terça-feira, 29 de setembro de 2015

Aumenta, que isso aí é Jerry Lee Lewis na veia:

The Killer, a Fera do Rock, completa 80 anos!

(E aquele festival mais ou menos fez 30...)

Apesar de nunca ter ido a uma edição do Rock in Rio em todos esses anos (nunca fui mesmo de multidões ou de grandes shows...), esta foi a vez em que me senti mais perto da coisa toda. Talvez por causa da intensa cobertura ao vivo e em HD pelo MultiShow. Talvez por causa da "nostalgia forçada" pelos 30 anos celebrados (num aniversário que poderia ter sido bem melhor...). Talvez porque tenha parado em frente à TV justamente nos momentos mais saudosistas - como o de uma femininamente empolgante apresentação do velho romântico à exaustão Rod Stewart (quantas pernas de belas musicistas e coristas, meu Deus...); de uma sempre gostosa reapresentação dos mil clássicos de um Elthon John ou de um Erasmo Carlos (acompanhado daquela hoje ultrajante banda-coxinha que já foi tão divertida...); de um surpreendentemente modorrento A-Ha, cansado e sem vontade; ou do tão empolgante "retorno" do Queen (um dentre os vários que já se deram desde que Mercury morreu), banda que sempre me foi tão cara com genialidades como Bohemian Rhapsody, Radio Gaga, I want to break free e A Kind of Magic, agora assinando Queen + Adam Lambert - que, apesar do excesso de "bonequice" (numa espécie de mistura drag de George Michael com Elthon John, bem longe do "formato gay de raiz" de Freddie, com os seus famosos bigode e camiseta regata), acabou por também entregar um excelente show ao lado dos músicos ingleses remanescentes (o baixista John Deacon se aposentou algum tempo depois da morte do vocalista original), num fim de noite maravilhoso e tão frenético como as grandes apresentações do passado - como o show no próprio primeiro RiR, no Brasil, em 85, com a inesquecível performance coletiva de Love of My Life...

Mas o rock não entrou em minha vida com aquela apresentação (tinha eu meros 8 anos...), muito menos com o Queen - apesar de achar esta banda o máximo (e de considerá-la mesmo mais divertida e criativa do que os tão afamados Beatles), ela só me foi devidamente "apresentada" quando da minha adolescência, nos anos 90. Eu até sabia da euforia daquele festival e dos seus hits, bem como percebia o surgimento do "rock brasileiro" com Blitz, Legião Urbana e Titãs, mas eu não era muito de Música na época... Da mesma forma se deu com outros ícones que igualmente participaram da minha formação musical, como os geniais The Doors, Pink Floyd e The Clash, que só vim a curtir tempos depois. Na verdade, foi somente um, e não um conjunto, quem me trouxe ao universo musical do rock'n'roll, que, por sua vez, foi um dos precursores deste movimento tipicamente norte-americano - sim, o rock nasceu nos EUA, e oriundo do melhor da "música negra", basicamente do blues, do seu consequente rithm and blues e variações do gospel (como os cantos spirituals), com posteriores pitadas de "ramificações brancas", como o folk e o country (que gerou, por sua feita, o rockabilly)... - Elvis Presley! - arriscaria algum ansioso blogueiro de plantão desavisado! Quase... O Rei sempre me foi caro como um dos ícones da cultura pop e baluarte para qualquer roqueiro que se preze (ou mesmo qualquer mero amador da Música) e desde sempre o acompanhava nos filmes da Sessão da Tarde ou o imitava em seus maneirismos dançantes - ao ponto de ganhar uma fita k-7 e um convite especial para o Clube do Elvis local numa longínqua tarde de namoro na adolescência, mas isso é outra história... Mas, não: o "responsável" quase tem o mesmo nome de um famoso gênio comediante, apesar de sua vida só ter de longe a aparência cômica - Jerry Lee Lewis.

Um dos fundadores do rock - ao lado de Chuck Berry e Elvis -, Jerry trouxe o que havia de melhor no "proibido" da música negra e o misturou ao woogie-boogie em seu piano (um dos precursores também nesse estilo, ao lado dos piano rockers Little Richard e Fats Domino), gerando um rock autêntico e inovador. Seu estilo amalucado e contestador (tocava seus teclados de costas, com os cotovelos e até com os calcanhares, chegando a tocar fogo em seu piano em várias apresentações históricas) fizeram dele o primeiro rebelde roqueiro por excelência, tanto para o bem, como para o mal - no caso, sérios problemas com gravadoras devido ao seu comportamento intempestivo, bem como dificuldades na vida pessoal, como as agressividades decorrentes do alcoolismo e o avassalador casamento com sua prima de 13 anos (escândalo que fez dele uma espécie de "inimigo público dos EUA")... E, curiosamente, foi pelo Cinema que conheci a magia da Música de Jerry: naquele bom auge das videolocadoras, aluguei despretensiosamente o "último lançamento" em VHS de então, A Fera do Rock (Great Balls of Fire, 1989, título em Inglês de um dos seus maiores clássicos) e, automaticamente, fiquei fã duplamente - do filme (que depois se tornaria um pequeno cult movie, graças a uma excelente mistura entre farsa cômica ligeira e cinebiografia musical), com um inspiradíssimo Dennis Quaid imitando todos os amalucados trejeitos do grande músico, e da sua trilha sonora, recheada com o melhor do rock ao piano, tendo sido tragado por Whole lotta shakin' goin' on, Breathless, High Scholl Confidential, Crazy Arms etc.

Extasiado com aquele universo, aos poucos fui conhecendo mais do homem durão, por vezes, arrogante, e do artista lunático e efervescente, 'The Killer' ("O Matador", sua alcunha favorita), e mergulhando de cabeça em seu rock incrível precisamente na época em que se comemoravam os 30 anos do "ritmo do diabo", coincidindo com o igualmente "rebelde" ano em que concluía os meus estudos do ensino médio, em 1994: além de ter encontrado um amigo que possuía gosto parecido e reunia um bom número de álbuns e coletâneas em CD daquelas grandes pérolas dos anos 50 e 60 (The Platters, Little Richard, Roy Orbison, The Mamas and The Papas, Carl Perkins, dentre outros grandes nomes das baladas e do swing), comprei um disco de coletânea de todos os maiores hits de Jerry Lee Lewis, o que me abriu os horizontes para descobrir e consumir, a posteriori, Chuby Checker, The Beach Boys, The Animals, Os Mutantes, Rolling Stones, Janis Joplin, Led Zeppelin, Ramones, Raul Seixas... E o resto é história, bebê! Porque, apesar de ser considerado o "Dia Mundial do Rock" a data de 13 de julho, devido à consideração do "marco-zero" do ritmo como tendo sido o clássico Rock around the clock, de Bill Halley and His Comets em 1954, hoje é que deveria assim ser tratado - afinal, a lenda pioneira por trás do piano endiabrado faz 80 anos ainda na ativa (finalizando sua turnê de despedida no Reino Unido, onde vem recebendo várias homenagens, inclusive de outras legendas do rock, como Ringo Star e Robert Plant, e com biografia sendo lançada pelas Edições Ideal)! E é por isso que eu, alucinado e tocando fogo no computador velho, diante de minha fria e estática plateia de coleções antigas, fico a me perguntar em alto e bom som: num tempo em que se fica a substituírem legendas eternas (logo, insubstituíveis - sempre me pergunto quando é que uma banda acaba...), por que cargas d'água não temos uma lenda de verdade - e bem viva - num festival que se propõe a exibir rock (e algum pop de qualidade, vá lá), mas tem a pachorra de se encerrar com... Kate Perry?!



Ontem e hoje, o que é bom permanece...
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1 comentários:

Suzane Weck on 6 de outubro de 2015 às 22:29 disse...

Não imaginas como gosto de ler teus artigos que são muito inteligentes e de grande propriedade.Este que acabei de ler,digo-te que se tivesse o dom da "escrita",publicaria igualzinho sem mudar uma vírgula.Parabéns e meu grande abraço.SU

 

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