domingo, 30 de abril de 2006

POST N.º 50
MORCEGOS EM FESTA:
ANIVERSÁRIO DE DOIS ANOS!

RETROSPECTIVA ESPECIAL
Minha Primeira Vez...

Como vocês poderão ver, a coisa toda não mudou muito de lá para cá, a não ser o fato de que o blog ficou muito mais visual com o passar dos anos (nesta minha primeira postagem, por exemplo, não havia uma só imagem, a não ser aquela que se tornou o símbolo deste blog, com o sinal do morcego numa lua um tanto quanto 'fake', que até hoje não sei onde minha amiga Adriana achou...) ou ainda a razão da 'ojeriza' inicial a respeito dos "diários virtuais", situação que, aos poucos, foi sendo atenuada com o conhecimento de ótimos diários de hoje parentes minhas - sem esquecer que eu mesmo, ainda que de forma tênue e discretamente imiscuída em textos literários, hoje também fale de meus arredores... Curiosamente, depois deste post, fiquei sem publicar por algum tempo, e o mês de maio permaneceu bastante irregular, até que o blog, no início do mês de junho, parou depois de "muita coisa ter perdido a graça...", até o final de julho, quando os Morcegos voltaram a voar e nunca mais, desde então, deixariam o espaço virtual (primeiramente no Weblogger, depois no Blogspot)... Com vocês, minha primeira publicação, na íntegra:

MORCEGOS
CINEMA, LITERATURA E ARTES EM GERAL

Eis que surjo no Espaço Virtual (ou Cyberspace, como querem os internautas profissionais), mais precisamente na página de um 'blog' (com aspas simples, por tratar-se um nome oriundo do Inglês; detesto estrangeirismos). E devo isto à minha diletíssima amiga, Blogmaster e amante dos Beatles, Adriana, ou "Drika4ever", para os "blogueiros" de plantão - foi ela quem me "convenceu" a entrar neste novo mundo, sem chance de retorno, e que me ajudará na dura tarefa de atualização deste espaço, uma vez que domina o universo de enxergar através da 'Matrix'...

Confesso que sempre tive preconceito com 'blogs', uma vez que, pelo próprio título em Inglês, "diários virtuais", nunca me sorriu a idéia de ter minha vida decupada em pequenos excertos do tipo "hoje comi uma lasanha maravilhosa na Casa Itália" ou "assisti a um ótimo filme na HBO"! Assim, se esperas isso deste espaço virtual, pode dar meia volta - quis um espaço para exposição de algumas idéias, juntamente com uma pequena mostra do que penso, do que gosto e do que já fiz na arte, incluindo também a interação com novas amizades, característica nº 1 de algo como um 'blog'!

Sem mais delongas, e sem entrar no vício maldito dos "diários", gostaria de fazer uma pequena apresentação de mim mesmo: meu nome é Dilberto, tenho 26 anos - próximo dos 27, aos 13 dias do mês de maio -, sou ludovicense, advogado, cinéfilo, escritor cronista, poeta e roteirista, apaixonado por minha eterna namorada e musa de plantão Jandira, e, nas horas vagas, coleciono livros, vídeos, discos em CD e em vinil, miniaturas de carros e de motos e pôsteres de Cinema - Cinema com letra maiúscula, como arte, o que mais encontrarás aqui...

Enfim, um novato na internet e um Amante do Cinema (já fui Presidente de um Clube de mesmo nome, um sonho megalomaníaco e formidável que anda em estado de dormência...), amante das mulheres (poeticamente falando, viu, Jandira?) e da boa música, da boa comida italiana, da japonesa e da brasileira, dos bons textos, de Drummond, de Chico e de Neruda, de Pixinguinha e de Cecília...

E sou fascinado por morcegos, por causa de meu personagem favorito dos quadrinhos e em função de meu primeiro poema, "Morcegos", de 1991, que publico pela primeira vez, ainda que virtualmente...

Morcegos

Sozinho
Esvaindo nas sombras
Surgindo do escuro
Sem ninguém por perto
Com medo de ouvir a própria voz...

...E a Lua era cheia, estava linda...

Ter que olhar para a Lua
Sem nada encontrar
Nada a declarar
Sem ninguém para quem confessar
A dor
De estar às margens da loucura
Cego de horror
Como morcegos a voar sobre minha cabeça
A grunhir em baixo tom
Querendo mostrar meu tormento
Ou imitar minha voz sofrida
Esquecida

...Como é fundo, é profundo...

O mundo da agonia...
A dor que me feria
Voltou.
Solidão
Apenas começou...

(Dilberto L. Rosa, 1991)

(Dilberto Lima Rosa, Apresentação: post do dia 27/04/04)

quinta-feira, 27 de abril de 2006

"RAIOS! RAIOS TRIPLOS!"



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Goleiro não pode falhar...
Como sofreu o grande vascaíno Barbosa...

Hoje é dia do goleiro! Parabéns a este membro sempre tão subestimado numa partida de Futebol, desde as peladas do colégio - quando eu costumava jogar no gol... Parabéns a grandes mestres da área, como Barbosa (infelizmente lembrado mais pela "tragédia de 50" no Maracanã) e o atual craque Rogério Ceni, que anda mais do que merecedor de uma convocação pelo turrão Parreira... E, falando em Futebol, o Blog da Magui já começou a campanha rumo ao hexa e vem batendo um bolão em seus ótimos posts sobre o esporte bretão, a resgatar histórias maravilhosas e a narrar outros tantos fatos pitorescos!

Mais Uma Reunião da Família...

Participe da Comunidade dos Morcegos no Orkut, clicando no link acima!

Final de abril se aproximando e mais uma Reunião da Família à vista: como o mês é de aniversário para este dileto espaço virtual (e para mais alguns parentes queridos também), o tema será "Meu primeiro post": quando e qual foi a sua primeira vez; há quanto tempo transita por este vasto universo virtual (de forma contínua ou com interrupções sazonais); e qual foi o seu primeiro post (publicar, se possível! Não deixe de comparecer e de colocar a conversa com a família em dia, no próximo domingo, dia 30!

Mas só chove, chove...
E por aqui, na Ilha do Amor, chove muito, há dias, e tardes, e noites e madrugadas também... Oscilação de energia elétrica com tanta água e pouca NET em casa... Isso me lembra um poema...

Quadras no Espelho d'Água

Faz-se maduro
O verso fraco,
Ou se fez fraco
O céu escuro?

Pelo meu choro
Sangrou-se a chuva,
Ou de uma chuva
Se fez meu choro?

(Dilberto Lima Rosa - Pentalogia da chuva - Poema Quarto)

domingo, 23 de abril de 2006

Um Gênio de Sonho

Adeus, Mestre Telê, das brilhantes Seleções de 82 e 86 e de tantas conquistas no São Paulo, tu que já deixavas saudades há mais de 10 anos, desde teu afastamento do futebol por causa do AVC... E parabéns, Mestre Nélson, pela entrada pioneira de um cineasta na ABL. Mas hoje, encerrando a SEMANA ESPECIAL GÊNIOS NACIONAIS, volto a outro gênio que há muito deixou esta terra brasilis mais empobrecida: hoje é aniversário de nascimento do gênio maior Alfredo da Rocha Vianna, o Pixinguinha  e, não por acaso, é também celebrado o Dia do Choro (por isso, a flauta de Altamiro Carrilho ao fundo, com o clássico Odeon, de Ernesto de Nazareth), gênero inicial de nossa Música! E, aproveitando mais um domingo de Retrospectivas, republico hoje esta crônica poética feita no ano passado, com um passeio onírico pela vida deste gênio simples... Saravá, Pixinga!
RETROSPECTIVA
Crônicas Poéticas
Às vezes me pego numa velha cadeira de balanço a divagar sobre, nessa vida, onde é mesmo que termina o sonho e começa a realidade... Divagar é modo de dizer: mais penso no que os grandes poetas já disseram do que realmente crio coisas novas (como quando penso nos sonhos de Fellini, que se parecem com os meus...). Ainda assim, teço minhas próprias teias até que o sono me pegue...

Em meu saudosismo quase patológico, envolvo-me na pureza (ou na ideia de que ela exista) da melodia mais perfeita e me sinto tragado por uma pastoral de Beethoven (aí é que a divagação fica completa!) e logo penso que antes do branco era o preto e, antes da melodia, o batuque: passo a imaginar um preto alto, magro e desajeitado, com a cara marcada e a boca de aparência desdentada, de onde sai o mais belo som de flauta, tão bonito quanto uma pastoral, porém mais pungente  tem ginga, um tempero diferente...

E que venha o piano, o saxofone e o instrumento que for, que o preto toca! E arranja (coisa nova até então) e compõe e orquestra para quem não sabe ler partitura. E reinventa a música que antes só se via branco tocar. E segue o sonho, com o preto aplaudido pela brancarada de todo lugar, de Paris a Buenos Aires, com Vila Lobos, Stokowski e Gnatalli a se babar! 

E assim, tal como um Mozart com um Sallieri em seu encalço, Pixinga, por vezes esquecido ou perseguido pela bebida, foi tantas vezes invejado e injustiçado pelos Lacerdas da vida... Mas, danado que só ele, acabou superando tudo, ensinou muita gente, abrasileirou clássicos europeus junto aos sambas africanos (criando um lamento novo, quase um choro de criança) e ainda morreu como santo, numa igreja, em pleno carnaval...

Às vezes penso (ou sonho, ou divago...) se Pixinguinha mesmo existiu... Afinal, tantas vezes o viram de pijamas que chego a pensar se ele, ingênuo e puro, não estaria dormindo e sonhando sua música perfeita dentro de meu próprio sonho... Bexiguinha ou Pizindim, do Catumbi ou da Piedade, esse batuta realmente existiu ou tudo não passou de um devaneio da Música Brasileira, que um belo dia acordou e quis tomar carona no sonho dos acordes de um mestre...

Acho que sofro porque quero e vivo perdendo a noção da realidade de propósito... Acordo, de repente, com o telefone e me pego com uma rosa no colo, ouvindo Carinhoso no rádio antigo, divagando tristemente sobre aquele tempo maravilhoso que não vivi, a me embalar tetricamente na grande cadeira de balanço da casa do meu tio-avô, que adorava Pixinguinha e que hoje já não existe mais em lugar algum além de nas minhas melodiosas recordações...

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Gênio Bandeira

Por ontem, dia 19, parabéns ao Rei Roberto Carlos (65 anos) e à índia Maria das Dores de Oliveira Pankararu (42), primeira indígena doutora no país, no mais que esvaziado dia do índio... Mas hoje o destaque vai mesmo para o "belo" e imortal Manuel Bandeira, 120 anos depois do seu nascimento. Há muito o poeta já recebeu a visita da "mais indesejada das gentes" e se foi para "Pasárgada", juntamente a uma infindável e perfeita obra poética... Ainda que "vivendo sempre como que provisoriamente", uma vez que a tuberculose o perseguisse desde muito cedo (quando tinha apenas 18 anos), Bandeira poetizou até os 82 anos, quando se foi, vítima de hemorragia gástrica, em 1968.

Nunca tive o prazer de conhecer-lhe a obra completa, porém destaco, do que conheço, como minha obra favorita Libertinagem (1930, considerado, por muitos, o livro de amadurecimento do poeta recifense em termos de liberdade estética), onde constam alguns de meus melhores textos, como Não sei dançar, Mulheres, Pneumotórax, Na Boca, Teresa, Evocação do Recife e aquele que se tornaria o seu poema mais famoso – e o mais demorado para ser finalizado (mais de 20 anos, sendo a palavra Pasárgada oriunda de um autor grego lido pelo poeta aos 16 anos): Vou-me Embora pra Pasárgada, "a vida inteira que podia ter sido e não foi", no dizer do próprio Bandeira, no seu eterno sonho do "vou-me-emborismo" cultivado desde a adolescência, espécie de pequena síntese de seu viver poético.

Como fica impossível sintetizar a obra deste mestre em tão poucos poemas, uma vez que eu mesmo gosto de tantos outros, de livros diversos (como Boi Morto, Consoada, Lua Nova, Variações Sérias em Forma de Soneto, Neologismo...), dou por encerrada esta breve homenagem, não sem antes viajar por dois poemas: o primeiro, o seu famoso e magistral Vou-me Embora pra Pasárgada; o segundo se perfaz em derradeira vassalagem ao Mestre da "Derradeira Estrela da Vida Inteira",  num poema de minha autoria, Feio, uma espécie de "paródia-exaltação" Belo Belo.

GÊNIOS NACIONAIS
Manuel Bandeira

VOU ME EMBORA PRA PASÁRGADA

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro bravo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito a beira do rio
Mando chamar a mãe-díágua.
Pra me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóides à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

(Manuel Bandeira)


FEIO

Feio feio minha feia
Tenho só o que odeio
E nada por que anseio
Odeio-me a calva e o esteio
E a falta de dinheiro
Anseio anseio
Pelo aberto do dia
Pela rica poesia
Por viver de minha pena
Pelo filho que ainda não veio
Anseio por um novo neologismo
E pela velha Pasárgada
Em Teodora (ou em Teresa)
Busco o antigo seio
No poema que medeio
Entre Bandeira e eu...

(Dilberto Lima Rosa)

domingo, 16 de abril de 2006

Páscoas em Retrospectiva

Hoje se celebra a Páscoa (e não na sexta-feira, dia da expiação da Paixão do Cristo), comemorando-se, na Igreja Católica, a ressurreição de Jesus, depois de todo o sofrimento, vencendo a morte... Independentemente de religiões, e mesmo para os não cristãos ou ateus, esta é, com certeza, uma época de reflexão: afinal, sempre é tempo de se enxergar algo mais que nossa frágil e insignificante existência... Então, feliz Páscoa, com muita paz (a quem não crê) e renovação de fé (a todos que querem crer)! E hoje aproveito a oportunidade para, na RETROSPECTIVA deste mês de aniversário dos Morcegos, republicar a crônica "Gosto da Páscoa", do ano passado (quando ainda no Weblogger), sob o tema das "datas especiais", sempre marcadas com os devidos textos neste humilde espaço virtual...

RETROSPECTIVA
DATAS ESPECIAIS

Gosto da Páscoa, sempre gostei. Acho bonita toda a história daquele carpinteiro cheio de boas novas que me foi passada, com maestria, por minha mãe desde a minha tenra infância, quando ainda voltava para casa com a cara pintada de coelho e esperando o chocolate à tarde (que poderia ser um ovo das Lojas Brasileiras ou artesanal, feito por ela mesma).

Como minha história sempre foi pontuada pelo Cinema, não poderia esquecer-me das "Sessões da Tarde" daqueles doces tempos: toda Sexta-feira Santa, a Globo exibia O Rei dos Reis, com aquele hollywoodiano Jesus loiro e de olhos azuis do Nicholas Ray, naquela maravilha de Technicolor e de Cinemascope que até hoje impressionam... Hoje acabou a liturgia e já passam qualquer coisa (até Loucademia de Polícia IV eu já vi!), ultrapassada que parece ter-se tornado a época das "programações temáticas" (acredito que, hoje em dia, só a nada santa Record ainda mantenha a tradição, por causa dos "profetas do Apocalipse" da louca Universal, e exiba o longo e frio Jesus de Nazaré, de Franco Zeffirelli). Moderno esvaziamento dos reais sentidos da Páscoa: sem a ajuda da televisão, as pessoas acabam esquecendo tudo...

Minhas reminiscências de infância ainda me fazem estranhar o fato de ver hoje pessoas a farrear com bebedeiras e muita música alta (sem falar no ato de comer carne, "mortal" para os mais fervorosos): apesar de não ter vivido (e seja veementemente contrário a) os tempos duros da infância de meus pais, onde tudo era "pecado" nesta data, verdadeiro luto exagerado até para quem não comungasse – meu pai, por exemplo, eterno agnóstico não assumido, fala sobre o "peso" do período pascal até hoje... Talvez o certo seja mesmo nem mais desejar "Feliz Páscoa", mas só e tão somente "bom feriado", mais mundano assim mesmo, porque assim não se cria confusão com as mudanças naturais da vida terrena...

E falo tudo isso para cristãos ou não: a Páscoa dos judeus, por exemplo, é cheia de reflexões muito ricas e pungentes sobre o êxodo do povo hebreu do Egito, liderado por Moisés), para todos de uma forma geral: gosto da Páscoa como um renascer (ainda que não o faça com a intensidade com que talvez deveria), independentemente de religião. Gosto dos ensinamentos sábios de Jesus e da sua ressurreição (a fé eterniza)... Amo lembrar o momento solene das três horas da sexta, quando mamãe lembrava a morte do Filho de Deus (às vezes até o tempo colaborava, com raios e trovões justamente nessa hora!), e de lembrar das disputas pelos chocolates com o meu irmão (que hoje é ateu!)...

Gosto, até hoje, de assistir a todas as produções que retratem a Paixão do Cristo – apesar de não ter apreciado muito o filme homônimo de Mel Gibson, fragmentado e excessivamente violento, aqui vai publicada uma foto extraída do mesmo, com um Jesus mais perto da realidade... Gosto de me lembrar das Páscoas de outrora, com o meu saudosismo invadindo qualquer coisa que se possa chamar de fé...

(Dilberto Lima Rosa, Morcegos - Weblogger - abril de 2005 – revisitado)



sexta-feira, 14 de abril de 2006

Para Drika, com carinho...

Florbela

A flor, à beira do precipício,
À mercê da tempestade
A flor é fina, a flor tem bossa,
A flor tem charme

Simplicidade à beça
Em volta, a flor é calma
Em sua lucidez há revolta
Na inteligência de sua pétalas

Ri alto, que a flor é alegre
Quem vem depressa quase nem vê
No salto para o infinito
Que a flor permanece ali

À tarde, a chuva murmura
À noite, o demônio espreita
À flor nada é preciso
Do alto de sua melancolia

A flor é frágil
Na redoma que nem percebo
A flor vive uma doce infância
Perdida na terra presa

A flor agride que nem percebe
Espinho agudo, duro chão, veio aberto no céu
A flor é bela, a flor é incauta,
Minha doce Adriana, és verdadeira prosopopéia

(Ainda que não saiba ela
Da flor de meu poema
Que cresce ao léu
Em meu pobre solilóquio)

O sol e a lua no alto
A natureza bela do vale em volta da morte
A flor, entregue, absorve o veneno da vida
E fotosintetiza a dor da eternidade

A flor, à beira do precipício
A flor, à beira da tempestade
A flor tem vida eterna
No fundo da retina de quem a viu só de passagem...

(Dilberto L. Rosa, À beira do derradeiro solstício)

terça-feira, 11 de abril de 2006

2 Filmes Imperdíveis
(que demorei muito pra ver...)

Aproveitando o quase feriadão, finalmente assisti a dois filmes que há tempos queria ver: no cinema, já nas suas últimas exibições, Ponto Final - Match Point (mais um título esdrúxulo em Português, com título original e tradução, como em Sin City - A Cidade do Pecado), do cada vez melhor Woody Allen, e, em vídeo, Old Boy, o profundo filme coreano do renomado diretor Park Chan-wook.

Ponto Final (2005) é Crime e Castigo, de Dostoyévski (citado, inclusive, no filme, por meio de livros lidos pelo protagonista), com novas camadas. Melhor dizendo: é Crimes e Pecados, outro filme de Allen – por sua vez, adaptação livre e mais direta do romance do mestre russo, só que mais refinado e mordaz! Desta vez, a costumeira Nova Iorque aqui é substituída por uma Londres cinzenta e melancólica, porém linda e iluminada pela norte-americana Nola Rice, dourada e cheia de vida (Scarlett Johansson: sensual e perfeita): é ela quem faz com que o aparentemente pacato, porém ambicioso professor de tênis Chris Wilton (vivido por um oscilante Jonathan Rhys-Meyers, na onda das apostas do diretor em cima de novos talentos) saia dos eixos do seu frio relacionamento com uma rica herdeira inglesa. Com roteiro (do próprio diretor), edição e fotografia esmeradíssimos (injustamente ignorados pela Academia) e com uma interessante troca do costumeiro 'jazz' por árias de ópera, o filme é um Allen bem mais maduro e denso, com fortes críticas sociais – merecido sucesso mundial de bilheteria!

Old Boy (2003) é trabalho que segue uma linha mais extravagante: é comercial, mas nada hollywoodiano; violento, mas estilizado e inteligente! Trata-se de mais um filme acima da média, baseado num mangá de sucesso, do diretor Park Chan-wook, com um Cinema mais ou menos popularizado por Quentin Tarantino nos últimos anos – não por acaso, ardoroso fã do diretor coreano: presidente do júri do Festival de Cannes de 2004, Tarantino chorou e se tornou o maior defensor desse filme para o Grande Prêmio do Júri. A louca história gira em torno de Oh Dae-su (o ótimo Min-Sik Choi), um encrenqueiro que vive metido em confusões até ser misteriosamente preso num quarto de hotel, com banheiro e televisão, por quinze anos: quem o prendeu ali? O que há de verdadeiro na sua vida? Quem poderá ajudá-lo a descobrir a verdade? 

E, assim, é com essas e outras perguntas que acompanharemos, de forma imersiva, toda essa trama sórdida junto a esse estranho personagem, desde a sua estranha saída do cativeiro até um final bestialmente "redentor"... Segundo filme de uma "trilogia da vingança" (cuja primeira parte se deu em Sympathy For Mr. Vengeance, que, de acordo com boatos recentes, estaria com 'remake' confirmado em Hollywood, com Russel Crowe para o papel principal), o filme passa longe dos atuais balés estilizados e modorrentos do cinema oriental: é mais cru, cinema de rua, com soluções mirabolantes e um tanto quanto bizarras e/ou propositadamente forçadas (como a rápida adaptação do personagem à vida real), que, apesar das inclinações para coisas pesadas, como o incesto e o 'gore' (como corte de língua e polvo vivos sendo ingeridos!), vale a pena conferir, mesmo para aqueles não iniciados no "gênero" – que, neste caso, é extremamente difícil de definir...

sexta-feira, 7 de abril de 2006

Amor e Dinheiro em Comunidade

Salve, queridos blogueiros de plantão: nesta sexta a Micha bolou mais um tema para sua comunidade dar a opinião: o de hoje é "Amor X Dinheiro", sobre os probleminhas financeiros do relacionamento nosso de cada dia...

POST COMUNITÁRIO
Quando se é adolescente e a mesada, contada, nunca dá para muita coisa. E os jovens da classe masculina de menos posses acabam recorrendo a certos ardis na hora do namoro: dividir a água de coco, tomando com 2 canudinhos, com a desculpa de ser "mais romântico" ou convidar a garota para o cinema, chegar mais cedo e esperar por ela lá dentro, a fim de escapar da possibilidade de pagar a dela, também são recursos básicos que muitos já usaram... E atire a primeira pedra o rapazola que nunca fez nada disso!

Com o tempo, pós-universidade, na barra do descobrir que estágio não é emprego e que você terá muito mais dificuldade em garantir o seu polpudo salário de "formado" ao final do mês do que imaginava, fica mais difícil (e bem mais feio) aplicar os velhos golpes adolescentes com a namorada, especialmente os rapazes que querem impressionar pagando a conta – e, por isso, terminam por nunca mais levar a moça para além da lanchonete da esquina!

E é aí que entra a maturidade de um bom casal: afinal, numa relação séria, nada melhor que autenticidade, com tudo dividido, inclusive os problemas financeiros! Sem crise e sem o velho machismo de não admitir que a mulher ganhe mais ou que, num determinado período, ela arque com as despesas! Afinal, estamos nos tão sonhados anos 2000, e, se não se puder abrir este divã com a mulher amada, para que serviu então toda a luta feminina?

Falando da vida pessoal, minha noiva, empregada numa grande firma de processamento de dados, arcou com as despesas das saídas, dos jantares e das necessidades básicas de um então casal de namorados, enquanto eu terminava os estudos atrasados na faculdade... Até que, recentemente, ventos mais auspiciosos já me garantiram alargar o enxoval para o casório – e tudo numa boa, sempre usando e abusando de mimos extemporâneos, para compensar, quando me sobrava algum!

Pois é assim que a história tem que ser: por mais que doa na mente masculina um aperto duradouro, sem poder participar com a caça, tal qual o seu ancestral dos nômades tempos do refúgio nas cavernas, resta o imaginário coletivo, mais recente, do "felizes para sempre, na riqueza e na pobreza" dos contos de fada dos difíceis tempos atuais...

Dilberto L. Rosa

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Bons Meninos

"O bom menino não faz pipi na cama/o bom menino não faz malcriação"... Foi-se o último palhaço televisivo, primeiro a ter um programa infantil no Brasil e a vender milhões de discos para crianças, num tempo em que loiras platinadas superficiais, sem talento e erotizadas nem sonhavam em entupir seus "baixinhos" com avalanches de subprodutos infantis: o grande Carequinha (George Savalla Gomes, 90 anos) morreu nesta madrugada, no Rio, e junto com ele uma tradição antiga e esquecida de artistas circenses que realmente se preocupavam com o público infantil (e tinham talento de verdade para tanto)... Seus últimos trabalhos foram na televisão, veículo que o popularizou no País, com participações na Escolinha do Professor Raimundo e em Hoje é Dia de Maria: Segunda Jornada, ambas na Globo.

******

E o Millôr retorna à ROTATÓRIA deste humilde espaço virtual, espaço onde circulam livremente talentos vindos de toda parte, hoje de forma bem diferente: com sua arte "feia", paródica e transgressora, e um 'hai kai' inteligente e preciso, como tudo que este genial polivalente sempre faz!

domingo, 2 de abril de 2006

Abril de Recordações...

Abril: mês de aniversário nos Morcegos! Isso mesmo, meus queridos blogueiros de plantão, parece que foi ontem, mas já há quase dois anos completos (26/04/04) invado esta terra de ninguém, onde conheci algumas pessoas realmente encantadoras e inteligentes e as chamei de "parentes" graças à amizade virtual; recebi visitas de outras tantas que, hora ou outra, dão as caras e trocam ótimas experiências em comentários sempre bem-vindos; e, também graças a este dileto espaço, ganhei e perdi, escrevi muito, inspirei-me a reorganizar minha obra e a voltar aos projetos dos meus livros... Tantas as emoções, que as dividirei com todos vocês ao longo deste mês, repleto de novidades que, aos poucos, serão reveladas! Até lá, não deixem de conferir no espaço ao lado o novo Comentário do Mês (não teve jeito: deu Sérgio Ronnie na cabeça de novo, com sua acidez política!), desfrutem da nova música (a obra-prima de Ernesto Nazareth, Odeon, arranjado e executado pelo mestre Altamiro Carrilho, na flauta) e a seção Retrospectiva, que, todo domingo, recordará um post que, por uma razão ou outra, marcou a história dos Morcegos. Hoje lembro a morte do Papa João Paulo II, que se foi há exato um ano...

RETROSPECTIVA
ATUALIDADES

Mesmo nunca tendo gostado muito dos Engenheiros do Havaí, na canção O Papa é Pop, Humberto Gessinger, inteligentemente, definiu um conceito de antropofagia cultural ao lembrar a figura de Vossa Santidade: "O Papa é pop/ O Papa é pop /O pop não poupa ninguém/ O papa levou um tiro a queima roupa/ O pop não poupa ninguém...". Porém, mais do que um ícone midiático com seus beijos no chão, um homem simples de origens humildes (e não italianas) e de sua mentalidade conciliadora (capaz de visitar quase o mundo inteiro em peregrinações pela paz, apesar da visita ao Pinochet...), Karol Josef Wojtyla, ou João Paulo II, foi, sem dúvida, um dos homens mais importantes do século XX  (sem contar os anos vividos no século XXI) – apesar de alguns pesares...

Atuante nas lutas contra as desigualdades e as intolerâncias, não só sociais como também políticas e religiosas, o Papa, falecido no último sábado, dia 2, conseguiu ser realmente grande, tamanha a dimensão e o respeito de sua figura, mesmo diante de não católicos. Porém, conservador ao extremo (Opus Dei?!) em muitos aspectos sociais e centralizador, colecionou críticas ao longo do seu papado. De qualquer forma, na minha doce ignorância da adolescência, eu quase cheguei perto dessa figura histórica: a rígida coordenadora da minha 8ª série, uma ex-freira rigorosa e cheia de julgamentos contra incautos alunos (de que eu mesmo fui vítima!) por causa de nada, também coordenou um grupo de alunos da minha escola para participar de alguns pontos da organização quando da passagem de João Paulo II e me recrutou para a missão – o que, obviamente, declinei de pronto em minha santa rebeldia!

Nunca fui dado a religiosidades! Mas confesso que, mesmo não sendo católico (meu religare, apesar dos tradicionais Batismo e Primeira Comunhão, não tem "filiação religiosa-partidária"), emocionei-me quando, ao chegar à casa de minha noiva, esta me anunciara que "o Papinha morreu"... Acho que assim muitos o sentiam, carinhosamente, especialmente diante de sua saúde frágil e de seu corpo idoso e debilitado das últimas aparições... Mas a minha emoção possuía um viés mais pessoal e remontava ao meu avô, morto no ano passado com quase a mesma idade que o Papa e igualmente depois de penosas e seguidas internações em hospitais  os dois, fisicamente, até guardavam traços físicos bem parecidos: o padre polonês lembrava mesmo o meu avô, de apelido Alemão quando jovem...

Infelizmente, meu avô não pôde despedir-se de mim; o Papa, pelo menos, pôde comunicar-se, ainda que em silêncio de agonia, por uma última vez com seu amado povo de irmãos, católicos ou não, tal como se deu no último dia 27 de março, na Praça São Pedro: sem poder articular uma palavra sequer, João Paulo, depois de completar sua missão até o fim de seus dias, despediu-se com um aceno, em meio às fortes dores, seguido do lento fechar das cortinas do terraço da Basílica de São Pedro... Então, a bênção, João de Deus!

(Dilberto Lima Rosa, www.dilbertolrosa.weblogger.weblogger.com.br - 'post' do dia 02/04/2005, revisitado)
 

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Em forma de pequenas crônicas, as dores e as delícias de ser um pai de um supertrio de crianças poderosas...

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