Falo do Maranhão. E porque todo mundo sabe que o Nordeste ferve quando o mês de junho chega, num carnaval diferente de raízes cheias de folguedos pagãos e santos - hoje infelizmente já bastante deteriorado pelo comercialismo turístico... -, tome Bumba-meu-boi, tambor de crioula e arraiais lotados! E, porque nessa semana se comemoram, por aqui, São João, São Pedro e São Marçal - sendo hoje feriado municipal -, publico uma crônica-conto poética antiga de minha autoria, que simboliza um outro lado do que seria essa noite de sonho num arraial perdido no tempo e no espaço de algum ponto que ainda conserva a Poesia das suas raízes juninas no interior desse meu Nordeste maravilhoso de meu Deus...
Vitória de São João
O Dia desaparecia. Ia com ele a luz do Sol, a claridade se esgueirando com fachos amarelo-avermelhados se escondendo por entre nuvens acinzentadas, formando um lindo contraste – coisas de Crepúsculo...
A Noite não queria vir. Pelo menos era isso que aparentava. Mas a Lua já despontava no meio do nada claro-escuro, com um quê de indecisão... Finalmente vinham as Estrelas, a piscar como uma centena de faróis, a acender numa espécie de sequência – claro, numa ordem explicitamente ensaiada!
E, no meio daquele terreiro perdido entre a Terra e a Imensidão, ensaiava-se, pé-no-chão, uma festança das mais simples, porém vistosas, cheia de música, cachaça, matracas e lampiões, por entre bandeirinhas aos borbotões, brincando São João...
A Lua, como que envergonhada e gigante por sobre os coloridos tapumes daquele arraial, puxou para si grandes lençóis de Nuvens pretas... Veio o Homem da Chuva, deslizando e comandando lá do alto cada pingo fino, leve, médio e grosso, que vinha em cima da fogueira, do boi e do quentão.
E aquela dança celestial se estendia a roubar a cena. Veio a Tempestade. E, com ela, exibidos Raios, que desciam e desciam ziguezagueando em seus próprios fachos e clarões... Acendiam o escuro, cortavam o fundo, rachavam uma árvore. Até que um desceu na cabeça de S. Zé – coitado...
E aquela dança celestial se estendia a roubar a cena. Veio a Tempestade. E, com ela, exibidos Raios, que desciam e desciam ziguezagueando em seus próprios fachos e clarões... Acendiam o escuro, cortavam o fundo, rachavam uma árvore. Até que um desceu na cabeça de S. Zé – coitado...
O Homem da Chuva não queria ir embora e passou a noite toda pensando em São João. Em meio àquela situação, a Lua acabou por discutir com o Sol por trás das fechadas cortinas até o Sol vencer a sabatina, mas só se percebeu quando este surgiu com ar de vitória, tão escondida a discussão.
E as Nuvens, como em pares de numa quadrilha, iam abrindo uma trilha para a pompa amarela e quente do Sol sobre o que sobrou da brincadeira, com o calor do fim da festa a rescender o cheiro do mato molhado... Secando a madeira molhada da fogueira...
(Dilberto L. Rosa, 1993/2019)
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