quarta-feira, 10 de julho de 2019

João

Como ele começou e como o conheci: se eu só ouviria Chega de Saudade já em minha juventude, foi na adolescência que tomei contato com João por meio da obra-prima João Gilberto interpreta Tom Jobim, LP de um vizinho que acabou passando para a minha coleção e hoje, infelizmente, "mora só no pensamento"...

Um dos primeiros CDs que ganhei...
Eu o conheci pela "ordem correta": como já havia me encantado com o canto operístico de Orlando Silva, Jamelão e Nelson Gonçalves por sobre rasgados sambas de dor-de-cotovelo, estranhei (mas um estranhamento bom e maravilhado) quando ouvi a fala baixa e introspectiva da lenda João Gilberto (e suas excentricidades) em delicados e felizes sambas envolventes... Certo, nem todos eram felizes - algumas daquelas canções ainda traziam um "jeito Dolores Duran" por trás de tudo, mas, mesmo na melancolia de algumas músicas mais sofridas (Triste; Insensatez; Amor em Paz), havia uma elegância distinta, um espírito novo a tudo envolvendo...

Este, sim:
um mito de verdade!
Aquele sujeito nada desafinado entoava o novo estilo à perfeição, casado àquelas batidas ao violão que me faziam viajar para um Brasil perfeito - era 1959 e Chega de Saudade anunciava um novo tempo progressista de Kubitscheck às margens de um Rio que se deixava Capital e se começava paraíso para um Romantismo concreto, unindo o morro aos apartamentos da Classe Média, de portas abertas para o Mundo. Sei que já havia algo antes em Johnny Alf e Dick Farney, porém, decididamente, foi João, de braços dados a Tom e Vinícius, que inaugurou o ritmo por causa do seu violão limpo e da sua voz marcantemente diferente de tudo já sentido até então.

Eis aí uma bela reunião de família...
Hoje, infelizmente, com sua partida no último dia 06 desse País mentiroso de pais e filhos, João sofreu, e muito (também em família), no final da vida e depois dela - por exemplo, com a "homenagem póstuma" recebida do que se diz governante da Nação: "Era conhecido. Nossos sentimentos à família (taoquei)" (enquanto o Mundo ainda o reverencia e, para comparsa calhorda dos seus, morto pouco tempo antes, o "Mito" da ignorância teceu loas como fosse "artista consagrado")! Deve ser porque João era nordestino e vinha de "família inimiga" do clã bolsonarista, os Buarque de Hollanda, casado que foi com Miúcha e, por conseguinte, cunhado de Chico... Por isso mesmo é que Lula, nosso renovado JK, mesmo isolado por golpistas conspirações e "tenebrosas transações", homenageou devidamente o ícone Nacional (cada época tem o líder que merece)!

Imagem relacionada
Wave: o Tom
imortalizado por João
Se João não era o maior - em Terra de Pixinguinha, Noel, Chico e Villa Lobos, a concorrência é grande! - podia-se considerar, assim como Tom e Vinícius, um Deus capaz de milagres, como dividir águas entre antes e depois dele, na sua perfeccionista delicadeza cosmopolita com cara de Jazz e levada de Samba. E, se não necessariamente criou a Bossa Nova, foi seu arrematador, com seus gigantes sussurros no ouvido da amada - e, por tal razão, acabou como um "terceiro membro" que ora se junta à sua Santa Trindade bossanovista (várias vezes homenageado neste humilde espaço virtual)... À sua melancolia latente, ao seu charme reservado e à sua genialidade musical à perfeição, o meu obrigado como fã incondicional, cuja saudade só não será maior porquanto cantada, há exatos 60 anos, com um sonoro e devido "chega"...
Um dos melhores intérpretes encontra dois dos maiores compositores - e Arnaldo Antunes reverencia a interpretação do falecido baiano com bela canção inédita, "João"...
 

+ voam pra cá

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