Sempre chove nos carnavais
Lágrimas temporais
Escorrem.
E um grito abafado
Na lama
É pisado por algum folião distraído.
(Dilberto L. Rosa, Um breve desabafo em antítese, 1998)
Domingo atemporal
De velhos carnavais:
Silêncio na ressaca
Do povo que se guarda
Pra quando a noite chegar,
Quando a banda passar
E a cachaça fazer tremer...
Da carne trêmula exposta
Que balança e sacode e se contorce
E se apodrece ao sol que racha
Ao meio dia
Resta a maisena e o perfume barato
Na pele molhada do sexo,
Do samba, do suor e da cerveja...
Amanhece e anoitece
Que o carnaval já vai acabar:
Adeus à tua boca e ao teu corpo
Que conheci ainda há pouco
No sangue deixado pra trás,
Em cada paralelepípedo arrepiado
Da velha cidade a cantar...
Fofão, folião, língua adentro
E o torpor não me faz descansar
Diante de ti, nua e coberta
Da fantasia da já quase morta folia
No corpo que vacila e se rescinde
À beira da terceira madrugada que anuncia
A cinza de nossos doces infinitos...
Tudo acabado entre nós
Cada qual acabado a sós
– Mas jogo água por cima
Lavo tudo com a língua,
Limpo os pratos das orgias,
Recrio a rima da minha folia
E estico minha sina pra depois...
(Dilberto L. Rosa, Morcegos em São Luís, 2000/2007)
0 comentários:
Postar um comentário