segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Deu a louca no Oscar...?!

É mesmo de se perguntar: o que houve com a Academia no Oscar deste ano?! Primeiro, premiaria os "melhores filmes populares" de 2018 (sabe-se lá o que isto significa...), com uma categoria inédita para tanto, mas voltou atrás; depois, em resposta à recusa do comediante negro (e aparentemente homofóbico) Kevin Hart para ser o apresentador desta 91ª cerimônia, resolveu que não haveria um host central, mas apenas shows e as costumeiras participações de várias personalidades do Cinema para anunciar os vencedores; por fim, teve de recuar novamente, depois de fortes pressões populares e da classe artística, após enrolar-se em mais duas lambanças extremamente negativas: cogitou (e mesmo anunciou como oficiais) mudanças na apresentação das canções concorrentes (queriam escolher apenas duas, das cinco, para exibição!), bem como da entrega das premiações para melhores Fotografia, Edição e Maquiagem (seriam apresentadas de forma editada, num rápido compacto, durantes os comerciais finais!), sob a alegação de necessidade de redução da duração da cerimônia (normalmente próxima de 4 horas)... 

Com tantas bagunças de bastidores, miguelagens autoritárias e vai-e-vem de decisões diante das pressões da opinião pública, será que, sob o aval de Trump (outro maluco imperialista ultraconservador, cheio de tretas e negociatas) e em agradecimento a alguma subserviência bem feita (instalação de bases militares por aqui ou pressão "humanitária" sobre a Venezuela?), a Família Bolsonaro assumiu também a presidência da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood?! Só pode! Imagine o discurso (curtinho e cheio de fake news)... Da série "Cenas que não gostaríamos de ver":  
Piadas farsescas à parte, parece que não vingou o sanatório geral à brasileira que aparentava se formar nos rincões da "maior premiação do Cinema mundial" - coisinha chata e repetida à exaustão pela Imprensa tupiniquim (em qual sentido seria esse "maior"?)... A cerimônia não foi o fiasco previsto! E os "números" (também irritantemente) tão alardeados sobre as muitas premiações a filmes com temáticas representativas de minorias latinas e contra o racismo e a homofobia impressionaram, assim como os discursos mais inflamados (até sobre direitos trabalhistas no Terceiro Mundo!) e a maior quantidade de indicações e conquistas de artistas negros da História de Hollywood foram coisas que, com certeza, deixaram qualquer bolsonarista irritadíssimo e doido de vontade de maratonar os "cursos" do Olavo de Carvalho pela internet (sem falar no Trump, que costuma correr desesperado para o Twitter nessas horas...)!

Acabou se destacando a diversidade nesse Oscar - e no mais amplo sentido da palavra! A começar por seu "curvar" à Netflix ao premiar com 3 Oscars o belíssimo Roma pró-mulheres e indígenas explorados, laureando como melhor Diretor, Produtor (Melhor Filme em Língua Estrangeira) e Cinematógrafo o mexicano radicado nos EUA Alfonso Cuarón (com discurso em Castellano e estocada no clube fechado da Academia sobre os "filmes de Língua Estrangeira" que via quando criança). E assim também se daria com o tema da homossexualidade nos surpreendentes 4 Oscars para o fraco, porém cativante, Bohemian Rahpsody, cinebiografia romanceada de Fred Mercury na formação do Queen - que se apresentou logo na abertura da cerimônia. E, da mesma forma, com a representatividade negra, desde a já aguardada Melhor Animação para o "Homem-Aranha negro (e latino)" Miles Morales em Homem-Aranha no Aranha-Verso, passando pelas duras temáticas sociais de Se a Rua Beale falasse e sua Regina King como Melhor Atriz Coadjuvante e com as 3 merecidas estatuetas para o inteligentemente divertido Pantera Negra (melhores Design de Produção, Trilha Sonora e Figurino, belos trabalhos de equipes predominantemente formadas por afro-americanos).

Sem esquecer, é claro, as temáticas contra o racismo dos outros 3 prêmios para Green Book - O Guia, incluindo o mais cobiçado da noite, o de Melhor Filme, e da consagração, com o justo Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, para Infiltrado na Klan, da inteligência ativista de Spike Lee - que, apesar do Oscar honorário pelo conjunto da obra recebido em 2006, jamais fora antes reconhecido como merecia ao longo de sua brilhante carreira de alma... Falando nisso, de se destacar o simbolismo da figura desse diretor novaiorquino ao longo de toda a festa de entrega dos prêmios, para além do seu visual caprichado com chapéu, smoking roxo à Prince e dedos ornados com os famosos anéis estilo-soco-inglês com love e hate para cada mão, referência ao famoso personagem Radio Raheen de seu clássico-maior Faça a coisa certa - frase igualmente emblemática que, não por acaso, encerrou seu pungente discurso de agradecimento, abordando desde os navios negreiros até os duros e preconceituosos dias da Era Trump (cortaram seu microfone ao final?). 
Animado talvez com o tom mais progressista da noite, o diretor da ótima adaptação de uma história real, em que um policial negro se infiltra na Ku Klus Klan - excelente comédia dramática de suspense, com afiados roteiro e elenco (destaque para Adam "Kylo Ren" Driver, indicado a Melhor Ator Coadjuvante) -, foi ovacionado quando da sua premiação e bastante elogiado por Barbra Streissand, posteriormente, no palco, mas terminou a noite numa revolta solitária e silenciosa, visivelmente indignado com a conquista maior de Green Book (literalmente "livro verde", um guia real para orientar "pessoas de cor" sobre os seus "devidos lugares" no Sul cheio de preconceitos). "Capricho militante" do mais combatente diretor do Brooklyn? De forma alguma... Afinal, apesar dos muitos momentos tocantes e aparentemente combativos ao racismo (num roteiro que se anunciava como perfeitamente arrumadinho e costurado para o Oscar de Melhor Roteiro Original, que realmente levou), Green Book foi muito criticado não só pela família herdeira do pianista negro Don Shirley (impecável Mahershala Ali, Melhor Ator Coadjuvante) porque teria faltado com a verdade e enaltecido a figura do seu motorista ítalo-americano, Tony Lip (não por acaso, o filme foi coescrito pelo filho deste, Nick Vellalonga) como também pelos ativistas, que apontam o filme como superficial e condescendente com o eterno papel do "branco salvador" (que, no caso, chega até a "ensinar" o pianista a "como ser negro")! 

Também, o que esperar de Peter Farrely, diretor, produtor e corroteirista do "melhor filme" deste ano e o mesmo por trás de "comédias" escrachadamente preconceituosas dos anos 90 e 2000, como Debi e LóideQuem vai ficar com Mary e Eu, eu mesmo e Irene? O mesmo perfil que parece desejar a Academia na atualidade, quando ainda luta para limpar-se da pecha #OscarSoWhite: um maquiado retrato contra o racismo, para aparecer melhor na foto, mas nada que realmente discuta o racismo... Assim, apesar de bem feito, acabou prestando igual desserviço desempenhado pelo fraquinho Conduzindo Miss Daisy, de trama similar, em que Morgan Freeman dirigia para a esnobe judia vivida por Jessica Tandy e daí surgia uma "bela amizade", igualmente oscarizado como Melhor Filme em 1989 - mesmo ano da pequena obra-prima Faça a coisa certa, solenemente ignorada pela Academia... A propósito: Spike Lee, ao final, resolveu não polemizar com a visão excessivamente conciliatória (e "conduzida" por brancos) de Green Book e saiu-se, pelas inquisidoras entrevistas, com a excelente pérola: "Toda vez que alguém conduz alguém [dirige pra alguém], eu perco", numa debochada referência a Driving Miss Daisy, queridinho daquele ano insosso - restando claro que, com "perder", Lee abrange bem mais que um simples Oscar...

Mas se a diversidade realmente ultrapassou (ou não) tais comezinhas discussões, o Oscar 2019 seguiu burocrático como de costume, com ainda menos emoção que as edições anteriores especialmente em razão das obsessões comerciais com a redução do tempo de exibição e da falta de um apresentador central e seus discursos e números cômicos, o que costuma dar "alma" à esnobe bagaça toda... De qualquer forma, o tom mais "intimista" rendeu ao menos um momento mais tocante: a performance de Lady Gaga e Bradley Cooper, ao apresentar o sucesso do apenas simpático e interessante Nasce uma estrelaShallow (Oscar de Melhor Canção), marcou a noite, desde a filmagem informal da colocação do piano no palco, com uma câmera vinda dos bastidores em direção à plateia, até que o casal, sentado na primeira fila, sobe ao palco e se entrega numa bela performance - apesar da canção ruinzinha e do refrão mela-cueca, digno de uma versão de qualquer banda de forró eletrônico romântico (eu preferia a canção de O Retorno de Mary Poppins...)!
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Neste ano, os Morcegos e eu vimos todos os indicados a melhores Filme e Animação! E, além dos já mencionados, gostei muito de Vice e dava como certas as premiações de Melhor Ator, para Christian Bale (venceu Malek e suas superficiais imitações de Fred Mercury com dentadura do Ceará, do Pânico!), e de Melhor Edição, para as dinâmicas ironias e os finos sarcasmos sobre o poderoso e nefasto vice-presidente de George W. Bush, Dick Chenney (novamente perdido para Bohemian Rahpsody!), mas só ficou com Melhor Maquiagem, realmente imbatível! Não gostei muito, porém, dos exageros de A Favorita (do mesmo diretor do hermético e estranho O Lagosta), que acabou levando na categoria de Melhor Atriz, com a ensandecida Rainha Anne de Olivia Colman desbancando o favoritismo de Glenn Close em A Esposa - não adiantando a veterana atriz de Atração Fatal se vestir de estatueta dourada! E, entre as animações, para além do mais do mesmo de Os Incríveis 2 e Wi-Fi Ralph, eu me surpreendi com a pungência de Ilha dos Cachorros e já estou baixando o japonês Mirai pra ver depois, considerando justo o prêmio para o multicolorido e divertidíssimo Homem-Aranha no Aranha-Verso (mais Marvel!).

Enfim parece que deu tudo certo: tanto o "politicamente correto" de uma Academia predominantemente branca e masculina (mais uma vez, nenhuma diretora indicada...) quanto alguns dos realmente melhores venceram! E acabou não sendo tão rápida a cerimônia quanto as piores previsões vaticinavam - como a hilariante sketch recente do Porta dos Fundos, em que o personagem vivido por Porchat se lamenta por não ter assistido ao Oscar em razão de tudo ter se passado em menos de 10 minutos, em debochada alusão aos absurdos elencados no início desta postagem. O que durou quase 10 minutos, de fato, foi a exibição do Oscar na famigerada Rede Globo, que, somente depois de um longuíssimo e vazio Fantástico e do imbecilizante Big Brother Brasil, mostrou os últimos instantes das pouco mais de três horas da premiação (acompanhei o que a minha internet ruim da TVN permitiu): "muito bonito, dona Vênus Platinada", como diria o genial militante do Adnet em Tá no Ar!

Decididamente, não "deu a louca" no Oscar e tudo permanece sob o bom e velho controle da Matrix de sempre... E, entre mortos e feridos, salvaram-se justamente... os mortos: no sempre terno quadro In Memoriam (até no Latim mexem esses imperialistas ianques: a expressão original termina com 'n'), foi tocante lembrar (ou ficar sabendo sobre) os muitos artistas do Cinema mundial que se foram em 2018 - dentre eles, o nosso querido imortal Nelson Pereira dos Santos e o eterno editor-chefe da Marvel, Stan Lee, que, dentre outras atividades (guru espiritual, Relações Públicas de luxo e figurante nos filmes de seus personagens - dentre eles, o Pantera Negra), foi produtor executivo de todo o Universo Marvel nos cinemas e na televisão... Tudo ao som de Leaving Home, faixa da inesquecível trilha sonora de John Williams para Superman - O Filme (conduzida pelo maestro venezuelano Dudamel: mais representatividade latina, yeah), que cresceu no seu tema principal justamente quando surgiu na tela a bela Margot Kidder, eterna Lois Lane de Superman - O Filme, na já icônica foto trajando uma camiseta azul com o 'S' no peito - e que particularmente me emocionou mais: a atriz de 69 anos, ativista política que lutava contra transtornos bipolares, suicidou-se no dia do meu aniversário, no ano passado...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

MINHA DISCOTECA
Parte I

COLEÇÃO PARTICULAR DE CDs
TRILHAS SONORAS DE CINEMA

00. Schindler's List - Original Motion Picture Soundtrack (GRAVADO)

01. West Side Story / Western Themes (2 CDs)
02. Cinema History - Alfred Hitchcock
03Cinema History - Music form The Films of Harrison Ford
04Cinema History - Heroes in Hollywood
cd cinema history
Imagem extraída da internet
O meu, infelizmente, encontra-se em estado inferior de conservação...
Começo hoje uma jornada de postagens pelo que tenho de melhor em minhas coleções, partindo da minha estimada discoteca - primeiro em CD (os que estão comigo, em meu gabinete-escritório de casa), para, posteriormente, empreender uma busca pelos antigos vinis (perdidos nalgum ponto do Cosmo...). Mas não inicio necessariamente do "começo": meus primeiros CDs adquiridos foram No Tom da Mangueira e Billie Holliday, ambos coletâneas, das minhas seções "Nacional" e "Jazz", respectivamente, e vendidos a preços populares numa extinta loja de discos local. Escolhi começar do subgênero "Trilha Sonora" unicamente por se tratar de, na ordem em que são guardados, serem os primeiros colocados, na minha "torre menor" (sobre isso, já falei aqui - embora hoje a disposição esteja levemente diferente).

Resultado de imagem para lata cinema history coleçãoPasso, então, a enumerar os títulos de minha discoteca, do número "00" (não-oficial, por não ser o original) até parar no destaque da vez, o quarto disco (empilhados que estão horizontalmente, por sobre a torre, porquanto alguns não cabem direito na parte interna). Neste post, escolhi o último volume que adquiri de uma primorosa coleção hoje fora de catálogo, Cinema History, que, em belas latas (com direito a espuminha interna, para maior proteção do CD), 20 títulos de interessantíssimas coletâneas foram lançados, de Born on fourth of July: films of Tom Cruise até a trilha completa de Lawrence of Arabia. Infelizmente, só consegui comprar três na época (1995, ano bom... Muitas grandes aquisições)...

E, neste meu dileto exemplar já iniciado em corrosão (as latas são de ferro...), encontra-se uma das mais inusitadas antologias: sob o título "Heróis em Hollywood", estão desde trilhas de heróis consagrados, como 007 (temas de Dr. No From Russia with Love, ambos com Sean Connery na pele do agente secreto), Conan (Conan: The Barbarian, eternizado por Schwarzennegger) e Rambo (do único bom filme da série, First Blood, estrelado por Stallone), até inusitadas referências, como Al Pacino em Godfather III (Michael Corleone, um herói?!), Kevin Costner, por vários filmes (Os Intocáveis, Dança com Lobos e Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões), e Clint Eastwood pelo violento, porém sensível faroeste moderno Unforgiven. Apesar do selo brasileiro Paradoxx Music, todas as informações do CD vêm em Inglês, completando o disco temas "menores" em mais 3 faixas: 4, Kurt Russel em Big Trouble in Little China; 6, Tom Selleck em High Road to China; e 12, Jean-Claude Van Damme em Double Impact.

Deu vontade de ouvir de novo essa heroizada... Latinha para o carro, amanhã! E até a próxima parada dessa longa jornada... Com a grande trilha do filme Pulp Fiction - Tempo de Violência, que completa, neste ano, 25 anos de inventividade (e sonoridade)!

domingo, 10 de fevereiro de 2019

"Não apenas um fã"...

Criador de adoráveis e inteligentes fanatismos...

Na semana passada, saindo do cinema com uma adoravelmente mágica sensação de encantamento após ver Vidro (Glass, 2019), o mais recente drama-fantástico do diretor, produtor e roteirista M. Night Shyamalan (Manoj Nelliattu Shyamalan), peguei-me pensando como sou fã desse criativo cineasta indiano (naturalizado estadunidense)... Com ele me maravilhei desde o seu primeiro grande sucesso, o já nascido clássico O Sexto Sentido  (1999), aquele em que o lindo garotinho Halley Joel-Osment via "pessoas mortas" e era ajudado (e ajudava) Bruce Willys, e sacramentei minha admiração com a sensível pequena obra-prima Corpo Fechado, um dos meus filmes prediletos, em que David Dunn (Willys) se descobre um "super-ser" em meio às destruições causadas pelo "vilão Sr. Vidro" (Samuel L. Jackson) enquanto tenta recuperar sua vida familiar  e cujo lamentável título em Português mais evocava conceitos populares da Umbanda do que fazia jus ao original Umbreakable, "inquebrável", em poética homenagem realista aos Quadrinhos de Super-Heróis

Quase não via Vidro: bastante distanciado que vinha me mantendo dos lançamentos cinematográficos  nos últimos tempos, descobri somente pouco antes de sua estreia que se tratava de uma continuação direta de Corpo Fechado, entremeado por um thriller de releitura dos filmes de psicopatas, o muito bom e assustador Fragmentado (Split, 2015) – em que o atual "Professor X" da franquia X-Men, James McAvoy, vira a "Fera" em meio a outras 23 personalidades que dominam o atormentado jovem, e a que só assisti dias antes de ver esta "terceira parte" de uma improvável, porém instigante trilogia, numa espécie de grand finale típico das HQs, com a gradativa e cheia de suspense construção do embate entre o herói "O Supervisor" (como o herói inquebrável de Willys agora é conhecido) e os vilões ("Sr. Vidro", de Jackson, e "A Fera", de McAvoy, entre outros...) após uma opressiva estada forçada num hospital psiquiátrico para "estudá-los" (assim mesmo, sem julgamento prévio nem maiores explicações de Shyamalan para o recolhimento... "coisa de Quadrinhos"...).

Em Vidro, que consegue não só a façanha de reunir todos os personagens dos dois filmes anteriores como também retomar a poeticidade sobre super-heróis realistas de Umbreakableuma das mais fortes sensações em mim despertadas, curiosamente, nem se deu com o criativo e intrincado enredo, capaz de amarrar as tramas dos dois filmes anteriores, ou ainda com a interessante fotografia, que muitas vezes joga na tela cores de fundo verde, amarelo e roxo (às vezes moderado para um tom abaixo de rosa) para definir cada personagem, numa policromática reverência às revistinhas do gênero, nem tampouco com o inteligente plot twist da vez, aquele momento em que o roteiro dá um "susto" no espectador com uma reviravolta inesperada, mais famosa marca característica do diretor: a minha grande surpresa mesmo foi quando foi "revelado", ao longo da projeção, que a inesquecível história original de Corpo Fechado passara-se exatamente há dezenove anos...

Aquele filme que confirmou e então determinou minha doravante fidelidade de acompanhamento artístico a M. Night Shyamalan – que incluiu o imenso apreço pelos suspenses criativos e de tirar o fôlego de Sinais (2002) e A Vila (2004); a inventividade infantil de A Dama na Água (2006); a deliciosa homenagem aos filmes B de ficção científica e catástrofe mundial de Fim dos Tempos (de 2008, muito mal interpretada pela crítica, mas recentemente "homenageada" no fraco Birdbox, da Netflix); e o terror familiar de A Visita; além, é claro, da trilogia em questão – foi lançado no já distante ano 2000! Logicamente que o primeiro pensamento ocorrido após o impacto foi "– Deus, estou velho!... A parte boa, no entanto, foi que, ao invés das dificuldades de praxe que costumam me perseguir em casos desse tipo desde que completei 40 anos (uma angústia diante de tudo o que em minha mente ainda jovial parece ter se dado ontem, embora já remonte a décadas), predominou um contentamento de completude sobre o susto advindo com o longo interregno que separa o primeiro deste terceiro filme, algo bom em relação ao envelhecer e às surpresas que a vida vai nos trazendo com o passar do tempo (ainda que tais surpresas nem sempre sejam tão agradáveis, como se deu com certos desfechos do filme antes do final redentor e do reforçador poético da última cena)...

Etimologicamente, a palavra "" vem do Inglês, fan, que, por sua vez, é abreviação de fanatic, fanático em bom Português – que tem sua origem no Latim fanaticus, “louco, entusiasta, inspirado por algum deus”, originalmente “relativo a um templo”, fanum (em Latim; daí profanum, profano; aquilo que está fora do templo). Assim, um fã seria uma versão moderna de um "adorador", só que cultural (artístico ou político ou dos esportes), algo mais que um simples seguidor ou torcedor: alguém que se identifica profundamente com determinadas pessoas e seus feitos e a eles se imiscui de uma forma íntima e carinhosa sem sequer conhecimento dos seus criadores e protagonistas na maior parte das vezes. E tais criadores e protagonistas normalmente são adorados, na plenitude de suas produções, por um desses adoradores – ou seja: fã gosta de (praticamente) tudo de seus adorados! 

Posso dizer, então, que, para longe de qualquer "fanatismo" nas acepções atuais ligadas a falsos "mitos" ou ideologias religiosas, sou fã de alguns seres humanos cujos feitos foram divisores de águas em diferentes esferas – como Garrincha, com a invenção dos dribles desconcertantes no Futebol, e, na Política, o atualmente alvo-maior da Extrema Direita e suas caças-às-bruxas, Lula, um dos maiores presidentes que teve esse País atualmente em retrocesso) ou cuja obra é tão excepcional em sua inteireza que fica quase impossível não gostar de tudo (como Chico Buarque, na Música de maior Poesia brasileira, bem como na sua Literatura de tipos perdidos e histórias fragmentadas; João Gilberto, Billie Holliday, Maria Bethânia, Frank Sinatra e Nelson Gonçalves, com os quais entendi o que é interpretação e aprendi o pouco que sei de cantar; Woody Allen e Stanley Kubrick, em seus Cinemas inteligentes de intensas produtividades e abrangências de estilos e gêneros). Creio poder falar assim também em relação a Shyamalan, cuja "adoração" não é exclusividade de poucos e beira mesmo a uma religião, que cultua até mesmo os fracassos de crítica e público do diretor, como O Último Mestre do Ar (somente uma razoável aventura infanto-juvenil) ou Depois da Terra (que jamais consegui ver por inteiro...)! 


Afinal, nada mais justo em relação a um artista cujos filmes, na maior parte do tempo, reverenciam fanáticos ou fanatismos em meio a pessoas comuns com algum dom extraordinário, homenageiam ou critica temas como fé, cultos e religiões, e jamais esconderam sua absoluta adoração ao estilo criado por Sir. Alfred Hitchcock (até mesmo nas já tradicionais aparições do indiano em seus filmes, tal como os cameos do Mestre maior do Suspense) que, invariavelmente, sempre recria nos mais variados gêneros que desenvolveu. Na verdade, sua obra 
não deixa de ser uma recriação do grande Cinema mágico de fantasia dos anos 80, mesclado a um mundo de ceticismo e individualismos... E talvez justamente nesse ponto é que residam as principais críticas a Shyamalan: mais um emulador de estilos que um criador original! No que discordo: para uma obra nascida nos anos 90 de reformulações e releituras culturais, a filmografia de Shyamalan trouxe um sopro de criatividade ao pintar de fábula muitos males modernos e de reinvenção para muitos estilos então esquecidos. 

E, mesmo com um conjunto de trabalhos mais comerciais do que outros artífices mais relevantes para a História do Cinema – como Fellini, Gláuber ou Kurosawa, de cujas filmografias sou profundo admirador –, conseguiu consolidar uma obra mais coesa, tanto esteticamente quanto em conteúdo, do que muitos artistas que o precederam em linha similar de trabalho, como o gênio comercial Steven Spielberg, verdadeiro midas e um dos maiores precursores do Cinema Fantástico dos anos 70 e 80 como diretor ou produtor e cuja obra extremamente irregular das últimas décadas incomoda bastante quem, como eu, cresceu maravilhado com obras-primas como Tubarão, Poltergheist, E.T. - O Extraterrestre, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e Caçadores da Arca Perdida – que, sem dúvida, influenciaram diretamente o diretor indiano, que, a tais elementos de magia, acrescentou doses cavalares dos terrores atuais: ceticismo, individualismo, terrorismo...

E, embora nunca tenha visto seus dois trabalhos iniciais (Praying with Anger e Olhos Abertos– assim como nunca vi ou ouvi ou tomei conhecimento de 100% dos trabalhos de qualquer dos gênios dos quais sou fã (mas cheguei muito perto disso...)  e, apesar de jamais ir ao extremo de me apresentar como na assustadora sentença "Não apenas um fã... Mas o fã n.º 1", posso dizer que, sim, sou fã desse M. Night Shyamalan e desse novo Cinema Fantástico que ele representa, em que sequer sinto o doloroso tempo passar, nem durante qualquer de seus filmes nem na vida que segue logo após, graças à sua perene filosofia artística: sua obra, ainda que mais comercial e muitas vezes abordando temas populares, sempre traz algo de poético para um mundo cada vez mais seco e sem cor. Por isso, seja nos "esporos vegetais assassinos" do injustamente subestimado Fim dos Tempos ou nos "super-heróis da vida real" da trilogia encerrada com Vidro, sempre há algo que se pode verdadeiramente chamar de um sexto sentido em sensibilidade, num eterno e inquebrável rejuvenescimento – aquele capaz de nos fazer remoçar numa adorável visita à grande sala escura numa sessão repleta de sinais de medo e encantamento, para além de nossas fragmentadas facetas através do vidro...
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domingo, 3 de fevereiro de 2019

TRILOGIA DA VIDA DE UM VERSO SÓ

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I
Descobrir-se

Sofro e escrevo poesia; logo existo...


II
Perder-se

Grito rouco aos ventos da poesia perdida esquecida


III
Constatar-se

Mudo ao tomar ciência da morte do poema...

(Dilberto L. Rosa, 2004)
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