segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Deu a louca no Oscar...?!

É mesmo de se perguntar: o que houve com a Academia no Oscar deste ano?! Primeiro, premiaria os "melhores filmes populares" de 2018 (sabe-se lá o que isto significa...), com uma categoria inédita para tanto, mas voltou atrás; depois, em resposta à recusa do comediante negro (e aparentemente homofóbico) Kevin Hart para ser o apresentador desta 91ª cerimônia, resolveu que não haveria um host central, mas apenas shows e as costumeiras participações de várias personalidades do Cinema para anunciar os vencedores; por fim, teve de recuar novamente, depois de fortes pressões populares e da classe artística, após enrolar-se em mais duas lambanças extremamente negativas: cogitou (e mesmo anunciou como oficiais) mudanças na apresentação das canções concorrentes (queriam escolher apenas duas, das cinco, para exibição!), bem como da entrega das premiações para melhores Fotografia, Edição e Maquiagem (seriam apresentadas de forma editada, num rápido compacto, durantes os comerciais finais!), sob a alegação de necessidade de redução da duração da cerimônia (normalmente próxima de 4 horas)... 

Com tantas bagunças de bastidores, miguelagens autoritárias e vai-e-vem de decisões diante das pressões da opinião pública, será que, sob o aval de Trump (outro maluco imperialista ultraconservador, cheio de tretas e negociatas) e em agradecimento a alguma subserviência bem feita (instalação de bases militares por aqui ou pressão "humanitária" sobre a Venezuela?), a Família Bolsonaro assumiu também a presidência da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood?! Só pode! Imagine o discurso (curtinho e cheio de fake news)... Da série "Cenas que não gostaríamos de ver":  
Piadas farsescas à parte, parece que não vingou o sanatório geral à brasileira que aparentava se formar nos rincões da "maior premiação do Cinema mundial" - coisinha chata e repetida à exaustão pela Imprensa tupiniquim (em qual sentido seria esse "maior"?)... A cerimônia não foi o fiasco previsto! E os "números" (também irritantemente) tão alardeados sobre as muitas premiações a filmes com temáticas representativas de minorias latinas e contra o racismo e a homofobia impressionaram, assim como os discursos mais inflamados (até sobre direitos trabalhistas no Terceiro Mundo!) e a maior quantidade de indicações e conquistas de artistas negros da História de Hollywood foram coisas que, com certeza, deixaram qualquer bolsonarista irritadíssimo e doido de vontade de maratonar os "cursos" do Olavo de Carvalho pela internet (sem falar no Trump, que costuma correr desesperado para o Twitter nessas horas...)!

Acabou se destacando a diversidade nesse Oscar - e no mais amplo sentido da palavra! A começar por seu "curvar" à Netflix ao premiar com 3 Oscars o belíssimo Roma pró-mulheres e indígenas explorados, laureando como melhor Diretor, Produtor (Melhor Filme em Língua Estrangeira) e Cinematógrafo o mexicano radicado nos EUA Alfonso Cuarón (com discurso em Castellano e estocada no clube fechado da Academia sobre os "filmes de Língua Estrangeira" que via quando criança). E assim também se daria com o tema da homossexualidade nos surpreendentes 4 Oscars para o fraco, porém cativante, Bohemian Rahpsody, cinebiografia romanceada de Fred Mercury na formação do Queen - que se apresentou logo na abertura da cerimônia. E, da mesma forma, com a representatividade negra, desde a já aguardada Melhor Animação para o "Homem-Aranha negro (e latino)" Miles Morales em Homem-Aranha no Aranha-Verso, passando pelas duras temáticas sociais de Se a Rua Beale falasse e sua Regina King como Melhor Atriz Coadjuvante e com as 3 merecidas estatuetas para o inteligentemente divertido Pantera Negra (melhores Design de Produção, Trilha Sonora e Figurino, belos trabalhos de equipes predominantemente formadas por afro-americanos).

Sem esquecer, é claro, as temáticas contra o racismo dos outros 3 prêmios para Green Book - O Guia, incluindo o mais cobiçado da noite, o de Melhor Filme, e da consagração, com o justo Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, para Infiltrado na Klan, da inteligência ativista de Spike Lee - que, apesar do Oscar honorário pelo conjunto da obra recebido em 2006, jamais fora antes reconhecido como merecia ao longo de sua brilhante carreira de alma... Falando nisso, de se destacar o simbolismo da figura desse diretor novaiorquino ao longo de toda a festa de entrega dos prêmios, para além do seu visual caprichado com chapéu, smoking roxo à Prince e dedos ornados com os famosos anéis estilo-soco-inglês com love e hate para cada mão, referência ao famoso personagem Radio Raheen de seu clássico-maior Faça a coisa certa - frase igualmente emblemática que, não por acaso, encerrou seu pungente discurso de agradecimento, abordando desde os navios negreiros até os duros e preconceituosos dias da Era Trump (cortaram seu microfone ao final?). 
Animado talvez com o tom mais progressista da noite, o diretor da ótima adaptação de uma história real, em que um policial negro se infiltra na Ku Klus Klan - excelente comédia dramática de suspense, com afiados roteiro e elenco (destaque para Adam "Kylo Ren" Driver, indicado a Melhor Ator Coadjuvante) -, foi ovacionado quando da sua premiação e bastante elogiado por Barbra Streissand, posteriormente, no palco, mas terminou a noite numa revolta solitária e silenciosa, visivelmente indignado com a conquista maior de Green Book (literalmente "livro verde", um guia real para orientar "pessoas de cor" sobre os seus "devidos lugares" no Sul cheio de preconceitos). "Capricho militante" do mais combatente diretor do Brooklyn? De forma alguma... Afinal, apesar dos muitos momentos tocantes e aparentemente combativos ao racismo (num roteiro que se anunciava como perfeitamente arrumadinho e costurado para o Oscar de Melhor Roteiro Original, que realmente levou), Green Book foi muito criticado não só pela família herdeira do pianista negro Don Shirley (impecável Mahershala Ali, Melhor Ator Coadjuvante) porque teria faltado com a verdade e enaltecido a figura do seu motorista ítalo-americano, Tony Lip (não por acaso, o filme foi coescrito pelo filho deste, Nick Vellalonga) como também pelos ativistas, que apontam o filme como superficial e condescendente com o eterno papel do "branco salvador" (que, no caso, chega até a "ensinar" o pianista a "como ser negro")! 

Também, o que esperar de Peter Farrely, diretor, produtor e corroteirista do "melhor filme" deste ano e o mesmo por trás de "comédias" escrachadamente preconceituosas dos anos 90 e 2000, como Debi e LóideQuem vai ficar com Mary e Eu, eu mesmo e Irene? O mesmo perfil que parece desejar a Academia na atualidade, quando ainda luta para limpar-se da pecha #OscarSoWhite: um maquiado retrato contra o racismo, para aparecer melhor na foto, mas nada que realmente discuta o racismo... Assim, apesar de bem feito, acabou prestando igual desserviço desempenhado pelo fraquinho Conduzindo Miss Daisy, de trama similar, em que Morgan Freeman dirigia para a esnobe judia vivida por Jessica Tandy e daí surgia uma "bela amizade", igualmente oscarizado como Melhor Filme em 1989 - mesmo ano da pequena obra-prima Faça a coisa certa, solenemente ignorada pela Academia... A propósito: Spike Lee, ao final, resolveu não polemizar com a visão excessivamente conciliatória (e "conduzida" por brancos) de Green Book e saiu-se, pelas inquisidoras entrevistas, com a excelente pérola: "Toda vez que alguém conduz alguém [dirige pra alguém], eu perco", numa debochada referência a Driving Miss Daisy, queridinho daquele ano insosso - restando claro que, com "perder", Lee abrange bem mais que um simples Oscar...

Mas se a diversidade realmente ultrapassou (ou não) tais comezinhas discussões, o Oscar 2019 seguiu burocrático como de costume, com ainda menos emoção que as edições anteriores especialmente em razão das obsessões comerciais com a redução do tempo de exibição e da falta de um apresentador central e seus discursos e números cômicos, o que costuma dar "alma" à esnobe bagaça toda... De qualquer forma, o tom mais "intimista" rendeu ao menos um momento mais tocante: a performance de Lady Gaga e Bradley Cooper, ao apresentar o sucesso do apenas simpático e interessante Nasce uma estrelaShallow (Oscar de Melhor Canção), marcou a noite, desde a filmagem informal da colocação do piano no palco, com uma câmera vinda dos bastidores em direção à plateia, até que o casal, sentado na primeira fila, sobe ao palco e se entrega numa bela performance - apesar da canção ruinzinha e do refrão mela-cueca, digno de uma versão de qualquer banda de forró eletrônico romântico (eu preferia a canção de O Retorno de Mary Poppins...)!
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Neste ano, os Morcegos e eu vimos todos os indicados a melhores Filme e Animação! E, além dos já mencionados, gostei muito de Vice e dava como certas as premiações de Melhor Ator, para Christian Bale (venceu Malek e suas superficiais imitações de Fred Mercury com dentadura do Ceará, do Pânico!), e de Melhor Edição, para as dinâmicas ironias e os finos sarcasmos sobre o poderoso e nefasto vice-presidente de George W. Bush, Dick Chenney (novamente perdido para Bohemian Rahpsody!), mas só ficou com Melhor Maquiagem, realmente imbatível! Não gostei muito, porém, dos exageros de A Favorita (do mesmo diretor do hermético e estranho O Lagosta), que acabou levando na categoria de Melhor Atriz, com a ensandecida Rainha Anne de Olivia Colman desbancando o favoritismo de Glenn Close em A Esposa - não adiantando a veterana atriz de Atração Fatal se vestir de estatueta dourada! E, entre as animações, para além do mais do mesmo de Os Incríveis 2 e Wi-Fi Ralph, eu me surpreendi com a pungência de Ilha dos Cachorros e já estou baixando o japonês Mirai pra ver depois, considerando justo o prêmio para o multicolorido e divertidíssimo Homem-Aranha no Aranha-Verso (mais Marvel!).

Enfim parece que deu tudo certo: tanto o "politicamente correto" de uma Academia predominantemente branca e masculina (mais uma vez, nenhuma diretora indicada...) quanto alguns dos realmente melhores venceram! E acabou não sendo tão rápida a cerimônia quanto as piores previsões vaticinavam - como a hilariante sketch recente do Porta dos Fundos, em que o personagem vivido por Porchat se lamenta por não ter assistido ao Oscar em razão de tudo ter se passado em menos de 10 minutos, em debochada alusão aos absurdos elencados no início desta postagem. O que durou quase 10 minutos, de fato, foi a exibição do Oscar na famigerada Rede Globo, que, somente depois de um longuíssimo e vazio Fantástico e do imbecilizante Big Brother Brasil, mostrou os últimos instantes das pouco mais de três horas da premiação (acompanhei o que a minha internet ruim da TVN permitiu): "muito bonito, dona Vênus Platinada", como diria o genial militante do Adnet em Tá no Ar!

Decididamente, não "deu a louca" no Oscar e tudo permanece sob o bom e velho controle da Matrix de sempre... E, entre mortos e feridos, salvaram-se justamente... os mortos: no sempre terno quadro In Memoriam (até no Latim mexem esses imperialistas ianques: a expressão original termina com 'n'), foi tocante lembrar (ou ficar sabendo sobre) os muitos artistas do Cinema mundial que se foram em 2018 - dentre eles, o nosso querido imortal Nelson Pereira dos Santos e o eterno editor-chefe da Marvel, Stan Lee, que, dentre outras atividades (guru espiritual, Relações Públicas de luxo e figurante nos filmes de seus personagens - dentre eles, o Pantera Negra), foi produtor executivo de todo o Universo Marvel nos cinemas e na televisão... Tudo ao som de Leaving Home, faixa da inesquecível trilha sonora de John Williams para Superman - O Filme (conduzida pelo maestro venezuelano Dudamel: mais representatividade latina, yeah), que cresceu no seu tema principal justamente quando surgiu na tela a bela Margot Kidder, eterna Lois Lane de Superman - O Filme, na já icônica foto trajando uma camiseta azul com o 'S' no peito - e que particularmente me emocionou mais: a atriz de 69 anos, ativista política que lutava contra transtornos bipolares, suicidou-se no dia do meu aniversário, no ano passado...

 

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