainda dói muito como conseguiste...
– Eu estava tão perdida, amor: fui tão covarde conosco, comigo mesma... Nunca vou me perdoar...
– ...
– Eu te sinto... Estamos juntos... Muito mais do que antes... Queria muito que sentisses isso: eu fiz, eu voltei por você!
– Acho que eu sinto... Mas não faça nada por mim...
– Kid Abelha...?
– 'Tou falando sério...
– Também estou! Tudo o que eu queria dizer é que me voltei pras minhas coisas, como nossas coisas, depois de me ver de novo pelos teus olhos... Nosso olhar sempre foi diálogo, construção... E tudo começou com nosso olhar, que, no nosso caso, sempre foi abraço; casa e família... Contigo é porque tinha que ser: nunca suportei gente me encarando!
– Também não: tinha ojeriza a isso; gratuito e invasivo demais!
– "Ojeriza"... (risos)! Eu amo esse homem!
– (Risos)
– Vim tão confusa, imatura... Fui projeto nesse amor... E fui e me encontrei nesse teu perfil sereno  nesse teu olhar...
– ... Eu me firmo...
– ... Eu me firmo!
– Falamos juntos (risos)!
– Falamos juntos (risos)! "Juntos, outra vez! Parece sincronizado... mas pode ser explicado..."
– 'Tá bom, Frozen (risos)...
– (Silêncio)
– Cansou (risos)?
– Nunca! Tudo o que falo e vejo se renova contigo... amando... Um sempre feliz ano novo...
– Hoje você está poética e filósofa de um jeito...
– Só sentindo um pouco de tudo, essas conversas, essa terapia contínua nesse nosso encontro perfeito entre as imperfeições que a vida nos carrega! Sabes que...
– (Interrompendo) Olha lá, logo em frente... Chegamos! Te arruma, que já vamos descer...
– Não, amor: não para – continua dirigindo, tão bom te ver conduzindo nosso carro...
– Mas estão esperando a gente... O combinado...
– (Interrompendo) Não! Sei que parece meio de supetão, de improviso, mas não: uma vida inteira combinando como e o que ser com os outros, tentando consertar os outros, o mundo... Nunca fui eu! E quanto a nós? Não, hoje é diferente: o único combinado é de mim pra mim e de volta pra você! Entende? Nasci hoje! Você escancarou minhas janelas e eu vi tanta coisa... Agora eu luto pra fechar as portas de tuas fugas, que eu mesma alimentei... Por isso só quero que sigas, sem parar... Por favor! 
– ...
– Saber finalmente quem sou e o que posso fazer, depois de ver exatamente o que eu não quero para a minha vida e do que eu preciso pra viver – melhor ainda é descobrir isso contigo! Sou eu aqui! Somos só você, eu e o resto do mundo como coadjuvante... Olha isso (risos): escuta só o que 'tá tocando: acredita nisso?! "Meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja/ Não quero o que a cabeça pensa/ Eu quero o que a alma deseja"... Nossa trilha sonora, elaborada na nossa medida, no exato momento adequado da trama! "Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente"... Quero viver, amor, muito obrigada por mim: vamos seguir em frente!
– Não há o que agradecer... Sempre amei esse teu jeito de viver a Música da nossa vida! Certo, então... Para onde, agora, senhorita?
– Até onde esse teu olhar me conduzir, "Meu bem"...

sábado, 8 de setembro de 2018

Mais Uma
São Luís

Nessas voltas
Que o mundo dá
Que damos no mundo
Que descobrimos nossos mundos
Do lado de cá
Do mar...

Medo:
Pelo Giz, na Estrela, na Paz
Não mais te encontrar...

E por quantas nos voltamos
Para cada passeio quebrado
De salto
Por entre gradis e portais,
Em longos tempos passados
A mais para nos reencontrar...

São Luís
Nos volta sempre
Com o mar!

À nossa volta,
Eternidade brota
Por pedras soltas
Para antes e depois
De nós dois
No dourado fim da Beira-Mar...

Ilhados,
Era o que nos faltava:
Voltar!

(Dilberto L. Rosa, setembro de 2018)

sábado, 1 de setembro de 2018

Ontem e Hoje: O Amor de Sempre...



Antes e depois: o voo do maior super-herói com sua eterna amada e o tanto a ser dito e reafirmado...

A premissa era genial: dando continuidade aos eventos mostrados em Superman II – ou seja: depois do devastador ataque do General Zod e de Lois e Clark/Kar-El terem finalmente dormido juntos após o Super-Homem ter perdido seus poderes (e, ao final, tê-los recuperado, fazendo Lois esquecer-se de tudo) , o Último Filho de Krypton volta à Terra depois de uma longa viagem de cinco anos rumo a um ponto espacial recém-descoberto por cientistas, onde restariam os destroços de seu planeta-natal, e encontra sua venerada Lois casada com outro homem (e com um filho...) e ainda tem de enfrentar um vingativo Lex Luthor, que ampliou, em escala monumental, antigos planos para dominar a Terra!

Sem dúvida, prometia bastante... ao menos na teoria: afinal, nada em Superman - O Retorno (2006) parece ter empolgado a maioria dos seus ardorosos fãs na volta do célebre herói às telas desde o pífio Superman IV  - Em Busca da Paz, de 1987, e de algumas limitadas séries televisivas posteriores. Assim, Superman Returns amargou um grande fracasso nas bilheterias mundiais e conseguiu dividir a crítica especializada: à exceção de alguns que entenderam e apreciaram o tom de "filme-homenagem" (faixa em que me incluo), boa parte dos críticos defenestraram a aventura, ora execrando o insosso elenco (capitaneado por um fraquíssimo Brandon Routh como o super-herói, a tentar "emular" o eterno Christopher Reeve, morto dois anos antes), ora atacava veementemente a "falta de criatividade" do enredo...

Uma grande injustiça: Brian Singer, diretor da bem-sucedida franquia X-Men, largara a concorrente Marvel Studios para dedicar-se integral e amorosamente ao maior herói da Warner/DC Comics e produzir uma fusão de reinício de franquia e refilmagem dos dois clássicos originais, Superman - O Filme e Superman II- A Aventura Continua, aproveitando-se dos seus principais elementos (passagens com a voz de Marlon Brando, o visual da Fortaleza da Solidão e até o famoso tema de John Williams foram reutilizados na íntegra) e atualizando-os para os anos 2000. O próprio Singer afirmava que se tratava de seu "filme mais romântico", fato facilmente confirmado até por quem não gostou de Superman - O Retorno: desde o caprichoso cuidado com o figurino, a fotografia e a direção de arte, em tons pastéis e no melhor estilo art-decó dos anos 1930 (Era de Ouro em que o personagem foi criado), passando pelas várias referências a célebres diálogos (- Você será diferente... Fará de minha força a sua... O filho se torna o pai e o pai se torna o filho...) até os longos takes em reverência a momentos icônicos de 1978 e 1980, era claro o esmero no tributo que o diretor queria prestar aos inesquecíveis trabalhos de Richard Donner (diretor), Mario Puzo (roteirista) e Tom Mankiewicz (consultor de criação) nos primeiros longas.

Basta uma olhada, por exemplo, na releitura do famoso voo romântico (vídeos acima): se, no filme de 78, o herói, em sua primeira entrevista concedida à destemida repórter do Planeta Diário, decide flertar com a moça mostrando in loco como é voar por sobre os céus de Metropolis (na verdade, Nova Iorque filmada à noite), no longa de 2006 não só a entrevista é "refeita" como também o voo e algumas frases marcantes (– Você não deveria fumar, Srta. Lane...) são revistos, com o acréscimo de interessantes elucubrações sobre o "lado divino" do superpoderoso herói (– Você consegue ouvir? [alto, no céu, no que Lois nega] – Eu ouço tudo... Você escreveu que o mundo não precisa de um salvador, mas todo dia ouço as pessoas clamando por um...), num apuro e numa beleza poucas vezes vista no grande e industrial Cinema de entretenimento estadunidense, especialmente em adaptações de HQs, com novas divagações e situações interessantes a serem exploradas em futuras continuações – o que, infelizmente, jamais aconteceu, dada a verdadeira renegação sofrida por Superman Returns, deixado ao léu no "cânone cinematográfico" do personagem, que só viria a ter uma nova aventura nos cinemas quase 10 anos depois, com o realista, porém seco e irregular Homem de Aço, de Zack Snyder, 2014 (com Henry Cavil no collant azul), seguindo o ritmo mais moderno e bem menos romântico do herói nos Quadrinhos atuais...

Uma pena... Afinal, um dos elementos mais memoráveis dos dois primeiros Superman foi justamente essa pegada romântica, com direito a "mudança no tempo" em salvamento e desistência dos próprios poderes pela mulher amada, bem como a sorrisos carinhosamente enamorados em direção a uma plateia embevecida! Por isso, creio ter gostado tanto de Superman - O Retorno (sobre o que dediquei uma tocante postagem naquele já distante ano), que, independentemente de algum excesso de reverência e de alguns outros senões incontestáveis, que acabaram engessando a obra de Singer e limitando o seu resultado final, é inconteste o quão repleto de belas cenas ele é e, embora praticamente esquecido por boa parte dos fãs mais empedernidos ou moderninhos, foi capaz de marcar o legado do Azulão na Sétima Arte com uma Poesia digna de nota em inúmeros momentos!

Como na sequência em que, num serão na Redação do Planeta, depois de ajudar Lois Lane a recuperar o conteúdo caído de sua bolsa, Clark Kent acompanha sua amada, em silente e secreta devoção, por todos os andares para cima até a cobertura do prédio, com sua visão de raios-X (cena que se completa com a da entrevista e o posterior voo do começo desta postagem)... Simplesmente lindo! Para o "homem que tem tudo", fica bem claro que, sem amor e esperança, não há como viver... Muito menos salvar nada nem ninguém! O bom e velho amor incondicional sempre salvará, com sua Poesia, o mundo – e filmes que, mesmo com alguns defeitos, permanecerão poéticos...



Como o Amor e o Cinema nos cegam e enganam: a partir de 1'50'', o vídeo acima mostra como esta bela cena realmente foi feita a partir de um cenário parado e posteriores coberturas digitais de efeitos em CGI...
 

+ voam pra cá

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