domingo, 29 de abril de 2018

14 Anos de Magia...

Dirigido por Steven Spielberg, este foi o quinto (e melhor) episódio da primeira temporada da inesquecível Amazing Stories - Histórias Maravilhosas.

Já contei, por inúmeras vezes, como em 1989 minha vida passou por um divisor de águas chamado videocassete... E, naquele mesmo ano, com as inúmeras idas às hoje extintas videolocadoras, conheci a série Amazing Stories - Histórias Maravilhosas (NBC, 1985/1986), deliciosa homenagem oitentista do então Midas de Hollywood Steven Spielberg (produtor/diretor) à clássica série dos anos 60, Twilight Zone - Além da Imaginação, e também no formato de antologia, com episódios independentes. Infelizmente, oscilando entre geniais episódios cheios da melhor Magia dos anos 80 (como na pequena obra-prima A Missão, acima: um artilheiro "sortudo" e sua "velha imaginação" à beira da morte durante a Segunda Guerra) e tramas bem fraquinhas, aquele pequeno marco televisivo não durou muito e acabou após duas temporadas - cujos 9 volumes em VHS devorei a todos (uma vez que só seriam exibidas na televisão aberta brasileira alguns anos depois)!

A Roleta Da Morte
Queria na minha estante...
E foi também em 89 que descobri, numa empoeirada estante da biblioteca do pai de um antigo contemporâneo da escola, o incrível livro Alfred Hitchcock apresenta: A Roleta da Morte (Ed. Record, 1978), espécie de extensão, na Literatura, do sucesso da antologia televisiva de mesmo nome, em que o Mestre do Suspense apresentava tramas dramáticas e assustadoras, selecionadas, pelo próprio diretor, entre autores desconhecidos do grande público. Foi nesse livro que um conto em particular me marcaria profundamente, tanto na memória afetiva de uma bem construída narrativa, como também no meu estilo de escrever, ali começando a aprender a importância da arte de encerrar uma história com um grande final: um fotógrafo, com o estranho dom de capturar os momentos mais dolorosos de pessoas em situações de desespero, depara-se entre salvar a vida da mulher grávida caída no fosso do metrô e conseguir mais uma macabra e derradeira fotografia... De grandes finais, sem dúvida, o velho Hitch de Um Corpo Que Cai, Janela Indiscreta e O Homem Que Sabia Demais entendia muito bem!

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O maior super de todos...
Claro que ela se faz muito mais presente no Cinema ou na Televisão, naqueles momentos em que realmente se acredita que um homem possa voar... Mas, quando falo em Magia, não me refiro somente àqueles filmes ou livros que tratem de universos epicamente fabulosos, como no clássico recente Game of Thrones (que só agora começo a desvendar), tampouco a qualquer obra de Fantasia ou Ficção Científica - fosse assim e o malfadado já esgotado subgênero dos "filmes de super-heróis" ainda hoje agradaria e emocionaria tal como se deu com o impacto causado por Superman - O Filme, em 1978. Na verdade, falo daquela narrativa com encantamento e Poesia, capaz de tornar até um duro filme Policial (vide o cruel, porém belíssimo O Poderoso Chefão) ou um intrincado livro de Mistério algo extasiante, emocionante, envolvente... E quando, nessa obra (cinematográfica, literária...), se dá a sorte descomunal de fazer caber um grande fim, aquele mágico torpor segue a nos tremer a pele, esquentar o peito, intrigar a fronte, arrepiar a espinha e mexer com o cérebro por dias, meses, décadas a fio...

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Clássico de Neil Gaiman:
pesadelos lendo a DC Comics
pelo selo Vertigo...
E olhando em retrospecto, em particular, toda essa época entre os lisérgicos anos 60 de Além da Imaginação e o final dos multicoloridos e falsamente inocentes anos 80 de Histórias Maravilhosas, o período foi bem pródigo em sensíveis montantes de Magia, assim como em saber como bem se acabar um filme, um livro, uma canção - e nem falo de um óbvio Disney e seu incrível Mary Poppins! Tire por Kubrick em 2001 - Uma Odisseia no Espaço ou Antonioni em Blow-Up - Depois daquele beijo; Fellini em 8 ¹/², A Doce Vida e Amarcord; ou o nosso Cinema Novo da amarga Poesia de Gláuber ou Nelson; passando por Lucas com suas épicas Guerras nas EstrelasBraga definindo cores para o até então cinza gênero da Crônica; ou ainda a Música de Caetano, Torquato, Mautner ou Belquior com seus poemas de MPB desconstruída (ou em reconstrução) e músicas de louca escapada; Leminski com seu deboche malandro e seus golpes geniais de releitura poética de nós mesmos; King inventando, em seus livros, o Terror de deslumbramento e fascinação entre crianças e adultos; Moore e Gaiman redefinindo os Quadrinhos e chamando de volta os adultos para a festa; e chegando, inevitavelmente (para o bem e para o mal), às mágicas mãos de Spielberg por trás de praticamente tudo de épica e magicamente romantizado que se fez entre os finais dos anos 70 e 80, de extraterrestres com cinco notas de comunicação em Contatos Imediatos... a aventureiros à moda antiga em Indiana Jones e A Última Cruzada - que período mágico para as Artes em geral!

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Suspense do Além...
Mas... E depois? Infelizmente, pouca coisa... Afinal, os anos 90 produziram quase nada além de reciclagem cultural - se não fossem adoráveis salvações isoladas, como Ghost - Do outro lado da vida, Dick TracyDança com LobosEdward Mãos de Tesoura, Drácula de Bram StokerO Rei LeãoEd Wood, O Exterminador do Futuro II - O Julgamento FinalFeitiço do Tempo, À Beira da LoucuraEntrevista com O VampiroA Roda da FortunaForrest Gump - O Contador de HistóriasA Fraternidade é Vermelha, Toy StoryDesconstruindo Harry, O Enigma do HorizonteContato, O Show de TrumanAlém da Linha Vermelha, Amor Além da VidaCidade das SombrasO Grande LebowskiO Sexto SentidoÀ Espera de Um MilagreNós que aqui estamos por vós esperamosBeleza Americana, História Real ou Matrix... Teríamos uma década perdida! Já sentia saudades da minha infância oitentista...

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Amor que se reinventa de forma lúdica...
E parece que a seca só aumentaria com o passar do tempo: o mais perto de "mágico" que as duas décadas iniciais dos anos 2000 viram foi a explosão de cansativos universos de super-heróis na tela grande e um gigantesco número de refilmagens ou reboots de velhas boas ideias! Logicamente, sempre há de se considerarem honrosas, ainda que cada vez mais esparsas e raras, exceções (e obviamente que magias caça-níqueis de bruxinhos sem sal e "cinema-novela" de não-sei-quantas partes não contam!)... E assim, filmes como Corpo Fechado, O Tigre e O Dragão, O Auto da Compadecida, Embriagado de AmorO Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, Moulin Rouge - Amor em Vermelho, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, A Viagem de ChihiroDogville, Peixe Grande, Hulk (de Ang Lee), As Bicicletas de BellevilleBrilho eterno de uma mente sem lembranças, Antes do Pôr do Sol e Cisne Negro, na primeira década, e Meia-Noite em ParisO Artista, A Invenção de Hugo CabretAmor, Gravidade, O Perfume, Menino e O Mundo e A Forma da Água nestes últimos 7 anos, apesar da roupagem nova de edições ousadas e de algumas cores mais cínicas, souberam como dignificar a tradição da velha e doce Magia! Só que num triste número bem menor, em quase duas décadas, em relação à já fria década de 90...

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É assim que a tela da smartv da sala vive atualmente:
escolhendo pelos "quadradinhos"
Inúmeros autores jamais deixaram de se valer de alguma Poesia ou Fantasia para tocar suas obras ao longo dos últimos tempos, isso sempre existiu... Mas nada digno de nota, de Magia com 'M' maiúsculo, coisa difícil num mundo tão dominado pelo imediatismo e pela arte comercializada! Curiosamente, é novamente na Televisão o novo espaço fértil para um forte movimento pelo retorno a esse jeito mágico de contar grandes histórias - especialmente agora, em tempos de multimídias como o Netflix, esse híbrido de TV e internet em que milhões de filmes e séries inteiras estão disponíveis para imediatas maratonas! Eu mesmo ando bastante ligado nesse canal: além de ter devorado, assim que assinei no final do ano passado, a segunda temporada do já clássico absoluto de Ficção-Horror Stranger Things (ainda preferindo a primeira...) e finalmente ter visto a quinta e última temporada que me faltava para fechar a trágica Poesia violenta de Breaking Bad (no que não me contive e acabei por rever as primeiras - e melhores - quatro anteriores do grande Walter White), já me familiarizei com as maravilhas do formato streaming e fechei várias séries bacanas: quase toda a heroizada Marvel, dos muito bons Demolidor e O Justiceiro aos fracos e arrastados Luke Cage e Punho de Ferro; a encantadoramente amarga e irônica fantasia cômica das duas temporadas de Desventuras em Série; e a nada mágica e somente razoável Better call Saul, 'spin-off' de Breking Bad com o divertido Saul Goodman (agora ofuscado por longas situações familiares)!

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É a tela ou são as pessoas
que se "quebram" diante da tecnologia?
Pois é: meu namoro com aquele estilo de encantamento continua firme e, na maioria dos casos, ando preferindo as séries nessa linha mágica a renomadas, porém mais realistas tramas - como as ainda não vistas House of Cards, Narcos, The Crown ou La Casa de Papel. E, voltando-se ao início desta postagem, mais um ciclo se fecha com uma nova releitura da antiga Twilight Zone, agora a fim de adequar a velha fórmula de fantasiosos episódios independentes entre si aos hodiernos e cínicos tempos da alta tecnologia: Black Mirror, referência, no título, ao "espelho negro" que nos reflete (e aprisiona) pelas telas dos computadores, TVs e celulares a uma realidade nada boa, é uma premiada série inglesa (hoje pertencente à Netflix) com grande elenco internacional, parece querer trazer à tona esse velho universo do qual jamais nos deixamos separar - o de se surpreender com o inusitado, e, no caso, viajar pelas mágicas possibilidades "futuras" da tecnologia sem perceber direito o quão presentes (e possíveis) todas elas já são! Infelizmente, Magia e Grandes Finais não são uma constante nessa cultuada, porém seca série: de um modo geral, as premissas e painéis de fundo são sempre muito interessantes, mas ora se arrastam demais em longas-metragens (algumas histórias chegam a 90 minutos - o que compromete bastante o desenvolvimento desse formato), ora se encerram sem vontade ou sem apresentar uma conclusão satisfatória...

Melhor jeito de se ignorar alguém numa crise conjugal:
bloquei-o em seu chip e o deixe incomunicável!
De qualquer forma, o grande responsável por tudo, Charlie Brooker, desenvolveu pelo menos uma pequena obra-prima por temporada, capaz de alimentar as esperanças de que nada está perdido no doce terreno da ficção moderna... E Black Mirror, além de merecidas "menções honrosas" a três já pequenos clássicos do imaginário popular, 15 Milhões de Méritos, Hang the DJ e Manda quem pode, conta com os seguintes episódios imperdíveis: na primeira temporada, o Suspense de Ficção Científica Toda Sua História, em que um marido, obcecado com a ideia da traição da esposa, vai às últimas consequências com seu avançado chip de memória; na segunda, a deliciosa Comédia de Ficção Queda Livre mostra Bryce Dallas-Howard e seu sorriso plastificado de boneca na atualmente bastante comum obsessão louca de ser popular nas redes sociais - sendo que, no futuro, disso dependem empréstimos, contratos e até empregos; a terceira revela o melhor episódio de todos com a genial Ficção Científica Natal, em que nada é o que parece ser nesta trama cheia de reviravoltas e histórias intercaladas; e, por fim, a quarta e mais fraca temporada, com somente um grande episódio, Black Museum, em que, mais uma vez, várias histórias se intercalam dentro de uma maior, numa espécie de homenagem à própria série ao alinhavar diversas referências e personagens já explorados, numa espécie de universo unificado, tudo reunido num macabro museu de tecnologias mentais fracassadas... Apesar dos muitos defeitos, esse "Espelho Negro" (saudade de quando se traduziam os títulos originais...) merece ser vista - afinal, é a Magia se renovando!

COMMENTS On the night of November 24th, 2007 I was lucky enough to catch a lunar halo right above my house, under a full moon. Of course I w...
Foi quase assim a Lua daquele dia mágico em que escrevi
meu primeiro poema...
E pensar que tudo isso começaria, para mim, naquele hoje longínquo 1989 por causa do Cinema em minha casa... E que, três anos depois, em 1992, eu entraria nesse mundo ao "começar" a escrever: com o entusiasmo de algumas redações em versos e prosas então muito queridas na escola, minha primeira crônica-conto, Amanhã é outro dia..., escrevi na última folha do caderno do segundo ano do ensino médio, esperando a primeira namorada na imponente Biblioteca Pública Benedito Leite; e, um pouquinho antes, em 1991, concebi o poema que dá título a este humilde espaço virtual, Morcegos, após voltar de uma videolocadora, deixando fitas devidamente rebobinadas no último minuto do prazo sem multas antes de fechar, às 21 horas, olhando para o céu limpo e claro de uma mágica lua cheia envolvida por uma grande auréola - tantas e tão diversas inspirações, mas sempre prenhe de Magia e já exercitando as lições aprendidas algum tempo antes a respeito de grandes finais...

Mas foi somente após decorridos mais 15 anos, em 2004, que este blogue ganhou forma, no finalzinho de abril, mais precisamente no dia 30, ao me fazer entrar de vez na internet e na Literatura, redefinindo minha vida ao abraçar o escrever religiosamente até hoje, 14 anos depois, em que ainda ensaio Poesia pela minha Prosa de amador e amante no contínuo exercício do suspiro derradeiro de um final que nunca há de chegar... Então, que nunca se acabe, sempre se renove - com direito a inúmeros lindos finais mágicos! Obrigado por me acompanharem e me ajudarem na árdua tarefa de carrear Magia do papel para o dia-a-dia com a pena digital desse velho teclado descarregando, sobre a tela do seu PC (hoje também no seu note, tablet e I-Phone!), Cinema, Literatura, Música, Quadrinhos e Artes em Geral, diletos Morcegos... Meus parabéns!
Como tudo começou... Assim era o layout original dos falecidos tempos de Weblogger!
Aproveite o sem-número de links ao longo desta postagem especial de aniversário e boas viagens...
 

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