quinta-feira, 31 de julho de 2014

Pardners...

Musum fazia rir com seu jeito autêntico e porque integrava um quarteto onde os três restantes eram muito talentosos, mas jamais foi um comediante...

Li hoje a notícia de que já faz 20 anos que faleceu Mussum, cuja morte influenciou diretamente no desfazimento do bem sucedido quarteto humorístico Os Trapalhões (que então já consistia num trio, depois da morte de Zacarias, em 1990). O engraçado era que o próprio Antonio Carlos Bernardo Gomes, nome real do personagem famoso pela malandragem, pelo jeito "erradis" de falar e pelas piadas racistas (das quais era tanto vítima quanto algoz), jamais se considerou um comediante, mas só e tão somente alguém caricato  músico que era, mas com bastante humor em meio a danças e improvisos no grupo Os Originais do Samba, na década de 70, engraçado, sem dúvida, o artista negro autêntico que ria de si mesmo era bastante, mas jamais fora um comediante...

Estranho humor esse dos Trapalhões, fiquei eu a divagar por um bom tempo após a leitura, a lembrar, de forma saudosista, que o grosseiro e o politicamente incorreto do quarteto global funcionava muito bem e era engraçado até o final dos anos 80  nos anos 90, o grupo remanescente (Didi, Dedé e atores convidados) passou a se valer de fórmulas sem graça para manter o programa dominical e tudo acabou desgastado. Na verdade, muito do escracho do grupo funciona até hoje, especialmente se considerado o bom início, com cara de "anarquista", dos anos 70! Mas como explicar tamanho sucesso? Simples: o grupo unido era excelente no que sabia fazer, até quando deslizava para o pastelão, sabendo acentuar as diferenças entre os seus personagens (o nordestino oprimido que se dá bem pela esperteza; o galã de periferia que funciona como "escada" para os colegas em cena; o malandro negro e sambista do morro carioca; e o homem tolinho e caracterizado em forma de menino afeminado), sendo todos engraçados. Cada um deles realmente sabia fazer rir, incluindo Mussum! Daí a dúvida: para fazer rir, precisa ser comediante?

Passei, então, a revisitar na memória os grandes grupos cômicos do século XX: Oscarito e Grande Othelo, os maiores astros do Cinema nacional nos anos 50, eram artistas oriundos do circo e do teatro mambembe; os completos Irmãos Marx (Groucho, Harpo e Chico, atores comediantes e também músicos), bem como os Três Patetas e a dupla Abbott e Costello originaram-se do vaudeville, antigo teatro de variedades, nos EUA; Laurel e Hardy, ou o Gordo e o Magro, como ficaram conhecidos no Brasil, começaram e aprenderam tudo o que sabiam no Cinema, nos primórdios da comédia muda... Até o extenso e genial grupo do anarquicamente perfeito e recentemente auto-homenageado Monty Python era formado. em sua ampla maioria, de jovens atores que trouxeram o surrealismo para o humor  mesmo Terry Gilliam, que não era originariamente ator, tinha formação na Comédia, pois era cartunista da precursora revista do non-sense, a MAD. Logo, fica bem claro que, para o sucesso no difícil ofício de fazer rir, parece ser primordial que os integrantes de uma trupe cômica tenham origens... cômicas! Mas e o que dizer de uma das mais consagradas e famosas duplas humorísticas de todos os tempos, Dean Martin e Jerry Lewis (ou, como prefeririam depois, Martin e Lewis)? Ora, Dean Martin jamais foi comediante...

Interrompendo este texto em momento oportuno, um minutinho antes de os ardorosos fãs do renomado ator e cantor ítalo-americano começarem a amolar suas facas para a extração do meu precioso escalpo, gostaria de umas últimas palavras explicativas: sempre fui seu fã, tenho discos de coletâneas de seus inúmeros sucessos e sei cantarolar, de cor e inclusive imitando sua voz, That's Amore bem direitinho... Sem esquecer que cresci conhecendo Comédia com inesquecíveis filmes como A Farra dos Malandros, Ou Vai ou Racha e Artistas e Modelos (meus favoritos da maravilhosa dupla)! Dito isso em minha defesa, creio estar legitimado a falar de Dino Paul Crocetti, o famoso Dean Martin  então, vamos lá... Tal como milhares de outros jovens filhos de imigrantes pobres nos Estados Unidos da Grande Depressão (Sinatra, Bennett etc.), Dean Martin sequer começou como artista, mas, sim, como um sobrevivente das ruas, realizando contravenções e mesmo pequenos crimes para mafiosos locais  os mesmos que, rezam algumas biografias, teriam-no iniciado em sua carreira... Até boxer o garboso rapaz foi! Mas seu talento inegável para cantar acabou levando-o às primeiras apresentações em clubes noturnos e o resto é História...

Ou melhor seria dizer "Histórias"? Afinal, sua carreira já iniciada como cantor estourou mesmo depois que o seu caminho cruzou com o de um jovem e promissor comediante, com quem dividiria os palcos e as telas de todo tamanho em 10 anos de uma dupla inovadora: formavam uma curiosa dupla cômica onde, apesar de ambos cantarem (Jerry sempre cantou muito bem, mas desafinava ou usava voz estridente de propósito), dançarem e atuarem, quem fazia rir era somente Jerry Lewis! Sem dúvida alguma, o velho Martin possuía imenso magnetismo com sua melodiosa voz perfeita, seu charme sedutor de amante italiano e seu carisma incontestável em canções que imortalizou, sendo, mesmo, muito divertido no palco  coisa facilmente perceptível, anos depois, quando Dean integraria as apresentações do famoso Rat Pack, onde igualmente brilhavam com bastante humor outros "cafajestes de carteirinha", como Frank Sinatra e Sammy Davies Jr. Mas, tal como o humor do velho "Olhos Azuis" jamais seria capaz de classificá-lo como um comediante, da mesma forma eu nunca consegui ver Dean como alguém dessa área, a não ser um grande cantor e um ator "escada de luxo" para Jerry. "De luxo", eu frisei (sei que haverá fãs do cara a me esperar na saída...), uma vez que os seus outros talentos marcavam sempre sua ótima presença em qualquer ribalta!

É só prestar atenção para os milhares de quadros apresentados no programa Colgate Hour ou em qualquer um de seus filmes ao lado do genial Lewis: ainda que lhe coubessem muitas falas divertidíssimas (algumas, rezam outras biografias, de sua própria autoria no improviso, o que muitas vezes era "chupado" por Jerry em seu rápido histrionismo), ele normalmente era o parceiro bonitão e certinho do rapaz careteiro e amalucado; o cuidador do menino bobalhão; o que ganhava a garota enquanto o outro derrubava as coisas... Tantos papéis pré-moldados que, segundo outras tantas fontes, teriam esgotado a paciência do belo cantor, sempre ofuscado pelo "cara engraçado que roubava a cena", Jerry: este, sempre ambicioso e elétrico (muitas vezes era visível que o quadro encenado iria para um lado e Jerry Lewis acabava bagunçando tudo e o levando para outro, ora para aparecer mais, ora simplesmente por ter um humor mais ligeiro), com o tempo foi minando o prazer de Dean em atuar ao seu lado, em muitos momentos preferindo epopeicas bebedeiras ou um mero jogo de golfe... Não tinha como dar certo uma dupla tão improvável: um cantor/dublê de ator e um humorista completo (ator, diretor, roteirista, cantor, sapateador etc.)! Tanto é assim que, após a dura ruptura da dupla em 1956, foi Jerry quem decolou com produções próprias geniais (Mensageiro trapalhão, Professor Aloprado, Família Fuleira etc.), enquanto Dean pautou seu sucesso muito mais nas belas canções românticas do que nalgumas tentativas de ser levado a sério como ator  e sempre em papéis sérios...

Porém, assim como em muitos casamentos depois de um amargo divórcio, no caso de Martin e Lewis ficou a estranha sensação de que, apesar do triste rompimento (os dois não se falariam por anos a fio e jamais reatariam a amizade novamente...), a união de gênios, egos e talentos tão diferentes deu certo, sim: por 10 anos! E foram essas próprias diferenças que ajudaram Dean e Jerry a comporem uma das mais bem sucedidas duplas do showbiz norte-americano de todos os tempos: nenhum dos dois conseguia emplacar na carreira antes de o outro ter chegado... A Comédia de um alavancou a Música do outro e vice-versa! Assim, mais ou menos como o título do seu penúltimo filme (no Brasil, conhecido como O Rei do Laço  aquele que termina com a dupla jurando que não haveria "o fim"), bem como da sua canção homônima e uma das mais famosas da dupla, Pardners, corruptela da palavra partners, que quer dizer "parceiros" em Português, os dois foram esses maravilhosos artistas numa parceira meio torta, meio errada desde o início, mas que deu tão certo que dá saudade até hoje, especialmente neste finalzinho de julho, mês em que os dois começaram e também extinguiram a prodigiosa parceria...

E enquanto alguns dos fãs ensandecidos do velho Dino já recobram o fôlego e fazem alguns visíveis sinais de reconciliação ao longe, eu volto a elucubrar sobre os intrínsecos segredos do humor: é preciso ser comediante para fazer rir? Acho que não: basta ter carisma, talento autêntico e a sorte de ter ao lado parceiros que sejam do ramo, que a dança flui que é uma beleza... Simples assim! Mussum e Dean, guardadas as devidas proporções e distâncias entre os trabalhos de cada um, foram maravilhosos coadjuvantes num universo inesquecível de brigas de egos (Os Trapalhões sempre brigavam e se separavam por causa do egocentrismo e do salário maior de Renato Aragão; Dean e Jerry não mais se toleravam no auge da carreira cinematográfica, apesar da amizade de tantos anos), onde ao público, inocente, só restava gargalhar...
Uma relação de amor e ódio... Os "pariceiros" que juravam companheirismo eterno na deliciosa canção homônima em O Rei do Laço (Pardners) eram os mesmos que já não se falavam entre um show e outro, mas que, por profissionalismo contratual, entregaram mais um filme (o excelente Ou Vai Ou Racha) e algumas memoráveis apresentações naquele triste ano para a Comédia de 1956...

quarta-feira, 23 de julho de 2014

BAT-LISTA!


Sim, eu adoro aquela maravilhosa série espalhafatosamente cômica e absurda do Batman, nos anos 60, cheia de onomatopeias e de "bat-isso" e "bat-aquilo", com o rechonchudo Adam West e o adoravelmente irritante Burt Ward como os protagonistas da Dupla Dinâmica: "santo mau humor", eu diria aos fãs mais radicais, que desconsideram o seriado em respeito e fidelidade cegas à essência mais "sombria" do personagem... Bobagem! Dá para separar, perfeitamente, os diferentes tipos de abordagem e, sim, gostar tanto do Homem-Morcego taciturno e perturbado por ter perdido os pais como também se divertir bastante com as lembranças da infância nas inteligentes bobagens do multicolorido morceguinho sessentista!

A verdade é que, numa adaptação, cada mídia revela o personagem de sua época e, quer queira, quer não, mesmo o bat-admirador mais ardoroso tem que reconhecer que, depois dos códigos de censura da década de 50, Batman foi um dos personagens mais prejudicados daquele tempo de caça às bruxas e cheia de preconceitos que foram os anos 50/60, o que levou a um abobamento de suas HQs - logo, mesmo com alguns "excessos", a série televisiva era bem fiel ao que se produzia de Quadrinhos na época, onde o herói combatia, em cenários gigantes e personalizados (a Mulher-Gato tinha carro e "esconderijo" com caras de gatos; o Pinguim vivia entre guarda-chuvas enormes etc.), vilões carnavalescos e até monstros alienígenas em outros planetas, sempre sorrindo para o leitor, não importando o que passasse...


Mesmo sabendo do terreno minado que cerca o tema e com mil polêmicas à vista, os Morcegos resolveram homenagear o seu primo mais famoso e elegeram os 5 "melhores e mais fiéis Batmen" da história das adaptações, valendo qualquer mídia (TV, Cinema, Música, Games etc.), em comemoração aos 75 anos do Batman (celebrado em várias datas diferentes) e celebrando, hoje, o Dia do Batman 
 sem esquecer o embalo nostálgico dos 25 anos do filme Batman, 1989, de Tim Burton, completados no último mês de junho, bem como o aguardadíssimo retorno do Cavaleiro das Trevas em novo longa, agora contra o Azulão no embate Batman Vs Superman (que deverá marcar o início da Liga da Justiça nos cinemas). E para o caríssimo blogueiro de plantão: qual o mais completo Homem-Morcego?


As Melhores Adaptações de Batman


5. Descendo porrada nos malucos: a ótima jogabilidade e os apurados cuidados técnico e de criação do jogo, que perpassa o rico rol de personagens e facetas do herói, fizeram de Batman: Arkham Asylum não só uma série de sucesso, com um novo padrão de qualidade no mundo dos games, como também uma realista adaptação de um dos mais fascinantes elementos do bat-universo: o Asilo Arkham, onde são normalmente depositados os "loucos de todo gênero" inimigos do Defensor de Gotham.

Imagem relacionada4. Para o bem e para o mal, um pequeno clássico (e a melhor trilha sonora): se Superman - O Filme foi um divisor de águas nas adaptações para o Cinema dos personagens de Quadrinhos, Batman, de 1989, foi um marco na história dos megaeventos cinematográficos que se seguiriam a partir de então  um verdadeiro fenômeno o que a Warner faturou, tanto nos cinemas do mundo inteiro, como nos inúmeros outros produtos licenciados da famosa BatMania

O filme tem muito mais pontos negativos que positivos: dirigido por Tim Burton de forma burocrática e
 cheia de equívocos (à exceção de Nicholson, péssimas escolhas para um elenco mal dirigido; muito mais estilo do que propriamente Cinema no geral etc.); o roteiro era bastante fraco no desenvolvimento de tramas e personagens (o Coringa matou os pais de Bruce? Comissário Gordon gordo e Harvey Dent negro e ambos sem função alguma na trama?); foi o responsável pelo inviável traje negro de armadura emborrachada ser a "roupa oficial" do herói nos filmes a partir de então... Ainda assim, Batman tornou-se um pequeno clássico icônico na História do Cruzado de Capa: seja pelo visual (figurino impecável e direção de arte que ganhou o Oscar em 1990), seja pela marcante trilha sonora de Danny Elfmann (tanto quanto o tema de John Williams o foi para Superman) seja ainda pelo Coringa de Jack Nicholson, até hoje o filme é lembrado de forma saudosista por muitos fãs (entre os quais se incluem estes Morcegos que escrevem...).
   
3. POW! SOC! CRASH!: sim, esta idolatrada/odiada série televisiva, Batman (66/68), apesar dos exageros cômicos, é uma das melhores adaptações já feitas - claro que se estivermos falando do personagem nos Quadrinhos entre as décadas de 50 e 60, onde a Dupla Dinâmica abusava das histórias infantilizadas... Mas o que seria deste fabuloso ícone pop e divisor de águas na Televisão sem o histriônico camp e hilário non-sense? A boa nova é que serão lançados, em novembro, todos os 120 episódios desta maravilha em DVD e blu-ray! Com o sucesso da série, foram lançadas as primeiras adaptações em animação para a TV, igualmente boas e interessantes (mas com menos humor): The Batman/Superman Hour e, consequentemente, Batman with Robin The Boy Wonder (1968, conhecida no Brasil como "As Aventuras de Batman e Robin").

2. Faltou magia...: faltou muito pouco para que o excelente Batman Begins não se tornasse a melhor adaptação do Batman. Afinal, o realismo da dupla diretor/roteirista Nolan/Goyer foi precisa na hora de adaptar vários arcos de histórias do Cavaleiro das Trevas para as telas (incluindo aí Batman: Ano Um, Batman: Shaman e O Longo Dia das Bruxas), bem como na ótima escolha do elenco (com destaque para Christian Bale, na excelente dualidade herói irascível/Bruce Wayne perdido)! Ficou devendo, entretanto, um pouco da magia sombria do personagem: nada da poética melancolia das HQs ou um herói mais fantasioso, com uma bela trilha ao fundo  aqui tudo era visceral, tinha um propósito e uma explicação, e isso acabou comprometendo um pouco o resultado final...


1. O melhor de todos: dentre todas as adaptações já feitas, o Homem-Morcego mais completo, aquele que parece cobrir a melhor parte das inúmeras fases e facetas do maior herói-detetive dos Quadrinhos e reuni-las num sombrio clima de filme policial noir numa atmosfera atemporal, foi mesmo o visto no filme Batman - A Máscara do Fantasma (1993), onde o personagem, em meio a flashbacks cobrindo desde a dolorosa perda dos pais até a preparação como o maior combatente do crime, tem que enfrentar um novo inimigo que anda assassinando membros do crime organizado  sem esquecer do maior vilão de todos, o Coringa, que resolve aparecer para complicar ainda mais a vida do Homem-Morcego, cujo alter-ego Bruce Wayne se apaixona e chega a pensar em largar tudo por um grande amor...

Lançado nos cinemas com pouca repercussão, este filme ganhou mesmo o público quando lançado em vídeo, e, seguindo toda a linha pré-estabelecida para a maravilhosa e mais perfeita animação sobre o Cruzado de Capa, a caprichada série televisiva de Bruce Timm e Paul Dini, Batman: The Animated Series, embora ficando bem longe do sucesso desta 
 sendo mantida inclusive a linda trilha sonora de Shirley Walker (baseada, por sua vez, no clássico de Danny Elfmann para o filme de 89) e ampliando a direção de arte já caprichada dos episódios da TV (agora com cores mais vivas e cenários em art-decó de Gotham em 3D). Juntamente a este longa, Batman: A Série Animada (1992/1995) deu ao mundo o melhor Batman de todos (sendo a grave e imponente voz magistralmente dublada em Português pelo veterano Márcio Seixas ainda melhor que o original feito pelo também competentíssimo Kevin Conroy).


E a melhor personificação de Batman numa adaptação de Quadrinhos é a animação televisiva de Timm/Dini, que, por sua vez, também gerou o seu melhor filme  e tudo personificado pela pungente voz de Conroy/Seixas!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

A Copa das Copas
(Menos para a Seleção, é claro...)

Seleçãozinha mais horrorosa... A pior de todos os tempos?

"Anunciaram e garantiram Que o mundo ia se acabar"... Assim começava, genialmente, o famoso samba-choro E o mundo não se acabou, de Assis Valente, na década de 30: um dos nossos maiores cronistas do samba então debochava sobre o boato generalizado de que o mundo se acabaria por causa de um eclipse total – ou seria pela passagem do cometa Halley? De qualquer forma, o ano era 1938, época de muito atraso tecnológico, tempo de inocência e de fácil amedrontamento por meras especulações difundidas a esmo se comparado ao globalizado e esperto mundo de hoje. Mas o que dizer, então, da facilidade com que ainda hoje certas bobagens se espalham pela internet? E, o que é pior, recebem credibilidade de um monte de incautos?! Sim, porque uma das raças de maior proliferação é a dos "profetas-urubus", seja na Grande Mídia, seja na surdina de PCs cheios de ódio, para os quais tudo no Brasil está errado e, assim, saem apregoando o "fim dos tempos": não foram eles, por exemplo, que previram uma verdadeira tragédia para a Copa do Mundo no Brasil?!

Não, não falo da tragédia ridícula que sofremos no nosso "apagão" diante da seleção alemã: essa é mesmo inconteste e todo mundo viu (exceto a Dona Lúcia e o Parreira)! Eu me refiro mesmo à loucura que foi espalhar a boataria do "terror" de que o maior evento futebolístico do mundo seria vergonhoso por aqui graças aos "petralhas", quando, na verdade, jogadores, jornalistas e os milhares de turistas estrangeiros que para cá vieram derramaram-se em elogios à organização e à festividade do sempre caloroso povo brasileiro. E mesmo as inúmeras desinformações espalhadas de forma viral sobre "corrupção" e "nababescos gastos do Governo" com estádios e afins já foi devidamente desmentida! Apesar de explícita a patacoada, infelizmente, muita gente acreditou nisso tudo, sentiu "vergonha de ser brasileiro" e saiu por aí a vociferar que não iria ter Copa... Patético! Nada foi mais patético, entretanto, do que a nossa horrível Seleção neste mundial tão bonito...

Depois das horrorosas partidas contra Croácia, México e Chile (contra Camarões não foi jogo: aquilo estava mais pra amistoso!), só estreamosrealmente, no jogo contra a Colômbia: só então eu sentia, pela primeira vez nessa Copa, que a Seleção jogava Futebol nas quartas-de-final! Enfim agíamos como os devidos donos da casaSim, porque, até então, nossos jogadores estavam mais para clones daquele time bem razoável que venceu a Copa das Confederações no ano passado  mesmo sem nenhum brilhantismo (o Futebol-Arte, infelizmente, acabou-se com a brilhante Seleção de 82...). Até porque Copa das Confederações também nunca foi nenhuma Copa do Mundo... A não ser para o Felipão e o Parreira (além, é claro, da Dona Lúcia)!

Como alegria de país-que-sedia-copa-sem-ter-futebol dura pouco (isso mesmo: já tivemos Futebol; hoje, não mais!), o pequeno entusiasmo frente aos colegas de amarelinha da Terra da Shakira se deu somente na maior parte do bom primeiro tempo... No segundo, a Seleção, que já deveria ter entrado com substituições essenciais para que o nosso time voltasse a ter ritmo 
 coisa para a qual Hulk, com sua falta de qualidade técnica, e Fernandinho, com suas faltas desnecessárias, estavam contribuindo deveras  acabou mostrando a que veio... Ou melhor, que não veio! E não é sempre assim? Nosso glorioso Felipão de tantas "conquistas", o marrento das coletivas que não deixa um jornalista terminar sua pergunta sem alguma grosseria, obedecendo às avançadas técnicas futebolísticas dos técnicos nacionais  não anota nada durante a partida, não muda coisa alguma do esquema tático (se é que existe algum...), sequer treina mudanças nos coletivos, e ainda acha que tudo está às mil maravilhas, apresentando sempre os mesmos erros previsíveis , só mudou depois dos 30 minutos e após tomarmos gol... Sem esquecer a genialidade de ter permitido que o seu melhor jogador fosse quebrado covardemente por uma Seleção já eliminada antes mesmo do final de um jogo terrivelmente apitado por mais um juiz ridículo, que achava que ser "imparcial" era deixar o Brasil se ferrar nas quatro linhas...

E, depois desse jogo icônico para os nossos canarinhos de meia pataca, não teve jeito: foi só descida e los hermanos foram para a final! Mas, como Deus é brasileiro (mesmo com Papa argentino e deus fajuto bem menor que Pelé!), preferível uma Alemanha  tetracampeã, com só um título a menos que o ex-"País do Futebol" a se eternizar como os campeões-que-sequer-viram-algum-adversário-em-campo-na-semifinal-contra-os-amarelões-donos-da-casa do que uma Argentina-que-ganhou-duas-copas-na-roubalheira (78, sem comentários; e 86, na "mão de Deus" de Maradona) e perigava chegar ao seu terceiro título na casa do Rei do Futebol... Graças a Deus (o Verdadeiro), não tivemos que aturar ainda mais o absurdo "Maradona és más grande que Pelé" por um bom tempo... Mas, peraí: e Deus se mete em Futebol?! Se sim, por que raios não ajudou a gente, com aquele monte de meninos chatos levantando o dedo e orando por um milagre a cada péssima partida nossa?!

Não torci para nenhum dos dois nessa final de Copa, honestamente: vi tudo como amante do Futebol e de Copas que sempre fui, somente (embora tenha vibrado um pouco com o lindo gol de Götze). Tampouco torci a favor ou contra o Brasil no jogo contra a Holanda! Nada de ódio ou "vergonha de ser brasileiro", coisa mais idiota ver imbecis queimando bandeiras do Brasil ou mesmo culpando a Presidenta (ué, ela não havia comprado a Copa? Decidam-se, seus coxinhas!)... Esta foi mesmo a "Copa das Copas", linda de se ver, mesmo com o Futebol horroroso do Brasil! Não, não: só acho uma bobagem, assim como o treinador holandês (que parece ter voltado atrás durante o jogo contra a nossa fraquíssima seleça), essa disputa de "terceira e quarta posições"! Especialmente se estamos falando da Seleção Brasileira nesse Mundial
esse time, comprovadamente, é de quinta!

E falando em deboche, o que resta, agora, é rir! Rir de uma CBF imersa há muito na corrupção e que tem um pusilânime morto-vivo ainda no Poder (morto de saudades da Ditadura Militar e vivo até demais pra seguir o legado de Havelange, Teixeira e cia., deixando um se seus asseclas para continuar a sugar o sangue da nossa bola)! Ou gargalhar das "estratégias" de Felipão contra a imprensa alemã e de suas "táticas" incríveis de jogo sem treino! Ou ainda morrer de rir com o bananeiro Daniel Alves, que chamou de "babaca" quem critica a Seleção, já se esquecendo da Seleção mais babaca de todos os tempos, por tanto desrespeito ao Futebol brasileiro, de que ele fez parte! Talvez rolar no chão com a cartinha que a mãe do Murtosa escreveu (seria essa a sua função na coordenação do nosso escrete?!) e que o Parreira leu com entusiasmo, a elogiar a gloriosa e impecável comissão técnica e a agradecer por tudo ("Eles se prepararam para vencer a Copa... Eles têm centros profissionais avançados de futebol, conheço isso há 20 anos na Alemanha..." E nós temos o quê, seu Parreira: arte culinária?!)... E Ronaldo, o fenômeno convulsivo duas-caras e esteta dos geniais comentários futebolísticos? Criticando apatia? E 2006, Seu Lazário? De qualquer forma, este ano foi pior que em qualquer outra Copa: o time inteiro entrou em convulsão no meio do campo (antes pegassem a bola durante o jogo e, chorando, saíssem de campo com um "a bola é minha; não brinco mais"... Seria mais digno)!

E enquanto novas teorias da conspiração não comecem a levantar o envolvimento da FIFA (contra o Brasil que arrochou a sua máfia), da Adidas (para vingar-se da Nike) e de Aécio Neves (desesperado para que a Presidenta não se popularizasse ainda mais na entrega do título ao Brasil) na derrota entreguista frente aos panzers naquele humilhante sete a um, eu me vejo encalacrado num dilema: o que fazer com as trocentas figurinhas repetidas do álbum que inventei de comprar? E nem são do famoso álbum da Copa, espécie de febre nesses últimos meses, mas, sim, do interessante e nostálgico Brasil de Todas As Copas, onde, em meio a lindas fotos antigas de Pelé, Garrincha, Rivelino e Zico, deu até pra se inspirar e encarar esta seleçãozinha mequetrefe deste último mundial... Acho que vou guardá-las para mostrar ao meu filho daqui a alguns anos: só assim, ele ficará sabendo que aqui, um dia, se jogava Futebol!


Jesus... Só a Presidenta para nos redimir em outubro...


domingo, 6 de julho de 2014

Reminiscências de Robocop sobre Luciano

Correndo para alcançar Isabela, que ainda reluta em pegar minha mão em público, em mais um claro sinal de rebeldia aos 4 anos em meio à multidão de pessoas num shopping no último sábado à tarde (ah, o que não fazemos pelos filhos...), deparo-me com um rosto amigo no meio daquele amálgama de gentes, igualmente dominado por sua filha de aparentemente igual idade (só que esta calmamente sentada, assistindo a um vídeo da Disney num quiosque), a sorrir pra mim antes que eu dele me desse conta:
– Luciano...!
– E aí, rapaz...?
– Você existe mesmo... Pensei que só fosse uma lenda!
Rimos juntos e, ignorando o “protocolo macho maranhense” (onde, entre outras coisas, apregoa que homem só se abraça de lado, no máximo com uma leve batidinha na barriga do amigo), emendei nele um efusivo abraço de frente mesmo, comentando, de cara, sobre nossas renitentes aversões às novas tecnologias em comum: eu sigo com um celular "último tipo de 2010" e sem whatsapp, e ele, sem perfil nas badaladas redes sociais.
– Mas isso está mudando: por causa do meu trabalho, já tenho um perfil pelo Face, mesmo sem saber mexer direito naquilo... Por isso eu não sei te dizer qual é o meu perfil! – Luciano admitia.
Nem preciso me alongar nos prolegômenos: obviamente que, para chegar à nostalgia dos 20 anos de separação do tempo em que estudamos juntos no Colégio Dom Bosco que realmente interessam, primeiro perpassamos o universo da nossa maturidade dos últimos tempos sem contato, no famoso trecho "E o que tu andas fazendo?", deixa inicial para falarmos do profissional... Daí a sua esposa chega e, de professores trabalhadores, viramos pais – bom, eu estava dando um rápido passeio para agradar a mais velha enquanto Jandira Helena ficava sozinha com os gêmeos recém-nascidos em casa; já eles esperavam para o final do ano outra futura adoradora das Princesas e espectadora da Disney bem ali, “embaixo” de nós... Entretanto, mesmo distante das novas vertentes, já sabíamos um pouco disso tudo por outros amigos (pelas redes sociais e pelo whatsapp!)... E, depois de uma “pausa contemplativa”, continuamos:
– Grande "Luizão"...
– "Luizão"... Tu te lembras disso!
– Ah, rapaz, eu me lembro de muita coisa... Lembra quando a gente apelidava todo mundo como os super-heróis da moda na época? Eu era o Wolverine (o porquê, jamais saberei: sempre fui tão pacífico...); Allan Sena, o Sinistro; Antonio Diaz Araújo, o Gambitt (de gambá, por causa dos tempos franceses...): eram mutantes aos montes... E aquela nossa amiga, louca por ti, que vivia me pedindo ajuda de cupido: vocês chegaram a namorar, não? Aquela turma do terceiro ano era ótima... "Que que eu vou dizer lá em casa: chuuupa que a cana é doce... Pelo amor dos meus filhinhos!"...
Bom, na verdade não falamos de nada disso, não... Existiu, sim, o amigo com humor à Groucho Marx, destruidor e implacável como uma metralhadora giratória de piadas e sarcasmos embutidos em sutis frases de hilárias conversas nos recreios da nossa boa época de adolescentes no Dom Bosco, onde sempre brincávamos uns com os outros com os jargões futebolísticos então na moda, no melhor estilo Sílvio Luiz (Luciano mesmo adorava pegar no meu pé sobre as minhas “peripécias” como goleiro nas peladas da saída de toda sexta, quando me chamava de "goleiro bailarino"), tagarelávamos por entre filmes de heróis (adorava as suas observações sobre o preciosismo do voo de Christopher Reeve) e nos enrolávamos com amigas enamoradas mais do que os personagens do seriado Friends – afinal, todos nós, naquela época, namoramos nossas amigas da turma (alguns, até mais que uma...) e o engraçado é que somente eu viria a me casar com a amiga-namorada daquela época (mas isso fica para uma outra crônica...)!
E, assim, somente este envelhecido papai cansado aqui é que ficou a ver as imagens passadas virtualmente, só podendo se lembrar de tudo isso internamente, como que numa pequena tela dentro da minha visão de um Robocop da ficção científica do melhor dos anos 80, enquanto a realidade seguia... E com Luciano a coisa toda não parecia muito diferente: aquele cara hilário quase não se fez presente naqueles minutos de alegria de reencontro juvenil... Não que o tempo o tivesse tornado amargo, longe disso: estavam lá o mesmo sorriso e a ágil inteligência dos bons tempos no bate-papo sempre descontraído, mas um importante telefonema a nos interromper, um “vumbora, papai” da minha filha e o inimigo-mor de todos nós, os mais nostálgicos, o tempo, ali, a nos convidar a nos retirarmos para cuidar logo dos nossos afazeres sociais e familiares, acho que acabou por nos esmaecer... Não sem antes, porém, o velho e inócuo convite do “apareçam lá em casa quando estiverem aqui em São Luís” quase não encontrar eco no casal amigo, sabidamente que não me visitarão tão cedo...
Pausa para uma foto, que sabe lá Deus quando verei (– Bota no Face...! – Vou te adicionar e tu olhas... E ele jogou no ZapZap!) e lhe digo que ele é um dos melhores, que gosto por demais do amigo de longa data, cuja simples lembrança me traz um sorriso à mente, no que ele retribui, com a gentileza de sempre: – Você que era o melhor: poxa, sem modéstia, rapaz... Você foi uma inspiração pra todos nós... –, no que apenas sorrio, sabendo que a que ele se referia ficou, pelo menos por ora, no passado... E assim, despedindo-se com sua esposa grávida e linda filhota a tira-colo – que, só para tirar sarro, fui logo dizendo quando cheguei Que bom que puxou à mãe (no que ele rapidamente retrucou no seu melhor estilo do passado Se dissesse que era a mim, eu diria que o importante é ter saúde...) –, vi aquele cara, que tanto me agradou em companhia nos últimos dois anos do ensino médio, dar as costas para o tempo moleque enquanto acertava os últimos detalhes com um amigo, pelo celular, sobre mais uma viagem a Buenos Aires como pesquisador em sua área...
Só me restava, então, rir sozinho nas minhas reminiscências sobre Luciano e levar logo Isabela para o entupido e sem graça parquinho do shopping antes que a noite caísse “de com força” e Jandira me ligasse aflita para que voasse para casa para ajudar com os gêmeos – mas voando no melhor estilo Super-Homem, com o devido cuidado de direcionar o voo usando as mãos tal como bons lemes, não é mesmo, "Luisão"?! E a foto? Até hoje não sei se ficou boa: o danado a postou no tal do ZapZapp!
 

+ voam pra cá

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