domingo, 28 de maio de 2006

Reunião para o Hexa!

Pedindo desculpas aos parentes pelo atraso à reunião da família devido a um batizado na vizinha cidade balneária de São José de Ribamar (nada mais familiar!), corramos para a frente da TV, a torcer pelo Brasil em mais uma Copa do Mundo (pelo menos deu tempo para fazer a pipoca)! Participando desta peleja, rumo ao hexa: Marco Santos, Lelinha, Luiz Henrique, Micha, Júnio, Advi e Makoto.

Reunião da Família Morcegos

"Quem não gosta de samba bom sujeito não é/ Ou é ruim da cabeça ou doente do pé", já diria Caymmi. E o que dizer do Futebol, cultura das mais emblemáticas de nosso País? Minha história com o esporte bretão é antiga, embora um tanto quanto complicada: de infância sofrida pela falta de habilidade com a bola nos pés, depois de muitas escalações tristes na zaga ou no gol, acabei por optar pelo vôlei na adolescência. Mas nada que me tirasse o interesse pelas peladas com os primos e amigos perebas nas praias de São Luís, nos fins de semana, tempos atrás...

A primeira Copa a que assisti foi a da Espanha, com o escrete mágico de 82: aquele com Zico, Sócrates, Júnior, Falcão... Aquele time dos sonhos que acabou sendo um banho de água gelada tão grande como a tragédia de 50, já que o clima brasileiro de "já ganhou" era nas mesmas proporções... Mas, como tinha apenas 5 anos, o sofrimento só viria com a Copa de 86 (nem tanto assim: quem chorou mesmo foi meu primo!), com aqueles fatídicos pênaltis de Sócrates e Zico, fim injusto para uma ótima seleção comandada por um Telê que só teria sua recompensa anos depois, com o bi mundial pelo São Paulo...

E o que dizer de 90? Maldita água argentina... Por tudo isso, 1994 foi, enfim, a Copa da minha vida: não só despachou para trás meus últimos anos de inocência, uma vez que terminava naquele ano o segundo grau rumo à faculdade, como também poria por terra mais de duas décadas de falta de fé no nosso maior orgulho nacional! Mãos dadas, Romário e um time na raça, depois de alguns jogos memoráveis – como aquele inesquecível 3 X 2 contra a Holanda –, ergueriam, sob palavrões de um Dunga possuído, a tão sonhada "taça" (o feio troféu Fifa)! 

Ainda hoje acompanho todos os jogos – mesmo aqueles cansativos e fora de hora do Japão e da Coréia: valeu o sono, éramos campeões novamente! Torço e vibro bastante, ainda que sem nenhuma superstição ou ritual de bebedeira ou pipoca! Assisto tudo mesmo a seco, sem exageros nem camisas verde e amarelo. Mas tem que ter raça! Senão esmoreço, tal como fiz em 98, naquela final sem explicação até hoje, com a França... Se houver ainda, algum dia, outro daqueles jogos, juro que torcerei pela seleção adversária!
A Copa da minha vida...

domingo, 21 de maio de 2006

Ligeiro... E Grosso!

Uma das seções mais populares destes poucos mais de dois anos de Morcegos no extinto Weblogger foi, sem dúvida, a Ligeirinhas: iniciada em novembro de 2004, este quadro nasceu da dificuldade de arranjar tempo para manter longos textos semanalmente (à época, as já conhecidas colunas Vertebral dominavam o meu espaço virtual), o que me levou a fazer pequenos textos carregados de humor e com ritmo escrachado, por vezes no nível dos trocadilhos infames do Casseta & Planeta, sobre as principais notícias de então – mais ou menos com o mesmo ritmo dos desenhos Looney Tunes, de que sou fã absoluto (e, não por acaso, com um dos seus famosos personagens, o Ligeirinho, estampando a abertura)!

Recentemente voltei a editar novas Ligeirinhas (fevereiro deste ano) embora, já há algum tempo, não teça alguns de seus dribles por aqui... Por isso, para matar saudades dos melhores momentos desta seção, escalei um medley com croniquetas de diferentes épocas (já que, em média, eram publicados três textos por seção) para a RETROSPECTIVA de hoje...

RETROSPECTIVA
Seções/Colunas
LIGEIRINHAS

Intervenção na Rede TV - Urgente! Já que televisão é uma concessão pública, o Governo deveria fazer alguma coisa contra esse canal: a única coisa que presta (olha o gosto duvidoso...) é o Pânico na TV! Pelo amor de Deus: se Luísa Fel e Lucianta Gimenez já são demais, só com a cadeira elétrica se faria justiça quando se trata de Clodovil ou de João Cléber! Como é que dá para aguentar um sujeito quatro horas no ar fazendo arranjos de flores e se elogiando o tempo inteiro? Ou, pior ainda, gritando "PARA, PARA, PARA!" o tempo inteiro só para criar "suspense" entre "pegadinhas" armadas, bombásticos "segredos" a serem revelados ou "testes de fidelidade" mal ensaiados e erotizados no limite? Pois é: um ex-estilista e um ex-humorista que ninguém aguenta mais... Que saudade das inúmeras reprises do Jerry Lewis no TV Magia, com o Rubens Ewald Filho, e da Marília Gabriela no De Frente com Gaby...

Arrocha o Meio! Todos aprendemos na escola que o Maranhão e o Piauí se localizam no Meio-norte (tendo mesmo o Estado do Maranhão parte da Amazônia legal). Assim, neste pequeno "rego" (não será grande?) entre o Pará, o Ceará e a Bahia, parece que estamos sujeitos aos piores tipos de influência musical já existentes – e olha que chamar Calipso, Forró (ou o que chamam hoje de forró...) e, o mais recente e esdrúxulo "estilo", o Arrocha, de "música" já é forçar bastante! O pior é que o mal gosto já tomou conta das rádios de São Luís e parece que, por um bom tempo, as porcarias vão continuar troando e ecoando por aí... Socorro!

Santa Presepada! Recomendo a todos os programas na TV da Igreja Universal do Reino de Deus, especialmente os inúmeros apresentados em diferentes canais ao longo da programação local. Calma, pessoal, eu não "me converti" – apenas gostaria de compartilhar um dos melhores programas de humor que já vi! Sim, pois é tanta loucura que só morrendo de rir para acompanhar! E tome nomes esdrúxulos de sessões de "ofertas" bem pagas pelos pobres fiéis, como "Corrente dos 318", "Sessão de Descarrego", "Jejum das Causas Impossíveis", "Corredor da Fogueira Santa de Israel" e por aí vai, cheias de rococós e simbolismos completamente deturpados da Bíblia! Só para citar dois exemplos, já vi, pela TV, toda a igreja de guarda-chuvas aberto porque iriam "chover bênçãos" ou uma leva de não sei quantos pastores fazendo um corredor com uma imensa manta a cobrir a passagem de fiéis por baixo, a fim de receber uma "glória"... Sem esquecer que, a cada corrente, o "cenário" do altar (ou seria palco?) muda, conforme o "tema": já foi réplica do Monte Sinai feita de papelão, fogueiras gigantes com papel celofane tremulante e até uma imensa cama foi instalada, onde um pastor e sua esposa falavam sobre "bênçãos conjugais"! Mas o pior mesmo são as intensas "correntes dos empresários", a pregar que Deus quer abastança e as dificuldades financeiras são coisas do Demônio... Mas Jesus não era pobre e pregava a caridade? E não era o Cristo mesmo que dizia que o Reino de Deus não pertencia a este mundo? Então chega de espetáculo: fé não é show pirotécnico em busca de milagres pagos!

A Popova da Sharapova: Anna Shorina e suas amigas russas de sobrenomes de duplo sentido, medalhistas de ouro no nado sincronizado, depois de usar um samba na apresentação em Atenas e ganhar das brasileiras, vieram aprender a sambar no Rio de Janeiro... Mês que vem nossas meninas seguem pra lá para aprender a nadar!

"Pega ele aí, pega ele aí... Pra quê? Pra passar batom...": alguém aí viu o Luís Caldas nas imagens de um dos 'shows' do Festival de Verão de Salvador, ou só eu consegui graças aos meus dotes supramediúnicos?!

(Dilberto Lima Rosa, 'blog' Morcegos: 'posts' dos meses de novembro e dezembro de 2004, e de fevereiro de 2005, no Weblogger, e de fevereiro de 2006, no Blogspot)

quinta-feira, 18 de maio de 2006

À Margem...

Devagar e Sempre

Por minha visão bolorenta
E por meus ouvidos sujos
Acompanho a morte em minha volta
Tomar conta de tudo
Enquanto tomo conta do nada...

Enquanto isso
O mato cresce à margem da estrada de terra
Por onde acabei de passar
E os insetos por lá
Dão início a uma muda revolução...

(Dilberto Lima Rosa, À beira do derradeiro solstício..., agosto de 2005)

sábado, 13 de maio de 2006

Hoje é meu aniversário!

Hoje não ligo para ninguém, não visito ninguém... Mas também não fico aguardando homenagens, muito pelo contrário: mais das vezes, fico envergonhado com as palavras mais rasgadas de afeto pela ocasião... Adoro a sensação de envelhecer, ao contrário de muita gente! Reflito sobre mais um ano e agradeço por tudo que recebi, sem deixar de pedir luz para aprender com o que perdi... E sigo; e é só! Porque hoje é meu aniversário e não cabe aqui falar de mim – deixem que falem a meu respeito! Especialmente que amanhã é dia das mães e a mim cabe mesmo é fazer homenagens, onde me sinto bem melhor, especialmente a esta grande mulher maternal... E a melhor forma que encontrei de unir estas datas comemorativas foi adiantar um pouquinho a RETROSPECTIVA de amanhã e, pela ocasião especial, torná-la mais especial ainda: repito duas publicações marcantes do ano passado: a primeira, do dia 13 de maio, quando meu irmão teceu-me uma bela homenagem (toda o post está republicado na íntegra; por isso, lá, ainda estou completando 28 anos... ); o segundo, em homenagem às mães, saúdo D. Dilena com um poema de minha autoria e abraço a todos estes seres mais que abençoados chamados de mães.
RETROSPECTIVA
Datas Especiais/Homenagens
Não, este "superbebê" da foto não sou eu: fico devendo a foto do pequeno Dilberto 
(ainda não consegui um scanner que me valesse...)

Há exatos 28 anos (quase exatos: nasci à noite, às 23:30) eu cheguei ao mundo e comemoro este aniversário juntamente às superstições da sexta-feira 13 (nasci numa!) e aos remendos de séculos de exploração racial com os irmãos negros (dia da abolição da escravatura, para quem não se lembra das aulas de História!), em meio às procissões católicas de Nossa Senhora de Fátima (mas não sou católico...) e parceiro de aniversário de uma grande cantora que admiro muito, dona Abelim Maria da Cunha, nome verdadeiro da fluminense Ângela Maria, a eterna Sapoti (de 13 de maio de 1929): a ela, os meus parabéns!

Mas hoje não falo de mim: deixo que os amigos o façam... E, meu irmão Dilemberto, o famoso Lima Garotinho, fez para mim uma bela homenagem em forma de poema (havia outro, mas, numa dessas manhãs de bebedeira, quando ele escreve os seus arroubos, parece tê-lo perdido...). Obrigado a Deus e aos companheiros de trajetória: sigamos mais um ano de estrada...
Mano

O núbil de agora,
um novo de antiguidades
Cultura de pernas
e longas estradas virgens...

Diria - um moxa...
...para cicatrizar a incultura!
Um eterno ermitão
na fuga do mau som.
Um lânguido de ações
mas um terremoto
quando as toma.

Berço esplêndido do saber,
olhos de caça,
como águia,
à presa do erro das frases tortas...

Mano velho
de idade nova,
de florestas em opções,
de única mulher:
Cante tua voz,
que ela ecoe
num absurdo de sons
apagando a ignorância...

Lima Garotinho

(Dilberto Lima Rosa, Morcegos/Weblogger - post do dia 13 de maio de 2005)

Diante das mães, parecemos crianças... Logo, qualquer homenagem que se faça se faz sem graça, infantilmente, como se não houvesse palavras para descrevê-las em sua plenitude (ou mesmo porque voltamos ao passado e ficamos abobalhadamente envergonhados diante daquela senhora que tudo sabe de nós). À minha adorada mãe Dilena (também mãe de meu único irmão Dilemberto, o famoso Lima Garotinho), o meu sincero e infantil obrigado, em todos os clichês inimagináveis de carinho e devoção (e em meu "poeminha" à Vinícius, como se criança eu ainda fosse...). Às minhas avós, D. Raquel e D. Marieta; às tias, primas e amigas que já são mães (como a querida Léo, mãe da linda Alice, que, por acaso, aniversaria hoje) e a todas as mães dos amigos que tanto já me receberam com afeto, atenção e bons lanches e almoços... Meus mais sinceros parabéns!

Em Homenagem a D. Dilena

Mãe de todos os clichês
Da Rainha do lar à Santa no altar
Mãe Maravilha
Busco poesia
Ao te exaltar,
Aos brados,
A beleza além da concretude
De tua vida reta
De teu porte impecável...

Eu, que de ti herdei
Os olhos, a boca e o cabelo,
Sigo como um espelho
A te imitar a arte da perfeição
De teus valores corretos
Diante do incerto
De minha vida

A bênção, senhora,
Tu que acompanhas ao longe
Os meus versos infantis,
Releva a tosca lembrancinha
Que fiz e que a ti oferto,
Eterna fonte em meio ao deserto
De meus pensamentos...

Jovem e bela morena
Das longas madeixas
Do retrato em branco e preto
Senhora do cenho fechado
E da alma aberta
Diante do cerne da questão
Fala e ensina aos quatro ventos
O que é ser mulher de plantão
E mãe, a todo sempre,
Diuturnamente...

Luto em converter
Este fraco poema
(A curvar a poesia em tua deferência)
Mulher, acima de todas as mães)
Em homenagem à Dona Dilena
- Que se quebrem todas as penas
Por sobre os papéis mais ásperos
Que a vida te deu
Na mais sincera e pungente
Poesia
Que é o viver
Ser
Filho teu

Dilberto Lima Rosa

(Dilberto Lima Rosa, Morcegos/Weblogger - post do dia 08 de maio de 2005)

quarta-feira, 10 de maio de 2006

A Segurança da Bola

Na semana passada, só o que se discutia era a lista dos convocados que o culto e sóbrio (ainda que turrão, como todo técnico) Parreira divulgaria nesta segunda, dia 15 – já se brincava até sobre a certeza da reeleição de Lula caso o Brasil se sagrasse hexacampeão, numa clara e irônica alusão ao fascínio que a Copa causa nos brasileiros em época de eleição, desde os plúmbeos tempos da Ditadura Militar...

Entretanto, diante de um final de semana onde o povo brasileiro assistiu atônito a perda de centenas dos filhos deste solo de uma mãe gentilmente desamparada pelas suas instituições, que parecem disputar com criminosos o título de organização mais letal! Sem esquecer os governantes, de olho mais nas próximas eleições do que nas próximas gerações... Nem assim o brilhantismo da Pátria de Chuteiras, único orgulho de uma nação de espírito vira-lata, foi ofuscado pela realidade nua e crua de que, enquanto o Estado só se organiza na hora de oprimir e o Crime segue organizado na velocidade da tecnologia dos celulares mais modernos de dentro dos sistemas carcerários mais antigos!

Em ano de eleições, quando tantos relembram já com a voz rouca que é preciso "saber escolher seus representantes" e todo aquele blá-blá-blá só esquecido com uma grande jogada de Ronaldinho Gaúcho, de se lembrar também que não existe salvador da Pátria que consiga resolver os problemas de uma Nação secularmente regida pela corrupção e exploração! Assim, há de ser ensinado ao mesmo povo que gasta seus parcos trocados com bandeiras e adereços em verde e amarelo pela Seleção que patriotismo tem de ser entendido como algo maior que os sofismas de festas esportivas ou do infame "ame-o ou deixe-o", muito mais abrangente que o universo político que fez uma inteira massa de "caras-pintadas" manipuláveis, certo tempo atrás, vestir-se de preto, sem saber depois que rumo tomar...

"Cortem-lhe a cabeça" (e a barba, meu amigo, coloque de molho!): desse jeito, o Brasil continuará em berço esplêndido, modorrentamente aguardando o dia de acordar como o tão prometido País do Futuro! E o povo, contando os dias para o maior torneio de futebol do Planeta e discutindo o "sexo dos deuses" ("seria Ronaldinho Gaúcho o novo Pelé?"), deverá saber, além de "votar certo", seguir os eleitos com a bola no pé até o final dos quatro anos do mandato ("Diz-me com quem andas..."), sem esquecer que o acontecido no último final de semana bem que poderia ter sido evitado se se pudesse banir com um cartão vermelho o maldito jeitinho brasileiro de empurrar para debaixo do tapete verdinho a sujeira da corrupção, que se alastra do membro do PCC, passa pela Polícia, e segue até os grandes da "Justiça", que seguem com mimos e celulares sempre prontinhos para tocar na hora errada...

Sem esquecer a infame barriga de chope de decisões políticas que nunca chegam e empurram tudo para depois do carnaval, da Copa, enfim, para depois de o circo e de vários estados deste País pegarem fogo... E logo a "barriguinha", orgulho dos atletas de final de semana, que, além de não jogarem nada, já se esqueceram de em quem votaram nas últimas eleições! E agora, nesta "segunda de eleitos" especiais, as televisões, enfim, lembraram-se de que devem usar seus espaços com algo mais que as suas cretinas programações e discutir assuntos de relevância nacional, como concessionárias de serviço público que são, e exibiam em seus canais programas sobre o tema "atual" da (in)segurança pública nacional...

E eu, que fui assaltado à mão armada há pouco mais de duas semanas, tendo meu celular roubado para servir mais adiante a grupos criminosos que seguirão a se comunicar, bem ao contrário da Polícia (para quem nem pude comunicar a ocorrência por causa de uma greve estadual), depois de um estafante dia de trabalho e estudo, ligo a televisão ao chegar a minha casa e descubro que o meu Brasil está quase todo unido, ainda que por alguns instantes apenas, em torno de algo a mais que o esporte bretão – estão discutindo o jogo "Crime Organizado e Polícia do Massacre" 500 X 0 "Sociedade Apática"... E digo "quase todo" porque, rolando os canais, pude encontrar a Globo a exibir mais um enlatado boboca na Tela Quente, Um Monge à Prova de Balas... Realmente, tudo de que o Brasil precisa! Além, é claro, do Futebol...

domingo, 7 de maio de 2006

KUBRICK!

Depois de minha breve lista de interesses atuais (e não de pedidos, frise-se!) diante de mais um aniversário, os Morcegos seguem com mais uma RETROSPECTIVA, hoje passeando sobre uma rasgada homenagem a esse que talvez tenha sido o mais completo diretor da Sétima Arte: Stanley Kubrick. Curiosamente, esta crônica jamais foi publicada neste humilde espaço virtual, embora tenha ficado muito conhecida no dileto blog do amigo Luiz Henrique.

RETROSPECTIVA
CINEMA

O que os perturbados Jack Torrence (Jack Nicholson, à esquerda) e Alex DeLarge (Malcolm McDowell, à direita) têm em comum? Além da loucura, foram brilhantemente adaptados para o Cinema pela genialidade de Stanley Kubrick (no centro).

Minhas Memórias Kubrickianas


Lembro-me da primeira vez que assisti a um filme de Stanley Kubrick, ainda que nem mesmo soubesse, à época, de quem se tratava (embora já houvesse visto Spartacus quando ainda bem menino): O Iluminado, de 1980, que vi em vídeo numa noite de sábado repleta de filmes alugados. Nem é necessário dizer o quanto isso havia sido uma má ideia em vista da idade que eu tinha, por volta dos treze, e que aquele desfile de terror psicológico se tornaria bem mais assustador naquela avançada hora... Baseado num romance de Stephen King, este filme acabou se mostrando um famoso exemplo de adaptação melhor que a obra original (anos depois eu leria o livro), focando mais, por exemplo, no lento enlouquecimento do personagem Jack Torrence (interpretado magistralmente por Jack Nicholson).

Dava eu os primeiros passos no universo cinematográfico naquele início da década de 90, não me ligando ainda em associar um filme ao seu diretor (pecado tão grande quanto ler um livro sem saber o escritor), e assim seguia vendo os vários lançamentos mensalmente despejados nas locadoras, até que o então último trabalho de Kubrick, Full Metal Jacket - Nascido para Matar (1987), era a novidade dos pôsteres e comerciais do setor. E foi acompanhando aquele impactante libelo contra a estupidez da Guerra do Vietnã que constatei a versatilidade do seu autor e sua forma diferente, pungente, de filmar... Logo descobri que se tratava do mesmo diretor de O Iluminado, sua obra anterior (1980) – a que, coincidentemente, assisti antes. Daí percebi mais uma curiosidade: apesar de serem filmes de gêneros diferentes (e bem díspares: Terror e Guerra), ambos eram excelentes e guardavam aspectos similares, identitários do seu autor: narrativas em 3 atos; protagonista perdido em meio ao caos; construções de imagens simetricamente filmadas etc.

Tempos depois, já tendo visto a maioria dos filmes de uma locadora do bairro, descobri, quase por acaso, 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968), obra um pouco mais antiga, porém famosíssima tanto na Literatura quanto no Cinema, a que nunca havia assistido por completo, a não ser por alguns trechos nos Corujões da vida, antes de dormir. E lá estava ele outra vez, Kubrick, numa revolucionária produção inglesa (como a maioria de seus trabalhos, já que adotou a Inglaterra como seu refúgio desde os anos 60), tanto nos estonteantes efeitos especiais como na brilhante e poética narrativa, que traçava um elo entre o homem e as fronteiras do desconhecido, desde os tempos das cavernas até o futuro da corrida espacial, ao mesmo tempo em que já discutia um tema tão atual como a inteligência artificial, tudo alinhavado com as inesquecíveis valsas de Johan Sebastian Strauss e feito em plena década de 1960! Definitivamente, eu estava crescendo no entender o Cinema, e, com certeza, aquele diretor estava me ajudando bastante!

Depois se seguiriam em minhas retinas obras geniais da Sétima Arte, de diferentes grandes diretores, e, dentre elas, todas do rol de produções da brilhante e coesa carreira de Kubrick (bem, quase todas, pois ainda estou devendo ver Medo e Desejo, de 1953, seu primeiro longa) – desde a força do noir A morte passou por perto (1955) e a trama envolvente do thriller O Grande Golpe (1956) que marcaram os primeiros trabalhos menos lapidados, porém não menos interessantes, passando pelo grandioso Drama de Guerra Glória Feita de Sangue (1957), com um impecável Kirk Douglas, até o magistral épico Spartacus (1960, repeteco na parceria com o ator/produtor Douglas, que acabou se desentendendo com o diretor: "Stanley was a bastard, but a talented guy!"), Kubrick mostrava seu talento com assinatura.

Mas foi a partir de Lolita (1962), polêmica adaptação do famoso livro de Nabokov sobre a tragicômica obsessão de um professor por sua enteada adolescente, e de Dr. Fantástico ou Como deixei de me preocupar e passei a amar a bomba (1964), sua única Comédia, sátira mordaz contra os bastidores políticos da Guerra Fria (com um genial Peter Sellers em papel duplo), que Stanley passou a mostrar mais de sua verve autoral, como seu costumeiro estudo do comportamento humano com uma fina camada de ironia cobrindo tudo! E foi com duas obras-primas de Ficção Científica que veio a consolidação do "estilo Kubrick": além de 2001 - Uma Odisseia no EspaçoLaranja Mecânica (1971), tão bom quanto o brilhante livro de Anthony Burguess, a coroar o anti-herói Alex (um genial Malcolm MacDowell) como um dos maiores personagens do Cinema na brilhante sátira sobre violência, sociedade e Estado opressor, coroou Kubrick como um revolucionário! 

Depois de Barry Lindon (1975), excepcional trabalho de fotografia (muitas cenas são como verdadeiras pinturas) e reconstituição de época para narrar as venturas e desventuras de mais um anti-herói (Ryan O'Neal), agora um irlandês no século XVIII, e O Iluminado, no início da década de 80, Stanley Kubrick ficaria quase dez anos sem filmar nada. E, posteriormente a Nascido para Matar, levaria mais de uma década até o seu derradeiro trabalho, o estranho suspense onírico e erótico De Olhos Bem Fechados (1999), com o ex-casal Tom Cruise e Nicole Kidman, tamanho o seu preciosismo e suas cada vez mais exigentes manias de perfeccionismo, que acabaram lhe custando a fama de difícil e o fato de ter morrido sem ver seu último filme nos cinemas. 

Tanta genialidade foi acumulada durante a mais consistente e coerente carreira cinematográfica de todos os tempos: tendo experimentado os mais variados gêneros e formas de narrativa (ainda que sempre embasado no seu "estilo épico" de 2 ou 3 atos teatrais para contar uma estória), qualidades reservadas para muito poucos neste mundo de arte cada vez mais sem poesia (e geradora de polêmicas artistísticas, como com o igualmente gênio russo Andrei Tarkovsky), Stanley Kubrick construiu um Cinema tão atual quanto estético, tornando-se uma obrigatoriedade para todos os que querem crescer no entender, ver e sentir a verdadeira Arte do Cinema...

(Dilberto Lima Rosa, 2005 - revisitado)

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Eu nasci há 10.000 anos atrás...

É mês de aniversário! Não mais do blog, mas do dono do blog: eu, Dilberto L. Rosa, completarei 29 anos no próximo dia 13. E, como é comum vermos listas de desejos em muitos blogs, resolvi "chupinhar" a ideia, mais para mostrar aos fiéis visitantes os meus atuais interesses de consumo que para pedir presentes para os amigos – se bem que, se alguém se compadecer e quiser ofertar a este humilde escritor o Box de DVDs O Poderoso Chefão, eu não terei do que me queixar...
    
Como minha filmoteca ainda é pequena (35 títulos em DVD e 30 em VHS, com a maioria mofando por falta de VCR), os maiores interesses atuais estão nos chamados boxes: The Woody Allen Collection, reunião de 5 títulos já lançados do mestre novaiorquino (infelizmente sem extras, porém contendo meus favoritos A Era do Rádio e Hanna e Suas Irmãs); Batman (edição especial em dois discos); Ghostbusters (edição de luxo com 2 Discos, contendo os dois filmes e dezenas de extras), O Poderoso Chefão (5 discos, com os três filmes, mais horas de cenas adicionais e pequenos documentários com entrevistas), ...E o vento levou (4 discos), TV Pirata (DVD duplo com o inesquecível humorístico global), afora muitos outros títulos (O Professor Aloprado, Errado pra Cachorro e Mensageiro Trapalhão, todos da Coleção Jerry Lewis; as edições especiais de La Strada e La Dolce Vitta, do gênio Fellini; O pecado mora ao lado, do mestre Billy Wilder; e X-Men 1.5 completariam a lista cinematográfica).

E apesar de andar completamente sem tempo, estou sempre comprando livros e ando de olho nos seguintes lançamentos: Araca: Arquiduquesa do Encantado, de Hermínio Bello de Carvalho, Chico Buarque Letra e Música Almanaque dos Anos 80 de Luiz André Alzer e Mariana Claudino. Por fim, pra não dizer que não falei de música, ando bastante interessado em algumas trilhas sonoras, como as dos filmes O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, Blade Runner - O caçador de Andróides e Os Irmãos Cara de Pau (obra-prima absoluta de John Landis, sobre a qual, em breve, tecerei rasgadas homenagens).
Afora alguns outros mimos que não me vêm à mente no momento...

terça-feira, 2 de maio de 2006

A Lente do Artista

Hoje é um dia especial para uma pessoa especial, um verdadeiro amigo da Sétima Arte que as correntes virtuais me trouxeram graças a este dileto espaço virtual: Luiz Henrique faz aniversário! A ele os meus mais sinceros parabéns, com desejos de muita saúde, paz e força para seguir por muito tempo com aquele seu bom coração e aquela sua cabeça cheia de talentos múltiplos – afinal, além do Under Pressure, onde costumeiramente tece suas ótimas, porém desacorrentadas homenagens cinematográficas (com notas acima da média do que muitos filmes mereceriam!), ele escreve para vários blogs, em especial para o Culture Rangers (em que prometeu tecer análise sobre meu poema Florbela – quanta honra!). E, mesmo diante de todas as adversidades (como as muitas por que infelizmente tem passado ultimamente...), ainda consegue erguer a pena virtual e dedilhar excelentes crônicas, tal como o fez na que muito honrosamente apresento hoje nesta ROTATÓRIA ESPECIAL - a qual agradeço de coração a dedicatória carinhosa ao casal Rosa (a Jandira manda um beijo para os seus)!

ROTATÓRIA ESPECIAL
A Lente do Artista

O Amor Convexo
(ou Crônica de hospital #1)

Perguntaram-me qual é a semelhança entre o Coelho da Páscoa e o amor. Não sabia a resposta, mas ela logo veio: não importa, nenhum dos dois existe mesmo.

Piadinha corrente essa, principalmente nessa época de festas de páscoa. Mas, quando a escutei, algumas semanas atrás, fiquei roxo de rir, pois para mim ela fazia sentido. Daí, deitado no leito de um hospital sem nada de mais útil para fazer, resolvi pensar, pensar e ponderar. Até onde essa piadinha é verdade?

Não, meus amigos, não pensem que eu vou discutir a existência do coelho de olhos vermelhos, pêlo branquinho e de pulo bem leve. O que me intriga, o que acabou por consumir todo o tempo que fiquei aqui, deitado com um vidro de soro pendurado ao lado da minha cama, é justamente a existência do amor. Que bicho é esse? Ele tem garras? Ele faz com que a nossa pele fique pinicando quando chegamos perto dele? Ele se parece com uma girafa desengonçada? Pois bem, gastei todo o meu tempo pensando sobre ele. Afinal, que raio de coisa é essa chamada amor?

Eu nunca acreditei nessas coisas. Pra mim, existia paixão e coisa e tal, atração entre homem e mulher, ou entre mulher e mulher, homem e homem, mulher-barbada e anão-de-circo. Existe gosto para tudo nesse mundinho de Deus. Mas amor é um exagero. Daí, passei a pensar o quanto nossos pais deviam se gostar para nos fabricar, digamos assim (claro que existem exceções – mães solteiras estão aí para provar). Sempre havia imaginado que as pessoas só ficavam juntas e cometiam casamento (para mim, qualquer coisa que precise de juiz e testemunhas é crime) porque sentiam apenas atração entre elas. Pois bem. O hospital me fez pensar melhor.

Um caso hipotético: como não quero cair no clichê de fazer a típica historinha entre homem e mulher apaixonados, vou fazer uma diferente, inspirada pela montanha Brokeback, que eu revi dia desses no cinema. Um caso típico de amor entre dois iguais (senhoras puritanas, não se choquem: é um caso apenas hipotético, para ilustrar o que quero dizer!). Eram dois. Um morava no interior, outro na capital. Conheceram-se durante uma festa de uma amiga em comum. E foi aquela coisa bem brega, tipo "amor à primeira vista". Sentaram e conversaram, até que a coisa aconteceu. E ali o rapaz do interior notou que estava apaixonado. Oh, surpresa geral! Quem iria imaginar uma coisa dessas? O que ele não esperava é que o coleguinha da capital parecia estar correspondendo. Pronto, foi aquela coisa que todo mundo que já se apaixonou pelo menos uma vez na vida sabe como é. Ligações, mensagens de texto no celular, suspiros e "ohs" por todo lado. Avoados, os dois. E de repente, um sugere ao outro o fato de namorar. Escândalo na sociedade! Ninguém iria tolerar isso. Até que o amigo enamorado da capital diz: "– Dane-se o resto! Eu gosto de você, você gosta de mim, eu te amo e você também me ama!". Vendo por esse lado, o outro topou e hoje eles só não casaram porque a legislação não permite. Enfim, essas coisas...

Diante de tal caso, passei a crer que o amor não escolhe a quem afetar. E que ele existe, mas de uma maneira diferente do que os parnasianos e românticos do século XIX pensavam. Não é aquela coisa de se matar por causa da amada; o amor também acaba, assim como o dinheiro no fim do mês e as músicas dos Engenheiros do Havaí (muitos ainda acreditam que as musicas deles não têm fim, a ciência ainda tenta provar o contrário). "Ainda que eu falasse a língua dos homens, que falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria". Isso é a melhor definição do amor que existe. Mesmo sem perceber, a gente ama alguém, ama alguma coisa, e isso nos dá condições de viver. Então, o amor nada mais é do que o combustível que alimenta a nossa alma e que nos faz querer acordar no dia seguinte. É o nosso motivo, é o nosso propósito.

Talvez isso explique os bilhetinhos apaixonados, as mensagens açucaradas no Orkut, os carinhos e o fato de que saber que amamos e somos amados por alguém dá um novo sentido a nossa vida. Casais exemplares existem aos montes: Romeu e Julieta, Albert Einstein e Mileva Maric, Adão e Eva, Dilberto e Jandira, entre tantos outros que estão sempre aí para nos mostrar que o amor existe, sim, senhor, e que um dia ou outro ainda seremos enganados por ele, e que isso pode afetar a nossa vida toda.

Ah, voltando, sabe qual é a semelhança entre o coelho da Páscoa e o amor? Eu já respondo: o Coelho da Páscoa existe para quem acredita nele. O amor também...

(Luiz Henrique Oliveira, abril de 2006)
 

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