quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

MEU PRIMEIRO ROMANCE
(Quarto Mês)

Você ainda vai me amar amanhã...?


CAPÍTULO IX
"Eu dirigi a noite toda para chegar até você..."

Ela me contaria, tempos depois, como me admirara desde o primeiro minuto em que "parei" diante dela - no que eu sempre lhe perguntava, tentando corrigir visualmente a cena, até mesmo para que eu pudesse entender: "- 'Desde a hora que eu adentrei a sala dos professores e tu me viste pela primeira vez?', você quer dizer?"... E ela sempre rebatia, com precisão: "- Sim, mas depois, quando você parou: você para de um jeito incrível, marca da tua personalidade, do teu charme!". E eu, louco pra me situar, brincava fazendo poses como se fosse um supermodelo da moda naquelas paradinhas dos desfiles e lhe questionava se fora esse lado meu metrossexual que mais a arrebatara: "- Você não tem nada de metrossexual, seu palhaço: você é homem pra mais de metro, isso, sim!", ela sempre arrematava...

- Teu homem... Só teu...
- Para! Não começa: sabes que temos aquele jantar com os pesquisadores daquela 'facul' de Belém dentro de 45 minutos... Não dá tempo, delícia...
- Eles que nos esperem...
- Sabes que, se começarmos, não sairemos mais de casa, amor...
- Jeito então é parar... É assim que eu paro estonteantemente? - e tomei força pra largar sua cintura forçando uma molecagem, imitando o Caco Antibes do Falabella em Sai de Baixo, quando fazia sua costumeira entrada no antigo humorístico semanal e fazia suas pausas, como se posasse para fotos dos fãs aplaudindo.
- Claro que não! Você não entende... Mas você para incrivelmente lindo...
- Linda eras tu naquela primeira vez que te vi naquela sala: nem acreditei naqueles teus olhos... O olhar mais lindo que já vi...
- Mentira: você olhava através de mim, como que para o fundo do recinto - fui invisível pra você, professor veterano!
- Timidez, meu bem... Como aquela sala vivia lotada, da nossa Sociologia bem como de professores de todos os outros cursos, eu sempre adentrava assim: rapidamente e aparentemente olhando para ninguém... Mas naquele dia não teve como não ver aquele teu olhar antes de qualquer coisa...
- Olhar de admiração...
- Que exagero: você nem ligou pra mim... Só nos falaríamos duas semanas depois! E isso porque o coordenador veio e nos apresentou pra uma ideia de grupo de pesquisa...
- Pior foi você! Levou ainda mais um mês pra me fazer convite de amizade e puxar assunto no Face!
- A timidez...
- Sei... Nem quis aceitar: você ali, rodeado de aluninhas a suspirar por cada foto postada e cada "textão" político...
- Pelo que me lembre, não era eu que era de foto... Meu negócio era só polemizar nos meus "textões", como tu falas. Nunca fui de licute com aluna, sabes muito bem disso!
- Sei... E meu negócio nem eram essas discussões politizadas que mais segregavam do que realmente geravam boas ideias: eu amei quando me pediste opinião sobre qual poema colocarias no teu primeiro post de blog... Achei tão bonitinho, adolescente, rá, rá, rá...
- Valeu!
- Sério: jamais imaginaria você escrevendo num blog! Você, o mais sério e reservado da instituição...
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra... E você, depois de escolher o poema, que acabou virando o nome do espaço virtual, nunca mais ligaria muito pra nada que eu publicasse ali...
- Não é verdade: sempre admirei tua Literatura! "Espaço virtual", ai, ai... Tudo isso pra não falar BLO-GUE?!
- Nunca apreciei esse nome: parecia coisa de perdedor virtual, a fazer diarinho na internet!
- Olha o preconceito...
- Já estou pronto! E tu, todo tempo demoras... Enquanto eu converso, não paro de ir me arrumando, não!
- Grosseiro... Não sabes que as mulheres têm o tempo a seu favor?
- Mais ou menos como quando marcamos nosso primeiro encontro: aquele "'Tou saindo" teu eu vi logo que era da boca pra fora... E assim se repetiriam todas as nossas saídas seguintes, porque na época estavas sem carro...
- Sim, fruto do divórcio...
- Sabes que não suporto nem lembrar isso...
- Desculpa... Pronto, nem me demorei, viu só?

Saímos de mãos dadas, corredor afora. Nem ligamos para as câmeras do elevador, tampouco do hall de entrada do prédio, e seguimos beijo atrás de beijo (que beijos...) até o carro na garagem. Nesse instante, ela parou e ficou contemplando internamente o veículo, como que o inspecionando ou procurando alguma coisa no escuro... Quando, finalmente, ligo o carro e o som de uma estação de rádio qualquer passa a tocar um antigo clássico pop-rock dos anos 80, I drove all night to get to you, de Roy Orbison, que em tradução livre seria "Eu dirigi a noite toda para chegar até voê", e ela solta aquela gargalhada deliciosa que só ela podia dar.

- O que foi?
- Eu estava justamente viajando aqui a olhar esse carro e me lembrando do nosso primeiro encontro, repassando na mente tanta coisa e tantos lugares para onde já fomos nele, vendo como teu carro se incorporou em nossas vidas, e toca essa canção! Roy Orbison: que tiro, rá, rá, rá!
- Verdade: sempre fomos bons em trilhas sonoras...
- Porque somos os protagonistas desse mundo, minha vida: o resto são meros coadjuvantes e nossos temas musicais são sempre precisos a contar a nossa história!
- Boa... Deverias ser escritora!
- Mas eu já sou: uma socióloga com três livros lançados!
- Falo de Literatura...
- Essa eu deixo pra você! Já tenho dificuldade demais pra pagar as contas com o que ganho como professora universitária e com os parcos direitos das minhas publicações...

Silêncio... No que ela se tocou da espécie de julgamento de diminuição e balbuciou:

- Desculpa, meu amor... Não quis te magoar...

Mesmo eu relevando (sempre fomos muito diferentes...), o "climão" se instalou e seguimos para o restaurante ouvindo apenas as canções que tocavam na rádio... Jantamos, bebemos nossos drinks (eu acabei bebendo os dela, por fim: ela sempre foi fraca pra álcool), trocamos algumas ideias interessantes com os 4 estudiosos de fora, mas sem jamais sermos somente professores: nunca conseguimos! Éramos sempre nós dois, em carinho e ligação o tempo todo em que encontrássemos qualquer brecha para nos despirmos dos jalecos e nos olhamos nus... Apenas na universidade mantínhamos sobriedade e distanciamento do nosso envolvimento, sabido somente por alguns professores e sequer maldado por qualquer aluno. E, falando em trabalho, lembro bem que ainda tínhamos que voltar para a faculdade para batermos nossos pontos de assalariados (nosso dileto coordenador-cupido já não mais atuava, mas, sim, um outro, caxias inarredável), quando, depois das despedidas sociais da grande mesa e a volta para o universo do nosso carro, acabei tendo uma ideia melhor. Ela estranhou:

- Ei, pra onde estamos indo? Você perdeu a saída para a 'facul'...
- Eu sei...
- E posso saber para onde o rapaz mal intencionado está me levando?
- Segredo...
- Ei, eu sei aonde vai dar essa avenida... Deus, olha essa chuva: tudo igualzinho ao nosso primeiro beijo!
- Acertou!
- Só faltava tocar agora na rádio Roy Orbison e seu You Got It: lembra, paixão, foi a nossa primeira canção, nunca vou me esquecer...
- Errada! A chuva estava tão forte que mal ouvíamos o que tocava naquele meu pen-drive e, depois de rodarmos um tempão e pararmos naquele final do parque municipal, acabamos ficando lá porque tinha vista para o mar e não parávamos mesmo de conversar... Só então nos beijamos pela primeira vez...
- Sim: eu ainda estava sem acreditar naquele encontro dos sonhos mesmo sem nada estar dando certo para nossa primeira saída com aquele toró, e, quando vi tua boca sorrindo pra mim, aquele sorriso de canto esquerdo, eu só conseguia pensar "Tarde demais: sou tua..."! E tudo ao som do Roy, com You Got It! Eu lembro de tudo que vivemos juntos como num filme!
- Não! 
- E tocava o quê, afinal?
- Perto desse momento acho que a chuva baixou sua intensidade e, depois de uns segundos percebendo o mar na tela do nosso para-brisa, nos viramos um para o outro e a música que tocou foi "A Última Diligência para Red Rock"...
- Hã? Só deve ter sido os drinks...
- Sim, trilha de "Os Oito Odiados", de Tarantino - aquela meio pesada do Morricone...
- Ah, sim! Rá, rá, rá, rá, rá - que memória a tua! 
- E eu, no meio do beijo...
- Parou e foi mudar de faixa no som do carro porque...
- Aquilo não era música para ser a do nosso primeiro beijo!
- Rá, rá, rá! Isso mesmo! E falamos juntos agora... Ai, como eu te amo...
- Chegamos...
- Olha o mar...

Começamos a nos beijar de um jeito tão apaixonado, tão intenso, que, quase sem perceber, tirei-lhe a calcinha e levantei seu vestido tão logo ela subiu em cima de mim na minha poltrona de motorista num momento mais quente daqueles beijos sem pararmos... E as minhas mãos mais fortes passaram a acompanhar aquele ritmo intenso e... Inacreditavelmente, fizemos amor ali mesmo, dentro do carro, apesar de já morarmos juntos havia cerca de 6 meses, tal como um casal de adolescentes descobrindo o sexo em qualquer lugar! E com alguns carros parados a certa distância: pessoas caminhavam no parque e muitos ali estacionavam, no final da rua que dava para uma ribanceira com vista para o mar - fosse por causa dessa vista, fosse por causa do fim do trajeto da caminhada marcado nas calçadas... Fosse ainda por causa de algum casal mais saidinho com as nossas mesmas ideias mais íntimas... 

Não creio: como nós, só nós mesmos, ali a nos devorar da forma mais linda e inimaginavelmente sem nenhum planejamento prévio! Nem mesmo sei por que a levara para ali... Talvez simplesmente quisesse amá-la depois daquela noite meio romântica (o restaurante servia comida oriental de uma forma tão agradável para casais...) e nem tinha me dado conta do fetiche inerente do carro: nunca na minha vida, nem no fusquinha de papai nem naquele corsinha, fizera antes nada assim... O mais curioso é que não só ficamos sem palavras um com o outro com a força daquele momento, bastando-nos em nos olharmos fundo nos olhos um do outro e respirando bem forte até recuperar o fôlego daquele encaixar perfeito no pouco espaço daquele veículo como também aquela "escapadinha no carro" se repetiria várias e várias outras vezes - mesmo com os carros adquiridos depois, o QQ e o Corolla! E parávamos não mais só e tão somente nalgum lugar mais reservado como aquele, mas qualquer lugar virava lugar em determinados momentos de maior intensidade de nós dois: de meios de ruas desertas a estacionamentos de supermercados e shoppings!

- Se me contassem de qualquer dessas nossas pequenas loucuras a respeito de outro casal, eu diria, alguns anos atrás, que esse povo era "pervertido"... - divertia-se ela, sempre que voltávamos pra casa depois de uma dessas nossas intimidades outdoors, protegidos apenas pelo fumê das janelas...

Nem preciso dizer o quão doloroso foi vender aquele carro, alguns anos depois... E assim se sucederia com os outros dois veículos adquiridos na constância da nossa união estável (nunca nos casamos...), por razões óbvias... Claro que para além de tais inusitadas razões aludidas, é claro: ela gostava de dizer que éramos um "simbolismo vivo impregnado de canções" e eu acho que todos esses carros, em que tantas coisas passamos ao longo do nosso tempo juntos, acabaram sendo grandes símbolos exatamente daquela definição mágica que ela tão brilhantemente gostava de repetir... E assim, de cenas torridamente bem vividas num ambiente padrão para mera locomoção e conversas rotineiras, como o é um carro particular, a um relicário presentado sem maiores graciosidades, como um simples peso de papel, nada fugia do nosso toque simbolista - e, mesmo que inicialmente nem se tivesse em mente qualquer aspecto de simbologia para algo ou algum lugar, bastava que vivenciássemos aquela coisa ou dado cenário... E, instantaneamente, a tudo impregnávamos com as mais bonitas identidades do nosso amor: essa cidade ficou marcada, em mim, por ela... de um jeito hoje doído de descrever...

Como ela faz falta, meu Deus, em cada coisa que toco, em cada lugarejo por que passo... E por onde andaria mesmo aquele peso de papel de mar e golfinhos? Sei que guardei tudo... Não guardei?


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Mais Pôsteres...

 COLEÇÃO PARTICULAR DE PÔSTERES DE CINEMA:
Estojo 2


E mais um estojo de tubo foi reordenado na longa e interminável arrumação do meu escritório em casa (uma ajudinha cairia tão bem...): agora, ao contrário dos pôsteres da última postagem, eis que estes 4 exemplares estão tão reluzentes como se houvessem saído hoje mesmo do tradicional quadro de vidro iluminado do seu cinema de origem - no caso, o antigo multiplex do Shopping São Luís, Box Cinemas (cadeia espanhola, posteriormente comprada pela brasileira rede Cinépolis). No entanto, já contam todos com mais de 10 anos, uma vez que o do filme mais velho, o divertidíssimo Lilo e Stich, uma das últimas animações tradicionais da Disney, teve seu lançamento em 2002, e o mais derradeiro, a boa Animação de Aventura As Tartarugas Ninja - O Retorno, data de 2007!

Outra curiosidade em comum: porquanto sempre tenha gostado muito de animações (os antigos "filmes infantis"), os 4 pôsteres desta leva são de filmes deste subgênero, que vi naquelas salas e me foram doados por aquele gerente amigo de quem já comentei - constam, além dos dois já citados, mais duas animações digitais, também chamadas "em 3D": o excelente Procurando Nemo, da Pixar (antes da incorporação à Disney) e o só simpático e charmoso O Expresso Polar (a técnica de captura de movimento, até então insistentemente usada por Robert Zemeckis, sempre foi bela, porém artificial - vide os posteriores Beowulf e Scrooge, ambos com os mesmos problemas e do mesmo diretor).

Belos pôsteres esses, usados muito pouco no meu antigo endereço, quarto do apartamento da minha mãe... Bem que poderiam ser emoldurados e ilustrar outro quarto atualmente, o dos meus 3 filhos -  problema é achar lugar pra colocar... Além do quê, eles ainda nem conhecem todos esses filmes "antigos", de antes de eles terem nascido - títulos esses que vou, gradativamente, apresentando a eles...

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Oscarflix
e os coringas e parasitas que ainda se sobressaem num Cinema cada vez mais mediano...

Como a ordem, nesta montagem, dos candidatos ao Oscar de Melhor Filme deste ano não representa uma real "ordem de qualidade", os Morcegos, devidamente atualizados em seu raro dever de casa de ter visto todos eles, resolveram traçar o seu próprio rol, do pior para o melhor dessa lista: na categoria dos medianos, 1917 («/); Adoráveis Mulheres (««); História de Um Casamento (««/)Jojo Rabbit (««/); e Ford vs. Ferrari («««); já na categoria dos muito bons para excelentes; O Irlandês («««/); O Parasita («««/); Era uma vez em Hollywood (««««); e o melhor do ano passado (depois de Bacurau, é claro!), Coringa (««««/).

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Duvivier como um Jesus indeciso e Porchat como um Satanás
gay: divertido, mas longe da qualidade que a trupe de Porta
dos Fundos 
costuma apresentar em sketches curtas na internet

(como a inteligentíssima "continuação" em resposta a todas
as absurdas polêmicas com seu filme natalino da Netflix).
Nem só de polêmicas sem cabimento ou de últimos capítulos de adoradas séries vive a Netflix - como, respectivamente, deu-se com o só razoável Especial de Natal Porta dos Fundos - A Primeira Tentação de Cristo (mesmo pouco engraçado e sem maiores deboches que uma Maria safadinha com um Deus similar aos libertinos deuses gregos e um Jesus "se descobrindo", despertou a "ira" de alguns cristãos brasileiros desocupados) e com o bom The Good Place (que, se há muito perdeu a genialidade e só se esticava em temporadas sem graça e de situações repetidas, ao menos foi concluída com alguma criatividade carismática). Como parece estar se tornando tradição, o famoso canal virtual, até o final do ano passado, produziu e lançou várias superproduções próprias que vêm colecionando indicações e prêmios internacionais, inclusive o tão badalado Oscar: foi assim, no ano passado, com a pequena obra-prima Roma (2018), que arrebatou nada menos que 3 prêmios importantes da Academia, e, recentemente, com vários filmes que, no mínimo, devem ser vistos!

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Favorito ao Oscar na categoria melhor 
longa de animação, Klaus foi uma 
grata surpresa no Natal aqui de casa, 
com sua inteligente releitura da lenda
de Papai Noel para todas as idades.
E, assim, após colocar em dia, desde dezembro até o começo desse ano, um bom número de filmes produzidos pela maioral do streamming que acabaram passando batido por mim em 2019 (como os indicados ao Oscar Klaus e Perdi meu corpo, ótimas animações para fugir da Pixar de sempre e seu ainda muito bom Toy Story 4, e também ao Globo de Ouro, como Meu Nome é Dolemite, com Eddie Murphy vivendo um personagem real), finalmente assisti aos "medalhões" da casa, aqueles com maior destaque de lançamento recente e inúmeras premiações importantes e indicações ao Oscar: um Scorsese muito bom em O Irlandês (mesmo longe dos maiores trabalhos do Mestre Novaiorquino, mereceu suas 9 indicações, especialmente nas excelentes direção, edição e efeitos visuais - o rejuvenescimento digital dos já enrugados astros do filme); um superestimado, porém fraco História de Um Casamento (Adam Driver, concorrendo como Melhor Ator, é a única justiça das 6 indicações desse inexplicavelmente badalado projeto pessoal de Noah Cumbatch, também indicado como roteirista e diretor – o chato Kramer Vs. Kramer era bem melhor!); e o muito interessante Dois Papas (o passeio de Fernando Meirelles pelo Vaticano, porém sem devassar para além dos ricos diálogos entre o reacionário renunciante Bento XVI/Hopkins e o progressista Francisco/Pryce - excepcional da interpretação à semelhança com nosso hermano Bergoglio!).

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Assim como seu principal concorrente 
Indústria Americana (que peca por não 
costurar bem as histórias pessoais mostradas 
e tende para o óbvio dos "vilões capitalistas 
chineses"), Democracia em Vertigem,
apesar do excesso de "bastidores petistas" 
e de ter desperdiçado a chance de melhor
analisar a conjuntura para além da 
"polarização", mostra-se um sensível retrato
 de um País perdido e dividido...
Desde o pungente Ícaro (2017), que desbaratou um complexo de pesadas denúncias contra o Governo russo em relação a uma política de dopping com seus atletas, fato repercutido até hoje (a Rússia acabou banida das próximas Olimpíadas) e rendeu à Netflix o seu primeiro Oscar, mais uma vez são fortes as chances de o canal arrebatar outro careca dourado na categoria de Melhor Documentário! Afinal, além do sensivelmente impactante A Vida em Mim (indicado para Melhor Documentário em Curta-Metragem), a denunciar uma assombrosa nova doença psicológica infanto-juvenil gerada pelas desumanas políticas públicas de países europeus (no caso, a Suécia atual) contra famílias de refugiados, a Netflix ainda concorre nessa área com dois longas muito interessantes: o favorito (especialmente por ter sido produzido pelo progressista casal Obama) Indústria Americana, que levanta diversos choques culturais e impactos sociais no caso de uma fábrica automotiva estadunidense comprada por um rígido conglomerado chinês, e também seu principal "oponente sócio-político", o brasileiro Democracia em Vertigem, sensível abordagem pessoal da diretora Petra Costa (covardemente bombardeada pela censura fascista dominante no País, desde a SECOM do Planalto até os jornalistas da Grande Mídia, como o "cineasta" Pedro Bial) sobre as situações políticas nacionais que conduziram ao golpe de impeachment da Presidenta Dilma Roussef e à ascensão da acéfala ultradireita capitaneada com a eleição de Bolsonaro como Presidente (ainda hoje tenho sérias dificuldades de chamá-lo assim...), em meio ao microcosmo de sua família burguesa dividida entre grandes empreiteiros e militantes da Esquerda desde a luta contra a Ditadura Militar.

À exceção do bom Toy Story 4, os indicados Disney deste ano
 clamam por melhorias urgentes nas qualidades criativas de seus 
principais blockbusters: a começar pelo sem emoção Rei Leão
passando pelos cansativos mais-do-mesmo Star Wars IX e
Vingadores: Ultimato até o escuro e clichê ("elementais da
natureza"?!) Frozen 2, parcas indicações para a Casa do Mickey!
Em decorrência de sérias razões de ordem pessoal (ainda não desceu pela garganta nem o Golpe nem as reacionárias eleições das fake news...), só agora em janeiro consegui ver esse ótimo documentário nacional. Tal como se deu com outros elogiados filmes de 2019, fora do eixo Netflix, que finalmente pude ver nas últimas semanas – na verdade, nem tão elogiáveis assim nas minhas retinas já fatigadas pelo mediano da maioria das produções atuais: Dor e Glória (indicado para Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Ator, com o excelente Banderas), fraquíssima narrativa de Almodóvar como seu autobiográfico retrato cinematográfico e metalinguístico; Rocketman (finalista em Melhor Canção), alegoria musical interessante, esquecido pela Academia, mas com potencial imenso para outras indicações (como a de Melhor Ator para Taron Egerton no papel de Elton John, que também produziu essa cinebiografia); Frozen 2 (concorrendo apenas como Melhor Canção) que vi recentemente com minhas filhas num cinema nitidamente entediado com a escuridão e os clichês da trama, a evidenciar que a Fórmula Disney de Franquias de Sucesso está extremamente desgastada – assim como já mostrado aqui no bloguinho quando tratamos de outros oscarizáveis deste ano: Vingadores: Ultimato (indicado para Melhores Efeitos Visuais), Star Wars - Episódio IX: A Ascensão Skywalker (Efeitos Visuais, Trilha Original e Edição de Som - os antigos "efeitos sonoros"); e O Rei Leão (da "franquia das refilmagens de clássicos da animação", favorito para Melhores Efeitos Visuais), desnecessária "Versão Animal Planet" igualmente cansativa por não mudar nada do original, mas somente piorá-lo!

Como votado só por artistas da Animação,
Mémorable tem chances de levar o Oscar
para a França.
E, falando na Disney/Pixar e suas sempre oscarizadas produções (geralmente, os prêmios de Melhor Animação vão para elas), neste ano, além dos já citados longas, elas também disputam como Melhor Animação em Curta-Metragem com o bonitinho Kitbull, sobre a amizade entre um doce pitbull treinado para as rinhas e um arisco gatinho de rua, disponível no YouTube – assim como seu principal concorrente, o favorito Hair Love, sensível retrato de uma família negra em torno de um penteado no cabelo afro de uma linda garotinha, nascido de uma vaquinha virtual (os Morcegos andam doidos para pleitear um crowdfunding para editar o romance Você ainda vai me amar amanhã, desse blog...). No entanto, nosso preferido para este Oscar é o tocante Memorable, produção francesa bastante inovadora em técnicas de animação na sensível abordagem do Mal de Alzheimer na vida e na visão artística de mundo de um pintor.

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Escorrega daqui, cai acolá, refrega, mergulha na cachoeira e... 
Voilá: sujeito sem mapa nem bússola cai certo no seu destino
e missão cumprida na 1ª Guerra! Espécie de "continuação de 
O Fugitivo",  só que sem emoção e num cansativo e único 
plano-sequência (os cortes existem, mas são maquiados)!
Eis o superestimado e multipremiado 1917!
E, graças às maravilhas do Torrent, trouxe o streaming para dentro do meu HD portátil baixando inúmeros filmes ainda em exibição. E, economizando uma baba ao não ter que aguentar os altos preços das tais "Salas VIPs" em péssimas projeções dos multiplexes da vida somente para supervalorizar um filme oscarizável ou sua exibição legendada, pude ver em casa outros filmes igualmente medianos concorrentes nas categorias principais - como o supervalorizado "Cinema Videogame" à lá "Medal of Honnor" 1917 (estéril e técnico, à exceção de uma ou duas cenas mais emocionais, não passa de uma montanha russa de situações que jogam o protagonista pra lá e pra cá até cair perfeitamente na trincheira da sua missão), a "polêmica" comédia dramática sem ter muito o que contar além de algumas piadinhas com um Hitler bobão e afrescalhado como amigo imaginário de um garotinho da Juventude Nazista em Jojo Rabbit (o melhor dessa imitação do estilo Wes Anderson é, sem dúvida, o personagem esquecido de Sam Rockwell) e a chatinha nova versão "atualizada" e "empoderada" de Adoráveis Mulheres, narrativa pobre, exageradamente autoexplicativa de idas e vindas no tempo, num filme que nunca engrena (preferível sua última versão cinematográfica, de 1994, com Wynona Ryder). Curiosamente, os três despontam como fortes candidatos a várias estatuetas douradas, o que demonstra que o comercialismo do cinemão industrial ainda prefere premiar o óbvio ululante – situação costumeiramente presente no Oscar em relação a filmes bem fracos como O Discurso do Rei ou Crash - No Limite! Dessa leva se sobressai somente a deliciosa Sessão da Tarde às antigas Ford Vs. Ferrari, graças à inspirada dupla de protagonistas (Bale e Damon) e às excelentes edições de montagem e som, levando a audiência para dentro das ótimas cenas de corrida!

Se faltou mais "algo na veia" para suas viradas,
o drama cômico Parasita apresenta algo novo
em seu estilo farsa simbolista - enfim, um filme
acima da média nesse Oscar modorrento...
Mas nem só de produções ruinzinhas vive o Cinema atual: ainda é possível surpreender no mainstream! E, assim, produções já analisadas por aqui no ano passado, Coringa (pra mim e os Morcegos, o melhor do ano passado) e Era uma vez em... Hollywood, consagraram-se mesmo como os melhores de 2019, tiveram seus merecidos reconhecimentos com indicações em vários festivais pelo mundo e já vêm recebendo vários prêmios, com fortes probabilidades de Oscars em várias categorias - com destaque para as já laureadas interpretações do incrível ator e ativista superconsciente Joaquín Phoenix na sua "versão adulta" do Palhaço do Crime e Brad Pitty "sendo Brad Pitty" mais uma vez, de forma competente,  no último (e ótimo) trabalho de Tarantino. De destacar, por fim, o mais novo queridinho oriental, o diretor Bong Joon Ho (forte concorrente a Melhor Diretor), e o seu Palma de Ouro em Cannes Parasita: não é nenhum Bacurau (ou O Som ao Redor, trabalho de Júlio Mendonça Filho de temática mais próxima) ou qualquer outra obra de crítica social do Cinema nacional, mas quebra o galho no meio de tanta mesmice - a(s) inusitada(s) reviravolta(s) final(is) pode(m) até fazer o filme soar como algo forçado, uma vez que mais da primeira metade segue em tom farsesco de comédia; o fato é, porém, que tal virada é necessária para contrapor os extremos e apresentar uma fábula moderna inteligente e simbolista sobre classes sociais, suas visões e seus lugares no mundo.

Se levasse, seria mais que merecido... Ao contrário do que
quer apregoar boa parte da "mídia dos releases", Coringa
nada tem a ver com um "filme de vilão de Quadrinhos",
mas, sim, de uma bela e sensível visão político-social
dos excluídos, da loucura e, de quebra, uma homenagem
cinematográfica ao famoso personagem das HQs do
Batman e a filmes de temática similar dos anos 70 e 80,
em especial a Taxi Driver e O Rei da Comédia, ambos
do Mestre Scorsese.
Em suma, o Oscar vai para... a Netflix, é claro: independentemente do resultado desta noite, o canal virtual se consolida, por meio de seus 8 filmes concorrendo em 24 categorias, como a "nova revolução do Cinema e da mídia", no dizer do veterano Martin Scorsese, que, ao contrário de muitos diretores e produtores paternalistas do velho esquema das grandes salas de exibição, ficou muito feliz em poder ter feito seu filme nessa plataforma – com uma única ressalva: depois de causar "polêmica" ao dizer que os filmes de super-heróis da Marvel não são Cinema (no que concordo plenamente!), fez um apelo a todos os espectadores da Netflix para não verem seu O Irlandês nos celulares! Faz muito sentido pra mim: grandes filmes pedem uma tela grande - no mínimo, uma de 50'' em casa, nas populares smartvs de hoje em dia... A verdade é que os tempos mudaram, o streaming veio pra ficar – e para apresentar algo a mais que a mesmice autovangloriada dos grandes estúdios hollywoodianos – e a Academia parece estar aprendendo a equilibrar melhor essas equações neste que muito bem se poderia chamar de Oscarflix! Que vençam os melhores (ou os que arrecadaram maiores bilheterias...) e democracia em Vertigem nos redima! E, mesmo dando aquela rotineira entortada de boca e aquele dar de ombros de indiferença a essas premiações-eventos norte-americanas, eu vou dar uma olhada (no que a Globo deixar) e farei minhas apostinhas, como de praxe todo ano... Seguem abaixo as previsões dos Morcegos na seguinte legenda: azul para quem deve ganhar o prêmio; laranja para quem tem grandes chances de também levar; e verde para quem, na nossa cinéfila e modesta opinião, é que faria justiça sendo oscarizado!
Que Democracia em Vertigem nos redima... E Temer não nos roube novamente, amém!
(ATUALIZADO: após a cerimônia do último domingo, 9, os filmes vencedores foram sublinhados - independentemente da cor apresentada na legenda original da aposta - e os demais, riscados, sendo ainda apostos de vermelho os concorrentes originariamente não cotados nas previsões dos Morcegos)

Melhor filme
O Irlandês
Adoráveis Mulheres
Era Uma Vez em… Hollywood
Parasita
História de um Casamento
1917
Coringa
Ford vs Ferrari
Jojo Rabbit
Melhor Diretor
Bong Joon-Ho, por Parasita
Martin Scorsese, por O Irlandês
Sam Mendes, por 1917
Todd Phillips, por Coringa
Quentin Tarantino, por Era Uma Vez em… Hollywood
Melhor Ator
Antonio Banderas, por Dor e Glória
Leonardo DiCaprio, por Era Uma Vez em… Hollywood
Adam Driver, por História de um Casamento
Joaquin Phoenix, por Coringa
Jonathan Pryce, por Dois Papas
Melhor Atriz
Saoirse Ronan, por Adoráveis Mulheres
Charlize Theron, por O Escândalo
Scarlett Johansson, por História de um Casamento
Renée Zellweger, por Judy – Muito além do Arco-Íris
Cynthia Erivo, por Harriet
Melhor Ator Coadjuvante
Brad Pitt, por Era Uma Vez em… Hollywood
Joe Pesci, por O Irlandês
Al Pacino, por O Irlandês
Anthony Hopkins, por Dois Papas
Tom Hanks, por Um Lindo Dia na Vizinhança
Melhor Atriz Coadjuvante
Kathy Bates, por O Caso Richard Jewell
Laura Dern, por História de um Casamento
Scarlett Johansson, por Jojo Rabbit
Florence Pugh, por Adoráveis Mulheres
Margot Robbie, por O Escândalo
Roteiro Adaptado
O Irlandês
Jojo Rabbit
Coringa
Adoráveis Mulheres
Dois Papas
Roteiro original
Entre Facas e Segredos
História de um Casamento
1917
Era Uma Vez em… Hollywood
Parasita
Melhor filme internacional
Corpus Christi (Polônia)
Honeyland (Macedônia do Norte)
Os Miseráveis (França)
Dor e Glória (Espanha)
Parasita (Coreia do Sul)
Animação
Como Treinar o Seu Dragão 3
Perdi Meu Corpo
Klaus
Link Perdido
Toy Story 4
Fotografia
1917
O Irlandês
O Farol
Coringa
Era Uma Vez em… Hollywood
Figurino
O Irlandês
Jojo Rabbit
Adoráveis Mulheres
Era Uma Vez em… Hollywood
Coringa
Trilha sonora original
Coringa
Adoráveis Mulheres
História de Um Casamento
1917
Star Wars: A Ascensão Skywalker
Efeitos Visuais
Vingadores: Ultimato
O Irlandês
O Rei Leão
1917
Star Wars: A Ascensão Skywalker
Documentário
Indústria Americana
The Cave
Democracia em Vertigem
Honeyland
For Sama
Montagem
Ford vs Ferrari
O Irlandês
Jojo Rabbit
Coringa
Parasita
Canção Original
I Can’t Let You Throw Yourself Away, por Toy Story 4
(I’m Gonna) Love Me Again, por Rocketman
Into The Unknown, por Frozen 2
I’m Standing With You, por Superação – O Milagre da Fé
Stand Up, por Harriet
Direção de arte
1917
O Irlandês
Jojo Rabbit
Parasita
Era Uma Vez em… Hollywood
Mixagem de Som
Ad Astra
Ford Vs Ferrari
Coringa
1917
Era Uma Vez em… Hollywood
Edição de som
1917
Coringa
Star Wars: A Ascensão Skywalker
Era Uma Vez em… Hollywood
Ford Vs Ferrari
Maquiagem e Penteado
Malévola: Dona do Mal
1917
O Escândalo
Coringa
Judy: Muito Além do Arco-Íris
Curta-metragem
Brotherhood
Nefta Footbal Club
The Neighbors’ Window
Saria
A Sister
Animação em curta-metragem
Dcera (Daughter)
Hair Love
Kitbull
Memorable
Sister
Documentário de curta-metragem
In the Absence
Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)
A Vida em Mim
St. Louis Superman
Walk Run Cha-Cha
 

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