terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Meu Primeiro Romance
(Segundo Mês)

Você ainda vai me amar amanhã...?
(capítulos anteriores)
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CAPÍTULO III
Preciso, urgentemente, parar de beber...

Eu, deprimido desde o nosso último aniversário de namoro, quando ela, invertendo cada discussão nossa e se deprimindo, por sua vez, ainda mais a cada "vitória" sobre mim imposta na briga - ela que não prestava; que nunca havia me dado nada além de decepção; nunca se sentira realmente admirada por mim... -, acabara por passar uma semana fora de casa, sem falar comigo. Eu, ali pela quinta garrafa de Malbec argentino, o telefone fixo toca: de um pulo, atendo quase caindo da minha espreguiçadeira. Era ela:

- Oi...
- Oi, como você está? Há quanto tempo... Sabe, eu queria te dizer... - eu tropeçava pelas palavras.
- Não vou poder demorar...
- O que houve? Onde você está?
- Sério que você não se lembra o que aconteceu...?

Subitamente minha espinha se esfria: ela... morreu, não?! E ela, como se lesse minha mente em meio ao som de Samba em Prelúdio e cheiro de flores que vinham da sua ligação, emendou:

- Só vim me despedir... E dizer que sinto muito a tua falta...
- Não, 'peraí: e como é que você 'tá me ligando? Tem linha no "Além"? E como é que você...

Nisso, a estranha ligação cai, e, em meio ao barulhinho irritante de linha ocupada/perdida e ao meu desespero, eu me dou conta de três coisas: eu não lhe disse o quanto a amava e precisava dela; aquele terrível pesadelo instantâneo deve ter sido decorrente do último vinho tomado (os chilenos populares sempre me caíam mal); e eu precisava, urgentemente, parar de beber para começar algo! E eu acabo me dando conta do tanto de tempo em que me mantenho morto sem ela... Vivendo do que jamais escrevi... Sigo sem saber onde estou...
CAPÍTULO IV
"De repente, não mais que de repente"...

O ano era 1991 e, de repente, eu me encontrava outra vez naquele ano, idade de 14 para 15 anos - metade alquebrada assim mesmo, que era dezembro, e faço aniversário em maio... E lá estava eu, voltando da locadora de vídeo, no exato instante em que, olhando pra cima, a esmo, ainda atravessando a rua - e me arriscando, por mais que fosse noite de sábado de bairro então distante de tudo, trânsito calmo... E lá estava ela, a Lua: cheia, com um estranho e grande aro luminoso em sua volta, algo lembrando o centro de um campo de Futebol etéreo no céu - na época, eu acompanhava e torcia pelo Vasco da Gama à distância, pela televisão. E de repente, "não mais que de repente" (se é para ser repetitivo na narrativa, que eu seja à Vinícius), em meio à Lua, no centro do aro, do céu e da noite, e eu, no meio da rua, simplesmente pensei em... Morcegos! Não era para pensar em morcegos... Porém, por alguma razão, pensei nesses animais que mais instigam terror ou melancolia, a destoar do romantismo da cena posta por sobre mim.

Era eu, ali, com a minha consciência daquele momento, coisa que na época não possuía: jamais suporia que, instantes depois daquela visão de meio de rua de bairro onde cresci, meu primeiro poema se daria por causa daquela estranha associação entre uma terna imagem da natureza e uma figura animal nada apreciada pela maioria que não fosse adepto do então crescente movimento gótico (espécie de releitura perturbada e modista do byronismo)! Mas, nessa visão de reencontro, só o eu de agora tinha ideia de mim: meu eu, daqueles 14 pra 15, seguia sendo quem era - ainda ligou para o melhor amigo da época (hoje não nos falamos mais: eu, Gramsci; ele... Olavo!) para falar do grande filme que havia acabado de devolver à locadora, assistiu a alguma coisa na TV e, por fim, embriagando-se com refrigerante e algumas canções pedidas na rádio, de madrugada, e gravadas nalguma fita Basf - nesse dia foi You are always on my mind, com Elvis -, aquele eu, tão sem saber de nada que adviria daquela soturna escolha de imagens e associações poéticas sem livre arbítrio, escreveria o meu primeiro poema, aprenderia a desenvolver meus contos e crônicas e muitos mais poemas igualmente interessantes e com significado, até o autodesacreditado blog de 2004 e, por fim, meu primeiro livro - infelizmente científico: o literário só viria uma década depois...

Gostei de me ter revisto - eu acreditava em tantas coisas... Mas era eu, sabe? E não essa versão de mim mal acabada e sem algo para esta folha que me aguarda em branco por baixo de minha caneta, enfiada nessa remington elétrica que foi do serviço do meu pai, nesse Mac em meu colo, com o tanto desse vinho, desse uísque, dessa vodka a me tragar... Hoje sou esses tantos e, no entanto, sigo nenhum, desde que ela me deixou... Na verdade, desde aquela lua com morcego, que acabaria por me escravizar a tantas vidas e, ao mesmo tempo, definir-me em todas elas... Mas, honestamente, não sei ao certo em qual papel eu a perdi - e, assim, fico-a vendo até mesmo naquele dia da visão celestial quando ela sequer existia em qualquer dos meus mundos: em minha memória de agora, parece mesmo que vejo seu terno rosto em marca d'agua naquela lua de minha adolescência!

Preciso fazer valer a empolgação do meu editor para que o lançamento deste meu primeiro romance o satisfaça tanto quanto os poemas, contos e crônicas antes bem sucedidos no mundo virtual e, de quebra, tenha a pompa e a circunstância de um grande evento. Não por meu ego, mas para chamar sua atenção - vai que ela finalmente perceba, entenda, vai que ela me queira rever... Vai que ela apareça - tenho que estar preparado para lhe dar a melhor dedicatória da noite, quando ela estiver ali, em frente a mim, comigo em volta de seus braços na forma de livro, agarrada, ainda que no final da noite... E me peça pra lhe escrever algo (mesmo que seja somente no canto inferior da primeira página)... Mas e se ela estiver acompanhada de outro amor nessa fila?!
CAPÍTULO V
"Tudo o que eu quero do Natal é você"...

Agora toca All I want for Christmas is youcomposta e lançada pela "natalina erotizada" Mariah Carey em 1994, mas com especial cara de remake modernizado daquelas maravilhosas canções sessentistas de grupos vocais femininos, como The Ronettes, The Shireless... Já falei do quanto gosto daquelas meninas talentosas? Nem me lembro, às vezes me pego como aquele protagonista perdido de Leite Derramado, do Chico... Enfim, não gosto dos exagerados maneirismos vocais da geração da Mariah, a estereotipar o que tão bem fazia o pessoal oriundo do legítimo soul da época da Aretha, lá atrás... Mas amo essa canção, pela melodia simples, de significado direto, sobre o quanto a figura do seu grande amor seria o seu melhor presente na "noite feliz" - e, inevitavelmente, eu me lembro dela... 

Definitivamente, porém, não era essa a canção que tocava naquele Natal - afinal, para minha mãe, após o pendurar de um Papai Noel na porta (na verdade, só a cabeça de um boneco com sensor de movimento embutido que gritava "Ho-ho-ho" e tocava um trechinho breve de algumas canções natalinas a cada vez que passava alguém por perto) e o cheiro forte de pinho da faxina de fim de ano se misturar com os aromas do peru no forno, o Natal só terminava de se personificar a partir da colocação daquele tradicional disco na vitrola imersa num grande e comprido móvel de madeira da sala: o LP nem tinha propriamente um nome, só e tão somente "Feliz Natal" em várias línguas - a gente chamava de "disco da harpa" ou "Buon Natale", porque era esse o idioma em maior destaque na capa (embora tivesse um sugestivo, mas quase imperceptível "Mamãe, feliz Natal", bem pequenininho, no cantinho superior esquerdo)... E sempre era aquele susto gostoso quando irrompia um bem alto Jingle Bells, seguido de inúmeros outros clássicos temáticos nacionais e internacionais no dedilhar do músico Silvio Solis.

Havia aquela imponência, era Natal... A família, pequena, toda se cumprimentava com afeição e formalidade à meia-noite. Era Natal. E mamãe fazia questão de sublinhar aquilo por meio de tantas ações ao longo do dia que ai daquele que desafiasse aquela sagrada realidade carregada de simbolismos, por exemplo, ficando de calundu ou sem respeitar os votos na virada - "Sim, Jesus nasceu exatamente à meia-noite, entre os dias 24 e 25!", ela costumava dizer, impassível, quando eu lhe questionava se era 24 ou 25 (quando cresci, acabei lhe explicando que, à "zero hora", o primeiro segundo já é do dia seguinte, não existindo isso de "madrugada de um dia pr'o outro") e como se poderia ser tão preciso quanto àquele horário se, no tempo do Nazareno, não existiam relógios e, naquele sufoco da estrebaria, dificilmente alguém registraria a hora exata! 

E a ceia - peru desfiado (geralmente ressecado; mania de a tudo assar demais); farofa de miúdos (do peru; gostosa - até eu saber o que era "moela"); arroz de cenoura e passas (nunca tive problema...); e salada de maionese (com pouca maionese, que "fazia mal") - era pontualmente servida à meia-noite, instantes depois dos cumprimentos e trocas de presentes! Nas poucas vezes em que passamos nas casas de parentes, como era por ela criticado o quanto "os outros" não respeitavam a "hora certa" da ceia! Com o tempo, já não se via meu irmão nessas ceias - que sempre adotou as famílias das namoradas e esposas e sempre as preferiu a nós... Meu pai, muitas vezes adentrado em seu mundinho de radinho no ouvido e algumas cervejas, já dormia cheio de qualquer cobrança de minha mãe porque "era Natal"... Sobrávamos, inevitavelmente, ela e eu: ela a me abraçar fortemente, no mais das vezes com uma lágrima que escapava, "mas 'tá tudo bem"; eu, aprendendo cedo sobre o microcosmo doído dos casais que não se entendiam nem numa noite que era pra ser especial... 

Por fim, ainda a vejo uma última vez, pendurando o velho Papai Noel noutra porta (infelizmente, sem mais poder tocar...) e a lutar para determinar o "seu Natal"... Só que, agora, tudo tão fraco: sem música alguma no microsystem cheio de luzes vermelhas no centro do rack; veias, rugas e muitos sinais marcam a antes viçosa pele e, embora ainda forte, quase nada lembra a poderosa voz de outrora a nos ditar as regras de seus outrora dias sagrados... No que meu pai seguia isolado nalgum recôndito do novo apartamento; meu irmão, brigado consigo, com o mundo e com sua terceira mulher e sem falar com minha esposa, tampouco com meus filhos - os quais dizia, quando bêbado, amar como sobrinhos... -, permanecia na varanda a ouvir músicas no seu celular, alto o suficiente para subjugar em seus ouvidos os sons que faziam os gêmeos na sua natural algazarra de suas existências de 5 aninhos; enquanto minha primogênita, de 9, conversava "de igual pra igual" com sua prima adolescente... 

No que todos se apagam e me volta esse espaço branco em que me encontro, sem começo nem fim de minha consciência, como se eu fosse um personagem a ser escrito: nunca fui casado; jamais tive filhos... Fecho meus olhos e, ainda ecoando a harpa natalina da minha mãe na cabeça, eu me ponho a chorar com as mãos no rosto, sofridamente, sem saber de mim! E sinto uma mão tocar meu ombro, a me perguntar o que houve - era ela! E, em volta, dezenas de velas aromatizadas e pétalas de rosas espalhadas pela sala me redefinem o Natal, sempre fascinada pelos mais calorosos símbolos de cada época, o meu grande amor: - Você não gostou da decoração?... Digo qualquer coisa, já que nem mais sei explicar muita coisa em torno desses entornos que têm me acometido ultimamente, "emoção" e "sensibilidade" viram minhas desculpas e me passo para a sua deliciosa ceia, seus beijos e abraços mais quentes, os inúmeros presentes que tira de baixo da árvore para mim (sempre exagerada: incapaz de comprar uma só coisa - sempre um "pacote" cheio de significados e temas!) e nossas canções e danças madrugada adentro...

- Provas e artigos só no ano que vem, amor da minha vida..., ela provocava, empunhando e tentando abrir, sem sucesso, aquela enorme garrafa de espumante; ela, baixinha linda, com as pernas grossas expostas em seu vermelho vestido curto... Volta a tocar Mariah Carey, agora no 3 em 1 Gradiente, a me lembrar que tudo de que eu precisava naquele Natal e em toda a minha vida era ela - e eu sorrio, como que a emular a felicidade plena de outra pessoa, sabedora de um delicioso segredo inalcançável e só realizável dentro de algum sonho... Feliz 1995!

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Muita Força no último Natal da Força...


Meninas Malvadas, de 2004, é dos poucos produtos ianques que soube rir do "mundo cor-de-rosa" do seu próprio Natal: Tina Fey e Amy Pohler (atriz/roteirista e pequena participação), em seus auges, entregaram um belo deboche erotizado como "apresentação familiar natalina" na escola onde se passa a trama um filme que, aparentemente, é apenas mais uma história para adolescentes - só que não...


A Família Addams, série de humor negro do cartunista
Charles Addams nos anos 1930 e atualmente em 
cartaz com uma ótima animaçãoé que sabia se divertir 
com os rituais da cultura natalina dos EUA: na imagem, 
Gomes, Mortícia e Tropeço se preparam para jogar 
caldo fervente sobre cantores de Natal - cartum 
homenageado na abertura do excelente filme de 1991.
Inúmeros filmes hollywoodianos, ao vender seu idolatrado american way of life para o resto do mundo, adoram abordar como o Natal é comemorado pelo seu feliz e rosado povo norte-americano (negro? Talvez um policial ou um entregador engraçadinho em cena rápida): nada de religiosidade, mas, sim, muito Papai Noel, cantatas agridoces e uma tal "magia natalina" - tudo, é claro, massificado na tela com tocantes historinhas à base de muito xarope de glicose e altíssima trilha sonora (no melhor estilo John Williams). Anualmente, milhares de produções de qualidade duvidosa cumprem com seu papel de imposição de uma subcultura regada a emoção barata, shopping centers e neve (que, curiosamente, cai só numa pequena área dos EUA, mais ao Norte e Nordeste). Os comerciantes judeus que "fizeram a América" - e grande parte do cinemão comercial estadunidense a que estamos acostumados - e que jamais gostaram muito da ideia de Jesus, devem estar bem orgulhosos do seu trabalho!

O velho pastiche da "comédia familiar":
até hoje me lembro de me perguntar do
que tanto ria a plateia lotada do cinema em
que estava - sucesso que só se pode tentar
justificar pela presença de um Macaulay
Culkin então fofinho e carismático
e da tal "magia dos filmes de Natal"
(fenômeno muito bem analisado na ótima
série Filmes que marcam época, da Netflix)
Assim, de uma forma ou de outra, além da sua famosa bandeira (presença obrigatória em toda produção cinematográfica de lá em pelo menos uma cena), os States seguem, com raras e benditas exceções (como o "subversivo" Duro de Matar - que, tanto no original de 1988 quanto na sua xerocada continuação, redefiniram os filmes de ação policial... no Natal!), a encher grande parte da sua mequetrefe produção cinematográfica com sua "cultura natalina" - bem como a paciência de qualquer cinéfilo pensante que se preze, obrigado a engolir a seco natais nevados, cheios de fartura e de reconciliações "mágicas" em meio a corais natalinos pelas portas das casas chiques, decorações super-iluminadas pelos telhados (das mesmas casas chiques) e gordos Santa Claus (ou qualquer velhinho abandonado que o valha para cumprir sua parte "mágica") piscando, ao final, para aqueles que "não acreditam no Natal"... Quem não se lembra das lições de moral do péssimo Esqueceram de Mim, de 1990: garotinho de família abastada, que, apesar de começar bem o filme a contestar sua grande família disfuncional (que o deixa em casa sozinho: abandono de incapaz!), acaba "aprendendo", por entre um sem número de cenas sem graça com muita neve e ladrões trapalhões, o "sentido do Natal" ao ajudar um velhinho solitário e fazer as pazes com a mãe relapsa - e tudo ao som de... John Williams?! Pois é: essa patacoada fez tanto sucesso que se repetiu, quase que identicamente (esquecimento da família; ajuda a uma senhorinha mendiga; mesmos ladrões... só mudaram o cenário para Nova Iorque), em Esqueceram de Mim 2 (1992).

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Nem tudo está perdido: Charlie Brown segue em seu vazio
existencial a contestar como tudo se perdeu em meio ao
comercialismo e aos falsos símbolos das festividades do
final do ano - cena de O Natal de Charlie Brown (1966).
Tudo bem: nem tudo são White Christmas ("Natal Branco", clássico musical com Fred Astaire e Bing Crosby) e, muita vezes, fez-se Cinema de qualidade e com discussões interessantes em meio aos falaciosos "símbolos mágicos" do Natal gringo... E tome questões filosoficamente adultas sobre o quanto se perdeu da essência do dia 25 de dezembro no curta-metragem O Natal do Charlie Brown, feito para a TV em 1966; suicídio em meio às depressões por problemas financeiros de A felicidade não se compra, de Frank Capra, em 1935; uma série de críticas sociais bem-humoradas à "época mais bonita do ano" sob a visão de um garoto e sua família atípica em Uma História de Natal (1983)... No entanto, o final fácil e água-com-açúcar de que a tal "magia" sempre vence e subverte qualquer crítico de sua estrutura predomina mesmo nesses casos em que aparentemente se questiona o "real espírito natalino" - assim como se deu em Papai Noel às Avessas (bandido sem moral se passando por papai noel), Um Herói de Brinquedo (deboche sobre o consumismo infantil), O Grinch (críticas sobre o comercialismo natalino e a exclusão social de diferentes), O Estranho Mundo de Jack (universo "estranho" do Halloween ante à "perfeição" da dimensão do Natal) ou qualquer versão de Um Conto de Natal (adaptação da Literatura de Dickens em que o amargo Scrooge fica "bonzinho" graças a "três espíritos natalinos"): geralmente prevalece o 'ho-ho-ho' derradeiro e a sensação de que a neve, a lareira e fartos pinheiros e ceias depois do shopping ainda são o mais importante!

Esposa, filho e vovô Chewbaccas? Princesa Leia cantando? Lições de moral
natalina com artistas consagrados pagando mico? Essas são somente algumas
das coisas absurdas do máximo de exploração comercial-cultural natalina:
Especial de Natal Star Wars feito para a TV (CBS, 1978)!
Mas nem só de simbolismos e muito consumismo de presentes (viva os judeus!) nesta época do ano vivemos nós, os pobres mortais dos natais quentes e pobres do Terceiro Mundo vira-lata (e agora, na era das trevas bolsonaristas, ainda mais idólatra dos "istaduzunido"...): os grandes capitalistas do cinemão norte-americano - agora, aparentemente todos centrados na Disney! - também nos legam filmes que acabam marcando essa época de festividades natalinas ainda que sequer falem de qualquer item natalino. É o caso de Star Wars e seus derivados. E não, nem estou falando na sandice cafona e ridícula do "Dia da Vida" da família Chewbacca no Especial de Natal Star Wars, cometido na CBS em 1978, não... Mas, sim, de suas ultimas produções feitas para o Cinema: afinal, do meio reboot/meio sequência Episódio VII - O Despertar da Força, início da nova trilogia finalizada agora com o Episódio IX - A Ascensão Skywalker, passando pelo muito bom (mas fora da cronologia oficial) Rogue One - Uma História Star Wars, todos foram lançados, um por ano, em dezembro desde 2015 e, porquanto vistos por mim durantes os últimos feriados de fim de ano (à exceção do ano passado, em que o único filme da franquia de 2018, o cansativo e desnecessário Han Solo - Uma História Star Wars, foi lançado em maio), a saga original de George Lucas acabou se tornando algo "natalino" para este humilde escriba e os Morcegos...

Tudo bem que nele não houve muita continuidade de boas ideias trazidas com o Episódio VIII - Os Últimos Jedi, como a esquecida menção a crianças espalhadas pelo universo com potencial para dominar a Força - mas também com ótimos consertos de péssimas ideias daquele filme, como a postura anti-heroica de Luke e a anulação da origem da Rey (retomada agora de forma polêmica, no entanto)... Concordo que houve muita correria na metade inicial, a edição se atrapalha no filme quase todo - que também carece de uma sequência mais bela e memorável... Sem esquecer as inúmeras personagens e situações mal exploradas ou resolvidas - Finn e nova parceira sem função alguma na trama além de mais uma "bravura final decisiva"; rápida redenção de Kylo Ren/Ben Solo; encerramento da participação da Princesa Leia (Carrie Fisher, falecida no ano passado); mal explicado retorno do Imperador Palpatine e sua frota infinita e megapoderosa etc.... Porém, ao se encerrar a última cena, com referência direta ao original de 1977, terminando de costurar elementos das 3 trilogias (ouvem-se vozes de todos os Jedi dos 9 filmes em dado momento), com especial destaque para o saudosismo maior pelos Episódios IV (Uma Nova Esperança), V (O Império Contra-Ataca) e VI (O Retorno de Jedi) - todos filmes a que assisti, pela primeira vez, em férias de fim de ano da minha infância/adolescência em saudosas exibições globais -, e se inciarem os créditos com trilha, mais uma vez, de John Williams - que igualmente se rende ao fan-service deste longa ao colocar trechos consagrados da saga, como a Marcha Imperial, de Darth Vader -, impossível não se sentir bem perto do mais puro sentimento de lar e família do legítimo Natal... Ainda mais quando vi esta última parte na tarde do último dia 23 de dezembro...


Graças a Lucas e sua imaginação, inúmeros natais foram salvos da mesmice... Agora que tudo termina - e já um tanto quanto aquém do que o seu criador imaginara inicialmente... -, só nos resta esperar que a Força siga a iluminar novas produções natalinas e dezembrinas... Assim como também resta acompanhar esta bela compilação (feita por Topher Grace e Jeff  Yorkes) de cenas e enredos dos 9 filmes...

sábado, 14 de dezembro de 2019

MINHA DISCOTECA - Parte IV

Finalizando (parte de) uma coleção
E começando outra...

Hoje os Morcegos finalizam uma (parte de uma) coleção (a discoteca): a de discos de trilhas sonoras de Cinema - e, aproveitando o ensejo cinematográfico, vêm mostrar o que descobriram recentemente, em meio às (eternas) arrumações do escritório de casa: um estojo com parte da coleção de pôsteres de filmes famosos que possuo. Assim, aproveitando a multifacetada cara deste humilde espaço virtual, falemos de Música, Cinema, coleções e, por que não, pôsteres!

COLEÇÃO PARTICULAR DE CDs:
TRILHAS SONORAS DE CINEMA
Parte IV (Final)
16Alguém tem que ceder;
17. Austin Powers;
18. Sleepless in Seatle;
19. As Canções de Eu, Tu, Eles - Gilberto Gil
20Music from the Motion Picture E.T. - The 20th Anniversary.
21. Central do Brasil;
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Se os quatro primeiros discos ouço sempre que posso porquanto excelentes coletâneas - respectivamente: grandes canções românticas estadunidenses e francesas; hits pop dos anos 60 e 90 (acrescido de um meddley com a deliciosa trilha original instrumental de George Clinton, emulando os filmes de James Bond); mais clássicos românticos (agora jazzísticos); e velhos forrós inesquecíveis na excelente interpretação de Gilberto Gil (que acrescenta 4 faixas da sua autoria ao ótimo CD) -, destaco os dois últimos títulos de minha pequena coleção de trilhas sonoras (a próxima apresentará minha igualmente parca reunião de sinfonias e Música Clássica) justamente por serem trilhas (e que trilhas...!) originalmente compostas para dois grandes filmes: E. T. - O Extraterrestre (Edição de 20.º Aniversário) e Central do Brasil.

Primeiramente, importante frisar que o disco em questão é da "trilha nova" de John Williams, em que ele apôs alguns minutos a mais de música para as cenas adicionais que Steven Spielberg colocou no seu "clássico infanto-juvenil" (mas que acabou emocionando mesmo os mais velhos...) E. T. - O Extraterrestre quando do seu relançamento de aniversário de vinte anos, em 2001 - mania chata desencadeada por seu amigo George Lucas em 1997, que primeiro relançou seu Star Wars como um novo "Episódio IV" cheio de irritantes novos efeitos e cenas (e também trilha adicional de John). Nada que mude o clima ou o score original, que até hoje considero extremamente soturno e assustador para os mais jovens... A propósito, eis aí um bom exemplo do quanto uma trilha pode redefinir uma narrativa na tela - coisa que o próprio Spielberg afirma, no encarte do disco, a respeito da sua parceria de longos anos com Williams: todo o clima de curiosidade e descoberta entre o jovem Elliot e seu amigo alienígena desgarrado da família e sua nave (e todas as consequentes relações esquisitas de sentimentos interligados entre os dois) bem poderia ser outro se tudo fosse conduzido com mais leveza pelo Sr. John Williams (hoje com quase  90 anos e ainda na ativa!)... 

No entanto, nem só de "temas tenebrosos" (que por vezes lembram algumas notas mais duras de Contatos Imediatos de Terceiro Grau, parceria sua anterior com o mesmo diretor e amigo) se fez E. T. e um primor de outros temas e melodias "matematicamente" traçados para narrar cada emoção (como no dizer do próprio compositor sobre os 15 minutos finais de intensa narrativa musical, da faixa 20: Escape/Chasing/Saying Goodbye) até hoje são lembrados de maneira extremamente atrelada a cada cena - como a do inesquecível voo das bicicletas com uma gigante lua de fundo! Sem dúvida, uma daquelas trilhas bigger than life e que, em sua precisão em arroubos sinfônicos ou em suaves melodias (como a delicada faixa 07, Toys). Obra de um maestro notável que, apesar de alguns tropeços (como os excessos e o histrionismo de certas trilhas e algumas repetições de si mesmo ao longo da sua obra - Star Wars se assemelha a Superman que se parece com Indiana Jones...), cunhou para sempre o seu lugar na História das trilhas cinematográficas mundiais.

E, falando em "trilhas mundiais", os Morcegos encerram (temporariamente) essa coleção (para mais abaixo começar outra...) com outra sensível e pungente trilha composta (quase que integralmente - há uma faixa com "Preciso me encontrar", samba de Candeia), só que para um clássico do Cinema Nacional: em Central do Brasil, Antônio Pinto e Jacques Morelembaum, assim como fez John Williams, marcam, de forna inesquecível, inúmeras cenas das venturas e desventuras vividas por Josué (o ótimo então ator-mirim iniciante Vinícius de Oliveira) e Dora (Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar de melhor atriz em 1998, absurdamente perdido para Gwineth Paltrow pelo ainda mais insosso Shakespeare Apaixonado!). Além do tema principal marcante (cena final, dos créditos, e em vários trechos do filme), que lembra inicialmente Villa-Lobos e seu Trenzinho do Caipira (com a marcação similar a um trem e seus desdobramentos de "viagem"), inúmeras outras sequências foram ampliadas pela sensibilidade desses dois grandes artistas brasileiros num lindo concerto de cordas e piano digno de grandes trilhas europeias do Neo-Realismo italiano  e que sobrevive ao filme, podendo facilmente ser ouvido independente do grande trabalho do cineasta Walter Salles (Terra Estraneira).

COLEÇÃO PARTICULAR DE PÔSTERES DE CINEMA:
Estojo 1
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O primeiro, de 2000, foi o responsável por reiniciar minha coleção de pôsteres de Cinema.
O segundo já foi até estampado por aqui, por tanto tempo que marcou o quadro do escritório...
Mas existe outra coleção ainda mais antiga que a minha discoteca: colecionava pôsteres e minipôsteres desde 1990, quando do auge das compras de revistas de cinema e vídeo - com as VideoNews e Set de que tanto já falei por aqui... -, sendo que hoje a imensa maioria deles ou foi destruída pelo tempo ou pelo meu pai (ele detestava meu quarto cheio de cartazes pelas paredes como numa "casa de barbeiro")... Dessa época, tenho muito poucos - e todos bem machucadinhos e sem vida! Mas a coleção de que começo a falar a partir deste post eu encontrei num tubo (de um total de três desses estojos cilíndricos guardados ao lado da mesa do computador), que reúne alguns dos meus títulos mais conservados...

Desde 2000, quando do lançamento nacional dos X-Men nos cinemas, ocasião em que ganhei um concurso da Set com uma frase que me deu direito a, além de 4 bonequinhos (baseados no filme) e de 4 revistinhas com prelúdios da trama do cinema, um pôster original de X-Men O Filme; passando por 2002, quando do início de uma amizade com um gerente de um multiplex de um shopping local, de quem passei a ganhar cartazes (como, naquele ano, em que consegui Sinais e Homens de Preto 2); 2003, quando, noutro concurso da Set (fase criativa a minha...), ganhei a trilha sonora e o pôster de Matrix Reloaded; em 2004, de volta às camaradagens do gerente amigo, o de Homem-Aranha 2 - que se repetiria ainda em muitos outros momentos, como, no caso deste tubo, em 2006, com Superman - O Retorno (por muito tempo o cartaz emoldurado desse escritório); e, em 2007, com o cartaz da animação Shrek Terceiro e em dose dupla com Homem-Aranha 3: um dos 3 pôsteres oficiais e um adesivo dupla face (que já se mostrou descolado quando o encontrei recentemente...).

Resultado de imagem para cassino royale"Acima e abaixo (e ao lado), seguem versões digitais (algumas em Inglês) desses meus adorados cartazes esquecidos, esperando novas oportunidades de se emoldurarem no meu escritório, ainda que temporariamente (atualmente, resta emparedado só esse aí da esquerda, Cassino Royale, já há um tempo) - não me é possível tirar fotos de um pôster em tamanho real, então vai a mostra de como eles são... 10 cartazes de filmes ótimos (Cassino Royale), muito bons (Sinais, Superman - O Retorno, Homem-Aranha 2, X-Men) e outros bem fraquinhos (Homens de Preto 2, Shrek Terceiro, Matrix Reloaded, Homem Aranha 3) dentre vários que ainda ficarão registrados por aqui - assim como nas minhas retinas de fã ardoroso de um Cinema nem sempre tão bom, mas cheio de histórias afetuosas impressas em cada bela relíquia guardada e empilhada num de meus cantos afetivos...

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Quem quer um pôster original em bom estado de conservação? Aproveita, que vai com ótimas recordações junto... Eu 'tou vendendo...

domingo, 8 de dezembro de 2019

Reescrevendo uma homenagem ao Tom
E sua atemporal Poesia de separação
E sentimento profundo...


Há 25 anos partia um dos maiores compostores mundiais...

Sai de Tom

Sim,
Calei-te.
Calei-te pra não dizer mais sílaba

Vê se vaga
Longe
Exorto-te!

Não me assustas
Não me tremes
Não me és mais sonho...

Não mais
Nunca mais
Porque o amor,
Como diria o poeta
(Ou como dirias tu, em tuas teorias maduras e infalíveis)
É a coisa mais triste
Quando se desfaz

(Dilberto L. Rosa, 1996/2019)

sábado, 30 de novembro de 2019

Meu Primeiro Romance

Você ainda me vai me amar amanhã...?
CAPÍTULO I
Alguém pode me dizer onde estou...?

Sempre, por trás de cada ponto, há uma grande história para ser contada... No momento, ainda me lembro, por exemplo, de como ouvia música até bem pouco tempo, vendo o disco rodando com suas ondulações - não em vista aérea, mas na horizontal, lateralmente a mim, sentado, com a agulha subindo e descendo as leves ondulações do LP... Até quando o tema é sonoro, minha memória é visual! Hoje, mais facilmente ainda se chega a esse efeito da imagem associada ao som: agora mesmo, ouço Be my baby a encabeçar uma playlist daqueles adoráveis grupos vocais femininos dos anos 60, com a capa de um disco das Ronettes congelada na tela grande da TV (onde que, no meu tempo, existiam telas grandes assim?) - mas não é a mesma coisa, falta algo... Como o pegar a capa, sentir o cheirinho do saco que envolvia o disco. E pegar o "bolachão" (na época, não parecia tão grande...), colocar, pôr nele a agulha e olhar sua dança, imaginando outras danças nalgum lugar a partir dali... Agora, um clique no controle remoto e nada mais! Mesmo assim, resisto... E danço, mesmo com a tela congelada, viajando nas minhas memórias cinematográficas e editadas ao meu bel prazer...

Entretanto, é no instante em que, logo em seguida, começa a tocar Will you still love me tomorrow? que se inicia mesmo a rodar um filme inteiro na cabeça (rodar é modo de dizer, do tempo das projeções com rodos: agora é tudo digital): a marcante voz de Shirley Owens, a embalar The Shireless, simplesmente me trouxe aquele sorriso diante de mim, mais uma vez - livre e vivo, como o do gato de Alice no País das Maravilhas, até que se formasse o seu lindo rosto, junto ao resto do corpo estonteantemente em movimento (ela sempre foi lindíssima; mas quando dançava...), saindo de uma espécie de desembaçamento da sua imagem e de todo o cenário por trás - aquela festa de 10 anos de formatura da primeira turma de Sociologia daquela faculdade onde nos conhecemos. Ela, Bourdieu; eu, Marx e Durkheim; e nós dois, com tantos pontos em comum, tanta história, só conseguíamos sorrir um para o outro enquanto tocava essa deliciosa canção que falava por nós e nos redimia de tanto tempo sem nos vermos ou sequer nos procurarmos: igualmente exatos 10 anos... 

Nem bem terminava o antigo hit quando ela de mim se aproximava devagar (como sua boca ficava linda levemente entreaberta...) - Pra dizer algo? Pra me beijar, depois de tantos anos? -, a nova canção que passava a tocar curiosamente redefinia nosso derredor, estando agora nós dois numa barca com esse som ambiente, Samba de Verão tocado em Francês, passeando pelos verdes mares de um paraíso bem parecido com as Maldivas daquelas imagens de papel de parede manipuladas da Microsoft (não havia photoshop? Eram fotos reais?!)... Mas espere aí: ela ficava enjoada só de olhar o movimento de um barco atracado ao píer! E nós nunca viajamos para fora do Brasil - embora ela sempre brincasse com a ideia de que, fracassadas todas as nossas pesquisas, poderíamos nos mudar para alguma praia turística no Pacífico e viver das nossas histórias contadas aos que passassem... Estou confuso!

De repente somos interrompidos por um ex-aluno imbecil no exato ponto em que nos chegávamos um ao outro ao final daquela canção sessentista: estávamos de volta àquele baile dos 10 anos - juntamente a outros três colegas, ele se infiltrou entre nós de uma forma que só restou a ela ser simpática e, olhando de soslaio pra mim e soltando um sorriso amarelo de o que se há de fazer..., dar a atenção de seu belíssimo sorriso para aquele cretino desenxabido e sua curriola - que, posso jurar, estampava risinhos de escárnio ao me encarar pela situação vencida por seu grupinho de incapazes (depois soube que lucravam horrores, os "rapazes de bem", em esquemas de rachadinhas na Assembleia Legislativa, onde seus papais lhes deixavam brincar de assessores)! Pior nem foi isso, mas a minha estupidez de ter brigado com ela, no final da festa e bem no meio de um estacionamento completamente vazio para nós (ah, nossos estacionamentos de outrora...), só porque a encontrara, uma hora antes, dançando ao som de Pra ser sincero (nunca suportei o Beto Gessinger!) com o mesmo imbecil do aluno metido (como era o nome dele, meu Deus...?) - depois de tanto tempo, não dava para apenas dizer que a amava e deixasse para outra hora aquela infantil cena de ciúme?!

Agora outra canção, Insensatez, começava a girar em nosso antigo estéreo 3 em 1 da Gradiente, eu não precisava mais do aplicativo da smartv (sequer o entenderia se me perguntassem a respeito): voltei no tempo para nosso primeiro dia morando juntos (eu nunca quis me casar...), voltando pra casa depois de um chatíssimo congresso; ela, aquele sonho só de babydoll, sorrindo pra mim com uma taça de vinho tinto pela metade (com certeza malbec, seu favorito até para me sentir o cheiro em perfume!), perguntando-me maliciosamente se eu queria uma coisinha pra beliscar... Como fomos felizes... Ou ainda somos? Sinto-me um pouco tonto e percebo várias garrafas de vinho vazias derribadas a esmo - ela que tinha aquela mania besta de colecionar as rolhas e botá-las em quadros de vinho, em cada uma anotada a data daquele porre de felicidade; eu só bebo e jogo tudo fora... Mas ela não está aqui pra ralhar comigo pela bagunça, posso ver que não... Então por que a sinto tão perto, quase que como a sentir os poros eriçados de sua pele, a mais aveludada que tive o prazer de tocar em toda a minha vida? 

Preciso saber onde estou e o que está havendo... E acho que também preciso beber mais um pouco... Talvez ouvir outra canção pra entender ou me pôr pra dançar... Pode ser que a veja de novo e ela me explique onde é que ela possa estar...

CAPÍTULO II
O escritor temperamental

- Menina, poderias ler mais rápido, por favor?!
- A culpa é tua se escreves tão bem e quero sorver cada vírgula...
- Sei de teus exageros, e não seria diferente agora... Mas é só mais um artigo!
- Não... É um escrito teu... E... só mais um pouquinho, terminando a conclusão... Voilá! Genial como sempre, minha vida!
- Quero algo crítico: sei que não é a tua área específica, mas tens como avaliar - pra você é sempre tudo tão perfeito o que eu faço?! Qual a vantagem de viver com uma professora de Sociologia se não tenho teu lado profissional na análise do que escrevo?!
- Vem aqui que eu te mostro as vantagens...
- Falo sério: sabes que tenho achado minha pesquisa superficial... Nunca mais publiquei nada de relevante...
- Ai, ai, não me vem de novo com aquela história de romance...
- Não, não... Você já me naufragou qualquer sonho de me tornar um escritor literário...
- Longe de mim! Só acho que viver de Literatura nesse País é ainda pior que viver de pesquisa universitária!
- Vou escrevendo em meu blog...
- ... Que ninguém lê! Bom, faz como quiseres - desde que não te atrapalhe...
- ... As pesquisas: sim, já sei - o "Grande Marxista Expert de Durkhéim!

Tocava Beethoven, sua Quinta Sinfonia, nalgum movimento mais denso e soturno, volume alto. Clima acabou tão pesado quanto no silêncio que se seguiu tão logo acabou de rodar minha coletânea de clássicos da Música erudita, de uma daquelas revistas de coleções, das bancas.

- A gente podia sair... Saudade de usar aquele vestido que você me deu...
- Você só usou uma vez...
- Não é que eu não tenha gostado, já te expliquei: faltou ocasião...
- Ele não tinha decote...
- Desde quando gosto de decote?!
- Desde sempre: 80% de tuas roupas...
- Ah, 'tava demorando: tens sempre uma coisinha pra falar de mim, minhas roupas... Sinceramente, não sei o que você faz morando comigo!
- Também tenho me feito a mesma pergunta, sendo tão monstruoso assim como tu me pintas...

Deus, como fui idiota... Tudo bem que ela vinha implicando com minha decisão de deixar o magistério pra me arriscar na Literatura, poeta e cronista amador que era desde a adolescência e professor profissional a partir da juventude. No entanto, o mercado estava para romances completos e longos e uma narrativa longa e cheia de detalhes com que eu me preocupasse, enveredando por mil e uma subtramas cheias de personagens, nada podendo conter furos, no fundo me amedrontava, nem me sentia mesmo capaz, talvez ela estivesse certa... Mas havia o desafio. A pesquisa havia ficado burocrática. Nós dois estávamos burocráticos. E eu, mestrado e doutorado nas metodologias e simbolismos antropológicos da psicologia social e progressista, parecia não entender mais nada do microcosmo daquela nossa relação... Mas nada justificava esse meu distanciamento, minha falta de paciência e de cuidado! Precisava de algo pra beber...
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domingo, 24 de novembro de 2019

"Onde tua vista não alcança..."


Inalcançável


Tu, que agora me vês sorrindo, não sabes o menino 
por trás de tudo que passou...
Talvez agora, finalmente, 
meu sorriso seja real 
- não sente
os fardos
da foto que amarelou...
Que isso também te sirva de lição:
provação sempre foi banal
no astral de teu universo delicado.

Quantos foram os pecados cometidos
pelos sentidos tateados
para se chegar até aqui?

E essa ansiedade, essa angústia que não cessa
na messa de meus últimos fios desesperados
pode ocultar minha vontade
de ser feliz...
Pois na reinvenção 
das verdades de meu nariz
eu digo em alto e bom som:
quero o peito pleno em qualquer idade
e criar posteridade com algo bom
pra muito depois que eu me for!

E tu, como operária,
hás de organizar minha obra perdulária
noite e dia, 
a catar minha poesia
bagunçada pelo chão...?

Não, creio que não
- é sentimento demais!
Parece que só existo nalguma paixão
em que resisto ao tempo por trás
da etérea cristalização
da bela mulher
que jamais deveria envelhecer!

Sigo assim, diante do que nos resta
e do que me espera na próxima contradança...
Só nos fingimos crianças
e eu, engasgado,
permaneço
nas mãos com o bilhetinho amassado
aqui, do outro lado, na rua de trás, onde tua vista não alcança...

(Dilberto L. Rosa, 24 de novembro de 2019)

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Amizades de 25 anos...

- Ei, você não vai participar da reunião dos "amigos" de 1994?!

Noutro dia recebi mensagem pelo Telegram de um antigo amigo da escola - conheço-o desde a oitava série: já se vão 25 anos do término do nosso Ensino Médio, mais uma vez a turma da época quer se reunir ("Afinal, são 25 anos..."), e, pagando-se a bagatela de 100 reais, "se tem direito" a cerveja, refri, água e feijoada, e, de brinde, uma camiseta emulando nosso uniforme original... Minha resposta foi imediata e irrevogável (mesmo sob fortes protestos de "Tu 'é' fresco..."): "- Não vou, ó: abraços de 25 anos a todos"...

Longe de desconsiderar qualquer deles ou mesmo o sentimento retroalimentado (ou seria "retrô alimentado"?!) pela maioria que ainda curte tais revivals - ou que ainda não descobriu que redes sociais são mero celeiro para o hiperconsumismo (graças às vaidades virtuais: fiquei muito pouco e estou fora faz tempo!), nada disso. Somente já fui uma vez a um encontro deles e foi o suficiente: tive uma ideia de como todos envelheceram (alguns bem mais coxinhas que outros...), dei tapinhas nas costas (e nas barrigas) de todos e relembrei piadinhas com prazo de validade mais que vencido (homofobia, racismo e otros preconceitinhos mas)...

E só: não temos mais 17 anos faz um tempão, não suporto as milhares de fake news, bem como as muitas fotos amareladas de gentes que nem lembro de outras salas, divulgadas à exaustão em seus atuais grupos de "amigos do Whatsapp" e, nesse "breve" interregno entre a formatura e hoje, ganhei casamento, 3 filhos, quase 20 quilos e perdi dinheiro, cabelo e uma porção considerável de saúde, passando por tantas outras coisas sem a companhia de nenhum deles - a não ser breves encontros esporádicos, de no máximo 5 minutos, pelos shoppings e supermercados aqui e acolá...

Entre rugas, cabelos brancos e muito botox, um registro
recente em postagem de Rachel, digo, Jennifer Aniston.
Tal como, igualmente passados 25 anos de Friends, os atores que viveram Monica, Phoebe, Rachel, Chandler, Ross e Joey (amigos na vida real, mas não sei se com a mesma "frequência" que eu em relação aos meus), que também recusam a possibilidade de reencontro entre seus personagens - nem mesmo para um milionário especial televisivo: não cola mais... A décima temporada não me deixa mentir: depois de anos de inocência, imaturidade e vida em que amigos são uma família (pensamento da própria Martha Kauffman, uma das autoras), todos evoluíram, já se efetivaram (Ross que o diga), casaram-se (a maioria entre si!) e tiveram filhos (ainda que sejam trigêmeos do irmão)... Enfim, cresceram! 

E olha que arrastaram o que puderam, mas não adiantou: entre sumiços de personagens marcantes (como os pais de Monica e Ross) e cansativas ênfases nos amadurecimentos do sexteto (à exceção de Joey, que, como alívio cômico de tanto dramalhão, ficou ainda mais "retardado", sendo o menos desenvolvido do grupo), os últimos episódios da série deixaram bem clara uma coisa: aquela época, quando "não se ficava o tempo todo olhando os celulares, atualizando o perfil no Facebook e pessoas se reuniam numa cafeteria pra conversar" (no preciso dizer de Jennifer Aniston, a Rachel), decididamente, ficou para trás, acabando a alma que unia esse pessoal - e justificava o seriado

É só lembrar a velha canção de abertura e realizar uma boa catarse em relação ao que passou: I'll be there for you, cantavam os Rembrandts, no início dos anos 90, no famoso tema das "palminhas" - "Eu estarei lá por você", especialmente quando "seu emprego é uma piada, você está duro e sua vida amorosa morreu antes de começar"... E isso serve para todos, amantes ou não dessa série. Hoje, até dá para rever o que se foi - por meio de alguma foto digitalizada de nossa turma de adolescentes ou revendo os 236 episódios de Friends pela Netflix (coisa que terminei de fazer há cerca de um mês, coincidindo com suas bodas de prata); porém, mais do que isso, soa como forçar a barra para se manter uma essência que, inevitavelmente, não tem como ser revivida de outra forma...

E eu, depois das sérias desavenças pessoais sofridas em razão do tratamento dado ao meu caçula no mesmo colégio de "meus 25 anos", lá quero alguma roupa como recordação dessa escola?! Sem falar nos atualmente bolsonaristas de carteirinha que, há mais de duas décadas, eram só colegas de sala sem ideologia e que nos divertiam com tolas piadas de duplo sentido... E, por outro lado, será que esse povo hater de hoje, que já inventou inúmeros pseudofeminismos para atacar o segundo personagem mais legal da série (o primeiro era o Chandler!), Ross, vivido pelo esporádico David Schwimmer - pela rede, chamam-no de homofóbico e machista abusivo, quando, na verdade, entrou com a ex-esposa em seu casamento lésbico e aguentou inúmeras patifarias de sua idolatrada Rachel (que rompia e, em seguida, estragava cada novo relacionamento do cara)! -, estaria realmente preparado para um reencontro de tipos tão bacanas como o de Friends, este icônico seriado? 

Tenho minhas dúvidas... Sem esquecer que o inteligente bom humor para tratar de assuntos sérios - como a difícil relação de Chandler (Matthew Perry) com seu pai transformista - bem poderia ser confundida com piada preconceituosa e todo o show acabaria por ser boicotado pelos fashion youtubers atuais... Pois é, os tempos são outros - e graças a Deus: as milhões de novas idas e vindas pelas vidas de amados personagens bem como de cada um de nós fora dos filtros do Instagram ou dos reduzidos caracteres do Twiter agradecem! Senão, estaríamos até hoje sendo os mesmos meninos começando a vida, morrendo de medo dela, do próximo emprego ou de qualquer novo esforço ou tentativa de ser feliz... Ou será que ainda o somos?!
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Apesar dos gritantes erros de edição e de continuidade ao longo da série e das muitas tramas ruins ou arrastadas (especialmente as das últimas temporadas e aquelas que insistem nos flashbacks com cenas de outros episódios), Friends foi, sem dúvida, acima da média das sitcoms norte-americanas, com inúmeros episódios foram memoráveis...

sábado, 9 de novembro de 2019

"Nem que seja só
Pra dizer adeus..."



Mudanças são sempre difíceis... E se afastar de algo que se construiu (e com o que se deixou ser construído) ao longo de tantos anos torna tudo ainda mais complicado... Pouco importa se a tecnologia passa a chamá-lo de anacrônico ou ultrapassado! Pouco se lhe dá se a sociedade já se mostra lindamente toda produzida, na esquina, esperando um flerte com seus mais novos produtos do mercado videofônico...

O problema todo é a perecibilidade da vida: tudo se acaba (?)... E, com a tecnologia de áudio e vídeo, os últimos 20 anos se mostraram cruelmente ainda mais avassaladores em termos de duras mudanças: de repente ("não mais que de repente"), de nada adiantava correr para limpar cabeçotes de (aparelhos de) videocassetes (VCR) das sujeiras deixadas pelos lastros magnéticos das "fitas de vídeo" (os videocassetes em si, na verdade) e seus mofos, poeiras e gorduras - assim como já se dava com os disquetes de computador: a leitura digital já era uma realidade desde que os LPs começaram a ser chamados de "bolachões" pelos desenxabidos e menores CDs (que a tudo compactavam, inclusive o próprio som!)...

Não haveria como impedir aquele avanço para a área das imagens... E houve mesmo uma autodestruição programada de aparelhos aparentemente feitos cada vez mais precários a fim de irem se consumindo e se mostrando antiquados diante dos novos e reluzentes DVDs! Assim foi com minha coleção de vídeos, apodrecendo aos poucos diante da quebra de dois aparelhos de videocassete seguidos: sem uso, o "mofo deu" em tudo... "Joga isso fora!", "Ninguém mais usa 'fita'!", "Compra um aparelho de DVD!" eram o que pulava das ferinas línguas do tempo digital - e de alguns parentes e amigos - e caíam diretamente na minha fustigada mente de inquietude...

"Tudo bem, vocês venceram - mas o que eu faço com... elas?"! Minhas crianças, meus filhos, minhas companhias de tantos momentos de solidão (sim, havia alguns títulos pornô-eróticos em minha coleção...): adoráveis e amadas "fitas TDK" (algumas Basf também) repletas de filmes e programas televisivos gravados em EP (rendia mais horas de gravações numa só fita de 2h!)... Somavam-se superproduções compradas (e amealhadas de forma não tão legal...) nas bancas e nas Americanas da vida... Havia coleções estimadas (Charles Chaplin) e filmes estrangeiros (O Marido da Cabeleireira)... Sem esquecer as fitas K-7, também já mofando desde que o antigo "Stereo Gradiente 3 em 1" de papai pifou de vez - e o modismo de se comercializar somente o toca-disco em modernas caixas de som ainda não existia...

Era, em suma, a pergunta que não queria calar: o que fazer com tudo isso - assim como com os "dois videocassetes novinhos que pifaram!" (e, no fundo, ainda acho que dá pra consertar logo, logo...)?! Encaixote-se... Guarde-se, por tempo indeterminado, suas paixões desde os 12 anos do início da adolescência, seus amores da juventude (e seus casinhos dentro desse interregno)... "Um dia", "quem sabe", eu poderei, mesmo já tendo me entregado ao DVD ("Ei, a imagem é melhor mesmo! E tem extras! Disseram que nunca risca nem mofa..."), daqui a alguns anos, mandar consertar tudo - a tecnologia não estava invadindo tudo justamente pra isso, pra aperfeiçoar? Eu finalmente arrumaria aqueles aparelhos "velhos" e poderia revivê-los ao lado dos "novos" numa vida de eterna paz e felicidade congelada no tempo...

Todos sabemos que nada disso viria a acontecer: as caixas de LPs, fitas K-7 e videocassetes (afora os aparelhos, em duas caixonas em separado) já começavam a se amontoar no quarto de solteiro da casa da minha mãe (para o seu desespero) e terminaram de ser devidamente acumulados no "quarto da bagunça" da vida recém-casada (para desespero da mulher, das visitas que aconselharam que delas me desfizesse lá atrás - incluindo minha mãe!). E, no dia-a-dia, livremente me utilizava de aparelhos de DVD, toca-CDs e respectivos home-theaters, além de então modernos discos e pen-drives repletos de filmes e músicas digitalmente compactadas e desfrutadas até mesmo no carro... Mas, sei lá... Eles estavam ali, no quarto colado ao meu - e, de vez em quando, eu adorava pegar uma faringite aguda ao manuseá-los pelo simples prazer de, mesmo sem botá-los pra rodar, eu me achar ali, em meio a tantas recordações...

Até que a minha primogênita anunciou sua chegada. E a bagunça viraria "quarto da criança". E as caixas teriam que ser eliminadas... Ou juntadas a outras caixas de "bagulhos mais úteis" que, em breve, seguiriam para algum cômodo esquecido da casa de alguém próximo. E se escolheram as casas da minha sogra (alguém nada próximo...) e da querida Zezé e para lá fomos: eu lhes dei um breve "até logo", nem olhei muito. Sabia que, muito em breve, eu recuperaria tudo. Só questão de tempo: minha pequena Isabela adoraria saber que, ao lado do moderno, existiam histórias e mais histórias com aquelas fitas e aparelhos ressuscitados! Só que, depois da chegada dos gêmeos, tais contos memoráveis cada vez mais caíam no esquecimento...

Nem sei dizer a quantas anda qualquer caixa de VCRs largadas pela casa de Zezé, uma desleixada prima do meu pai - que, por sua vez, valeu-se do mesmo expediente e por lá deixou caixas contendo seus estimados LPs para quando reouvesse seu antigo Gradiente consertado ou quando comprasse nova vitrola: como não ocorreu nem um nem outro, soube recentemente que ele estaria uma arara com sua parenta diante do total descaso com tais caixas, largadas no fundo de um quintal mal coberto e com goteiras... Esse deve ter sido o mesmo destino dos aparelhos de videocassete... Mas enquanto papai diz "Não querer nem ver..." seus discos (na incrível contradição "Ela vai ver se alguma coisa acontecer aos meus LPs!"), eu quis me despedir das inúmeras caixas reconduzidas coercitivamente pela associação de minhas esposa e sogra, mancomunadas que estiveram, noutro dia, em entupir o largo porta-malas do meu carro com tudo que tinha por lá posto a reboque!

"Por mim, jogava tudo fora... Se fossem minhas coisas...", disseram as insensíveis, soube depois... Mas, como me foi dada a condescendente oportunidade de delas me despedir, "nem que seja só pra dizer adeus", como na bela e pungente canção de Edu Lobo e Torquato Neto, eu reterei essas caixas por alguns dias... Talvez meses... Claro que não por muito tempo: preciso do porta-malas... Os livros, talvez os guarde alguns, ou consiga encontrar alguém com o sonho de neles estudar outra vez (neles aprendi para os Vestibulares de Direito e Arquitetura)... As "fitas", quem sabe um artista que delas se utilize para algum painel de obra de arte...

Não deixo, um só dia, de redescobrir algo nalguma delas e de pensar o quanto gostaria de lhes dar um fim digno, uma vez que não posso guardá-las todas - nem haveria razão de fazê-lo, vez que eu me tornaria mero acumulador, não um colecionador... No fundo, cada um dos conteúdos dessas caixas eu posso conseguir em alta definição em qualquer TV, celular ou kindle - o que eu queria mesmo nem eram os filmes, as canções, os livros, mas como as editei, vi, ouvi, li e senti cada uma delas... E isso, jamais terei novamente...

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

BACURINGA

eternizar em imagens
Posso ver no céu a miséria a voar
Pássaros a esmo a esperar
O próximo tiro.
No chão, pisado e sem graça
O palhaço chutado e a desgraça
Presa à mão...

Tantos céus e cores
Tanto chão entre dores
- Ninguém é inocente...

Não há herói ou vilão:
Quando se cala a razão
Se vai à caça...

Não quero crer na explosão de vingança
Como solução de peito nu
Seja vermelha, seja azul
Sobre branco de maquiagem extravagante...
Quero ver gente cintilante
A bradar pelo brado seu
Nem que a arma a se usar
Venha do museu
No alto da escuridão.

Chão de estrelas degradadas
Alço voo pelo céu de giz
Medo da risada infeliz...

Deixa eu pintar o meu nariz
Ver o que essa gente marrom diz
- Te desagrada?

Pena da loucura irada
Palco armado, junta a turba
De gente sem mais nada
- À guerra! À merda!
Nada em volta a se perder
Só a revolta a pender, injustiçada!

"- Mas isso é perigoso
Essa coisa de empatia
Com quem é doido,
Só tem a noite e o dia,
Genocida, bicha,
Amalucado..."
O perigo está na mente
Presa de quem não viu
Nem riu do chiste mal contado...

A risada enfim se solta
Chão de corpos enfileirados
Em legítima defesa da história
Do quadrinho que se volta
E se confunde na memória,
Mas jamais perde a piada...

Viva no céu bacurau!
"Pássaro médio" se pronuncia!
Do chão nasce o Curinga
Ensaiando o seu sarau
De terror junto à multidão
A mirar a esmo,
Sem precisão, a harpia,
O morcego, o que vier
Da próxima escuridão...

A rir-se...
Sem estado
Nem chão...
O perigo está no riso!
Na loucura
Da reação...

(Dilberto L. Rosa, outubro de 2019)

Logo que pensei no título antropofágico para esse poema, lancei-o no Google a fim de ver o que poderia surgir nas imagens para esse meu neologismo e qual não foi a minha surpresa quando, no perfil do grande diretor-roteirista Kléber Mendonça Filho no Instagram estava postada essa divertida arte criativa! 
Meu poema independente e, ao mesmo tempo, atrelado e ainda fascinado com esses dois filmes pungentes e paralelos, encerra outubro com três posts abordando Coringa (e com Bacurau admirado nos especiais de setembro)...
 

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