– Eu sempre me emociono com esse filme... Não sei, a Música é muito bonita, marcou minha infância, e é um dos poucos filmes "infantis" por excelência com qualidade para prender qualquer um, de qualquer idade... Tu te lembras de que eu te mostrei Mary Poppins pela primeira vez num dia de aniversário teu?
– Lembro, sim... É um grande filme, de fato...
– Tu sabias
que esta foi a estreia de Julie Andrews no Cinema? E que ela ganhou um Oscar por este filme, batendo Audrey Hepburn em... Qual era o nome,
aquele do Pigmalião... Em que uma mulher
do povo é convertida em dama da sociedade...?
– Bonequinha de Luxo?
– Não, em Bonequinha ela faz aquela puta
inocente... Deixa-me ver aqui no escritório... My Fair Lady - Minha Bela Dama!
– Ah,
lembro... Puxa vida: uma vitória!
– Pois é...
Merecida, né? Ela criou o tipo da linda babá perfeita e com requintes de dama
inglesa... Até hoje lembrado na abertura daquela franquia inglesa, SuperNanny. E contracenando com o nada
dos efeitos especiais de 1963... Engraçado, não?
– Engraçado
mesmo é ver essa menina de menos de 4 anos gostando de "supergalifragis"... "supercalafrasti"...
– É supercalifragilisticexpialidocious! Mas quem
não gosta? Por isso o filme foi um sucesso: agradou a todas as idades! Ainda
mais com esta até então inovadora mistura de desenho animado com atores de
carne e osso...
– Ei, Paai...
Eu queria Cantando na Chuva... Com o
homem que cai...
–Tu mostraste
Cantando na Chuva pra ela?!
– Hoje foi
mesmo um dia nostálgico... Assim é que se forma um cinéfilo: na tenra idade!
– Eu não
acredito...
– Então
veja... Olhe só: ela já puxa a cadeirinha rosa pra assistir sentadinha, com
toda a atenção! O “homem que cai” a que ela se refere é o comediante DonaldO’Connor, na sequência da canção Make’emlaugh, onde ele faz uma série de pantomimas e caretas, homenageando a arte mais
pura de fazer rir... E deu certo mesmo: ela não para de rir!
– Vê se eu
posso com isso... Legal vai ser daqui a pouco ela imitando os atores nas coreografias e derrubando tudo aqui na sala!
– E essa já é
a segunda vez hoje que ela pede essas duas sequências: esta e a clássica com Gene
Kelly dançando na chuva... Incrível esse Gene Kelly, não? Com o corpanzil que
tinha, era de uma leveza invejável: sua coreografia cheia de acrobacias, mais
física do que o bailado esbelto e suave de Fred Astaire, impressiona até hoje! E
essa cena da felicidade na chuva é de uma Poesia... Uma das mais completas do
Cinema!
– Tudo o que
tem dança essa menina gosta e agora, além de balé, parece que está descobrindo
e apreciando sapateado! Eu me apresentava na escola, criava coreografias, mas
acho que ela vai fazer muito mais do que isso!
– ’Tá
explicado o DNA de bailarina: nunca vai achar “chato” nenhum Musical! Julie
Andrews é daquelas artistas completas: atuava, cantava, dançava, tudo com
aquele ar de lady insuperável até
hoje... Gene Kelly, além do charme e do carisma excepcionais, coreografava tudo
e até dirigiu alguns filmes... E tu, coreógrafa em Codó...
– Tudo a ver
essa comparação!
– Talento é
pra toda a vida e marca uma vida toda: Julie, Gene, tu... São perenes, por
diferentes razões... Parabéns!
– ’Tá bom... O
artista aqui és tu! Fico aqui pensando: tu já mostraste a ela Chico Buarque,
Caetano Veloso, Vinícius... Agora os clássicos do Cinema... Qual vai ser o
próximo passo: Machado de Assis?!
– Com certeza...
Mas aí ela terá que crescer mais um pouquinho! E de Caetano, só mostrei Leãozinho e Alegria, Alegria, que o resto é muito complicado...
– Eu já acho
muito: essa piunga vive pedindo “Pai, canta Caminhando...”!
E tem que ser desde o começo, tu fazendo a introdução musical e imitando os
sintetizadores e guitarras...
– Ela é
exigente, gosta mesmo... E ’tá pra cantá-la inteirinha! Já de Chico e Vinícius, a coisa toda fica mais difícil ainda: 75%
de suas obras são impróprias para menores!
– Mas ela já
sabe cantar A Banda, João e Maria, as
canções dos Saltimbancos...
– Sim, e do
Vinícius, a Arca de Noé: não dá pra
ir mais longe que isso com uma menininha de 3 anos, né?
– Como eu já
disse: eu já acho muito... Mas é verdade mesmo, das “obras impróprias”:
paixões voluptuosas, separações destruidoras, sexo... Canções nada infantis!
– Vinícius
até que tem aqueles sambinhas mais soltos, como Rosa, Deixa, Tarde em Itapoã, essas coisinhas gostosas e sem idade que
também já cantei pra ela...
– Tem também
outras “puras”: Chega de Saudade e Garota de Ipanema, com o Tom...
– Verdade... Lembra
o nosso começo com o Tom? Ele morreu naquela época... Mas quem dominava mesmo no
pé do ouvido era o Vinícius! Eu adorava cantar pra ti os afrossambas: “Pergunta
pr’o seu orixá:/ O amor só é bom se doer”... Tinha também aquela outra: “Abre
os teus braços, meu irmão, deixa cair:/ pra que somar se a gente pode dividir?/
Eu francamente já não quero nem saber/ de quem não vai porque tem medo de
sofrer.../ Quem nunca curtiu uma paixão/ nunca vai ter nada, não...”!
– “Tantas
você fez que ela cansou/ porque você, rapaz/ abusou da regra três/ onde menos
vale mais”... E eu pensando que essa “regra três” se tratasse de alguma regra
de amor inventada pelo louco do Vinícius...
– Pois é...
Só depois de muito tempo foi que eu te contei que ele falava de traição, de
infidelidade amorosa, em referência à regra da substituição do Futebol: a
terceira das 17 regras...
– E a burra
pensando outra coisa...
– Burrice é
abusar de qualquer regra contigo... Mas, como diria o Poetinha: “É verdade, eu
reconheço/ Eu tantas fiz, mas agora tanto faz”...
– “O perdão
pediu o seu preço, meu amor/ Eu te amo e Deus é mais”... Não é, filha?
– Não... Amo só o Papai! Ei, pai... Bota agora o homem dançando na chuva, por favor...
3 comentários:
Que bonito...que doce...
Lindo...adorei.
Muito bom texto.
Bom dia.
Oi Dil,
Cantando na Chuva, foi melhor filme que eu já assisti em toda a minha vida. Roteiro, personagens, estória, música, tudo! Perfeito!!!
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