segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

"Diálogos de Uma Boca Só"

Falar de amor é coisa das mais difíceis, que sempre alimentou a gana artística de muita gente, resultando ora em trabalhos belíssimos na Música, na Literatura, ora descambou em filmes, livros ou canções bregamente rasgadas e sem valor apurável... Em 2005, escrevi Diálogos de uma boca só, ironia direta para com o amor, que, embora em tantas vezes se veja numa forçada conversa (entre duas pessoas), termina preso num verdadeiro monólogo com cada interlocutor desiludido dentro do par... Sem querer, acabei tecendo 10 poemas que me renderam páginas das mais importantes que fiz, seja pela dimensão do trabalho (uma "decalogia" que, mesmo sem pretensão, possuía diferentes estilos literários para cada poema, guardando individualidades interessantes dentro dum conjunto harmônico), seja pela felicidade de, mesmo não tendo ligação aparente entre si, serem 10 formas interligadas e que se completam, 10 casais diferentes (ou um só...), 10 faces de se abordar uma felicidade que nasce arrebatadora, esquenta os mais pueris devaneios e acaba por não engrenar, “um amor que é, mas não foi”... Simples assim, sem culpas, sem mistérios: a dor e a tristeza de se amar e, por fim, não se ter...

Apresento hoje os 5 primeiros poemas, num total de duas partes, a fim de a você, meu querido e incauto blogueiro de plantão à espera de um grande amor, apresentar estes Diálogos de uma boca só...


Diálogos de uma boca só

Literalmente

Literalmente
Deitei-me nas quentes nuvens de sons
Vindas de teu coração hesitante
Ou mesmo das profundezas
De teu corpo freneticamente aberto
Para mim
Oriundos do navegar tétrico
Dos sonhos enlouquecidos
De minha amarga
E carente
Solidão
– Tudo mesmo um grande solilóquio
Sobre nada mais que os teus olhos
Antes de teu rosto
Que me lembravam algo
Maior que eu...


Versos Clandestinos

Escrevi-lhe um livro inteiro
Na clandestinidade
No apagar das luzes
Da madrugada
Ao longe da repressão.

A você eu propus
As fugas mais libertárias
Nas maiores reações
Em versos presos e sufocados
De poeta fingidor.

E, ainda que não digam tudo
Que os seus olhos tateiam em descobrir,
É para você que escrevo
Estes diálogos de uma boca só,
A procurar em sua boca
O gosto da saliva esquecida
E o retorno em silêncio
De nossa conversa morta.


Fleuma

Porque guardo em mim a fleuma
Do garoto eternamente rejeitado
Pela garota mais bonita do bairro,
A solidão que me guarda
Os versos soltos que te faço
Mente a minha própria condição
De poeta plenamente saciado.


Eterna Crônica do Amor Bandido

Na inconseqüência
De nos dizermos
Objetivos e racionais,
Sigamos atônitos
E perdidos
Na eterna crônica
Do amor bandido
Entregues às sensações
Mais banais...


Quimera

Se fosse em outra era
Era de se considerar
Nós dois numa quimera...!

(Dilberto L. Rosa, 2005)
|

25 comentários:

Érica on 1 de fevereiro de 2010 às 15:52 disse...

Eu só discordo numa coisa, que falar de amor não seja fácil. Porque não? É sim, super fácil, quando a gente realmente sente, é tudo muito natural.

E sinceramente, não tem maneira certa de declamar, escrever, cantar... É amor e pronto, a gente expõe como agrada o coração e acalma a alma.

Nesses poemas que eu li aqui tem um monte de amor, daqueles grandes e sinceros que a gente sonha sentir, e eu adoro.

Beijo grande!

Scorpys on 1 de fevereiro de 2010 às 17:27 disse...

Belos poemas,vou até roubar um para meu blog,posso?Tenha uma semana deliciosa,
beijussssss

Lulu on the sky on 1 de fevereiro de 2010 às 19:03 disse...

Lindos poemas. Qdo a gente ama fica bem mais fácil escrever sobre o amor.
Big Beijos

Anunciação on 2 de fevereiro de 2010 às 01:35 disse...

Uma quimera,o amor.Ah,se não fosse...quem dera!Adorei,e aguardo mais.Beijo.

José Viana Filho on 2 de fevereiro de 2010 às 09:21 disse...

Adorei ver que vc publicou seu poemas novamente aqui!!

Sou seu fa desde os tempos do poema morcegos. E falar de amor , dependendo do que se vive na época , pode ser doloroso, difícil e ou leve.

Dos poemas postados gostei de Fleuma e Quimera. Alias , quimera parece muito com meu estilo rsrsrsr

abs mestre dos magos e valeu pela musica da Nana

quezia disse...

Dil, falar de amor é realmente complicado...não dá pra explicar como as dimensões se interligam e como todo o foco da nossa alegria e tristeza podem transmudar-se em intervalos regulares...Gostei muito de seus poemas, principalmente de quimera, relembrou-me de tempos em que tudo parecia ser...Abraços

Anônimo disse...

Nossa uqe beleza!! Amei a do amor bandido.

dr x on 2 de fevereiro de 2010 às 11:14 disse...

AMOR BANDIDO É MINHA CARA

JÁ CHAMEI A GALERA

ABRAÇOS

POETA BANDIDO

Francisco Sobreira on 2 de fevereiro de 2010 às 11:15 disse...

Dilberto,
Apesar de difícil, você consegue falar do amor em bonitos poemas, com versos de belo efeito, como aquele "que seus olhos tateiam em descobrir". Há pouco eu comentei num blogue que tenho a tendência para gostar de poemas de poucos versos. Assim, gostei, principalmente , do "Quimera" (dizer o essencial em poucas palavras, seja na prosa e na poesia é muito difícil). Que venham logo os outros cinco. Um abraço.

Ilaine on 2 de fevereiro de 2010 às 15:09 disse...

Falar de amor... Ah!
Os poemas? Nossa, estão bonitos demais, meu poeta. Todos eles. E Quimera fecha com chave de ouro. Amigo, estou aqui ouvindo música brasileira em seu blog. Que delícia. Obrigada por este espaço tão especial.

Beijo...e alguns cristais daqui... Cristais de neve!

Érica on 3 de fevereiro de 2010 às 09:18 disse...

"Os versos soltos que te faço, mente a minha própria condição de poeta plenamente saciado..."

Não tiro isso da cabeça, só esse trechinho, perfeito.

*voltando né? rs

Beijos

Thiago Leite on 3 de fevereiro de 2010 às 14:00 disse...

Deu vontade de voltar a escrever poesia...

Marcelo on 5 de fevereiro de 2010 às 21:51 disse...

"
E, ainda que não digam tudo que os teus olhos tateiam..." amor é dificil só quando nunca se sentiu...é fogo quando só uma boca dialoga...porisso ele vc descobriu a sincronicidade deles...um era a boca, o outro era o ouvido.

Parabéns...Evoé!

abs

Unknown on 5 de fevereiro de 2010 às 22:17 disse...

Embora não ache que nenhuma maneira de falar de amor seja brega, concordo que é difícil falar de amor.
Sempre os sentimentos estarào permeando a narrativa, e isto é bom, mas torna cada verso único.
Adorei teus poemas.
E acho que amando, vale ser brega, pagar mico, e tudo o mais,rsrsrs...
Beijos

Anônimo disse...

Realmente há muitas breguices e clichês quando resolvem falar sobre o amor, mas os seus Diálogos deram um show à parte de poesia e originalidade.
Muito bonito mesmo!

Beijos e obrigada pelo comentário lá no meu Teatro.

Helô Müller on 7 de fevereiro de 2010 às 00:23 disse...

Dil!!
És um poeta nato e danado de bom, viu?! Uma overdose de inspiração, ainda que pro amor, nunca nada seja excesso, afinal ele mesmo não se basta por si só... transcende!!
Amei, viu?
Beijos cheios dele! rs
Helô

P.s. Que penas que sumimos de nossas vidas! rs Que tal voltarmos às boas?! rs Visitemo-nos mais...
Promete? rs

Helô Müller on 7 de fevereiro de 2010 às 00:27 disse...

Ah, e já te encaixei lá no meu cantinho... rs

Canto da Boca on 7 de fevereiro de 2010 às 02:43 disse...

Acho lindíssima essa imagem com que vc ilustra os poemas (as outras imagens), não só pela sedução da pequena gota escorrendo sobre os lábios, mas pela sugestão de solidão que a gota invoca, que faz um belo conjunto com os textos aqui expostos e dispostos de uma forma que nos estarrece por não sabermos qual poema eleger, qual? Com essa dúvida cruel me circundando, digo que fico com todos. E sem falar no quanto sua obra está transversalmente dialogando com a Clarice Lispecto, com o Pessoa, com o Bandeira, enfim... Não consigo não aproximá-lo dessas gandes referências da arte fonética.
Belos poemas!

Abraço!

P.S.
Para mim essa tríade é sagrada para/na música do Brasil, claro que temos outros, mais, mas esses são tambem totens de todos os tempos.

Anônimo disse...

Oi Dil,

Sentir o amor e a paixão são fáceis, mas falar de amor com qualidade poética, só para alguns eleitos como você, Dil. Parabéns pelos belos poemas!

Unknown on 7 de fevereiro de 2010 às 20:29 disse...

Dilberto as suas poesias são lindas.Você está de parabéns. Falar de amor não acho tão difícil. Quando fiz algumas poesias na minha adolescência o amor era o principal tema. Difícil é viver esse amor na sua íntegra para que não se torne " Um diálogo de uma boca só"
Viva intensamente o amor. Beijos mame.

✿ Regiane ✿ on 7 de fevereiro de 2010 às 23:54 disse...

Amo falar, sentir, viver e ler o amor em todas as suas formas possíveis e imaginárias.
Falar de amor não é difícil, eu não acho, é só deixar a emoção fluir de dentro...
Obrigada pela visita, volte sempre!
Tenha uma linda semana

Poeta Mauro Rocha on 8 de fevereiro de 2010 às 09:38 disse...

Ola!! Obrigado pela visita e pelo comentário, mas não precisei espremer nada nos versos finais,rssrsrs, porém gostei da analise.Também gosto de cinema,literatura, música e artes em geral e percebi que seus poemas de amor são muito bons e concordo que falar de amor seja algo difícil de falar, se tiver outros poemas publique, tenho certeza que seus leitores vão adorar além dos posteres tão bem elaborados e escritos em seu blog.Um abraço!!

Игорь on 8 de fevereiro de 2010 às 12:03 disse...

Oi Dilberto , fiquei sumido uns dias .

Gostei dos teus poemas , em especial da sua cara Chimera . Hmmm esta cara ficou com mais de um sentido .

Abração

Renata Braga on 8 de fevereiro de 2010 às 13:08 disse...

Oii querido!

Desculpa o sumiço... sempre venho aqui viu? Mas acaba q não comento (não por não ter o que dizer) o jeito Renata de ser, as vezes é mais forte.
Mas hoje, lendo teus poemas sobre o amor, não pude deixar de comentar.
Escrever sobre ele ou sobre suas artimanhas, pra mim até é fácil eu praticamente vivo em função dele.... a passional diriam alguns.
E confesso, ultimamente tenho pensado muito a respeito. Será melhor amar? E sentir sempre esse frio na barriga? Não sei...

Lindo todos eles, do inicio ao fim....

Eu demoro mas volto viu?

Beijo (não o último)

Catiaho Reflexod'Alma on 15 de fevereiro de 2010 às 19:40 disse...

Linda segunda de carnaval!
Bjins entre sonhos e delírios

"Quando meu amigo está infeliz, vou ao seu encontro; quando está feliz, eu o espero."
Henri-Frédéric Amiel

 

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