sábado, 20 de outubro de 2012

Dia do Poeta


Certa vez escrevi um dos meus poemas mais queridos, Indolente: "Alma poeta, coração vagabundo, mente doentia/ Que me permitam a paz de continuar a escrever/ E a esconder-me sabiamente por trás de minha poesia". E foi isso: três versos bem construídos numa interessante ideia concisa, quase que numa apresentação poeticamente livre de alguém que, mesmo sentindo-se poeta, jamais criou maiores pretensões em torno dos seus versos, desejando só e tão somente a liberdade de seguir por trás das muitas imagens que um poema pode garantir...

E hoje me dizem que é dia do poeta. E eu me pergunto se é meu dia. Tal como me perguntei se na última segunda merecia qualquer encômio por ser professor. Afinal é tudo tão efêmero e acabamos antes mesmo de sermos qualquer coisa ou qualquer um. Mas as pessoas acabam por me lembrar, a qualquer momento, "hoje é teu dia" - no que eu, humildemente, apenas agradeço, sem saber direito qualquer coisa a respeito do dia de amanhã...

Sou um mero artesão das palavras: trabalho-as, porque amo o ofício, seja arranjando-as nos versos de um poema, seja montando-as nos parágrafos da prosa de uma crônica, de um conto, de um ensaio... Os outros é que me dizem sempre alguma coisa sobre o trabalho pronto, porque eu, como artífice, só sei enxergar o trabalho pronto, amando, simplesmente, o fato de tê-lo aprontado e deixado ali, à mostra de quem passar...

Porque a Poesia é algo muito maior e se encontra ao largo, ideal, inaudita e austera, em tudo em volta. É arte plena em movimento constante. E o poeta, parece-me, é o grande intermediador entre aquele mundo e o de cá, com o seu bem dizer oportuno e sensibilizado, traduzindo aquele dizer maior. Um artista, na melhor acepção da palavra. Eu sigo artesão, efêmero, batendo palma para a Poesia e seus poetas mais perenes...

Só me resta escrever... Ou, como diria o samurai malandramente poeta, "Não discuto com o destino: o que pintar eu assino"!

Infeliz Eternidade

Sofro na constância
De reiteradamente
Romper e nascer
Poesia já velha.

Cresço a escrever
Sem ler
O que é poetizar

Morro e renasço
Nas cinzas
De meu poema de pó

Pareço-me com um poeta
Pelos versos que imito
E pelas linhas tortas
Que do mundo copio...

(Dilberto L. Rosa, 2004)
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7 comentários:

Carla on 21 de outubro de 2012 às 21:59 disse...

Desculpe minha ousadia, mas vou dar o meu diagnóstico: indiscutivelmente poeta, crônico e sem cura!
Parabéns! :o)

Sônia on 22 de outubro de 2012 às 09:38 disse...

Hum...adorei! Vou copiar...rs


Bom dia poeta!

Jota Effe Esse on 22 de outubro de 2012 às 10:53 disse...

Amigo Dilberto, se eu soubesse escrevr bonito como tu, não sairia do teclado, meu caro. Meu abraço.

Bandys on 22 de outubro de 2012 às 13:34 disse...

Ola Dilberto,

respinga pelos dedos, a beleza de sua poesia. Os poetas tem o dom de acalentar a nossa alma e fazer o coração borbulhar.

Seja muito b em vindo la no meu canto.

Beijos

Игорь on 24 de outubro de 2012 às 12:15 disse...

Parabéns Morcego Poeta !!

O primeira estrofe, digo parágrafo disse quase tudo

abraços !!

Elizabeth F. de Oliveira on 24 de outubro de 2012 às 18:09 disse...

Caro poeta, como esconder-te por trás da poesia se as palavras de antemão te revelam? Eu, como poeta (e não poetisa, apesar de nesse caso particular rejeitar o sufixo -isa por razões próprias, embora nada tenha contra ele) reconheço outro e aqui estou diante de um legitimamente autêntico (se me permites o pleonasmo) rs.
A poesia está na alma e ser poeta é antes de escrever, sentir as emoções de forma singular, única. Mas materializar os sentimentos pelas palavras e com maestria é obra que conheces muitíssimo bem.
E toda essa prolixidade pra dizer somente uma coisa: comemores sim o dia do poeta, porque és legítimo, bem mais do que imaginas.
Abraços

Ruby on 28 de outubro de 2012 às 22:56 disse...

É sim o seu dia! Você é um poeta. Um artista que tece, entrelaça palavras que nos deixa inebriados de tanta beleza, de tanto sentido e poesia.
Pode comemorar, poeta!
Olha esse poema aí, Infeliz eternidade! É mais uma prova de que Deus te deu esse dom, quem confesso morrer de inveja (boa) de quem o possui.

 

+ voam pra cá

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