quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Muita Força no último Natal da Força...


Meninas Malvadas, de 2004, é dos poucos produtos ianques que soube rir do "mundo cor-de-rosa" do seu próprio Natal: Tina Fey e Amy Pohler (atriz/roteirista e pequena participação), em seus auges, entregaram um belo deboche erotizado como "apresentação familiar natalina" na escola onde se passa a trama um filme que, aparentemente, é apenas mais uma história para adolescentes - só que não...


A Família Addams, série de humor negro do cartunista
Charles Addams nos anos 1930 e atualmente em 
cartaz com uma ótima animaçãoé que sabia se divertir 
com os rituais da cultura natalina dos EUA: na imagem, 
Gomes, Mortícia e Tropeço se preparam para jogar 
caldo fervente sobre cantores de Natal - cartum 
homenageado na abertura do excelente filme de 1991.
Inúmeros filmes hollywoodianos, ao vender seu idolatrado american way of life para o resto do mundo, adoram abordar como o Natal é comemorado pelo seu feliz e rosado povo norte-americano (negro? Talvez um policial ou um entregador engraçadinho em cena rápida): nada de religiosidade, mas, sim, muito Papai Noel, cantatas agridoces e uma tal "magia natalina" - tudo, é claro, massificado na tela com tocantes historinhas à base de muito xarope de glicose e altíssima trilha sonora (no melhor estilo John Williams). Anualmente, milhares de produções de qualidade duvidosa cumprem com seu papel de imposição de uma subcultura regada a emoção barata, shopping centers e neve (que, curiosamente, cai só numa pequena área dos EUA, mais ao Norte e Nordeste). Os comerciantes judeus que "fizeram a América" - e grande parte do cinemão comercial estadunidense a que estamos acostumados - e que jamais gostaram muito da ideia de Jesus, devem estar bem orgulhosos do seu trabalho!

O velho pastiche da "comédia familiar":
até hoje me lembro de me perguntar do
que tanto ria a plateia lotada do cinema em
que estava - sucesso que só se pode tentar
justificar pela presença de um Macaulay
Culkin então fofinho e carismático
e da tal "magia dos filmes de Natal"
(fenômeno muito bem analisado na ótima
série Filmes que marcam época, da Netflix)
Assim, de uma forma ou de outra, além da sua famosa bandeira (presença obrigatória em toda produção cinematográfica de lá em pelo menos uma cena), os States seguem, com raras e benditas exceções (como o "subversivo" Duro de Matar - que, tanto no original de 1988 quanto na sua xerocada continuação, redefiniram os filmes de ação policial... no Natal!), a encher grande parte da sua mequetrefe produção cinematográfica com sua "cultura natalina" - bem como a paciência de qualquer cinéfilo pensante que se preze, obrigado a engolir a seco natais nevados, cheios de fartura e de reconciliações "mágicas" em meio a corais natalinos pelas portas das casas chiques, decorações super-iluminadas pelos telhados (das mesmas casas chiques) e gordos Santa Claus (ou qualquer velhinho abandonado que o valha para cumprir sua parte "mágica") piscando, ao final, para aqueles que "não acreditam no Natal"... Quem não se lembra das lições de moral do péssimo Esqueceram de Mim, de 1990: garotinho de família abastada, que, apesar de começar bem o filme a contestar sua grande família disfuncional (que o deixa em casa sozinho: abandono de incapaz!), acaba "aprendendo", por entre um sem número de cenas sem graça com muita neve e ladrões trapalhões, o "sentido do Natal" ao ajudar um velhinho solitário e fazer as pazes com a mãe relapsa - e tudo ao som de... John Williams?! Pois é: essa patacoada fez tanto sucesso que se repetiu, quase que identicamente (esquecimento da família; ajuda a uma senhorinha mendiga; mesmos ladrões... só mudaram o cenário para Nova Iorque), em Esqueceram de Mim 2 (1992).

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Nem tudo está perdido: Charlie Brown segue em seu vazio
existencial a contestar como tudo se perdeu em meio ao
comercialismo e aos falsos símbolos das festividades do
final do ano - cena de O Natal de Charlie Brown (1966).
Tudo bem: nem tudo são White Christmas ("Natal Branco", clássico musical com Fred Astaire e Bing Crosby) e, muita vezes, fez-se Cinema de qualidade e com discussões interessantes em meio aos falaciosos "símbolos mágicos" do Natal gringo... E tome questões filosoficamente adultas sobre o quanto se perdeu da essência do dia 25 de dezembro no curta-metragem O Natal do Charlie Brown, feito para a TV em 1966; suicídio em meio às depressões por problemas financeiros de A felicidade não se compra, de Frank Capra, em 1935; uma série de críticas sociais bem-humoradas à "época mais bonita do ano" sob a visão de um garoto e sua família atípica em Uma História de Natal (1983)... No entanto, o final fácil e água-com-açúcar de que a tal "magia" sempre vence e subverte qualquer crítico de sua estrutura predomina mesmo nesses casos em que aparentemente se questiona o "real espírito natalino" - assim como se deu em Papai Noel às Avessas (bandido sem moral se passando por papai noel), Um Herói de Brinquedo (deboche sobre o consumismo infantil), O Grinch (críticas sobre o comercialismo natalino e a exclusão social de diferentes), O Estranho Mundo de Jack (universo "estranho" do Halloween ante à "perfeição" da dimensão do Natal) ou qualquer versão de Um Conto de Natal (adaptação da Literatura de Dickens em que o amargo Scrooge fica "bonzinho" graças a "três espíritos natalinos"): geralmente prevalece o 'ho-ho-ho' derradeiro e a sensação de que a neve, a lareira e fartos pinheiros e ceias depois do shopping ainda são o mais importante!

Esposa, filho e vovô Chewbaccas? Princesa Leia cantando? Lições de moral
natalina com artistas consagrados pagando mico? Essas são somente algumas
das coisas absurdas do máximo de exploração comercial-cultural natalina:
Especial de Natal Star Wars feito para a TV (CBS, 1978)!
Mas nem só de simbolismos e muito consumismo de presentes (viva os judeus!) nesta época do ano vivemos nós, os pobres mortais dos natais quentes e pobres do Terceiro Mundo vira-lata (e agora, na era das trevas bolsonaristas, ainda mais idólatra dos "istaduzunido"...): os grandes capitalistas do cinemão norte-americano - agora, aparentemente todos centrados na Disney! - também nos legam filmes que acabam marcando essa época de festividades natalinas ainda que sequer falem de qualquer item natalino. É o caso de Star Wars e seus derivados. E não, nem estou falando na sandice cafona e ridícula do "Dia da Vida" da família Chewbacca no Especial de Natal Star Wars, cometido na CBS em 1978, não... Mas, sim, de suas ultimas produções feitas para o Cinema: afinal, do meio reboot/meio sequência Episódio VII - O Despertar da Força, início da nova trilogia finalizada agora com o Episódio IX - A Ascensão Skywalker, passando pelo muito bom (mas fora da cronologia oficial) Rogue One - Uma História Star Wars, todos foram lançados, um por ano, em dezembro desde 2015 e, porquanto vistos por mim durantes os últimos feriados de fim de ano (à exceção do ano passado, em que o único filme da franquia de 2018, o cansativo e desnecessário Han Solo - Uma História Star Wars, foi lançado em maio), a saga original de George Lucas acabou se tornando algo "natalino" para este humilde escriba e os Morcegos...

Tudo bem que nele não houve muita continuidade de boas ideias trazidas com o Episódio VIII - Os Últimos Jedi, como a esquecida menção a crianças espalhadas pelo universo com potencial para dominar a Força - mas também com ótimos consertos de péssimas ideias daquele filme, como a postura anti-heroica de Luke e a anulação da origem da Rey (retomada agora de forma polêmica, no entanto)... Concordo que houve muita correria na metade inicial, a edição se atrapalha no filme quase todo - que também carece de uma sequência mais bela e memorável... Sem esquecer as inúmeras personagens e situações mal exploradas ou resolvidas - Finn e nova parceira sem função alguma na trama além de mais uma "bravura final decisiva"; rápida redenção de Kylo Ren/Ben Solo; encerramento da participação da Princesa Leia (Carrie Fisher, falecida no ano passado); mal explicado retorno do Imperador Palpatine e sua frota infinita e megapoderosa etc.... Porém, ao se encerrar a última cena, com referência direta ao original de 1977, terminando de costurar elementos das 3 trilogias (ouvem-se vozes de todos os Jedi dos 9 filmes em dado momento), com especial destaque para o saudosismo maior pelos Episódios IV (Uma Nova Esperança), V (O Império Contra-Ataca) e VI (O Retorno de Jedi) - todos filmes a que assisti, pela primeira vez, em férias de fim de ano da minha infância/adolescência em saudosas exibições globais -, e se inciarem os créditos com trilha, mais uma vez, de John Williams - que igualmente se rende ao fan-service deste longa ao colocar trechos consagrados da saga, como a Marcha Imperial, de Darth Vader -, impossível não se sentir bem perto do mais puro sentimento de lar e família do legítimo Natal... Ainda mais quando vi esta última parte na tarde do último dia 23 de dezembro...


Graças a Lucas e sua imaginação, inúmeros natais foram salvos da mesmice... Agora que tudo termina - e já um tanto quanto aquém do que o seu criador imaginara inicialmente... -, só nos resta esperar que a Força siga a iluminar novas produções natalinas e dezembrinas... Assim como também resta acompanhar esta bela compilação (feita por Topher Grace e Jeff  Yorkes) de cenas e enredos dos 9 filmes...
 

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