quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Ou você pode preferir ser... Um falcão?!

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O ano era 1991 e Bruce Willis, após a bem sucedida comédia policial A Gata e O Rato e dois Duro de Matar no currículo (ambos ótimos, apesar de o segundo ser uma xérox do primeiro...), podia fazer o que quisesse! Então ele escolheu... Hudson Hawk - O falcão está à solta! Um retumbante fracasso de bilheteria de tão inteligentemente esdrúxulo que era - herói típico de HQ, edição de videoclipe, vilões caricatos e história de videogame cujos resultados, somados, resultaram num ótimo filme, por mais incrível que possa parecer... Tanto que acabou se tornando cult com o passar dos anos! Apesar de não tê-lo em minha videoteca, eis aí um filme que marcou minha adolescência nos últimos tempos áureos de um grande cinemão-pipoca hollywoodiano que não existe mais...

E como esta pérola surgiu das cinzas de minhas memórias afetivas assim, de repente ("não mais que de repente..")? Por causa de uma canção que ouvi hoje no carro, num disco antigo de jazz coletado a esmo de minha discoteca - Swinging on a star, de Jimmy Van Heusen e Johnny Burke, título que bem pode ser traduzido como "Balançar-se dançando numa estrela", lançada em 1944 no ganhador do Oscar O Bom Pastor, com o velho e sempre bom Bing Crosby a cantarolar que, ou você escolhe ser melhor do que é, podendo ficar lá no alto e se balançar numa estrela (sem esquecer-se de "carregar algum luar numa jarra"!), ou talvez preferisse ser uma mula (ou um peixe... ou um porco... afinal, "nem todos os macacos estão no zoológico: todo dia se pode achar um bom bocado deles por aí..."):

Would you like to swing on a star
Carry moonbeams home in a jar
And be better off than you are
Or would you rather be a mule
(...)
And all the monkeys aren't in the zoo
Every day you meet quite a few
So you see it's all up to you
You can be better than you are
You could be swingin' on a star


O que me faz pensar... Por que o Bruce Willis não soube mais se "balançar numa estrela" e preferiu o cansativo caminho chato de um sem número de imitações de Duro de Matar - inclusive duas péssimas continuações da ótima trilogia original -, cheio de filmes de ação exageradamente cansativos ou sem criatividade no seu histórico? Não sei quanto aos ainda adoradores do dito "Cinema de Ação", que ainda conseguem curtir Vin Diesel e Jason Statham em produções vazias, porém cheias de explosões e chutes na cara, mas hoje o efeito do rosto de Willis num cartaz, pelo menos pra mim, tem o efeito contrário ao que tinha no final dos incríveis anos 80 e começo dos razoáveis 90: faz com que eu passe longe daquelas duas horas de lugar-comum! Será que o único careca bonitão do cinema resolveu ser um porco (ou uma mula... ou um peixe... ou ainda um macaco de zoológico) e só o que sabe é chafurdar na lama de roteiros chinfrins, mas cheios da grana?!

Voltemos ao filme relembrado: talvez pelas ousadias tomadas, talvez pelos excessos de ritmo e paródia - talvez pela soma dos dois... -, Hudson Hawk até hoje é lembrado pela maioria dos cinéfilos com mais de 35 anos, que o viram na tela grande, como um filme ruim... Eu, que também paguei ingresso para vê-lo no Cine Alpha 2, no entanto, sou do cordão dos seus ardorosos fãs, até hoje com divertidas sequências na cabeça mesmo há muito não vendo o repeteco de nenhuma delas! No caso desta em que toca o clássico de Crosby, Willis, conversando com o grande, porém sumido Danny Aiello, sobre o assalto que estão pra cometer num museu amplamente vigiado por câmeras de segurança, acertam os últimos detalhes da empreitada combinando o tempo exato da ação delituosa: assim, a fim de precisar os minutos, que tal "Swinging on a star"? - Ei, sabia que inventaram uma coisa chamada relógio?, pergunta Aiello, com razão... Mas pra que sincronizar cronômetros se você pode ser criativo e desenhar essa cena num roteiro cheio de sequências bacanas e marcantes como esta? Cool Bruce... Ainda hei de comprar um chapéu igualzinho ao do Hudson Hawk quando cair meu último fio!

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Marcha da Quarta-Feira de Cinzas

Confete e serpentina. Foto: Reprodução de Internet

No carnaval de 1938, não tinha pra ninguém - só dava Braguinha, o famoso João de Barro, pseudônimo adotado pelo arquiteto de formação Carlos Alberto Ferreira Braga (em razão de ser esse o "pássaro construtor" e de, em sua família, ninguém àquela época querer saber de um compositor de Música popular!), que dominou aquele ano com duas marchas da sua lavra: Touradas de Madri, bem ruinzinha (Eu fui às touradas em Madri,/ Pararatimbum, bum, bum, pararatimbum/ E quase não volto mais aqui/ Pra ver Peri beijar Ceci... Urgh!), e As Pastorinhas (1934/1937), esta, sim, uma belíssima composição em parceria com meu famoso "tio-avô" Noel Rosa (na verdade, uma marcha-rancho natalina, porque inspirada nas cantatas de Dia de Reis) e que adoro cantarolar até hoje, dada a sua bela estrutura melodiosa, que aprendi a amar na voz do saudoso Nelson Gonçalves:
A estrela d'alva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor

Linda pastora
Morena da cor de Madalena
Tu não tens pena
De mim que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança
Tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre e sempre te amar

Sempre gostei de marchinhas... Não das escrachadas e chulas, como as comuns aqui em São Luís do Maranhão (tolamente conceituadas como "irreverentes"!), mas das divertidas, animadas, inteligentes; dessas que não morrem e não caem em desuso - enfim, das que duram pra sempre sem ofender ninguém, como o faziam as grosseiras e preconceituosas O teu cabelo não nega ou Cabeleira do Zezé, para citar apenas dois exemplos, bem mais do que politicamente incorretas nos dias atuais... Gosto de sentir o carnaval como uma festa simplesmente alegre, romanticamente bem diferente do tom sexual e alcoolizado que foi adquirindo com o passar dos anos... E, por isso, simpatizo tanto com a alegria das marchas eternas, como que a simbolizar um carnaval que, pelo menos pra mim, nunca vai ter fim...

Sim, eu sei de Todo carnaval tem seu fim (Deixa eu brincar de ser felizDeixa eu quebrar o meu nariz...) e, para muito além dos modernosos Los Hermanos, sempre gostei muito do tom amargo e desesperançoso por trás da Felicidade desesperada que festas como o carnaval mascaram (A felicidade/ é como a gota de orvalho/ numa pétala de flor... como diria a dupla dinâmica Tom e Vinícius)! O sempre genial Chico Buarque já se guardou pra Quando o carnaval chegar e mesmo este humilde escritor amador que vos fala já saracoteou bastante por versos amaríssimos sobre a mais que idealizada Festa de Momo, com Sempre chove nos carnavais e Carnaval Atemporal... Ainda assim, acho que carnaval não tem fim, dada a alma carnavalesca do brasileiro e a alegria incontinente e inconteste que pulula suspensa o ano inteiro por entre os olhos mais ávidos por dias melhores no amanhã... Sim, eu creio na santidade da Poesia maior contida (e reprimida) que tanto simboliza essa festa pagã! E se você ama, nunca se chega ao fim...

E assim se tenta dourar a pílula entre o mais amargo e o mais doce da alegria etérea e ideal: para os fracos e para os fortes da vez, sigamos crendo na vida após a católica quarta-feira de cinzas das dores e das culpas e vivamos intensamente a promessa do Poetinha Vinícius de Moraes de "tantas coisas azuis", "tão grandes promessas de luz" e de "Tanto amor para amar que a gente nem sabe"... Sim, porque "mais que nunca é preciso cantar", e alegrar não só a cidade, como também este bairro, o caminho entre as nossas ruas, e pavimentá-lo com alguma coisa semelhante aos velhos confetes e serpentinas coloridos e acreditar no que sustentou nosso carnaval até aqui... Porque por mais desgaste que possa haver, a gente só se afasta do carnaval - mas ele continua aí, para quem quiser ver... E assim, o "Velho Vina" (em parceria com Carlinhos Lyra) dosou bem os pesos quando escreveu sua marcha para este dia cinza, nublado e com gosto de ressaca - pois "A tristeza que a gente tem/ qualquer dia vai se acabar"...:


 

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