domingo, 7 de maio de 2006

KUBRICK!

Depois de minha breve lista de interesses atuais (e não de pedidos, frise-se!) diante de mais um aniversário, os Morcegos seguem com mais uma RETROSPECTIVA, hoje passeando sobre uma rasgada homenagem a esse que talvez tenha sido o mais completo diretor da Sétima Arte: Stanley Kubrick. Curiosamente, esta crônica jamais foi publicada neste humilde espaço virtual, embora tenha ficado muito conhecida no dileto blog do amigo Luiz Henrique.

RETROSPECTIVA
CINEMA

O que os perturbados Jack Torrence (Jack Nicholson, à esquerda) e Alex DeLarge (Malcolm McDowell, à direita) têm em comum? Além da loucura, foram brilhantemente adaptados para o Cinema pela genialidade de Stanley Kubrick (no centro).

Minhas Memórias Kubrickianas


Lembro-me da primeira vez que assisti a um filme de Stanley Kubrick, ainda que nem mesmo soubesse, à época, de quem se tratava (embora já houvesse visto Spartacus quando ainda bem menino): O Iluminado, de 1980, que vi em vídeo numa noite de sábado repleta de filmes alugados. Nem é necessário dizer o quanto isso havia sido uma má ideia em vista da idade que eu tinha, por volta dos treze, e que aquele desfile de terror psicológico se tornaria bem mais assustador naquela avançada hora... Baseado num romance de Stephen King, este filme acabou se mostrando um famoso exemplo de adaptação melhor que a obra original (anos depois eu leria o livro), focando mais, por exemplo, no lento enlouquecimento do personagem Jack Torrence (interpretado magistralmente por Jack Nicholson).

Dava eu os primeiros passos no universo cinematográfico naquele início da década de 90, não me ligando ainda em associar um filme ao seu diretor (pecado tão grande quanto ler um livro sem saber o escritor), e assim seguia vendo os vários lançamentos mensalmente despejados nas locadoras, até que o então último trabalho de Kubrick, Full Metal Jacket - Nascido para Matar (1987), era a novidade dos pôsteres e comerciais do setor. E foi acompanhando aquele impactante libelo contra a estupidez da Guerra do Vietnã que constatei a versatilidade do seu autor e sua forma diferente, pungente, de filmar... Logo descobri que se tratava do mesmo diretor de O Iluminado, sua obra anterior (1980) – a que, coincidentemente, assisti antes. Daí percebi mais uma curiosidade: apesar de serem filmes de gêneros diferentes (e bem díspares: Terror e Guerra), ambos eram excelentes e guardavam aspectos similares, identitários do seu autor: narrativas em 3 atos; protagonista perdido em meio ao caos; construções de imagens simetricamente filmadas etc.

Tempos depois, já tendo visto a maioria dos filmes de uma locadora do bairro, descobri, quase por acaso, 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968), obra um pouco mais antiga, porém famosíssima tanto na Literatura quanto no Cinema, a que nunca havia assistido por completo, a não ser por alguns trechos nos Corujões da vida, antes de dormir. E lá estava ele outra vez, Kubrick, numa revolucionária produção inglesa (como a maioria de seus trabalhos, já que adotou a Inglaterra como seu refúgio desde os anos 60), tanto nos estonteantes efeitos especiais como na brilhante e poética narrativa, que traçava um elo entre o homem e as fronteiras do desconhecido, desde os tempos das cavernas até o futuro da corrida espacial, ao mesmo tempo em que já discutia um tema tão atual como a inteligência artificial, tudo alinhavado com as inesquecíveis valsas de Johan Sebastian Strauss e feito em plena década de 1960! Definitivamente, eu estava crescendo no entender o Cinema, e, com certeza, aquele diretor estava me ajudando bastante!

Depois se seguiriam em minhas retinas obras geniais da Sétima Arte, de diferentes grandes diretores, e, dentre elas, todas do rol de produções da brilhante e coesa carreira de Kubrick (bem, quase todas, pois ainda estou devendo ver Medo e Desejo, de 1953, seu primeiro longa) – desde a força do noir A morte passou por perto (1955) e a trama envolvente do thriller O Grande Golpe (1956) que marcaram os primeiros trabalhos menos lapidados, porém não menos interessantes, passando pelo grandioso Drama de Guerra Glória Feita de Sangue (1957), com um impecável Kirk Douglas, até o magistral épico Spartacus (1960, repeteco na parceria com o ator/produtor Douglas, que acabou se desentendendo com o diretor: "Stanley was a bastard, but a talented guy!"), Kubrick mostrava seu talento com assinatura.

Mas foi a partir de Lolita (1962), polêmica adaptação do famoso livro de Nabokov sobre a tragicômica obsessão de um professor por sua enteada adolescente, e de Dr. Fantástico ou Como deixei de me preocupar e passei a amar a bomba (1964), sua única Comédia, sátira mordaz contra os bastidores políticos da Guerra Fria (com um genial Peter Sellers em papel duplo), que Stanley passou a mostrar mais de sua verve autoral, como seu costumeiro estudo do comportamento humano com uma fina camada de ironia cobrindo tudo! E foi com duas obras-primas de Ficção Científica que veio a consolidação do "estilo Kubrick": além de 2001 - Uma Odisseia no EspaçoLaranja Mecânica (1971), tão bom quanto o brilhante livro de Anthony Burguess, a coroar o anti-herói Alex (um genial Malcolm MacDowell) como um dos maiores personagens do Cinema na brilhante sátira sobre violência, sociedade e Estado opressor, coroou Kubrick como um revolucionário! 

Depois de Barry Lindon (1975), excepcional trabalho de fotografia (muitas cenas são como verdadeiras pinturas) e reconstituição de época para narrar as venturas e desventuras de mais um anti-herói (Ryan O'Neal), agora um irlandês no século XVIII, e O Iluminado, no início da década de 80, Stanley Kubrick ficaria quase dez anos sem filmar nada. E, posteriormente a Nascido para Matar, levaria mais de uma década até o seu derradeiro trabalho, o estranho suspense onírico e erótico De Olhos Bem Fechados (1999), com o ex-casal Tom Cruise e Nicole Kidman, tamanho o seu preciosismo e suas cada vez mais exigentes manias de perfeccionismo, que acabaram lhe custando a fama de difícil e o fato de ter morrido sem ver seu último filme nos cinemas. 

Tanta genialidade foi acumulada durante a mais consistente e coerente carreira cinematográfica de todos os tempos: tendo experimentado os mais variados gêneros e formas de narrativa (ainda que sempre embasado no seu "estilo épico" de 2 ou 3 atos teatrais para contar uma estória), qualidades reservadas para muito poucos neste mundo de arte cada vez mais sem poesia (e geradora de polêmicas artistísticas, como com o igualmente gênio russo Andrei Tarkovsky), Stanley Kubrick construiu um Cinema tão atual quanto estético, tornando-se uma obrigatoriedade para todos os que querem crescer no entender, ver e sentir a verdadeira Arte do Cinema...

(Dilberto Lima Rosa, 2005 - revisitado)
 

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