sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Amy & Tony



Quando a ouvi pela primeira vez, pensei: "Mais uma antiga de jazz que 'atualizaram' com uma roupagem moderna... Mas quem é essa cantora negra norte-americana, que lembra a Billie?!". Estava errado nos três aspectos: a música era novíssima em folha (só depois fui atentar para os palavrões da letra, coisa incomum ao 'cool' jazz de outrora) e a cantora era uma pequena e magrinha branca inglesa... Descobri o disco Back to Black e me apaixonei perdidamente por Amy Winehouse e por seu 'soul' jazz (com generosas doses de 'ska') perdido no tempo! Uma pena que aquela moça incrível também acabaria por se perder...

Desde menino que conhecia "I left my heart in San Francisco", mas foi só no final da adolescência que encontrei Tony Bennett de verdade. E ouvindo "Rags to Riches", "Boulevard of Broken Dreams", "Beacuse of You" e tantas outras na potente e jazzística voz rouca daquele baixinho narigudo ítalo-americano foi que finalmente entendi por que Frank Sinatra disse, certa feita, que o considerava o maior cantor do mundo, justamente aquele que um dia deixara o coração em San Francisco...

Dois monstros "maiores que a vida", como dizem os ianques do 'showbizz': cada um maior do que seu tempo, maior do que seu corpo franzino. Amy, infelizmente, já se foi. Tony, aos 85 anos, acaba de gravar um disco de duetos com os grandes nomes da nova geração, tal como Sinatra o fez no finalzinho da carreira ("A Voz" se calaria pouco mais de 3 anos depois do lançamento de Duets II), para despedir-se de mãos dadas com os jovens que então já pareciam teimar em ignorar uma era de ouro na Música. Graças a Deus a jovem Amy não era assim: sabia tudo do bom jazz atemporal – não por acaso, seu primeiro disco já vinha batizado de "Frank"! Lamentavelmente, ela não viveu a longevidade de Tony para principiar a dizer adeus de forma tão bela...

Nem preciso dizer o quanto me emocionei ao ver Tony na MTV (santo choque de gerações!), prestando um tributo a Amy, no VMA deste ano: "De todos os cantores que conheci nos últimos 20, 30 anos, ela era a mais verdadeira cantora de jazz, na legítima tradição de Ella Fitzgerald ou de Billie Holliday", afirmando ainda, com categoria e propriedade, que ou se é cantor de jazz ou não se é, "e Amy tinha todo aquele dom"... O comediante e então anfitrião da festa, Russel Brand, foi além: "Poderia até parecer que ela não passava de uma garota comum com um cabelo extraordinário", "mas ela era um gênio" – acrescentando que Amy "tinha uma doença", referindo-se ao uso indiscriminado de álcool e outras drogas não legalizadas pela genial cantora...

Hoje, exatos 2 meses após a morte de Amy, eu me emocionei ouvindo sua voz impecável numa de suas várias composições, Love is a losing game: não sei se pela melancolia da melodia ou se pela interpretação perdida no tempo ou ainda pela letra, "O amor é um jogo de azar", tocou-me o coração aquela voz poderosa abrindo o coração num 'pen-drive' esquecido no carro... Como é bom ver o vídeo de Amy e Tony cantando o clássico Body and Soul ("Corpo e Alma", nada mais apropriado para ela: confira acima), um belo legado de março deste ano, com duas gerações em mútua admiração. Tony está tendo todo o seu tempo, despedindo-se aos poucos e cantando até o fim. Amy terá sua imagem "retrô-tatuada" erigida a uma estranha diva pós-moderna, a despedir-se eternamente somente por meio de suas canções, numa vida interrompida comum aos grandes fenômenos (Billie se foi aos 44 anos, também vítima de drogas), para quem parece que a felicidade, assim como o amor, é um eterno 'losing game'...
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13 comentários:

Souza disse...

Bonita homenagem de fã, sem as evidências dos escândalos em função das drogas: Amy merece mesmo mais do que isso. E o Tony dispensa comentários. Abs

Anônimo disse...

Branquinha, magrinha, inglesa, judia e linda!!!! Amooooo os dois. Tony Bennet é cara do meu ex-cunhado falecido ano passado, da até aflição de ver. Adorei a duplinha. E tb o final do teu post tao contundente.
Bom findi!
Cam

Anônimo disse...

Emocionei-me pela belíssima homenagem, recordei da primeira vez que ouvi a lindíssima voz da Amy, foi amor ao primeiro som... Uma alma atormentada que partiu e nos deixou saudosos...

Lígia Calina

Unknown on 23 de setembro de 2011 às 23:04 disse...

Caro amigo Dilberto, estive meio ausente deste mundo blogueiro e "perdi" vários dos teus posts e quando desembarquei aqui, com o propósito de atualizar-me, deparei-me com a voz de Amy. Quem nunca viu uma imagem dela, ou quem ouve a música sem ver o clipe, se transporta automaticamente para um clube de jazz norte-americano e "vê" uma negra cantando envolta pela fumaça do amiente. Amy era um paradoxo difícil de entender, as tatuagens não combinavam com o cabelo, assim como sua frágil figura não combinava com o poder da sa voz. Por isso ela se foi cedo, era muito complexa para o nosso tempo, não a merecíamos.
***
Admmiro quem tem o dom de "colecionar" detalhes tão ricos sobre filmes ou músicas ou até mesmo aquela formação imbatível do seu clube de futebol. Eu adoro música, sou torcedora fanática do Internacional e amo cinema, mas mal consigo me recordar os nomes dos meus filmes, músicas, ou seja o que for, prediletos. Você, além de lembrar e falar com muita propriedade sobre o assunto, ainda o faz com tanta paixão que nos convida a também nos apaixonarmos pela sétima arte.
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Quanto ao 11/9, concordo que os americanos só se lembram do que lhes causa dor, nem sequer cogitaam PENSAR na dor que eles causaram e ainda causam mundo afora. Aliado à isso, ainda tem o fato de o terrível atentado às torres gêmeas ter sido transmitido ao vivo para o mundo todo, no que eu acredito ser o atentado mais filmado e fotografado de todos os tempos. Com tanta imagem, fica fácil disseminar a idéia de que ELES é que são os coitadinhos...
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Políticas e politicagens à parte, é uma linda cidade essa São Luis!
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Desculpe este comentário imenso e em um único post, mas não queria deixar passar em branco tanto assunto interessante em textos impecavelmente redigidos. Sou fã.

Abraços e um ótimo final de semana!

layla lauar on 25 de setembro de 2011 às 01:50 disse...

tuas letras tocam o coração de quem te lê. belíssima e emocionate postagem...

um beijo de admiração

Carla Marinho on 25 de setembro de 2011 às 07:46 disse...

Oi Dilberto, tudo bem? É que tá aparecendo pelo google que teu site tá distribuindo malware. Depois vc verifica o que pode ser. (Adoro Amy, gente como adoro)

Ilaine on 28 de setembro de 2011 às 11:29 disse...

Dilberto, que lindo os dois! Sim, ela tem uma voz poderosa. Gosto muito dela. Que lástima que já foi embora. Nem parece verdade... ainda. Obrigada por trazer Amy e Tony para nós. Haja coração!

Abraço

Luci on 28 de setembro de 2011 às 18:47 disse...

strangers in paradise na voz de TB é algo...inebriante!
qdo ouvi amy pela primeira vez pensei que era billie...
e o seu texto é tão lindo qto eles!
bj

ANTONIO NAHUD on 29 de setembro de 2011 às 11:30 disse...

A Amy tem uma voz contagiante, Dilberto. É jazz anos 50. Nem entendo como é tão popular, creio que é mais conhecida pelas "loucuras" que fez... E esse dueto com Bennett é perfeito... E Sinatra que me desculpe, mas o maior cantor de todos os tempos chama-se FRANK SINATRA.

Já o linkei outra vez... rs.

O Falcão Maltês

ANTONIO NAHUD on 29 de setembro de 2011 às 11:32 disse...

Ah, grato pelas dicas... Realmente tenho que aprender a enxugar o texto e postar um número reduzido de imagens... A questão das "pequenas" matérias tem origem em leitores que pedem que o blogue aborde o cinema atual... e como não é foco central do mesmo...

O Falcão Maltês

Ruby on 1 de outubro de 2011 às 18:53 disse...

Coincidentemente assisti esse vídeo recentemente e achei o máximo! Amy e Tony, duas gerações super diferente não só cronologicamente falando, mas ritmos, que sorte a dele porque ela logo se foi, como você mesmo lamente, ela não teve a logenvidade, a força pra lutar e viver me meio a baratos que saem extremamente caros na vida. Fica pra sempre registrada em imagens e voz essa perda. Obrigada Dilberto, pelas palavras belas que sempre dedicas ao me visitar.

ANTONIO NAHUD on 6 de outubro de 2011 às 22:04 disse...

E pensar que deixei de ir ao show de Amy em Madri...

O Falcão Maltês

Canto da Boca on 8 de outubro de 2011 às 23:03 disse...

Tenho poucos arrependimentos na vida, e um deles foi nao ter mudado a data de uma viagem e ficar no Recife para ver o show da Amy. Sempre gostei demais da voz dela, que figura num dos meus postes (http://cantodaboca.blogspot.com/2010/05/desejo-obliquo.html)

E o que dizer dessas vozes juntas?
Ah, que lindas, Dilberto!

Abraço.

 

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