domingo, 23 de abril de 2006

Um Gênio de Sonho

Adeus, Mestre Telê, das brilhantes Seleções de 82 e 86 e de tantas conquistas no São Paulo, tu que já deixavas saudades há mais de 10 anos, desde teu afastamento do futebol por causa do AVC... E parabéns, Mestre Nélson, pela entrada pioneira de um cineasta na ABL. Mas hoje, encerrando a SEMANA ESPECIAL GÊNIOS NACIONAIS, volto a outro gênio que há muito deixou esta terra brasilis mais empobrecida: hoje é aniversário de nascimento do gênio maior Alfredo da Rocha Vianna, o Pixinguinha  e, não por acaso, é também celebrado o Dia do Choro (por isso, a flauta de Altamiro Carrilho ao fundo, com o clássico Odeon, de Ernesto de Nazareth), gênero inicial de nossa Música! E, aproveitando mais um domingo de Retrospectivas, republico hoje esta crônica poética feita no ano passado, com um passeio onírico pela vida deste gênio simples... Saravá, Pixinga!
RETROSPECTIVA
Crônicas Poéticas
Às vezes me pego numa velha cadeira de balanço a divagar sobre, nessa vida, onde é mesmo que termina o sonho e começa a realidade... Divagar é modo de dizer: mais penso no que os grandes poetas já disseram do que realmente crio coisas novas (como quando penso nos sonhos de Fellini, que se parecem com os meus...). Ainda assim, teço minhas próprias teias até que o sono me pegue...

Em meu saudosismo quase patológico, envolvo-me na pureza (ou na ideia de que ela exista) da melodia mais perfeita e me sinto tragado por uma pastoral de Beethoven (aí é que a divagação fica completa!) e logo penso que antes do branco era o preto e, antes da melodia, o batuque: passo a imaginar um preto alto, magro e desajeitado, com a cara marcada e a boca de aparência desdentada, de onde sai o mais belo som de flauta, tão bonito quanto uma pastoral, porém mais pungente  tem ginga, um tempero diferente...

E que venha o piano, o saxofone e o instrumento que for, que o preto toca! E arranja (coisa nova até então) e compõe e orquestra para quem não sabe ler partitura. E reinventa a música que antes só se via branco tocar. E segue o sonho, com o preto aplaudido pela brancarada de todo lugar, de Paris a Buenos Aires, com Vila Lobos, Stokowski e Gnatalli a se babar! 

E assim, tal como um Mozart com um Sallieri em seu encalço, Pixinga, por vezes esquecido ou perseguido pela bebida, foi tantas vezes invejado e injustiçado pelos Lacerdas da vida... Mas, danado que só ele, acabou superando tudo, ensinou muita gente, abrasileirou clássicos europeus junto aos sambas africanos (criando um lamento novo, quase um choro de criança) e ainda morreu como santo, numa igreja, em pleno carnaval...

Às vezes penso (ou sonho, ou divago...) se Pixinguinha mesmo existiu... Afinal, tantas vezes o viram de pijamas que chego a pensar se ele, ingênuo e puro, não estaria dormindo e sonhando sua música perfeita dentro de meu próprio sonho... Bexiguinha ou Pizindim, do Catumbi ou da Piedade, esse batuta realmente existiu ou tudo não passou de um devaneio da Música Brasileira, que um belo dia acordou e quis tomar carona no sonho dos acordes de um mestre...

Acho que sofro porque quero e vivo perdendo a noção da realidade de propósito... Acordo, de repente, com o telefone e me pego com uma rosa no colo, ouvindo Carinhoso no rádio antigo, divagando tristemente sobre aquele tempo maravilhoso que não vivi, a me embalar tetricamente na grande cadeira de balanço da casa do meu tio-avô, que adorava Pixinguinha e que hoje já não existe mais em lugar algum além de nas minhas melodiosas recordações...
 

+ voam pra cá

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