domingo, 23 de fevereiro de 2014

De volta para o futuro...
No passado...

Não tema: com Capitão Nascimento como Robocop, mesmo com alguns defeitos, não há problema!

Noutro dia me peguei fazendo uma reflexiva mea-culpa ao ler um texto na internet: em meio a uma matéria tendenciosa contra as refilmagens, analisando-as de forma genérica como algo sempre ruim, no que eu já concordava com os argumentos utilizados, alguns comentários de leitores (ah, a democracia virtual: sempre a um passinho entre o céu e o inferno...) me devolveram à lucidez. Afinal de contas, tínhamos marcos memoráveis da era de ouro dos épicos hollywoodianos na década de 50, como o grande Rei dos Reis, ícone maior da Sessão da Tarde dos tempos de Páscoa, e o completo Ben-Hur, belíssima aventura dramática campeã de Oscars (algo que se tornou igualmente sinônimo de coisa ruim depois das odes da "Academia" ao sofrível Titanic), ambos refilmagens de outros clássicos do tempo do Cinema mudo e em preto e branco Ben-Hur já tinha duas versões anteriores, em 1925 e em 1907! Na hora recordei ainda o injustiçado Superman - O Retorno, que, mesmo com todos os seus defeitos, resultara numa espécie de um honroso remake mal compreendido e cheio de homenagens aos dois primeiros (e melhores até hoje) filmes com o eterno homem de aço Christopher Reeve. Bem, talvez refilmagens não quisessem, necessariamente, significar uma coisa ruim...

E o que seria, de fato, uma refilmagem? Tem-se que filmar um idêntico à versão primordial, como o foi o equivocado Psicose de Gus Van Sant, em 98, que refazia quase cena a cena da genialidade do velho Hitchcock? Ou bastaria uma "releitura atualizada", com elementos do original inseridos numa nova trama mais adequada aos novos tempos, para assim ser considerado (o chamado reboot)? E, se uma obra cinematográfica conquistou a tantos afetivamente, muitas vezes marcando uma geração inteira: para que "refazê-lo"? Por essas e por outras é que muitos produtores costumam fugir do termo "refilmagem" como o Diabo, da cruz: nem bem os fãs do original começam a reunir-se com suas tochas a execrar a nova "blasfêmia" e os responsáveis pela "novidade" cinematográfica apressam-se logo em defender que se trata, na verdade, de algo novo, não sendo uma mera "releitura" deste ou daquele filme, mas, sim, "muito mais baseado no livro" ou "na peça que apenas inspirou a primeira versão", e por aí vai... Isso deu certo, por exemplo, com o próprio Ben-Hur, cujas três versões expandiram, em progressão, o romance homônimo escrito pelo general Lew Wallace (o primeiro, de 1907, não passava de uns 20 minutos, e com ênfase na corrida de bigas), porém foi desastroso com a obra Carrie, de Stephen King, muito melhor honrada com a versão do mestre Brian de Palma de 1976 do que a recente produção mais-do-mesmo baseada na clássica história de horror, bem como se deu com O Planeta dos Macacos, com Tim Burton jurando de pés juntos ser mais fiel ao sucesso literário de 1963, de Pierre Boulle, porém entregando um produto bem inferior ao clássico de 68, com Charlton Heston.

O fato é que, para o bem e para o mal, a era das refilmagens, que nunca foi mesmo novidade, chegou mesmo para ficar! Seja pela atual moda do saudosismo, seja pela absoluta crise de ideias que assola a capenga indústria do entretenimento norte-americano, inúmeros filmes muitas vezes nem esperam um grande decurso de tempo para ter novas versões exemplos disso são que recentes sucessos de outros países, como o coreano Old Boy, o argentino Nove Rainhas, o japonês Dark Water - Água Negra (pífia estreia do grande Walter Salles nos EUA) e a série sueca Millenium, em menos de 10 anos, já tiveram suas inferiores refilmagens norte-americanas... Mas, quando o assunto é "inventividade refilmável", ninguém ganha dos divertidos anos 80! Tanto é assim que, vira e mexe, têm sido trazidos à tona clássicos como A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13, Karatê Kid, A Hora do Espanto, O Vingador do Futuro (sim, ele é de 1990: último ano da década de 80, portanto) em novas produções! Sem esquecer horríveis adaptações de seriados bacanas como os recentes As Panteras ou Anjos da Lei, e fracos crossovers entre personagens-chave daqueles bons tempos, como em Alien X Predador ou mesmo em Fred X Jason. E até mesmo símbolos oitentistas, que até então jamais haviam visto as luzes dos projetores, foram erguidos recentemente às telonas: casos do acertado Transformers (só o primeiro, claro, e com ressalvas) e do horroroso G.I.Joe - A Origem de Cobra!

Posso dizer, com convicção, que sou um "oitentista" de mão cheia, daqueles com imenso fascínio pelo universo de coisas produzidas naquela década maravilhosa! E não por acaso ou mero saudosismo de cronista-poeta por conta da bela infância vivida naqueles tempos multicoloridos (desde que "me entendo por gente", com as primeiras lembranças aos 3 em 81, até os 13, em 1990, iniciando a adolescência): eu realmente considero aquela época como a última década de criatividade que o mundo conheceu. O resto, de lá pra cá, é pura reciclagem! E falo, com a boca cheia (de deliciosos mini-chicletes Addams, claro) porque vivi cada segundo daqueles: desde as modas multicoloridas, passando pela contagiante Música pop de Michael Jackson, The Cure, Pet Shop Boys e do rock brazuca, descobrindo a paixão pela Sétima Arte com os seus bastidores mostrados pelo grande Celso Sabadin em seu Claquete, até os brinquedos cheios de personalidade (cubo mágico, banco imobiliário, Comandos em Ação e demais action figures de grandes personagens, como He-Man, Comandos em Ação e outros tantos relançados recentemente para a atual geração X-Box), tudo era deliciosamente divertido!

Mas uma diversão de qualidade, diga-se, nada similar aos sem graça tempos de hoje, sem maiores criatividades e sempre excessivamente limitados às tecnologias de ponta atualizadas minuto a minuto... Naquele tempo, as coisas eram mais "na raça" e, acima de tudo, feitas com a alma! Vide o cabedal de pequenas obras-primas do entretenimento que pululavam no Cinema de então: De volta para o futuro, Os Caça-Fantasmas, Caçadores da Arca Perdida, Gremlins, Os Goonies... Até quando um filme era ruim, como Rambo II - A Missão, Loucademia de Polícia e A Casa do Espanto, ou mais fraquinho, como Splash - Uma sereia em minha vida, Um Tira da Pesada e Um Hóspede do Barulho, acabava sendo bom e se convertia quase instantaneamente num pequeno clássico, passando a integrar uma espécie de panteão de adoração por infinitas sequências... Com certeza, pérolas que fazem inveja aos recalcados produtores imediatistas dos blockbusters de hoje, que devem viver salivando em suas reuniões por novos remakes dos grandes títulos dessa época – isto, sim, seria uma blasfêmia!


Apesar de eu ser da filosofia de jamais mexer no que é bom, algumas dessas "releituras", eu confesso, até me aguçaram a curiosidade para, logo em seguida, eu cair na real... Foi o caso de A Morte do Demônio, clássico absoluto do Cinema independente, competente e criativo da época, que mostrou ao mundo o prodígio artesanal de Sam Raimi (sim, o mesmo que "cometeu" Homem-Aranha 3...) e cuja refilmagem feita no ano passado eu pude ver na última segunda-feira. E, tal como o querido personagem Ash descobre ao final daquela pérola do horror, não havia mesmo como escapar: apesar do tom recheado de homenagens ao filme de Raimi – com muitas honrosas citações, desde o famoso Delta 88 amarelo de Bruce Campbell (também coprodutor), passando pela famosa serra elétrica da parte II, até uma "estranha" aparição, ao final dos créditos, de... Bruce Campbell – , infelizmente é novamente mais um que não foge à regra do "original era bem melhor" e peca em se levar a sério demais com seu "realismo" e um sem número de explicações para cada momento, o que não existia (nem prejudicava) no genial trabalho de 81, debochadamente mais assustador e infinitamente mais criativo em seus ângulos inusitados e nos sustos imprevisíveis que jamais poderão ser reprisados!

E chegamos, finalmente, a esta sexta, 21 de fevereiro, dia de uma ansiosa e duplamente aguardada estreia nos cinemas brasileiros: afinal, qualquer cinéfilo oitentista que se preze no mínimo ficou curioso em saber como se sairia um grande cineasta brasileiro em seu début nas telas ianques, justamente com um clássico da ficção-científica e referência dos anos 80, Robocop. Até eu, que não pousava na poltrona de uma sala escura desde meados do ano passado com o sensível Amor, abandonei a família em casa e paguei a baba exigida pelos tecnológicos multiplexes do shopping center mais próximo para rever um personagem marcante da minha infância nas mãos de um diretor que aprecio bastante. E o resultado, asseguro, valeu o esforço! Não que a refilmagem seja superior ou mesmo se iguale à pequena obra-prima de Paul Verhoeven, justificando uma nova produção: muito longe disso! Mas o novo trabalho de José Padilha (dos ótimos Ônibus 174, Tropa de Elite e Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro) é bastante digno, bem superior às patacoadas cometidas nas sequências da década de 90 e também passa longe das amargas teorias de que remakes são sempre um erro abominável ou uma heresia em relação ao original! E tal feito se deve, principalmente, a três fatores: a qualidade indiscutível da sua direção, a experiência com os Tropas (com temas em comum, como um homem contra todos, fascismo combatendo fascismo e corrupção descontrolada em altos níveis de poder) e o carinho profundamente respeitoso com que Robocop - O Policial do Futuro, de 87, foi tratado.

E como o nosso Padilha foi inteligente... De cara, logo depois de debochar do icônico Leão da Metro (!), um divertidíssimo reacionário de extrema-direita Samuel L. Jackson (Pat Novak) aparece substituindo as tendenciosas matérias apresentadas no jornal televisivo do primeiro filme com isso, o espectador é logo levado a compreender toda a nova premissa (em 2028, os EUA ainda dominam o mundo e se valem de drones e robôs como o famoso ED-209 para "manter a paz" em países ocupados, o que é proibido no próprio País), mostrando no radical programa de TV, em tempo real, a "perfeição" do projeto robótico num ocupado Irã e de como é necessário revogar-se a lei que não permite o uso de robôs em solo estadunidense. Em seguida a um ataque suicida de locais iranianos ("Os cidadãos honestos com certeza estão felizes com a ocupação dos robôs!", vocifera Novak), o que demonstra os sérios problemas dos autômatos, surge na tela o nome do herói cibernético no mesmo estilo do título original, acompanhado da música-tema levemente repaginada, com a famosa entrada do policial Murphy na chefatura de polícia. Cativada a nova audiência dos mais jovens e emocionada a nerd plateia dos mais velhos fãs, Padilha começa a mostrar o seu Robocop, com as devidas mudanças...


Murphy (o excelente Joel Kinnaman) já é um veterano policial que busca, ao lado do parceiro Lewis (agora, um homem negro), desbaratar focos de corrupção dentro da Polícia, enraizados com o crime organizado – o que leva à sua quase-morte num atentado a bomba e à maior experiência do conglomerado de tecnologia OCP: criar uma máquina com feições humanas a fim de cativar o grande público dos EUA e, com isso, faturar no até então proibido mercado interno. Nasce o Robocop, agora com consciência desde o início (uma vez que não morreu), treinamento militar que lembra os modernos videogames de tiro em primeira pessoa e com armadura preta no fino da moda (e no embalo do sucesso da trilogia do Batman de Christopher Nolan). Mas até onde tal consciência fará com que o ciborgue consiga realmente manter-se no controle da situação, diante da onipresença dos seus criadores (os bons Michael Keaton e Gary Oldman), nem sempre com as melhores intenções, e dos novos tempos de câmeras de vigilância por todos os lados? 


Em meio a uma história um tanto quanto corrida, especialmente em sua metade final (a exemplo do visto nos Tropas, não há tempo morto e a trama vai se desenrolando rapidamente), com cenas de ação um pouco decepcionantes (nenhuma grande perseguição como no filme de 87, sendo que a famosa e boa câmera na mão de Padilha chega a prejudicar algumas sequências, como o esperado duelo com vários ED-209, que acabou reduzidos a efeitos ligeiros à Michael Bay), personagens femininas muito dependentes dos masculinos (a linda Abbie Cornish, a chorosa esposa de Murphy agora mais presente na trama, e as outras, que basicamente só recebem ordens dos homens: o Cinema de Padilha, continua misógino) e. mesmo com a falta de um vilão marcante (além do chefão da OCP, os demais são facilmente combatidos), o novo Robocop funciona bem. E muito graças à humanidade do herói empregada pelo diretor brasileiro. Assim, mesmo com tantos defeitos em subtramas mal exploradas, tem ritmo tão cativante quanto um Tropa de Elite feito fora do Brasil (seria isso o que o diretor, cheio de moral por ter escolhido o filme e a equipe com quem desejava trabalhar, queria dizer com "um filme brasileiro feito no exterior"?)... 


No fim, mesmo com a politicamente correta estrutura a fim de evitar restrições às plateias mais jovens, o que faz o espectador sentir saudades do sangue aos borbotões, da erotizada ironia e da boa e velha ultra-violência do mestre holandês Verhoeven, saí reconfortado: José Padilha havia conseguido o impossível, como que a criar uma máquina do tempo cinematográfica e nos transpor de volta ao passado daquela última época boa em que o Cinemão tinha ainda algum conteúdo! Assim, com um pequeno sorriso na boca, desci as escadas rolantes a fim de voltar para casa lembrando-me dos tempos em que eu e alguns amigos imitávamos o pesado andar cibernético do policial-robô e a recordação da boa infância dos anos 80 só aumentou quando, ao passar pela vitrina de uma loja de brinquedos a caminho do estacionamento, vi algumas raridades do meu tempo de moleque sendo relançados, como Pula-Pirata, Xereta, Ferrorama, Genius...O novo Robocop realmente agrada, espeta a sociedade norte-americana através da sua imprensa podre e parece fincar os dois pés metálicos no pequeno rol de refilmagens que merecem respeito e atenção, daqueles que podem facilmente ser vistos como um bom filme independentemente do original, mas sempre a honrar o belo legado deste – em que se incluiriam ainda outros títulos dignos como os novos A Fantástica Fábrica de Chocolate, Onze Homens e Um Segredo, Bravura Indômita, Madrugada dos Mortos... E, é claro, sem esquecer de Ben-Hur e Rei dos Reis... Sem olvidar, tampouco, outro herói, Superman - O Retorno e seu reboot, que poderia render bem mais... Mas isso é outra história antiga para se discutir depois...


Robocop (2014) ***½
José Padilha revive RoboCop em superprodução que estreia nesta sexta Sony/MGM/Divulgação

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Django e Tarantino:
Bastardos Inglórios...



Creio que a reação inicialmente negativa que tive em relação a Bastardos Inglórios, filme anterior e primeira incursão do cineasta Quentin Tarantino no gênero Guerra, foi a mesma que manifestei logo após (ou mesmo durante a exibição de) Django Livre, seu primeiro Faroeste, que finalmente vi, após mais de um ano da sua estreia. A produção é caprichada, com reconstituição de época em bons cenários e figurinos – melhor do que a cenografia de pequenos espaços, que pouco ou quase nada nos situava no europeu período da Segunda Guerra de Bastardos... Porém, ao final deste “bangue-bangue” modernoso, não me senti arrebatado, como era de se esperar como quando via qualquer filme de Sergio Leone ou Sam Peckimpah; tampouco numa reinvenção de gênero, como aconteceu, por exemplo, na excelente releitura dos filmes de Kung-fu em Kill Bill... Muito longe disso, na verdade! Mas, afinal, não era este o talento maior deste diretor? Pegar histórias aparentemente simples e emendá-las com grandes referências pop, palavrões aos borbotões sob uma normalmente excelente e eclética trilha sonora e muita violência estilizada, reciclando tramas e personagens antigos em algo moderno e sempre interessante, com a precisão artística de um renomado ourives? Infelizmente, acredito que o “ouro” esteja começando a faltar na mina tarantinesca...

Não que seu Cinema tenha ficado “ruim” – não, de forma alguma: como diretor, seu domínio na arte narrativa e na condução perfeita dos atores em meio a situações tantas vezes inverossímeis continua preciso! E, à exceção do fraco O Homem de Hollywood ou do sofrível À Prova de Morte (equivocadas parcerias em Grande Hotel e Grindhouse, respectivamente, ambas com o diretor Robert Rodriguez), mesmo quando ele derrapa, o filme ainda costuma ter suas qualidades! Mas o problema com Bastardos e Django parece ser o mesmo: não há um grande filme, tudo reduzindo-se a ser “Tarantino” demais! Ok, o cara criou um subgênero de si mesmo como poucos conseguiram na História do Cinema (como Hitchcock)... Mas enquanto isso era um divertido apêndice na sua obra-prima Pulp Fiction - Tempo de Violência e nos excelentes pequenos clássicos como Cães de Aluguel e Jackie Brown, atingindo seu ápice em Kill Bill, parece ter virado o único mote de suas produções atuais, entrando em franca decadência em seus trabalhos posteriores...

Assim, se pudéssemos visualizar o conjunto da sua obra num “gráfico”, daqueles bem engraçadinhos que saltavam à tela para enfatizar algo num de seus bons filmes anteriores, veríamos uma reta descendente: a bobagem à moda trash anos 70, cheia de pés femininos e mortes absurdas de À Prova de Morte foi mero exercício de ego num filme ruim, em "homenagem" às sessões duplas de filmes 'Z' dos antigos drive-ins; e Bastardos Inglórios, apesar de bem melhor, com Christopher Waltz como o inesquecível nazista Coronel Lando (vencedor do Oscar) e com uma interessante repaginação da História com um inusitado assassinato de Hitler, também acabou sendo somente uma estória engraçadinha com muitas pausas para cansativos “momentos Tarantino” – como o “incidente da taberna”, desnecessário para a condução da trama, mas absolutamente necessário para atestar as já costumeiras identificações do público cativo para com o seu “estilo”...

Já seu recente western até parte de premissa interessante: Jamie Foxx (Django Freeman, daí o título em Português) ajuda Christopher Waltz (ele de novo, e com novo Oscar pelo seu Dr. King Shulz) no trabalho sujo de caçador de recompensas e este, ao final, entrega-se de corpo e alma à busca do amigo negro pela amada esposa, tudo ambientado no racista sul norte-americano pré-abolição... Infelizmente, entretanto, Django Livre segue no mesmo nível de seu antecessor: apesar do clima bem mais comedido e do ótimo uso de grandes composições do “compositor-faroeste” por excelência, Enio Morricone (com direito a “música-tema”, à western anos 60, de autoria de Luis Bacalov, de O Carteiro e O Poeta), nem mesmo a ilustre presença de Giuleno Gemma (que viveu Django em vários faroestes-espaguete dos anos 60, mas sem relação alguma com o filme atual) e de um divertido e fetichista Don Johnson (o "cara das negrinhas") consegue arrebatar o espectador como em tempos idos...

A incômoda sensação de inverossimilhança no desenvolvimento dos personagens e de situações gratuitas e mal ajambradas que vai surgindo em Django Unchained (como a matança final em Candyland), especialmente a partir do meio-final, acaba prejudicando todo o resto. Isso sem falar na falta de empatia com o protagonista, no imenso desperdício de um excelente Leonardo DiCaprio, na logorreica sana do diretor/roteirista por longos e espertos diálogos (ao ponto de um ex-escravo recém-liberto, no pequeno período de convívio com um sofisticado caçador de recompensas, passe a ser um articulado estrategista) e nas incômodas inserções de modernosos rap e hip-hop em cenas marcantes: tudo rapidamente nos lembra de que se trata de um “filme de Tarantino”! Mas até que ponto isso é bom? Ultimamente, desde o clássico pop Kill Bill, eu diria que num ponto bem distante...

Já quase no fim do longa, Tarantino resolve dar as caras numa pequena aparição (um Hitchcock que não deu certo)... Se o seu Cinema está longe do furor que um dia teve, pelo menos a sua participação conseguiu ser "explosiva", meio que sintetizando a essência sem razão de ser do seu trabalho na atualidade: pode até ser divertido, mas se foi pelos ares...
Escuta aqui, Tarantino: é melhor  você voltar a fazer filmes memoráveis! Senão...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Obrigado e Parabéns,
Julie Andrews e Gene Kelly...

Julie Andrews_Mary Poppins 4
– Eu sempre me emociono com esse filme... Não sei, a Música é muito bonita, marcou minha infância, e é um dos poucos filmes "infantis" por excelência com qualidade para prender qualquer um, de qualquer idade... Tu te lembras de que eu te mostrei Mary Poppins pela primeira vez num dia de aniversário teu?
– Lembro, sim... É um grande filme, de fato...
– Tu sabias que esta foi a estreia de Julie Andrews no Cinema? E que ela ganhou um Oscar por este filme, batendo Audrey Hepburn em... Qual era o nome, aquele do Pigmalião... Em que uma mulher do povo é convertida em dama da sociedade...?
Bonequinha de Luxo?
– Não, em Bonequinha ela faz aquela puta inocente... Deixa-me ver aqui no escritório... My Fair Lady - Minha Bela Dama!
– Ah, lembro... Puxa vida: uma vitória!
– Pois é... Merecida, né? Ela criou o tipo da linda babá perfeita e com requintes de dama inglesa... Até hoje lembrado na abertura daquela franquia inglesa, SuperNanny. E contracenando com o nada dos efeitos especiais de 1963... Engraçado, não?
– Engraçado mesmo é ver essa menina de menos de 4 anos gostando de "supergalifragis"... "supercalafrasti"...
– É supercalifragilisticexpialidocious! Mas quem não gosta? Por isso o filme foi um sucesso: agradou a todas as idades! Ainda mais com esta até então inovadora mistura de desenho animado com atores de carne e osso...
– Ei, Paai... Eu queria Cantando na Chuva... Com o homem que cai...
–Tu mostraste Cantando na Chuva pra ela?!
– Hoje foi mesmo um dia nostálgico... Assim é que se forma um cinéfilo: na tenra idade!
– Eu não acredito...
– Então veja... Olhe só: ela já puxa a cadeirinha rosa pra assistir sentadinha, com toda a atenção! O “homem que cai” a que ela se refere é o comediante DonaldO’Connor, na sequência da canção Make’emlaugh, onde ele faz uma série de pantomimas e caretas, homenageando a arte mais pura de fazer rir... E deu certo mesmo: ela não para de rir!
– Vê se eu posso com isso... Legal vai ser daqui a pouco ela imitando os atores nas coreografias e derrubando tudo aqui na sala!
– E essa já é a segunda vez hoje que ela pede essas duas sequências: esta e a clássica com Gene Kelly dançando na chuva... Incrível esse Gene Kelly, não? Com o corpanzil que tinha, era de uma leveza invejável: sua coreografia cheia de acrobacias, mais física do que o bailado esbelto e suave de Fred Astaire, impressiona até hoje! E essa cena da felicidade na chuva é de uma Poesia... Uma das mais completas do Cinema!
– Tudo o que tem dança essa menina gosta e agora, além de balé, parece que está descobrindo e apreciando sapateado! Eu me apresentava na escola, criava coreografias, mas acho que ela vai fazer muito mais do que isso!
– ’Tá explicado o DNA de bailarina: nunca vai achar “chato” nenhum Musical! Julie Andrews é daquelas artistas completas: atuava, cantava, dançava, tudo com aquele ar de lady insuperável até hoje... Gene Kelly, além do charme e do carisma excepcionais, coreografava tudo e até dirigiu alguns filmes... E tu, coreógrafa em Codó...
– Tudo a ver essa comparação!
– Talento é pra toda a vida e marca uma vida toda: Julie, Gene, tu... São perenes, por diferentes razões... Parabéns!
– ’Tá bom... O artista aqui és tu! Fico aqui pensando: tu já mostraste a ela Chico Buarque, Caetano Veloso, Vinícius... Agora os clássicos do Cinema... Qual vai ser o próximo passo: Machado de Assis?!
– Com certeza... Mas aí ela terá que crescer mais um pouquinho! E de Caetano, só mostrei Leãozinho e Alegria, Alegria, que o resto é muito complicado...
– Eu já acho muito: essa piunga vive pedindo “Pai, canta Caminhando...”! E tem que ser desde o começo, tu fazendo a introdução musical e imitando os sintetizadores e guitarras...
– Ela é exigente, gosta mesmo... E ’tá pra cantá-la inteirinha! Já de Chico e Vinícius, a coisa toda fica mais difícil ainda: 75% de suas obras são impróprias para menores!
– Mas ela já sabe cantar A Banda, João e Maria, as canções dos Saltimbancos...
– Sim, e do Vinícius, a Arca de Noé: não dá pra ir mais longe que isso com uma menininha de 3 anos, né?
– Como eu já disse: eu já acho muito... Mas é verdade mesmo, das “obras impróprias”: paixões voluptuosas, separações destruidoras, sexo... Canções nada infantis!
– Vinícius até que tem aqueles sambinhas mais soltos, como Rosa, Deixa, Tarde em Itapoã, essas coisinhas gostosas e sem idade que também já cantei pra ela...
– Tem também outras “puras”: Chega de Saudade e Garota de Ipanema, com o Tom...
– Verdade... Lembra o nosso começo com o Tom? Ele morreu naquela época... Mas quem dominava mesmo no pé do ouvido era o Vinícius! Eu adorava cantar pra ti os afrossambas: “Pergunta pr’o seu orixá:/ O amor só é bom se doer”... Tinha também aquela outra: “Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair:/ pra que somar se a gente pode dividir?/ Eu francamente já não quero nem saber/ de quem não vai porque tem medo de sofrer.../ Quem nunca curtiu uma paixão/ nunca vai ter nada, não...”!
– “Tantas você fez que ela cansou/ porque você, rapaz/ abusou da regra três/ onde menos vale mais”... E eu pensando que essa “regra três” se tratasse de alguma regra de amor inventada pelo louco do Vinícius...
– Pois é... Só depois de muito tempo foi que eu te contei que ele falava de traição, de infidelidade amorosa, em referência à regra da substituição do Futebol: a terceira das 17 regras...
– E a burra pensando outra coisa...
– Burrice é abusar de qualquer regra contigo... Mas, como diria o Poetinha: “É verdade, eu reconheço/ Eu tantas fiz, mas agora tanto faz”...
– “O perdão pediu o seu preço, meu amor/ Eu te amo e Deus é mais”... Não é, filha?
– Não... Amo só o Papai! Ei, pai... Bota agora o homem dançando na chuva, por favor...

 

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